São Tomás Moro, intercessor do Opus Dei

22 de Junho é dia de S. Tomás Moro. Apresentamos uma tradução de um artigo da Revista 'Studia et Documenta' do Instituto Histórico São Josemaria Escrivá, sobre este santo mártir inglês do XVI, intercessor do Opus Dei para as relações com as autoridades e entidades civis ou seculares.


Introdução

Em 20 de agosto de 1959 THE Times (Londres) publicou um artigo – o décimo duma série sobre “People to Watch” – , com o título “Spanish Founder of Opus Dei”. Um correspondente especial anónimo – que era o escritor e editor católico Tom Burns – explicava nesse texto que S. Josemaria era «uma personalidade próxima e alegre que teria tido muito em comum com Sir Tomás Moro, que de facto escolheu como santo padroeiro»[1]. Naquela data, S. Tomás Moro (1478-1535) já era há alguns anos um santo a que se recorria no Opus Dei, e a que o fundador tinha rezado, tanto em 1958 como em 1959 na igreja anglicana de S. Dunstan, Cantuária, onde a cabeça cortada do mártir foi enterrada quase, com certeza absoluta, quatro séculos antes.

Ao longo do ano académico de 1953-1954 foi feito um sacrário para o oratório de Pentecostes em Villa Tevere, a sede central do Opus Dei em Roma. No desenho incluíam-se, na parte exterior, representações distribuídas simetricamente de S. Nicolau de Bari, S. João Maria Vianney, S. Pio X – até esse momento eleitos padroeiros menores do Opus Dei, embora em breve viessem a ser denominados intercessores –, e S. Tomás Moro. O fundador teria aprovado o projeto no verão de 1954, quando Pio X acabava de ser canonizado e, portanto, proposto para a devoção pública universal[2]. Parece claro que S. Tomás Moro foi acrescentado ao grupo de intercessores, formando um quarteto, não depois – e provavelmente não muito antes – do verão de 1954[3]. O sacrário já terminado, de que S. Josemaria gostou muito, foi entregue em 29 de setembro de 1956[4].

Em 1954, S. Josemaria tinha decidido que as origens geográficas dos intercessores que ainda não tinham sido nomeados deviam refletir em certa medida o alcance universal do Opus Dei, então em rápida expansão por todo o mundo. Esta etapa requeria frequentes relações com os dicastérios da Santa Sé e com as autoridades seculares ou civis de diferentes níveis, de modo que o valor dos intercessores para estos dois campos – S. Pio X e S. Tomás Moro – tinha que ser claro. O trabalho estável dos fiéis do Opus Dei na Grã-Bretanha tinha começado em 28 de dezembro de 1946, e pouco mais tarde teve começo em países de língua inglesa como a Irlanda e os Estados Unidos da América. Esta presença no mundo anglófono pode ter marcado a conveniência de nomear um intercessor de língua inglesa.

Talvez também houvesse – embora isto já seja pura especulação – um elemento de reparação na sua aproximação de Inglaterra, como tinha sido o caso de França ao escolher o Santo cura d’Ars. O fundador afirmou nalguma ocasião o grande amor que tinha a França, em parte como compensação pelo ódio a esse país comum entre os espanhóis durante a sua juventude, devido tanto a hostilidades históricas como a razões religiosas[5]. A situação não era muito diferente no caso de Inglaterra (ou Grã-Bretanha). Quando um bispo católico inglês nascido em Gibraltar, Peter Amigo, ofereceu os seus serviços ao Governo britânico em 1915 para ajudar a assegurar a neutralidade espanhola na Primeira Guerra Mundial, foi animado a percorrer o país e informar. Ao fazê-lo, observou um ressentimento contínuo pelo papel que a Grã-Bretanha tinha desempenhado na crise – o desastre – sofrida por Espanha em 1898, e uma considerável simpatia espanhola pela Alemanha e Áustria entre os militares e o clero. Estes últimos – e muitos leigos – tinham recebido a propaganda alemã que se aproveitava do desprezo pelo secularismo anticlerical francês e apresentava o Kaiser como um pilar da civilização cristã. O facto de que os liberais e republicanos espanhóis tendessem a favorecer França e o Reino Unido só serviu para confirmar as suspeitas entre uma ampla variedade de monárquicos e tradicionalistas católicos. O rei Afonso XIII encontrava-se igualmente dividido pelos sentimentos opostos entre a sua mulher, inglesa, e a mãe, austríaca[6]. Além disso, na atitude dalguns católicos espanhóis para com a Grã-Bretanha – e certamente na de S. Josemaria na sua juventude – também teve o seu peso a perseguição histórica que a população católica da Irlanda sofreu[7] Foi notável a determinação do fundador por superar preconceitos, tanto antigos como modernos.

Rejeitou claramente o veneno do nacionalismo, oposto a um são patriotismo, e estava decidido a que a universalidade do Opus Dei brilhasse[8]. S. Josemaria explicou ao então jovem Peter Haverty, que conheceu em Londres em 11 de agosto de 1958, o que frequentemente dizia noutras conversas: que podia ter escolhido santos espanhóis como intercessores, mas que se tinha decidido pelo contrário: nenhum dos intercessores devia ser espanhol[9].

S. Tomás Moro era especialmente adequado para o papel de intercessor do Opus Dei, tanto pelo seu prestígio profissional e pela sua condição de homem de estado, como por ser um homem casado e pai de família. Ia ser o único leigo e não celibatário nomeado santo intercessor: o número dos canonizados com tais características era então, e agora, bastante pequeno. Embora S. Josemaria tivesse visto, desde o princípio, a presença de fiéis casados no Opus Dei, não pôde obter a aprovação para admitir formalmente os três primeiros membros supranumerários até 1948[10]. É provável que este facto influísse em certa medida na eleição de S. Tomás Moro como intercessor poucos anos mais tarde[11].

O desejo de S. Josemaria de obter uma relíquia de S. Tomás Moro

Em fins de 1957, S. Josemaria fez chegar um pedido aos do Opus Dei que viviam em Londres: que tentassem obter uma relíquia de S. Tomás Moro para a capela de relíquias que se queria instalar na sede central, Villa Tevere. O pedido deixava claro que já se tinham feito esforços infrutíferos por outras vias[12]. O encargo foi recebido e a procura começou imediatamente em Londres. Em 14 de fevereiro de 1958 duas pessoas foram visitar o Arcebispo de Westminster para falar doutros assuntos e, aproveitando a oportunidade, perguntaram-lhe se os podia ajudar a conseguir uma. Disse-lhes que era impossível, e eles sugeriram que lhes desse licença para pedir a um sacerdote um fragmento duma relíquia que possuía[13]. As gestões ficaram paradas durante algum tempo, sem que os esforços se vissem coroados de êxito.

A resposta do Arcebispo não era nenhuma surpresa, pelo menos no que diz respeito às relíquias corporais. O cadáver sem cabeça do executado Moro descansava enterrado juntamente com outros muitos corpos, confundido deliberadamente com os outros, no subsolo da igreja de S. Pedro ad Vincula, no pátio interior da Torre de Londres, um lugar que não estava então aberto ao público. Além disso, não era claro que os restos não tivessem sido transladados nas mudanças posteriores realizadas na igreja, pelo que a identificação era praticamente impossível. A cabeça do mártir tinha sido resgatada pela filha favorita, Margaret Roper, graças a um suborno e a um estratagema piedoso, quando estava para ser retirada (para a sua eliminação indigna, embora segura, no rio Tamisa) de um gancho na Ponte de Londres, em que tinha sido exposta da forma habitual para dissuadir outros traidores. É quase certo que foi enterrada, anos mais tarde, no túmulo dos Roper (a família do marido de Margaret) na cidade de Cantuária, em S. Dunstán, que já há algum tempo é uma igreja anglicana[14]. Por tudo isto, ia ser sempre difícil, se não impossível, obter relíquias do corpo do santo. Através dos comerciantes de antiguidades de Londres fizeram-se gestões sem êxito para conseguir algum objeto que tivesse pertencido ao santo. O Pe. Juan Antonio Galarraga[15] informou da procura o seu amigo monsenhor Gordon Wheeler, administrador da catedral de Westminster. Numa carta com data de 18 de junho de 1958, Mons. Wheeler informava Galarraga que o Pe. Alfonso de Zulueta, pároco da igreja do Nosso Santíssimo Redentor e S. Tomás Moro em Chelsea, tinha estado a tentar que se reparasse a carcaça duma valiosa relíquia que julgava que tinha chegado à igreja procedente duma comunidade de freiras inglesas estabelecidas em Bruges (Bélgica). Segundo parece, tratava-se dum fragmento duma vértebra da base do crânio de Moro que se tinha soltado (deliberadamente ou não) no momento da sua extração do gancho em que foi exposta na Ponte de Londres ou, em todo o caso, antes de ser enterrada em Cantuária. Esta relíquia era demasiado pequena para a dividir (em fevereiro de 1981, foi roubada da igreja de Chelsea e nunca foi recuperada). Mons. Wheeler proporcionou a provável direção do convento de Bruges[16]. Thomas Holland, então secretário da Delegação Apostólica em Londres e mais tarde bispo de Salford, bom amigo do fundador, também ajudou na procura duma relíquia nalgum momento do ano de 1958-1959[17].

