70 anos de serviço à Igreja e à sociedade

Foi a 1/12/1951 que as primeiras mulheres do Opus Dei chegaram a Portugal. Desde então, a missão de difundir a santificação do trabalho entre universitárias, mães a tempo inteiro e outras que conjugam a vida familiar com uma profissão exigente não parou.

Maria Sofia Pacheco, que vivia no Porto, tinha conhecido o Opus Dei, através do irmão, Mário Pacheco. Vendo que este podia ser o seu caminho na Igreja, Maria Sofia foi depois acompanhada no seu desejo de vir a ser do Opus Dei por Encarnación Ortega, que viajou ao Porto, para a conhecer, bem como a algumas das suas amigas.

No dia 1 de dezembro de 1951 chegaram pela primeira vez a Portugal as mulheres do Opus Dei: a portuguesa Maria Sofia Pacheco e as espanholas Ester Teijeira, Lurdes Silva e Delfina.

Nem o trabalho na Coats & Clark nem o namoro já próximo de noivado foram obstáculo para mudar o rumo da sua vida e dirigir-se a Espanha. Aí, com as primeiras que já seguiam S. Josemaria, padre católico, nesta nova aventura, viria a confirmar-se na certeza de que Deus contava com ela nesse projeto de vida laical, vivido em celibato.

Nem o trabalho na Coats & Clark nem o namoro já próximo de noivado foram obstáculo para mudar o rumo da sua vida

Primeiro numa estada temporária em Santiago de Compostela. E depois, com um pequeno grupo em Los Rosales, (moradia no centro de Villaviciosa de Odón, perto de Madrid ), algumas visitas do Fundador, muito trabalho, uma vida de relação com Deus intensa, ia-se preparando para a altura própria de regresso a Portugal. Concluídas as formalidades burocráticas das que a acompanhariam, partiu de Santiago de Compostela acompanhada, como referido, pela Ester Teixeira, galega; e com a Delfina e a Lurdes, que ficariam por pouco tempo no nosso país.

A Ester comentou logo que o português era bem mais doce, pois filhas soava melhor do que “hijas”

No Porto, enquanto durou a paragem do comboio, foram amavelmente esperadas pelos pais da Maria Sofia, que as trataram por filhas. A Ester comentou logo que o português era bem mais doce, pois filhas soava melhor do que “hijas”. A viagem prosseguiu rumo a Lisboa, onde terminou na estação do Rossio. Estranharam o ambiente festivo do dia e só a muito custo conseguiram arrancar à Maria Sofia o que significava a data da Restauração em relação ao país vizinho.

Em 1955 no Lar da Estrela

Esperavam-nas o P. Javier Ayala e o irmão da Maria Sofia. Discretamente, indicaram-lhes que os seguissem de táxi e ficaram instaladas provisoriamente no local donde poderiam apoiar com mais eficácia o ambiente de família que precisavam de sentir esses primeiros portugueses do Opus Dei, então já espalhados pelas três principais cidades do país: além de Lisboa, Coimbra, onde esteve o primeiro Centro, na zona de Montes Claros, e o Porto, na Rua Ricardo Severo.

No dia 3, chegaram as que procediam de outras zonas de Espanha: Julia García Simón, castelhana (falecida recentemente em data próxima dos seus 100 anos), com Margarita e a Sátur (Saturnina), que também ajudaram durante algum tempo e regressaram a Espanha.

Maria Sofia tinha algumas pessoas de família em Lisboa e facilitou os primeiros contactos

Maria Sofia tinha algumas pessoas de família em Lisboa e facilitou os primeiros contactos, mas a língua era ainda dominada mal pelas outras, apesar da constância das lições familiares de português, o suficiente para sair à rua e fazer compras, mas pouco mais.

Ester tinha uma grande habilidade manual, e dispôs-se a fazer um curso de Corte e Costura, pensando que talvez se pudesse abrir um centro de ensino que preparasse futuras donas de casa, que em Espanha eram designados por Escuela-Hogar. No entanto, na altura, Portugal e Espanha eram bastante diferentes no que dizia respeito à integração das raparigas jovens na Universidade e o que prevaleceu foi a ideia de uma Residência Universitária (chamado Lar na época e durante bastante tempo posteriormente). Era prioritário encontrar uma casa e em Lisboa abundavam os escritos (as tiras de papel branco coladas nos vidros das janelas).

