Evangelho de domingo: levando o Evangelho a todas as casas

Comentário ao Evangelho do XV domingo do Tempo Comum (Ciclo B). «Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros». Toda a autoridade vem de Deus. Jesus quis dizer claramente que quem acreditar e se identificar com Ele, pode realizar as suas obras (Jo 14, 12), vencer os demónios e curar doenças.

Evangelho (Mc 6, 7-13)

Naquele tempo, Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois. Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros e ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser o bastão: nem pão, nem alforge, nem dinheiro; que fossem calçados com sandálias, e não levassem duas túnicas. Disse-lhes também:

«Quando entrardes em alguma casa, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes recebidos em alguma localidade, se os habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés como testemunho contra eles».

Os Apóstolos partiram e pregaram o arrependimento, expulsaram muitos demónios, ungiram com óleo muitos doentes e curaram-nos.


Comentário

O Evangelho da Missa de hoje (Mc 6, 7-13) mostra Jesus que envia os Doze, dois a dois, para pregar a conversão, curar e libertar os oprimidos pelo demónio. Jesus pede-lhes que façam o que Pedro mais tarde vai recordar num dos seus discursos nos Atos dos Apóstolos: "Deus ungiu Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder, e como ele andou por toda parte fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com ele. (Atos 10,38). Esta é uma missão com a qual todos nós nos sentimos identificados. Mas o breve texto do Evangelho, segundo Marcos, revela muito mais e as outras leituras da Missa de hoje ajudam-nos a compreendê-lo.

Na primeira leitura, o profeta Amós diz-nos: «Não era profeta, nem filho de profeta. Era pastor de gado e cultivava sicómoros. Foi o Senhor que me tirou da guarda do rebanho e me disse: "Vai profetizar ao meu povo de Israel"» (Am 7, 15). O que a breve primeira leitura da Missa de hoje nos diz em relação ao evangelho é precisamente esta convicção de que é Deus que chama o profeta: o verdadeiro profeta não atua por motivos humanos, nem prega uma mensagem a gosto do ouvinte. Há nele humildade e coragem, ao mesmo tempo. A coragem que vem da certeza de ser o portador de uma mensagem divina, uma mensagem que é amor e misericórdia, porque é um convite à conversão da qual depende a vida.

Ouvimos o mesmo no salmo: «Deus fala de paz ao seu povo e aos seus amigos e a quantos de coração a Ele se convertem» (Sl 85, 9). Os amigos são aqueles que escutam a palavra de Deus. Todos são chamados a ser amigos! Mas alguns ouvem e outros não. O profeta não é enviado só com uma simples mensagem, mas também com a missão de tentar abrir os corações dos ouvintes, nem que seja com uma pequena fissura, para que a mensagem divina possa entrar e atuar. O profeta não foi enviado para condenar, mas para falar da salvação de Deus, do seu amor e da sua misericórdia. E para recordar a todos que, longe de Deus, dominado pelo pecado, nenhuma vida é possível.

Foi dado um grande poder ao profeta, ao apóstolo. E não devemos esquecer: «Não negligencies o dom que há em ti» (1Tm 4, 14). Mas este poder está unido à firme convicção de que toda a autoridade tem a sua origem em Deus e, no caso do profeta ou do apóstolo, é dirigida à missão apostólica. Marcos recorda-nos que o enviado leva consigo o que é indispensável para o ajudar no caminho: um bastão. O enviado é um viajante, que vai de casa em casa, de coração em coração, levando a luz e a cura do Evangelho, Cristo, e que atua através do Espírito. A ação do profeta manifesta que o Reino de Deus já está aqui, entre nós, por esse poder de curar corpos e espíritos.

Esta poderosa ação da pregação tem a sua fonte no próprio Evangelho, cuja pregação é o primeiro salário que o evangelizador recebe, como diz S. Paulo: «Qual é então a minha recompensa? Pregar o Evangelho gratuitamente» (1Cor 9, 18). Mas para que assim seja, o que deve ser entregue é o Evangelho que se recebeu, a fé apostólica, a que o próprio Paulo chama «escudo» (Ef 6, 16). A segunda leitura da Missa de hoje é um maravilhoso resumo dessa fé, em cujo centro está o plano eterno de Deus: chamar os homens a serem seus filhos, santos e irrepreensíveis perante Ele, por amor, sobre os quais derramou, com abundância, as riquezas da sua graça, com toda a sabedoria e prudência (cf. Ef 1, 3-14).

As leituras da Missa de hoje recordam-nos para o que fomos chamados e a grandeza da condição apostólica dos cristãos, com os quais Deus conta para dar a conhecer a todos o seu maravilhoso plano. Devemos levar a cada casa a luz do Evangelho! (cf. Mc 16, 15-18). A maior força do cristão reside em ter interiorizado o Evangelho, convertendo-o na própria vida: saber que somos amados desde a eternidade, saber que somos chamados a algo tão grande, saber que Deus conta connosco, experimentar a Sua misericórdia. Tudo isto nos leva a perguntar até que ponto deixámos o Evangelho entrar nos nossos corações para nos transformar. Disso depende a força e a convicção com que falamos de Deus a cada pessoa.

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