Durante a sua estada em Londres no verão de 1958, o fundador exprimiu de novo o seu interesse em conseguir uma relíquia, e informaram-no das dificuldades encontradas. Com sentido de humor, animava os seus filhos a continuar a esforçar-se e contava-lhes que já se tinha feito um cofre que servisse de relicário para juntar aos que já continham relíquias dos outros três intercessores, e que teria que pôr nele uma nota em que se indicasse que estava vazio porque os seus filhos em Inglaterra não tinham conseguido uma relíquia[18].

A comunidade de Cónegas Regrantes de Sto. Agostinho, originalmente exiladas de Inglaterra, permanece até hoje no seu convento belga de Bruges. Em 1773, o Pe. Thomas More, S. J., último provincial dos jesuítas ingleses antes da supressão da Companhia de Jesus e último na linha familiar masculina direta do seu homónimo mártir, entregou a vértebra à irmã, a madre Maria Agostinha More, oitava prioresa do convento, que por sua vez a deixou à comunidade quando da sua morte em 1807. Parece que os arquivos da Província Britânica da Companhia de Jesus registam que esta relíquia tinha sido entregue por Philip Roper mais de um século antes, em 1645, ao primo, o Pe. Henry More, S. J., bisneto do mártir, para que a guardasse nalguma casa dos jesuítas, e que tinha permanecido na Província até à supressão. A parte que fica em Bruges exibe-se na capela sob o retrato do mártir, que se pensa ser da escola de Holbein. Em 1877, a prioresa, madre Mary Gabriel Belton, dividiu a vértebra e deu uma parte aos jesuítas britânicos – como agradecimento da comunidade pela ajuda que o Pe. John Morris, S.J., lhes tinha dado para fazer uma nova fundação em Haywards Heath, Sussex, e pelo seu excelente trabalho para a beatificação dos mártires ingleses –. A parte separada foi depositada nesse momento na Casa de Manresa dos Jesuítas, em Roehampton, Londres. Há uma considerável confusão sobre o seu destino posterior. Segundo uma nota encontrada numa caixa com outras relíquias que antes estavam na agora encerrada Casa de Manresa, a relíquia foi entregue ao Colégio Norte-americano de Roma em 1972. Outra nota, que contradiz bastante esse relato, sugere que foi dividida em seis relíquias mais pequenas antes de ser trazida de regresso, depois do que pelo menos duas foram enviadas para os Estados Unidos e Austrália[19]. Não há documentação sobre as averiguações que o Pe. Juan Antonio Galarraga ou algum outro possam ter feito nos anos 50 para conseguir uma relíquia do corpo do santo, mas o certo é que, mesmo que tivesse tido lugar, a investigação não chegou a nada.

Tiveram que recorrer então a tentar conseguir um fragmento duma relíquia secundária célebre. O Pe. Juan Antonio Galarraga visitou o priorado de Sto. Agostinho, Newton Abbot, no sul de Devon, em 27 de agosto de 1959 – enquanto S. Josemaria ainda estava em Londres durante o seu segundo verão em Inglaterra –, e viu o grande fragmento da camisa-cilício de S. Tomás Moro que as freiras guardavam ali (uma peça interior feita de pêlo animal grosso que lhe mortificava a carne irritando-lhe constantemente a pele)[20]. Seguiu-se uma correspondência entre ele e a prioresa sobre a aquisição de um bocadinho para S. Josemaria. Em 12 de setembro, a madre Mary Dorothy informou que o bispo de Plymouth aprovava a entrega dum bocado do fragmento da camisa que tinha sido separada do resto antes de ser selado definitivamente. Pediu-se ao Pe. Juan Antonio Galarraga que mandasse um relicário onde colocar o pequeno bocado da camisa, e foi então que o bispo proporcionou um certificado de autenticidade. Finalmente, o Pe. Juan Antonio pôde escrever à prioresa em 21 de dezembro de 1959 avisando da receção: «Estamos agora na posse da relíquia, e estamos prestes a enviá-la para Roma. Será uma maravilhosa alegria para o nosso fundador e presidente geral, Mons. Escrivá»[21].

A relíquia colocou-se rapidamente, com a inscrição «Ex cilicio Sancti Thomae More, Martyris», no pequeno cofre já preparado que se encontrava, juntamente com os relicários dos outros três intercessores nomeados até ao momento, na parte posterior do altar do oratório da Santíssima Trinidade em Villa Tevere, onde S. Josemaria rezava e celebrava habitualmente a santa Missa até à sua morte em 1975. Isto é por si um dado significativo da devoção do fundador aos santos intercessores, a que recorria com frequência. Até algum tempo depois da nomeação de Sta. Catarina de Sena em 1964, só havia quatro relicários no altar, distribuídos nos quatro espaços existentes entre as seis velas. Na devida altura, acrescentou-se um cofre semelhante para Sta. Catarina, que ocupava o espaço central; e mais tarde, depois da sua canonização em 2002, colocou-se uma relíquia do próprio S. Josemaria. Esta está num relicário do estilo de ostensório situado à esquerda do cofre de Sta. Catarina. O cofre com a relíquia de S. Tomás Moro é o primeiro à direita. S. Josemaria mostrou-o ao autor deste artigo em 30 de setembro de 1973, quando teve o privilégio de assistir à Missa do fundador nesse oratório.

S. Tomás Moro como intercessor do Opus Dei 1954-1964

A nomeação de S. Tomás Moro como intercessor não foi um mero gesto de internacionalismo. Nos começos de 1957, e depois com uma frequência excecional até 1960, como durante muitos meses de 1962 e de novo em fins de 1963, S. Tomás Moro foi escolhido como padroeiro intercessor das intenções mensais gerais propostas pelo fundador aos membros do Opus Dei para a oração e o trabalho apostólico. No momento da sua nomeação como intercessor, tinha-se-lhe confiado como campo próprio o das relações do Opus Dei com as autoridades e entidades civis ou seculares, em sentido amplo. Isto era muito apropriado para ele, já que o santo se tinha comprometido ativamente em pessoa e por meio dos seus escritos em assuntos legais e públicos, bem como na vida política em muitos níveis durante uma carreira que culminou com a tomada de posse como Lorde Chanceler de Inglaterra. Tinha trabalhado muito duramente, em colaboração com a hierarquia, para dar a conhecer os verdadeiros ensinamentos da Igreja Católica, então assediada pelos luteranos.

Quase todas as intenções mensais mencionadas se centravam especificamente na necessidade de rezar e de trabalhar para que a completa liberdade dos membros do Opus Dei em assuntos da vida profissional e pública, incluindo a política, fosse melhor compreendida[22]. Dirigiam-se claramente a resistir às confusões e calúnias do momento, originadas em Espanha, mas cada vez mais difundidas em todo o mundo por volta de 1957 e depois de vários membros do Opus Dei, no uso da sua liberdade pessoal como cidadãos, acederem a postos governamentais livremente aceites que lhes oferecia o regime franquista. Isto deu lugar a mal-entendidos, suspeitas e polémicas públicas[23].