Júlia, que se deslocava com frequência de elétrico ao mercado da Ribeira para comprar alimentos frescos e mais baratos, viu uma na Rua de Buenos Aires, 35, simpática por fora, mas com ar pouco cuidado e a precisar de uma limpeza profunda. Descartou a hipótese à primeira, mas o P. Javier Ayala viu a mesma casa e, com o seu bom gosto, vislumbrou mais as possibilidades do que o estado em que estava. Concluídas as negociações com os donos, aí ficou instalado algum tempo depois o Lar da Estrela, com uma distância próxima da Rua da Escola Politécnica, onde então se situava a Faculdade de Ciências.

Não era fácil descobrir quem quisesse viver numa Residência, quando o próprio Opus Dei era ainda pouco conhecido em Portugal

Não era fácil descobrir quem quisesse viver numa Residência, quando o próprio Opus Dei era ainda pouco conhecido em Portugal, embora entre os católicos já estivesse muito divulgado o "Caminho", obra de juventude do seu Fundador. Iam falando com todas as pessoas conhecidas. A Maria Sofia tinha conhecido na Basílica da Estrela uma senhora que frequentava assiduamente a paróquia e falou-lhe desse projeto. Durante algum tempo, uma sobrinha dessa senhora foi a residente da Estrela, até que o ambiente se foi tornando mais conhecido e se encheu até ao limite da capacidade.

Elina Morais Neves, no seu livro «Reacção em Cadeia» descreve o suficiente para acompanharmos o que se refere a Portugal quanto à parte feminina, que se desenvolvera, não só do norte ao sul, mas inclusive nas Ilhas. E de tal modo o descreve, que parece esquecer o tempo decorrido entre a primeira portuguesa da Obra, a Maria Sofia, em 1949, e a segunda: ela mesma, que pediu a admissão em 7 de fevereiro de 1954. Haviam decorrido… cinco longos anos!

Chegaram também as primeiras supranumerárias no Porto, Coimbra e Lisboa

Vieram depois a Isabel Jerónimo e a Lena Serpa Soares em 1955, seguidas da Maria Laura, a Madalena, a Mindó Borges, no Porto a Maria Clara, a Gabriela e a Mita Malvar Fonseca; a Icha, e a Mími, de Macau; a Teresa Gonçalves Azevedo; a Helena Pais, da Madeira… E as primeiras Supranumerárias, a maioria casadas: no Porto, a Vitória Abreu e a Stella Larose; em Coimbra, a Carmelina Pratas, a Glória Corte-Real, a Maria Sá Couto; em Lisboa, as irmãs Bi (de Balbina) e Mila, a Antónia Palet e a Maria Alexandrina…

E as primeiras Auxiliares: a Carolina Fernandes e a Lurdes Vicente, a que se seguiram a Elisa, a São, a Rosa … E tantas outras, fundamentais para a manutenção do ambiente familiar dos nossos Centros e lição estrita de seguimento do Lar de Nazaré. E as Agregadas, que se multiplicam em Coimbra, com a Inês France e a Alda Maria, e a partir de Viseu, com a Zélia Cabral.

Nos anos 60, a mesma tarefa apostólica do Lar da Estrela ampliou-se no Campo Grande e mudou de nome para Residência Universitária dos Álamos. É difícil medir o que significa viver ou frequentar uma residência universitária em que não se cuida apenas do alojamento, mas também de complementar toda a formação que não se recebe na Universidade nos aspetos cultural, humano, espiritual e de abertura de horizontes. Nesses primeiros anos seria também particularmente enriquecedor que a geografia das residentes fosse do Algarve ao Minho, das Ilhas a África e ao Oriente.

