O trabalho da Mariana na luta contra a COVID 19 em Matosinhos

As batalhas nem sempre se ganham com as armas. E os heróis nem sempre usam capas. Muitos acordam de madrugada e sabem apenas a hora em que o dia de trabalho começa. São os profissionais que trabalham todos os dias nos hospitais para deter o coronavírus. Heróis com bata e mascara, como Mariana, enfermeira no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos e agregada do Opus Dei.

No dia 9 de março de 2020, quando fui fazer um turno a uma colega de manhã, mal imaginava a mudança que iria acontecer na minha vida... Por volta das 12h, foi-me comunicado: “A Mariana vai para a linha da frente da COVID 19".

Fiquei petrificada…Saí do gabinete a tremer e a questionar-me: “Porquê eu, Senhor?”. Aquela típica pergunta de uma filha que pergunta ao Pai o “porquê” de a mandar fazer algo que não compreende e que vai para além das suas forças. Naquele momento, pensei nas pessoas todas que ia deixar de ver, na avó que não ia poder cuidar, na vida de família com os pais que ia deixar de ter, nas amigas de Aveiro que não poderia visitar, nas amigas do Rampa com quem deixaria de poder estar, nas amigas da faculdade e da escola… De tudo o que teria de saber entregar, do quanto teria de aprender para me unir mais e melhor à Cruz de Jesus, talvez com aquele conselho de S. Josemaria: “Que eu faça boa cara!”. Sou sincera houve momentos em que não soube sorrir… Mas Deus dá a graça e procurei confiar!

Apesar de todo o medo, de repente a equipa transformou-se, foi impressionante!

Apesar de todo o medo, de repente a equipa transformou-se, foi impressionante! Todos perguntam uns pelos outros, se estamos bem, se as nossas famílias estão bem, se alguém precisa de alguma coisa! Até agora ficávamos mais centrados em fazer o nosso trabalho, do que em olhar à volta como um todo! Afinal...vieram coisas boas da “COVIDlândia”!

A minha nova equipa é composta por 12 enfermeiros: 3 com 25 anos, 6 na casa dos 30 e 3 na casa dos 40. Uma equipa jovem, dedicada, acolhedora e mesmo MUITO protetora! Num Campo de trabalho em Cabo Verde que fiz há uns anos, diziam-nos “Nós aqui temos 59 filhas e 59 mães. Por isso, nenhuma que aqui está se pode sentir sozinha e pouco apoiada”. Ao chegar a esta equipa da ALA N estas palavras voltaram a ressoar: aqui somos todos um! Somos mães e pais de todos!

No meio de tanto sofrimento humano e de medo que nos rodeia, ninguém conta as horas para ir embora!

Tem sido mesmo bonito ver um trabalho de equipa como este! Ninguém entra num quarto de um doente sem ser auditado por algum colega que vê até ao ínfimo pormenor se estamos bem equipados. O espírito de serviço, a pontualidade, o sorriso, a esperança e a alegria brotam neste serviço! No meio de tanto sofrimento humano e de medo que nos rodeia, ninguém conta as horas para ir embora! Parece que o Tempo agora é outro... Passam 10, 12 e, às vezes, 14 horas de trabalho e saímos com a sensação de que fizemos tudo o que conseguimos, mas que gostaríamos de ter feito mais! Deus dá a graça e a força! O cansaço é enorme… sentimo-nos mesmo esgotados. As marcas das máscaras na cara já começam a ficar evidentes (mas existem truques de maquilhagem;) e as feridas nas mãos também começam a aparecer com força. Mas todos os dias nos levantamos por uma missão maior: cuidar de Cristo em cada doente, vê-Lo em cada pessoa com a qual lidamos!

O cansaço é enorme… sentimo-nos mesmo esgotados.

Todos os dias vou visitar Jesus ao sacrário do Hospital; chego e Jesus está sempre sozinho... Às vezes, podemos nós próprias pensar que estamos sozinhas nas nossas casas, mas é falso! Ao entrar penso nas pessoas que naquela hora estão a fazer companhia a Jesus, em tantas camas do hospital (e do mundo inteiro), das Missas que são celebradas e das Comunhões Espirituais que são rezadas! É impossível que Jesus se sinta sozinho! Talvez sem COVID19 não O cuidaríamos tão bem nesta quaresma e, com este vírus, apercebemo-nos do que realmente é importante.

Quero deixar uma mensagem de esperança! No hospital onde trabalho já temos varias pessoas curadas!

Aqui histórias que movem o coração: como a de colegas enfermeiras que deixaram as suas casas, os seus maridos e filhos porque fazem rastreios e podem ficar infetadas...

Quero deixar uma mensagem de esperança! No hospital onde trabalho já temos varias pessoas curadas! Estamos muito conscientes de que podemos vir a enfrentar-nos com a morte diariamente… não é algo que não aconteça na nossa profissão, lidamos todos os dias com a vida e com a morte… Tenho esperança de que estes tempos nos ajudem a refletir, a sermos melhores e que apreendamos a cuidar das pessoas que estão à nossa volta!

Peço a todos: para ficar em casa, para não usar luvas na rua mas para lavar as mãos! Continuem a rezar por nós: Auxiliares, Enfermeiros, Médicos, Farmacêuticos, polícias, bombeiros, etc.)! Muito obrigada!

#vamostodosficarbem

Mariana