Os anos 50 foram difíceis para o rápido crescimento do Opus Dei em Espanha, onde as relações Igreja-Estado eram – para dizer suavemente – complexas e cheias de tensões. Muitos no regime tinham uma clara mentalidade intolerante ou de partido único, que foi reforçada – ou ainda mais complicada – pela existência dum catolicismo quase oficial. O Opus Dei foi frequentemente atacado e difamado por figuras influentes e grupos institucionais, religiosos e políticos, para os quais era impossível conceber – e menos ainda tolerar – que os leigos católicos individuais pudessem atuar na vida pública por iniciativa própria, e totalmente sob a sua responsabilidade pessoal[24]. As repercussões disto nos meios de comunicação, controlados por grupos defrontados que apoiavam o regime, foram profundas e saíram do âmbito espanhol até chegar a ter impacto noutros países, onde os comentaristas mais ou menos liberais que, compreensivelmente, desagradavam tanto ao franquismo como ao seu catolicismo confessional estavam dispostos a denunciá-los duma forma que distorcia ainda mais os mal-entendidos originalmente espanhóis. Os exilados espanhóis nestes países estavam naturalmente dispostos a tirar o máximo proveito de tais informações. Os meios de comunicação britânicos não eram de maneira nenhuma imunes a tudo isto[25].

Estas tensões, além disso, aumentaram a dificuldade de obter o pleno reconhecimento civil e universitário do Estudio General de Navarra em Pamplona (germe da Universidade de Navarra), que o fundador tinha estabelecido em 1952, e dos seus títulos académicos. O Estado espanhol tinha mantido zelosamente durante muito tempo um monopólio que lhe permitia controlar o ensino superior. O Estudio cresceu de forma constante, mas durante a primeira década da sua existência os estudantes tiveram que fazer os exames na Universidade de Zaragoza para validar os títulos. A Concordata entre a Santa Sé e o Estado espanhol de 1953, que regulava entre outras coisas o papel da Igreja e do Estado na educação, dava certas possibilidades (através do artigo 31 especialmente), mas não isentas de complicações. Finalmente, após negociações muito complexas, o Estudio General obteve o estatuto de Universidade sob a proteção da Igreja em 1960 e, dois anos mais tarde, o reconhecimento civil completo dos seus títulos; algo que foi um importante precedente como instituição de ensino superior em Espanha que rompia com o monopólio do Estado. O fundador dedicou muitos esforços e orações à solução do problema durante esse primeiro decénio de existência da instituição, e sem dúvida que recorreu a S. Tomás Moro para que intercedesse no êxito das gestões perante as autoridades civis[26].

As cinco estadias de verão de S. Josemaria na Grã-Bretanha, 1958-1962

S. Josemaria passou cinco verões, os de 1958 a 1962, em Inglaterra, e como consequência passou lá mais tempo do que em nenhum outro país tirando a sua Espanha natal e Itália[27]. Na terça-feira, 26 de agosto de 1958, visitou Cantuária pela primeira vez. Foi à Catedral, tradicional sede do primeiro arcebispo, Sto. Agostinho, e viu lá o lugar do martírio doutro dos grandes santos de Inglaterra, Thomas Becket[28]; mas nesta primeira ocasião não foi à igreja de S. Dunstan. Que não visitassem essa igreja, visto em retrospetiva, pode parecer um surpreendente descuido. Só se pode supor que os britânicos que o acompanhavam nessa ocasião não tinham então uma ideia clara do significado dessa igreja. A omissão deve ter sido advertida pouco depois do seu regresso a Londres, visto que uns dias mais tarde, em 3 de setembro, foi de novo a Cantuária, desta vez com um único propósito. Foi diretamente à igreja de S. Dunstan. Depois de pedir aos que os acompanhavam que fossem visitar a Catedral, ficou a rezar com o beato Álvaro del Portillo durante uma hora ou mais junto dos restos de S. Tomás, situados na cripta dos Roper[29].

Desde o princípio da sua estada em Londres nesse ano o fundador tinha mostrado um grande interesse em que os seus filhos começassem quanto antes o trabalho estável na cidade universitária de Oxford, que visitou em 8 de agosto, só quatro dias depois da sua chegada. As gestões foram rápidas e já antes de partir se tinha concretizado uma clara possibilidade de adquirir ali uma propriedade, Grandpont House, com uma considerável parcela de terreno. As escrituras da aquisição não se formalizaram até aos princípios de 1959, mas S. Josemaria animava-os para o conseguirem já no mês de agosto anterior. De facto, tinha feito vir um arquiteto de Roma, Jesús Álvarez Gazapo, para que visse a possível localização no terreno e estudasse um projeto de construção. Grandpont House e a Universidade de Navarra eram com toda a certeza dois dos assuntos por que o fundador rezou a S. Tomás Moro em Cantuária em 3 de setembro de 1958 – Jesús Gazapo era um dos que o acompanhou naquele dia –, visto que em ambos os casos era necessário manter negociações com as autoridades civis[30]. S. Tomás Moro, embora conhecido principalmente como londrino, tinha estudado em Oxford. Mais tarde, na qualidade de advogado, tinha exercido como Alto Comissário (High Steward) da Universidade e tinha intervindo nos seus assuntos[31].

Dois anos mais tarde, em 1960, no meio de difíceis negociações com as autoridades civis e académicas sobre os planos para Grandpont House, o Pe. Juan Antonio Galarraga levou para Oxford um antigo óleo de S. Tomás Moro que até então tinha estado pendurado em Netherhall House: os membros do Opus Dei estavam a recorrer à intercessão do santo para levar para a frente uma intenção próxima do coração do fundador[32]. Precisamente antes de que o projeto que tinham para Oxford fosse rejeitado pela oposição das autoridades locais no outono de 1960, o fundador estabeleceu como intenção mensal geral de setembro para todo o Opus Dei (renovada nos meses seguintes): rezar por essas negociações, com vista ao seu potencial impacto apostólico mundial, e para isso propunha-se concretamente recorrer a S. Tomás Moro[33].

O fundador desejava visitar em 15 de agosto de 1958, festa da Assunção, uma igreja ou santuário em Londres onde se venerasse especialmente Nossa Senhora. Aceitou a sugestão de ir à igreja paroquial católica de Nossa Senhora de Willesden, um santuário anterior à Reforma que foi destruído no século XVI e tinha sido reconstruído e reinaugurado recentemente. De facto, tinha sido o centro de muitas peregrinações diocesanas no recente Ano Mariano mundial de 1954. Na manhã da festa, S. Josemaria foi lá com vários dos seus filhos e renovou a consagração do Opus Dei ao Coração de Maria, que tinha feito pela primeira vez exatamente sete anos antes em Loreto (Itália), rezando além disso pelo desenvolvimento do trabalho apostólico, especialmente na Grã-Bretanha[34]. S. Tomás Moro também tinha visitado o santuário prerreformista de Willesden[35]. Quase meio século depois da visita de 15 de agosto de 1958, em 13 de junho de 2006 teve lugar a bênção pública duma lápide colocada pelo clero paroquial na parte dianteira da igreja com representações pintadas dos dois santos canonizados que se sabe que peregrinaram a Willesden – S. Tomás Moro e S. Josemaria Escrivá – rezando perante Nossa Senhora[36].

Na quinta-feira, 16 de julho de 1959, o fundador chegou à Grã-Bretanha através de Dover na sua segunda visita ao país, e nesse mesmo dia fez uma visita a S. Dunstán em Cantuária no caminho para Londres de carro. Nesse verão fez pelo menos outra visita, a 10 de agosto, de Londres. Foi durante esta estada, e depois de duas visitas a Cantuária, que foi publicado o artigo no Times a que nos referimos no começo deste artigo.

