Eu, o Covid-19 e o meu anjo da guarda no hospital da Amadora

Carla é técnica de análises clínicas há mais de 20 anos e trabalha no Departamento de Imunologia do Hospital Fernando Fonseca. É casada, mãe de 3 filhos e conta como encontra Deus no trabalho em tempos de Covid-19: “agora mais do que nunca, sinto que "Com Deus, tudo, sem Deus, nada".

Dia após dia, tenho vindo a desenvolver o meu trabalho num clima de normalidade e relativa descontração, apesar dos riscos inerentes à minha profissão. Com o surgimento dos primeiros casos de Covid19 em Portugal, tudo mudou em todo lado e o laboratório não foi exceção. Cada um dos membros da equipa sabe como é importante manter-se saudável para poder ajudar. As outras morbilidades continuam e as análises não podem parar. Todos passamos a usar máscaras e a respeitar a distância de segurança para evitarmos qualquer contágio e redobramos os cuidados de assepsia, sobretudo quando estamos em contacto com os doentes, durante a recolha de amostras.

Como trabalho no departamento de Imunologia, fui destacada para esta missão, juntamente com outras seis colegas.

A ideia é não infetar e não ser infetado. Poucos dias depois, urgia a implementação da pesquisa de Covid19 no nosso laboratório, havia cada vez mais casos e tínhamos de colaborar. Como trabalho no departamento de Imunologia, fui destacada para esta missão, juntamente com outras seis colegas. Foi construída uma sala de pressão negativa e respetiva antecâmara, encomendaram-se os reagentes, chegaram os EPIS (equipamentos de proteção individual), desenharam-se escalas e começamos a pesquisar o Covid19 rotativamente, 24h por dia, 7 dias por semana, para além dos restantes turnos, dedicados ao trabalho de rotina do departamento.

A missão que me foi confiada, não é mais nem menos importante do que a da mãe que está em casa 24h por dia com os filhos (…) ou a do meu marido, que está em teletrabalho, tantos dias sozinho com os nossos filhos.

é preciso identificar os doentes positivos para que sejam imediatamente isolados e assim se prevenir a disseminação do vírus pelo hospital

Passo muitas horas sozinha, ou melhor, eu e o Covid19, mas também Nosso Senhor e o meu anjo da guarda. Muitas horas com um equipamento que, embora necessário, provoca um enorme desconforto: transpiramos, os elásticos e os arames das máscaras magoam bastante e deixam as suas marcas, o ar por vezes parece faltar. O trabalho é de enorme urgência e responsabilidade, é preciso identificar os doentes positivos para que sejam imediatamente isolados e assim se prevenir a disseminação do vírus pelo hospital. As folgas raramente são mais de 24h e logo tenho de voltar o mais revigorada possível.

Tenho a felicidade de ter uma capela no meu hospital, onde Nosso Senhor está sempre à minha espera.

Não é fácil encarar um dia ou uma noite de trabalho nestas circunstâncias e cada vez que vou, sei que por mim, não conseguiria. Tenho a felicidade de ter uma capela no meu hospital, onde Nosso Senhor está sempre à minha espera. Cada vez que chego, vou até lá e diante do Sacrário, peço-Lhe muito que esteja comigo, que seja a minha companhia e que me dê luz em cada dificuldade e peço também ao meu anjo da guarda que interceda muito por mim. Durante o meu trabalho "solitário", falo muito com os dois, ora para lhes pedir, ora para lhes agradecer a sua ajuda contínua e garanto que nunca me senti completamente só.

Na verdade, a missão que me foi confiada, não é mais nem menos importante do que a da mãe que está em casa 24h por dia com os filhos a arrumar, cozinhar, limpar

Na verdade, a missão que me foi confiada, não é mais nem menos importante do que a da mãe que está em casa 24h por dia com os filhos a arrumar, cozinhar, limpar, orientar os trabalhos da escola e as aulas online, ou do que a missão do meu marido, por exemplo, que está em teletrabalho, tantos dias sozinho com os nossos filhos, a fazer o melhor que sabe e que pode. Cada um de nós está onde Deus nos colocou neste momento. Como dizia S. Josemaria, "faz o que deves e está no que fazes". Assim Nosso Senhor nos ajude a dar o nosso melhor em cada dia.

Agora mais do que nunca, sinto que "com Deus, tudo, sem Deus, nada". Muita força para os que estão doentes e muita prudência para os que estão saudáveis. Fiquem mesmo em casa!

Agora mais do que nunca, sinto que "com Deus, tudo, sem Deus, nada". Muita força para os que estão doentes e muita prudência para os que estão saudáveis. Fiquem mesmo em casa! Rezem muito por quem mais precisa neste momento e não se esqueçam de pedir por todos nós, profissionais de saúde, para darmos sempre o nosso melhor, sob a proteção do nosso Pai. Que Nosso Senhor nos guarde a todos.

Carla