O foco no cuidado da família nunca se perdeu, porque está no coração do apostolado do Opus Dei

O foco no cuidado da família nunca se perdeu, porque está no coração do apostolado do Opus Dei. De acordo com os tempos, foi-se reconvertendo e tomando novas formas: primeiro com uma Escola de Formação Profissional no Campo de Santana: Miralar, que programava atividades de formação profissional para senhoras que cuidavam da sua casa e para quem tinham esse trabalho como próprio em casa alheia; posteriormente, de forma mais elaborada, com instalações adequadas e pessoas bem preparados em escolas de hotelaria no país e no estrangeiro; e, mais recentemente através de cursos e programas teórico-práticos abertos a estudantes do ensino secundário e a universitárias nas casas de retiros de Enxomil, Almançor e na Residência das Laranjeiras.

S. Josemaria num encontro com as suas filhas portuguesas em 1972

O trabalho apostólico foi-se alargando a pessoas mais novas, primeiro filhas das que já tinham conhecido o Opus Dei enquanto adultas, tal como o Clube Juvenil dos Álamos e o Rampa Clube, na Rua Oliveira Monteiro, do Porto, frequentado sobretudo por alunas do então Liceu Carolina Michäelis nas proximidades. Esta atividade foi-se profissionalizando cada vez mais, com os pais responsáveis pelo projeto educativo. Está hoje espalhada por várias cidades do país, com sucesso na formação complementar à académica recebida nas escolas públicas ou no ensino particular, em modalidades diferentes, de acordo com o perfil de cada local.

O passa-palavra na amizade da maioria dessas pessoas faz com que hoje haja mulheres do Opus Dei na docência, medicina e outras vertentes de saúde, engenharia, jornalismo, magistratura, etc., com a presença feminina a afirmar-se como um inestimável contributo social.

Neste dia 1 de dezembro, já não estarão connosco a Maria Sofia, falecida em 2012, nem a Júlia, como dissemos antes. A Ester vai seguir-nos do seu quarto de doente, cuidada pelo carinho de todas.

Das que iniciaram o trabalho do Opus Dei no Brasil - no final dos anos cinquenta -, regressaram ao nosso país a Gabriela, a Maria Clara e a Gló e por lá se mantêm a Maria Laura, a Bi e a Paula, que foi posteriormente. Em França, continua a Lena Serpa Soares, depois de ter falecido a Estela Lereno. Pela Europa fora, estão a Teresa, na Finlândia, a Maria Hermínia, na Polónia, a Mina e a Maria Augusta, na Suíça; e em África, espalhadas pelo Congo, Costa do Marfim e Camarões, a Celeste, a Mafalda, a Titi, a Maria, todas a desenvolver projetos educativos ou em atividades ligadas à saúde nos respetivos países, identificadas com as necessidades locais e como mais um dos cidadãos do país.

O passa-palavra na amizade da maioria dessas pessoas faz com que hoje haja mulheres do Opus Dei na docência, medicina e outras vertentes de saúde, engenharia, jornalismo, magistratura, etc.

Em Roma, está sempre alguém a levar-nos diretamente ao coração da Obra: a Rosário, a Rosarinho, as duas Marianas, a Márcia… E, em Jerusalém, a Meggie, a recordar-nos onde tudo começou para a fé cristã.

E pelo mundo fora estão outras portuguesas (numerárias auxiliares, agregadas e supranumerárias) que continuam a história das mulheres do Opus Dei em Portugal iniciada há 70 anos, levando a todos os recantos esta mensagem da alegria dos filhos de Deus, encarnada na vida de cada dia.


Ver também: 

► Série de Vídeos de portuguesas do Opus Dei

Veja alguns testemunhos portugueses do Opus Dei:

Paula na Associação Emergência Social
Movimento#lavar as mãos não basta”
Carla no Hospital da Amadora
Mariana no Hospital de Matosinhos

Áudio da meditação do Prelado 14/02/2020Áudio e tradução de fragmentos de uma meditação do prelado do Opus Dei no 90º aniversário das mulheres no Opus Dei). Pode ver o texto aqui.

S. Josemaria: “O Senhor queria que houvesse mulheres do Opus Dei”. Apesar de inicialmente ter pensado que o Opus Dei apenas se destinava aos homens, em 14 de Fevereiro de 1930 Deus fez ver a S.Josemaria que este caminho de santidade também estava aberto para as mulheres. Pode ver o texto completo aqui.

Gostava de contactar um centro do Opus Dei em Portugal para assistir às atividades de formação? Neste mapa tem todas as informações e contactos.