Pelo que recordava Andrés Vázquez de Prada[37] quando escreveu sobre o assunto depois da morte do fundador, foi no verão de 1959 – em 10 de agosto, durante a viagem de regresso de carro a Londres desde Cantuária, onde tinha ido em peregrinação para rezar ante os restos de Moro – que manteve uma longa conversa com S. Josemaria em que Andrés relatou aspetos da vida, morte e sepultura do mártir. Tinha estado a investigar estas questões desde o ano anterior, depois de observar que S. Josemaria recorria à intercessão do santo para levar para a frente os seus planos de expansão apostólica na Grã-Bretanha. Nessa conversa, mencionou também de passagem que estava a preparar alguns artigos curtos sobre S. Tomás Moro para uma revista espanhola. O beato Álvaro del Portillo, que ia com eles no carro, interveio com uma sugestão: «Não podias escrever um livro?». Esta ideia foi imediatamente aceite e desenvolvida por S. Josemaria, que animou Vázquez de Prada a embarcar na empresa e acrescentou o interesse que teria aprofundar na psicologia da personagem, desenvolver as suas ideias e contextualizá-las adequadamente. A conversa girou à volta do trabalho que se espera dum bom historiador, e o fundador insistiu na importância da veracidade, para a qual o historiador há de ser rigoroso na recolha de dados[38].

Devido à insistência paternal de S. Josemaria, preocupado pela saúde de Vázquez de Prada, este passou um prolongado período em Espanha a recuperar duma doença entre o outono de 1959 e a primavera de 1960. Longe de estar ocioso durante a convalescença, aproveitou a ausência forçada do trabalho profissional em Londres para preparar um primeiro esboço da biografia que tinha sido animado a escrever. Em maio de 1960, foi a Roma a convite do fundador e deixou lá o seu texto para obter opiniões de críticos qualificados. Voltou a Londres a tempo de acompanhar de novo S. Josemaria ali nesse verão e disse-lhe que tinha recebido alguns comentários, um dos quais o tinha decidido a uma reelaboração completa do manuscrito para conseguir uma maior eficácia. O fundador, numa das conversas que mantiveram sobre S. Tomás Moro, instou-o de novo a procurar «a verdade, a objetividade; sem medo do que pudesse averiguar»[39]. Em Londres, durante o verão de 1962, o autor, a pedido explícito de S. Josemaria, obteve para ele um conjunto de provas corrigidas da sua – agora completamente reescrita e quase a ser publicada – biografia em espanhol. Pouco depois, quando o fundador a leu com escrupulosa atenção, disse ao autor: «Este livro está escrito com o coração»; e acrescentou: «Teve que te fazer muito bem por dentro». Como já tinha dito em várias ocasiões, tinha-lhe agradado a atitude de Vázquez de Prada a assumir as críticas e sugestões recebidas de outros para melhorar a sua obra[40]. Houve outros testemunhos de como S. Josemaria gostou do texto, tanto nesse verão como em anos posteriores[41], quando ao ter conhecimento de novas edições do livro comentava o muito bem que a sua leitura faria às almas[42].

O fundador continuou a fazer visitas a Cantuária em cada uma das suas permanências de verão em Inglaterra até 1962[43], e também visitou outros sítios associados com Moro, incluindo a Torre de Londres, onde o santo foi encarcerado. Vázquez de Prada menciona nas suas recordações uma visita que fez com S. Josemaria no verão de 1961 ou 1962 a Lincoln's Inn, uma das quatro grandes sociedades de advogados ingleses, de que Moro tinha sido membro desde os seus anos de estudante de Direito. Concretamente recordava que estiveram no Old Hall e noutros edifícios da época de Moro, alguns deles conservam-se no seu estado original e outros restaurados, e que o fundador mostrou grande interesse[44].

A evidente devoção de S. Josemaria e a sua confiança na intercessão de S. Tomás Moro foi um exemplo para muitos membros do Opus Dei, cooperadores e amigos. O interesse do fundador pela peregrinação e a oração devota na cripta dos Roper em Cantuária fez com que muitos dos seus filhos, residentes em Inglaterra ou de passagem, fossem lá desde finais dos anos 50 em diante[45]. Vários publicaram biografias do santo nas suas próprias línguas[46].

S. Tomás Moro e Sta. Catarina de Sena

Vázquez de Prada menciona também nas suas memórias a preocupação do fundador por que ficassem claros na sua biografia de S. Tomás Moro os motivos do seu silêncio inicial durante o julgamento em que foi condenado à morte. Em Londres, durante o verão de 1960, S. Josemaria disse a Vázquez de Prada que o seu relato não deixava ficar clara a atitude do santo perante as autoridades inglesas e que ao não a explicar bem podia interpretar-se mal, sobretudo ao compará-la com a clareza com que se tinha exprimido no seu momento Sta. Catarina de Sena. Vázquez de Prada entendeu que o suposto silêncio de Moro se apresentava quase como um fracasso, ao evitar dizer abertamente o que pensava em consciência. Para esclarecer a questão, Vázquez de Prada decidiu inserir no seu livro uma longa nota de rodapé que continha um esclarecimento feito sobre este mesmo ponto no século XVI pelo cardeal Reginald Pole numa carta a um bispo espanhol[47].

Os historiadores das últimas décadas esclareceram a controversa questão do silêncio de Moro e demonstraram como na realidade foi muito ativo nos assuntos do «Parlamento da Reforma» que se reuniu a partir de 1529, tanto de forma indireta – um procedimento que usou especialmente enquanto esteve ao serviço do rei – como direta através de publicações, até à sua demissão da chancelaria de Inglaterra em 1532[48]. Embora tenha sido prudente, a sua atitude não passou despercebida aos adversários. O silêncio que usou na sua própria defesa no fim da sua vida, quando já não ocupava um cargo público, foi tão relativo que a sua manifesta eloquência lhe custaria a vida.

Outro assunto que pode ter preocupado S. Josemaria, com o seu elevado conceito da dignidade da vocação laical, era a forma como algumas das biografias então disponíveis tratavam da suposta tentativa de vocação do jovem Moro com os cartuxos. Alguns sugeriram, com Erasmo, que se tinha conformado com a vida de segunda categoria como um bom marido em vez de como um mau sacerdote. O fundador comentou, depois de ler em 1962 as provas do livro de Vázquez de Prada, como estava particularmente satisfeito com o relato que ali se fazia da descoberta da vocação de Moro[49].

Quando a italiana Sta. Catarina de Sena foi nomeada quinta (e última) intercessora do Opus Dei em 1964, o fundador deixou claro que a sua devoção por ela vinha de longe. O que era novidade nesse momento era a força com que se informava não sobre mas com frequência contra a Igreja nos numerosos comentários mediáticos que acompanharam o Concilio Vaticano II, e uma globalização cada vez maior de calúnias originalmente espanholas contra o Opus Dei. S. Josemaria tinha-se contentado durante muito tempo com manter um silêncio discreto – atendendo a conselhos de eclesiásticos prudentes da cúria romana que coincidiam com o seu habitual desejo de «passar despercebido» –, e inclusivamente estava decidido a deixar passar os ataques contra a sua pessoa; mas ao mesmo tempo que sofria por causa da deslealdade e a falsidade com que frequentemente se tratava a Igreja e a Obra nos princípios dos anos sessenta, compreendeu que tinha chegado o momento de falar claramente[50]. Este processo chegou ao ponto culminante na primavera de 1964, quando afirmou: «Antes o que era heroico era calar, e assim o fizeram os vossos irmãos. Mas agora o heroico é falar, para tratar de evitar que se ofenda a Deus Nosso Senhor. Falar; procurando não ferir, com caridade, mas também com clareza. Viva Sta. Catarina!». A festa da Santa italiana, então em 30 de abril, celebrou-se de maneira particular pela primeira vez nesse ano em Villa Tevere[51]. Em 13 de maio, anunciou que, a partir de então, Sta. Catarina de Sena seria a intercessora do Opus Dei nos assuntos relacionados com o apostolado de dar uma orientação correta e veraz à opinião pública[52].

Como se viu, algumas das intenções mensais gerais propostas pelo fundador aos seus filhos a partir de fins dos anos 50 estavam relacionadas com a oração para uma correta formação da opinião pública e até então tinham sido confiadas a S. Tomás Moro. Com a nomeação de Sta. Catarina, pode dizer-se que S. Tomás Moro se desprendia duma parte do terreno que lhe tinha sido confiado até esse momento. Daí em diante, continuava a ser um valioso intercessor no amplo espaço das relações do Opus Dei com as autoridades civis e seculares, enquanto o campo mais específico do apostolado da opinião pública, claramente considerado até então como parte do mesmo, se confiava agora a Sta. Catarina. Não se deve atribuir de modo algum essa mudança a dúvidas do fundador sobre a profunda fortaleza do santo inglês. Trata-se antes duma consequência do novo ênfase que se devia dar – sempre com uma perspetiva positiva – ao papel dos meios de comunicação das massas, a necessidade de os tratar com profissionalismo e o interesse por procurar para esse trabalho um intercessor apropriado – neste caso uma intercessora[53].

S. Tomás Moro nos últimos anos de S. Josemaria

Não há dúvida que, independentemente do que S. Josemaria tivesse lido até então sobre S. Tomás Moro, a biografia publicada em 1962 por Vázquez de Prada – um filho espiritual que compartilhava os seus pontos de vista – ampliou notavelmente a sua admiração pelo santo inglês. A partir de então, e após os seus cinco verões em Londres, registam-se várias referências concretas do fundador a S. Tomás Moro que deixam ficar claro que já não tinha reservas sobre a qualidade da sua atividade pública.

Em 1966, por exemplo, no meio da confusão caraterística desses anos, Ramón García de Haro recorda como o fundador lhes dizia que o santo inglês tinha cultivado todas as virtudes, entre elas a de conjugar a intransigência com o erro e a transigência com as pessoas. Acrescentou o comentário, repetido muitas vezes nestes anos, de que Tomás Moro podia ter pertencido facilmente ao Opus Dei como membro supranumerário se tivesse vivido atualmente[54].

Às vezes falava de Moro como um exemplo, para as pessoas modernas, de verdadeira fidelidade no exercício de direitos e deveres, tanto como cidadãos como cristãos, fazendo notar que mesmo antes de ter visto o Opus Dei em 2 de outubro de 1928, ele próprio tinha tido uma perceção clara da importância de cada um destes campos. O exemplo do santo leigo inglês era-lhe especialmente valioso a este respeito[55].

Em 1973, disse a um grupo dos seus filhos em Roma – ao afirmar que as futuras edições da biografia de Andrés Vázquez de Prada podiam fazer muito bem – que Moro tinha tido o coração dum pai e dum marido e que, embora tivesse amado o rei, também tinha demonstrado saber como dizer «não»[56].

S. Josemaria pôde ver Um homem para a eternidade, o filme dirigido por Zinnemann, pouco depois de aparecer em 1966. Alguns anos mais tarde, no final da sua vida, acedeu à proposta dalguns dos seus filhos em Espanha de assistir a outra projeção, porque pensavam que o ajudava a descansar; mas nesta ocasião levantou-se inesperadamente e abandonou a sala pouco depois de ter começado o filme. Umas horas mais tarde explicou aos que o rodeavam que tinha deixado de ver o filme pelo sofrimento que lhe causava considerar os paralelismos entre o que via ali e a situação da Igreja contemporânea, em que, conforme sugeriu, muitas coisas estavam em pior estado do que na Inglaterra de Moro. Aproveitou a ocasião para falar da vida do santo com tal pormenor que alguns dos presentes se surpreenderam[57]. No contexto similar dos problemas na Igreja no decénio de 1960 e a deslealdade manifestada inclusivamente, ou especialmente, por alguns clérigos, ouviu-se o fundador comentar algumas vezes como o leigo S. Tomás Moro tinha dado um exemplo de fortaleza e de lealdade aos sacerdotes e bispos de Inglaterra[58].

Gostava de mostrar a relíquia de S. Tomás Moro que se conserva no oratório da Santíssima Trindade aos ingleses do Opus Dei que estudavam em Roma ou que simplesmente estavam de visita, e era frequente aproveitar essas ocasiões para os animar a refletir. Nessas ocasiões comentava com uma fina ironia como tinha sido difícil obter a relíquia nessa tão apregoada terra de liberdade, e aproveitava a ocasião para expor a verdadeira natureza da liberdade de espírito dos cristãos[59]. Depois dos verões passados em Inglaterra tinha compreendido que, juntamente com numerosas virtudes, o carácter tipicamente inglês incluía uma certa obsessão pelo respeito à «privacidade» que podia inibir os seus filhos ingleses no momento de se envolverem na vida de outros como verdadeiros amigos e apóstolos, e aproveitava a ocasião para lhes apresentar uma conceção adequada da liberdade[60].


[1] The Times (Londres), 20 de agosto de 1959, p. 9. Thomas Ferrier Burns (1906-1995) aceitou escrever o artigo com a condição de se reunir com S. Josemaria nesse verão, o texto impresso dá a entender que o encontro já tinha tido lugar e que nele falaram de S. Tomás Moro: Arquivo Geral da Prelatura, Roma [AGP], Sec. A, Leg. 0212, Carp. 03, Exp. 1: 11 pp., MS. testemunho, 'Londres 1959', assinado por Juan Antonio Galarraga, Cádiz, 30 de Agosto de 1975, p. 4. Cf. S. Josemaria, Conversaciones con Monseñor Escrivá de Balaguer, edição crítico-histórica preparada sob a direção de José Luis ILLANES, Roma-Madrid, Istituto Storico San Josemaría Escrivá – Rialp, 2012, pp. 16-17. Sobre o que os dois santos tinham em comum, cf. Dominique Le Tourneau, Josemaría Escrivá et Thomas More: l’héroisme au quotidien, ‘Moreana’ 38, 147-48, Dec. 2001, pp. 25-40.

[2] cf. Andrés Vázquez de Prada, El Fundador del Opus Dei. Madrid, Rialp, 1997-2003, vol. III, pp. 305-307.

[3] Em julho de 1954 planeou-se a realização dum quadro que representasse os quatro intercessores à volta duma imagem central de Nossa Senhora (posteriormente mudada por uma de S. José): Diário das obras de Villa Tevere, julho de 1954, AGP, série M.2.2, 1059-5. Há dois oratórios em Villa Tevere dedicados a S. Nicolau e a S. João Maria Vianney, nomeados intercessores com anterioridade, mas não a S. Pio X ou a S. Tomás Moro, nomeados intercessores quando as obras já estavam avançadas. Um altar (colocado num lateral da sala chamada Aula, por trás duma grade) está dedicado conjuntamente aos quatro intercessores nomeados no momento da sua construção.

[4] cf. Andrés Vázquez de Prada, El Fundador del Opus Dei. Rialp, vol. III, p. 306; AGP, série A.5, 192-3-1, testemunho de Jesús Álvarez Gazapo.

[5]cf. ibíd., p. 414, nota 70. Testemunho de Hugo de Azevedo, 6 de setembro de 1975, AGP, serie A.5, 206-3-8.

[6] cf. Michael Clifton, Amigo – Friend of the Poor: Bishop of Southwark 1904-1949, Leominster, Gracewing, 1987, pp. 57-65. Cf. George Santayana, Persons and Places: Fragments of Autobiography, W. G. Holzberger - H. J. Saatkamp Jr. (eds.), com introdução de R. C. Lyon, Cambridge, MIT Press, 1986, p. 527: o mesmo anglófilo observou que a família espanhola da sua irmã justamente depois da Primeira Guerra Mundial tinha sido contagiada por uma anglofobia em sintonia com a clerical and nationalist Spanish opinion.

[7] AGP, série A.5, 252-1, 1 p. TS. testemunho de Andrés Vázquez de Prada, assinado, Madrid, 20 de agosto de 1975, que começa, «Durante as estadas». S. Josemaria disse aos visitantes irlandeses que se «vingassem» devolvendo bem por mal ao converter os britânicos.

[8] Por exemplo, palavras citadas em Obras, Agosto de 1964, pp. 11-12, AGP, Biblioteca, PO3.

[9] AGP, série A.2, 24-2-1: 12 pp. TS., com o título «Inglaterra: verão 1958», sem assinar, de 1975, p. 7. Comissão Regional do Opus Dei na Grã-Bretanha, Londres [daqui em diante, Comissão Regional GB], MS. A6 nota do defunto professor John Henry sobre os comentários do fundador a este respeito, Londres, 1962.

[10] cf. Andrés Vázquez de Prada, El Fundador del Opus Dei. Rialp, vol. III, pp. 158-163.

[11] Na versão completa deste artigo (disponível tanto em formato impresso como digital em Studia et Documenta, vol. 8) recolhemos ampla e minuciosamente as vias por que S. Josemaria pôde ter acesso à abundante bibliografia existente sobre S. Tomás Moro, antes e depois da sua nomeação como intercessor em 1954. Por razões de espaço não incluímos aqui essa parte do estudo, e por isso remetemos o leitor para o original em inglês.

[12] Comissão Regional GB, folha A6, MS, dupla face, de Giorgio De Filippi a Juan Antonio Galarraga, sem data (separada da carta datada?). A última correspondência de De Filippi foi em 18 de janeiro de 1958. A atribuição das relíquias dos intercessores ao oratório da Santíssima Trindade pode ser posterior.

[13] Comissão Regional GB, folha A5, TS. Cópia, sem data, informa em espanhol sobre o resultado da visita de 14 de fevereiro de 1958, presumivelmente para o seu envio ao fundador.

[14] cf. Hugo O. Aalbin, Opening of the Roper Vault in St. Dunstan's Canterbury and Thoughts on the Burial of William and Margaret Roper, 'Moreana' 63 (Dez. 1979), pp. 29-35. Para a abóbada e o ataúde de chumbo com o crânio: http://www.youtube.com/watch?v=3h0sQRqVWtk (consultado em 7 de julho de 2012). S. Josemaria não foi para além da lápide.

[15] Juan Antonio Galarraga (São Sebastião 1920, Sevilha 2005), doutorado em Farmácia, depois de dirigir as residências universitárias de Jenner (Madrid) e Albayzín (Granada), em 1946 foi ampliar estudos na London School of Hygiene and Tropical Medicine e iniciou a atividade apostólica do Opus Dei na Grã-Bretanha. Recebeu a ordenação sacerdotal em 1953 e durante o período a que se referem estes dados era conselheiro do Opus Dei nessa região. Regressou a Espanha em 1972.

[16] Comissão Regional GB, TS. Carta de Mons. Gordon Wheeler ao padre Juan Antonio Galarraga, 18 de junho de 1958. Mons. Wheeler informa que a relíquia tinha chegado antes de que Zulueta ocupasse o seu cargo em 1941. Cf. Catholic Herald (Londres), 13 de fevereiro de 1981, p. 3, «Relic of Chelsea’s Own Saint is Stolen», em que se sugere que a relíquia foi adquirida «há uns 20 anos». Cf. Id., 6 de março de 1970, p. 3, «St. Thomas More relics sought by Germans in Mexico»: a relíquia de Chelsea, «demasiado pequena para ser dividida», diz-se que procede de Bruges. O relato de Alfonso de Zulueta pode ser compatível com o do Herald se «há 20 anos» se referir à apresentação posterior da relíquia restaurada. Não há documentação paroquial existente sobre a sua aquisição.

[17] Informação dada por Mons. Richard Stork.

[18] cf. AGP, série A.5, 214-1-1, 17 pp. MS. testemunho, assinado por Juan Antonio Galarraga, Cádiz, 30 de agosto de 1975, «1958», pp. 8-9; AGP, série A.2, 24-2-1, 12 pp. TS. testemunho, encabeçado «Inglaterra: verão 1958», sem assinar, datado em 1975, p. 12; AGP, série A.2, 238-2-6, testemunho do Pe. Jaime Planell Fonrodona, Pamplona, 30 de agosto de 1975; Ana Sastre, Tiempo de Caminar: Semblanza de Monseñor Josemaria Escrivá de Balaguer, Madrid, Rialp, 1989, p. 375. Em novembro ou dezembro de 1959, o fundador mostrou o relicário vazio a alguns membros do Opus Dei: AGP, série A.5, 244-2-1, testemunho de Gumersindo Sánchez Fernández, Bilbau, 16 de setembro de 1975.

[19] cf. Lives of the English Martyrs Declared Blessed by Pope Leo XIII. in 1886 and 1895: Written by Fathers of the Oratory, of the Secular Clergy, and of the Society of Jesus, vol. I, Martyrs under Henry VIII, Bede Camm (ed.), reeditado, Londres, Longmans, Green and Co, 1914, p. 172; informação proporcionada por correio eletrónico em 3 de julho de 2012 pela irmã Mary Aline, arquivista do convento de Bruges; e por correio eletrónico de 10 de julho de 2012 de Anna Edwards, arquivista auxiliar dos arquivos da província britânica da Companhia de Jesus.

[20] cf. ‘The Hairshirt of St. Thomas More, Newton Abbot, South Devon, St. Augustine’s Priory’: folheto duplicado de TS. 4 pp., na Comissão Regional GB; mencionado na entrada «More» da Catholic Encyclopedia (1912): na linha em: http://www.newadvent.org/cathen/14689c.htm (consultado em 5 de julho de 2012).

[21] Comissão Regional GB, TS. e MS. Onze cartas entre Juan Antonio Galarraga e a madre Mary Dorothy, prioresa das Cónegas Regrantes, Priorado de Sto. Agostinho, Newton Abbot, Devon, 28 de agosto a 21 de dezembro de 1959. Cf. AGP, série A.5, 214-1-1, 17 pp. MS. estemunho, assinado por Juan Antonio Galarraga, Cádiz, 30 de agosto de 1975, «1958», pp. 8-9, para um relato posterior; AGP, série A.5, 238-2-6, testemunho de Jaime Planell Fonrodona, Pamplona, 30 de agosto de 1975; AGP, série A.2, 24-2-2 'o nosso Padre em Inglaterra [verão 1959]', 5 pp. TS. em espanhol, sem assinar, pp. 3-4. O Priorado encerrou em 1983, a relíquia passou para o bispo de Plymouth que a confiou a outra comunidade feminina, as monjas brigidinas de Syon Abbey, Marley Road, South Brent, Devon, que encerrou recentemente. O bispo – informação dada por correio eletrónico em 5 de julho de 2012, pela irmã Benignus O'Brien, arquivista diocesana – confiou agora a relíquia aos monges beneditinos da Abadia de Buckfast, Devon.

[22]Comissão Regional GB, TS. Intenções mensais gerais para janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho de 1957; novembro e dezembro de 1958; maio, junho, julho, agosto, setembro e outubro de 1962; novembro e dezembro de 1963.

[23] Para o contexto histórico, cf. Jaume AURELL, La formación de un gran relato sobre el Opus Dei, Set D 6 (2012), pp. 235-294, passim.

[24] O tom moderadamente positivo do esboço biográfico de S. Josemaria que The Times publicou em 1959 – citado mais acima – foi motivo dum breve embargo da venda desse número em Espanha. Cf.The Times (Londres), 24 de agosto de 1959, p. 7, e 27 de agosto de 1959, p. 7. O incidente provocou que um membro do Opus Dei e crítico do regime, publicasse em Paris uma análise pormenorizada do sucedido: Rafael Calvo Serer, Notes sur un article du "Times", 'La Table Ronde', 142, out. 1959, pp. 144-153.

[25] cf., por exemplo, The Times (Londres), 30 de setembro de 1957, p. 9, carta de esclarecimento do Pe. Juan Antonio Galarraga ao editor.

[26] cf. AGP, série A.2, 24-2-2 «o nosso Padre em Inglaterra [verão 1959]», item 2, 5 pp. TS. em espanhol, sem assinar, p. 3: o autor do testemunho tinha ouvido dizer ao Pe. Juan Antonio Galarraga que a visita de S. Josemaria em 1959 ao seu velho amigo, o bispo Pedro Cantero Cuadrado – que então se alojava na residência do bispo de Salford, em Wardley Hall – estava relacionada com a futura universidade e com uma intenção que o fundador tinha confiado a S. Tomás Moro; a mesma fonte indicava que o fundador acabava de visitar a cripta dos Roper com essa intenção. Cf. Comissão Regional GB, A6 MS. nota de Gonzalo González, 19 de Dezembro de 2008, em que diz que Galarraga tinha a certeza de que o fundador tinha rezado pelo Estudo Geral na sua primeira visita à cripta em 1958; Manuel Garrido González, Correspondencia de san Josemaría Escrivá con aragoneses, em Martín Ibarra Benlloch (ed.), Semblanzas Aragonesas de san Josemaría Escrivá de Balaguer, Torreciudad (Huesca), Patronato de Torreciudad, 2004, pp. 161-198, na p. 165, para uma carta do fundador a Mons. Cantero, 9 de agosto de 1959, sobre o novo Instituto de Direito Canónico. Para a correspondência com outro eclesiástico sobre a futura Universidade, cf. Santiago Martínez Sánchez, Dos amigos que se escriben: Josemaría Escrivá y José María Bueno Monreal. 1939-1975, SetD 6 (2012), pp. 297-394, nas pp. 317-319, 342-346, 350-357, 359. Existe uma fotografia de S. Josemaria a rezar em S. Dunstan em que aparece acompanhado, entre outros, por Florentino Pérez Embid, que esteve muito envolvido nessas negociações e veio em 1960 consultar o fundador. O então prelado do Opus Dei, Mons. Javier Echevarría – que acompanhou S. Josemaria durante as suas estadas em Londres entre 1958 e 1962 –, nas respostas orais às perguntas formuladas pelo autor deste artigo em Londres, em 12 de abril de 2008, confirmou que o fundador estava a seguir com muito interesse as gestões para que se aprovasse o que seria passado tempo a Universidade de Navarra e que rezou por isso perante os sagrados restos de S. Tomás Moro na cripta dos Roper. Acrescentou que a Santa Sé tinha muito interesse em que se erigisse como Universidade Católica para quebrar o domínio do Estado sobre a educação superior, mas que o fundador não desejava uma instituição confessional. Só aceitou essa fórmula porque a Santa Sé o desejava.Para os primeiros anos da Universidade, cf. Francisco Ponz, Principios fundacionales de la Universidad de Navarra, em Onésimo DÍAZ - Federico M. Requena (eds.), Josemaría Escrivá de Balaguer y los inicios de la Universidad de Navarra (1952-1960), Pamplona, Eunsa, 2002, pp. 41-108, passim, esp. pp. 56-57; Federico SUÁREZ, Los orígenes de la Facultad de Filosofía y Letras: la Escuela de Historia, en Ibid, pp. 185 y 202, passim. Cf. («From a Correspondent»), «The University of Navarre: Its Aims and Achievements», The Tablet (Londres) 22 de junho de 1963, p. 678, para um resumo bem informado dos seus primeiros onze anos, os pormenores do reconhecimento do Estado e os aspetos em que se diferencia duma universidade eclesiástica em sentido estrito.

[27] Para um esboço, cf. Andrés Vázquez de Prada, El Fundador del Opus Dei. Rialp, vol. III, pp. 340-350.

[28] Que Cantuária tivesse sido a sede episcopal de Sto. Agostinho, enviado pelo Papa S. Gregório Magno para evangelizar a Inglaterra, era motivo mais que suficiente para a visita.

[29] cf. AGP, série A.5, 214-1-1, 17 pp. MS. testemunho, «1958», assinado por Juan Antonio Galarraga, Cádiz, 30 de Agosto de 1975, pp. 7-8: tem dúvidas se o fundador foi duas ou três vezes a Cantuária em 1958, e inclusivamente sobre se a ocasião em que ficou só com o beato del Portillo teve lugar então ou em 1959. Outro recorda que Galarraga lhe disse, muito antes, que em 26 de agosto não visitaram S. Dunstan: Comissão Regional GB, A6 MS. nota de Gonzalo González, 19 de dezembro de 2008.

[30] cf. AGP, série A.5, 252-1, pp. 21-22; AGP, série A.2, 24-2-1: 12 pp. TS. Testemunho, intitulado «Inglaterra: verão 1958», sem assinar, de 1975, pp. 2, 3, 5, 6, 8, 9, 10, 12. Há uma fotografia tirada em S. Dunstan, em 3 de setembro de 1958, com o arquiteto Jesús Álvarez Gazapo.

[31] cf. Chambers, Thomas More, pp. 64-66, 215.

[32] cf. AGP, série M.2.2, 283-14, Diary, Grandpont-2, Oxford (Inglaterra), 12 fev. 1960 - 5 mar. 1961, terça-feira 1 mar. 1960. O mesmo diário, em 26 de junho de 1960, indica que Vázquez de Prada vivia então ali e estava a trabalhar na sua biografia. Nada sugere que o quadro se mudasse por indicação do fundador. Cf. também AGP, série M.1.1, c1586-A1, carta de Joaquín Alonso a Juan Antonio Galarraga, Roma, 20 de outubro de 1960, instando as pessoas do Opus Dei da Grã-Bretanha, da parte do fundador, a rezar tanto a S. Tomás Moro como ao (ainda não beatificado) cardeal John Henry Newman pelo êxito do projeto de Oxford.

[33] cf. Comissão Regional GB, TS. Intenção mensal geral, setembro, outubro e novembro de 1960: «Peçamos a Deus Nosso Senhor que abençoe o desenvolvimento do trabalho que fazemos em Oxford […] e faça possível que muitas pessoas dos diferentes países da Ásia, África, Escandinávia, etc., se venham formar na nossa residência; de modo a contribuírem depois para que esses países vivam e se desenvolvam segundo os princípios e o espírito de Cristo, e sejam também uma ajuda eficaz no trabalho apostólico da Igreja».

[34] cf. AGP, série A.2, 24-2-1, 12 pp. TS. testemunho, intitulado «Inglaterra: verão 1958», sem assinar, de 1975, p. 5; AGP, série A.5, 214-1-1, 17 pp. MS. testemunho, assinado por Juan Antonio Galarraga, Cádiz, 30 de agosto de 1975, «1958», pp. 14-15; Andrés Vázquez de Prada, El Fundador del Opus Dei. Rialp, vol.III, p. 343.

[35] cf. Peter Ackroyd, The Life of Thomas More, Londres, Chatto Windus, 1998, p. 350. A enteada de More casou com sir Giles Alington de Willesden, pelo que provavelmente o visitava com frequência. cf. também Andrés Vázquez de Prada, Sir Tomás Moro, p. 229.

[36] O Pe. Nicholas Schofield, então sacerdote assistente na paróquia – e depois arquivista da Arquidiocese de Westminster – e, evidentemente, o pároco, Pe. Stephen Willis, participaram ativamente no projeto. Depois da beatificação de D. Álvaro del Portillo em 2014 acrescentou-se a sua imagem ao conjunto.

[37] Andrés Vázquez de Prada (Valladolid 1924, Madrid 2005), historiador, jurista, professor, diplomata e escritor trabalhou durante 30 anos na Embaixada espanhola em Londres e é autor da mais extensa biografia publicada do fundador (três volumes e um total de 2.200 páginas, que se citam várias vezes no presente trabalho), que conheceu em 1942 e com quem esteve pessoalmente em numerosas ocasiões, especialmente durante as permanências do fundador em Inglaterra (1958-1962).

[38] AGP, série A.5, 252-1, 3 pp. TS., assinado por Andrés Vázquez de Prada, Madrid, 4 de setembro de 1975, que começa «No verão de 1959»; também, referência resumida em «Prólogo à primeira edição», Andrés Vázquez de Prada, Sir Tomás Moro, p. 12: «uma voz paterna e amiga animou-me a rematar o trabalho»

[39] AGP, série A.5, 252-1, pp. 4, 21-27.

[40] cf. Ibid., p. 27, 1 p. TS Testemunho assinado por Andrés Vázquez de Prada, Madrid, 13 de agosto de 1975.

[41] cf. Comissão Regional GB, A6 MS. nota de Gonzalo González, 19 de dezembro de 2008, em que se recorda S. Josemaria a dizer a Vázquez de Prada em Londres que tinha lido o seu livro e declarando, «passei uns bons momentos»; AGP, série A5, 247-2-4, testemunho de Richard Stork, 31 de agosto de 1975; AGP, série A.5, 197-1-5, testemunho de Rafael María de Balbín Behrmann, com referência a uma reunião em Pamplona, 12 de setembro de 1962.

[42] cf. AGP, série A.5, 198-3-1, testemunho de Pablo Bofill, Elorrio, 18 de agosto de 1975, com referência a umas palavras ouvidas em Roma em 20 de janeiro de 1973.

[43] Em 1961 foi a Cantuária pelo menos em 10 de agosto e em 1962, em 27 de agosto: informação dada por Mons. Richard Stork a partir de resumos feitos nesse momento pelas mulheres do Opus Dei que estavam em Londres.

[44] cf. AGP, série A.5, 252-1, p. 24, 1 p. TS. testemunho, assinado por Andrés Vázquez de Prada, Madrid, 14 de agosto de 1975. Pode não ter entrado na Torre – para o fazer é preciso pagar uma entrada, e o seu espírito de pobreza levava-o habitualmente a evitar esses gastos – mas com certeza viu-a de fora.

[45] cf. AGP, série A.5, 1465-1-10, testemunho assinado de Cipriano Rodríguez Santa María, Manizales, agosto de 1975: os estudantes do Colégio Romano da Santa Cruz falaram das visitas do fundador à cripta dos Roper, a propósito da sua estada em Londres durante o verão de 1959.

[46] Por exemplo, Peter Berglar, Die Stunde des Thomas Morus: Einer gegen die Macht, Friburgo, Walter, 1978; Gerard Wegemer, Thomas More: A Portrait of Courage, Princeton, Scepter, 1995.

[47] cf. AGP, série A.5, 252-1, 1 p. TS. testemunho, assinado por Andrés Vázquez de Prada, Madrid, 13 de setembro de 1975; Andrés Vázquez de Prada, Sir Tomás Moro, p. 361, nota 6; Comissão Regional GB, A6 MS. nota, com a data 19 de dezembro de 2008, por Gonzalo González. Pole defendeu o uso que Moro faz da lei para se manter em silêncio durante o julgamento como algo apropriado para um advogado leigo, e fez notar o seu manifesto recurso à lei divina ao declarar publicamente o que pensava em consciência depois da condenação: cf. Thomas F. Mayer (ed.), The Correspondence of Reginald Pole (4 vols. até à data), Aldershot, Ashgate, 2002-2008, ii, pp. 120 y 121, Pole a Francisco de Navarra, bispo de Badajoz [provavelmente em princípios de 1553]. Um folheto (conservado na Comissão Regional GB) utilizado pelo fundador na sua visita a Londres nalgum momento de 1958-1962, afirmava explicitamente que Moro foi condenado «por silêncio»: The Tower of London: Notes for Catholics, Londres, Catholic Truth Society, 1955, p. 4. De facto, pode-se argumentar que os seus esforços para influir no rei continuaram mesmo depois da sua demissão do cargo.

[48] Especialmente, John A. Guy, The Public Career of Thomas More, Brighton, Harvester Press, 1980, passim, esp. pp. 97-203. Sobre o «silêncio» no direito inglês e no direito civil, cf. J. Duncan M. Derrett, «More's Silence and his Trial», Moreana 22 (87-88, nov. 1985), pp. 25-27. Cf. Oliver Moore, «Sir Thomas More's Final Years: Silence, Silencing, and Constitutional Change», Law and Humanities 2 (1), (2008), pp. 75-98; Hernán Corral Tarciani, «Qui tacet consentire videtur. A importância duma antiga regra canónica no julgamento contra Tomás Moro», Ius Canonicum 51, no. 101 (2011), pp. 137-160; Henry Ansgar Kelly; Louis W. Karlin; Gerard B. Wegemer (eds.), Thomas More's Trial by Jury, Woodbridge, Boydell Press, 2011, passim.

[49] cf. AGP, série A.5, 252-1, 2 pp. TS. testemunho, assinado por Andrés Vázquez de Prada, Madrid, 3 de setembro de 1975.

[50] cf. Andrés Vázquez de Prada, El Fundador del Opus Dei. Rialp, vol. III, pp. 518-536, passim; Aurell, La formación, esp. pp. 271-274, 285-86; Illanes, Conversaciones, ed. crít., pp. 19-25.

[51] Crónica, maio de 1964, p. 62, AGP, Biblioteca, PO1; Crónica, março de 1989, pp. 304-305, AGP, Biblioteca, PO1; ambas citam palavras do fundador. S. Tomás Moro tinha sido nomeado pelo fundador padroeiro das intenções mensais gerais mesmo em fins de 1963: Comissão Regional GB, TS. Intenções mensais gerais, novembro e dezembro de 1963, a primeira relativa à comunicação do Magistério da Igreja e a segunda ao esclarecimento da liberdade política dos membros do Opus Dei.

[52] Crónica, maio de 1964, p. 61, AGP, Biblioteca, PO1; Crónica, março de 1989, p. 305, AGP, Biblioteca, PO1.

[53] Tomás Moro venerava Sta. Catarina e conhecia bem os seus escritos. Cf. CW vol. 7, Frank Mamley; Germain Marc’Hadour; Richard Marius; Clarence H. Miller (eds.), p. 209, linhas 19-25; p. 375, nota 209/25.

[54] AGP, série A.5, 327-1-1, TS. testemunho de Ramón García de Haro, com referência a uma reunião de 25 de março de 1966. Sobre este último ponto, cf. AGP, série A.5, 224-1-6, testemunho de Fernando Varela de Limia, Madrid, 22 agosto 1975, com referência a palavras pronunciadas pelo fundador em Roma à volta da festa de S. Tomás Moro, 1967; Comissão Regional GB, A6 MS., nota de Gonzalo González, 19 dezembro 2008, recordando palavras de S. Josemaria durante uma estada de Verão em Londres.

[55] Josemaría Escrivá de Balaguer Sacerdote Fundador del Opus Dei: Articulos del Postulador, Roma, 1979, secção 784, p. 262, com referência às palavras pronunciadas em Roma em 22 de junho de 1972, a partir dos testemunhs de Eugenio Giménez Martínez de Carvajal e do Dr. Umberto Farri: «Esta manhã via-o claramente na Missa de S. Tomás Moro: até ao fim da vida foi exemplarmente fiel ao rei, mas sem ceder nem um milímetro no que não podia ceder. Desde antes de Deus querer a Obra no tempo, vi claramente os dois campos: deveres e direitos de cidadão; deveres e direitos de cristão».

[56] AGP, série A.5, 198-3-1, testemunho, assinado por Pablo Bofill, Elorrio, 18 de Agosto de 1975, com referência a uma reunião em Roma, 20 de janeiro de 1973.

[57] cf. AGP, série A.5, 202-2-9, testemunho assinado por Alejandro Cantero Fariña, Madrid, 19 de fevereiro de 1979, com referência a uma reunião em Castelldaura, Barcelona, setembro de 1974; AGP, série A.5, 198-3-1, testemunho assinado por Pablo Bofill, Elorrio, 19 de agosto de 1975, com referência a uma reunião em Castelldaura, Barcelona, 23 de setembro de 1973: talvez se refira à mesma reunião, embora a situe um ano antes.

[58] cf. AGP, série A.5, 326-3-3, testemunho de Antonio Miralles García, Roma, 30 de agosto de 1975, com referência a uma reunião de membros do Opus Dei com o fundador em Tor d'Aveia, Itália, 5 de julho de 1967.

[59] Recordação pessoal do autor deste artigo – baseado em notas tomadas nesse momento – duma conversa de 30 de setembro de 1973 que teve lugar enquanto o fundador lhe mostrava o relicário. Cf. AGP, série A.5, 249-1-4, testemunho de Robin Weatherill, Roma, 26 de Agosto de 1975, sobre como o fundador lhe mostrou a relíquia em 27 de janeiro de 1974.

[60] Comissão Regional GB, ref. numa nota A6, MS., dupla face, do defunto Prof. John Henry, a palavras do fundador, provavelmente de 22 de agosto de 1962, sobre uma falsa conceção da liberdade muito difundida em Inglaterra entre pessoas que temem entrar na vida dos outros por um mal entendido respeito pela privacy.

Andrew Hegarty