Santo Cura de Ars, intercessor do Opus Dei

A 4 de agosto celebra-se a Festa do Santo Cura de Ars. Apresentamos a tradução de um artigo da Revista 'Studia et Documenta' do Instituto Histórico São Josemaria Escrivá, sobre S. João Maria Vainney, Cura de Ars, intercessor do Opus Dei para as relações com os bispos diocesanos.

A nomeação do cura d’Ars como intercessor para as relações do Opus Dei com os bispos diocesanos.

O cura d’Ars e a vida de S. Josemaria antes de 1951-1953


Um professor universitário de História, leitor habitual de Studia et Documenta, ao saber que eu estava a escrever este artigo, perguntou-me com um sorriso se o título ia ser do estilo que, segundo ele, era habitual na revista: «Prolegómenos a um estudo sobre…», ou «Introdução à História de…», etc. Com um pouco de espírito de contradição, preferi dar-lhe um título breve, mas uma versão mais longa e prudente não teria estado fora de lugar: sobre o tema da relação entre S. Josemaria e o cura d’Ars, ainda há muitos pontos por esclarecer e os arquivos estão longe de ter dito a sua última palavra.

Este estudo contenta-se com expor os resultados da investigação, seguindo uma ordem lógica em três pontos: em primeiro lugar, a nomeação por S. Josemaria, por volta de 1951-1953, do cura d’Ars como intercessor para as relações do Opus Dei com os bispos diocesanos; em segundo lugar, as relações de S. Josemaria com o santo cura d’Ars antes de 1951-1953, como enquadramento que anuncia a nomeação; e por último, as consequências desta nomeação, as relações dos dois santos depois de 1951-1953[1].

A nomeação do cura d’Ars como intercessor para as relações do Opus Dei com os bispos diocesanos.

A data da nomeação

O elemento mais importante na relação entre o fundador do Opus Dei e o cura d’Ars († 1859) talvez seja a decisão de S. Josemaria de nomear S. João Maria Vianney intercessor da Obra para as relações com os ordinários diocesanos. Esta decisão parece remontar aos anos 1951-1953[2]. No dia 9 de agosto de 1951, escreveu numa nota de governo: «Recorda aos padres a necessidade de tratar com carinho os senhores bispos; e o dever de não fazer nenhum trabalho externo – fora das nossas casas – sem uma autorização prévia do Ordinário. Talvez nunca vos tenha dito que ponho sempre o santo cura d’Ars como intercessor nas minhas relações com os senhores bispos: ponde-o também vós»[3].

Portanto, já antes de 1951, S. Josemaria se encomendava ao cura d’Ars para as relações com os bispos; o que esta nota muda é que se institucionaliza para todo o Opus Dei uma devoção pessoal do fundador. «Talvez nunca vos tenha dito», o que permite supor que anteriormente não propunha aos seus filhos espirituais que o acompanhassem nesta súplica); pede a todos – sobretudo aos sacerdotes – que se confiem ao santo nas suas relações com os bispos.

Segundo as recordações do próprio S. Josemaria, é pelo menos a partir de 1938 que começa a recorrer pessoalmente à intercessão do cura d’Ars para esta intenção. Em 1950 escreveu: «Pelo menos, desde 1938 tenho-o como intercessor, nestes assuntos»[4]. Que aconteceu em 1938 nas suas relações com os bispos que pôde marcar desta maneira a memória de S. Josemaria? Nesse ano o fundador do Opus Dei foi para Burgos, e podíamos dizer que as circunstâncias o obrigaram a multiplicar os contactos com diferentes bispos. Até à guerra civil espanhola, o trabalho apostólico do Opus Dei tinha-se levado a cabo principalmente em Madrid, no território e com a bênção do seu bispo, D. Leopoldo Eijo y Garay. Quando S. Josemaria chegou a Burgos, quis reorganizar o apostolado da Obra e aumentar o contacto com os seus filhos e filhas espirituais – ainda pouco numerosos e dispersos por toda a Espanha pelas mudanças ocasionadas pela guerra – e com os que tinham assistido aos meios de formação do Opus Dei antes da contenda, que não tinha podido ver durante muito tempo. Tudo isto o obrigou a viajar a muitos lugares, para realizar atividades apostólicas que S. Josemaria sempre levou a cabo com a aprovação dos bispos locais[5]. Já tinha conhecido alguns deles em Madrid antes da guerra, como o bispo Marcelino Olaechea e o bispo Javier Lauzurica, mas nesta nova etapa da sua vida foi recebido pelos bispos de Ávila, Astorga, Burgos, León e Valladolid[6]. Além disso, a partir de 1938, pregou retiros ao clero de muitas dioceses espanholas a pedido dos bispos (de setembro de 1938 a outubro de 1942, dirigiu dezanove retiros, geralmente de seis dias, para seminaristas, diáconos e sacerdotes[7]).

Os encontros e a colaboração com os bispos multiplicaram-se, S. Josemaria situou este movimento numa perspetiva de fé e acompanhou-o com a oração, e foi neste contexto que começou a invocar o santo pároco.

Porquê um intercessor para as relações com os bispos?

A data da nomeação institucional seria, portanto, 1951-1953. Mas porque é que o Opus Dei precisa dum intercessor específico para as suas relações com os bispos diocesanos? Por causa da sua missão e da sua organização, que intrinsecamente requerem a colaboração com as igrejas locais[8]. Estas dimensões foram regulamentadas definitivamente do ponto de vista jurídico com a ereção do Opus Dei como prelatura pessoal[9], mas configuraram sempre a sua vida e estrutura. De facto, a missão da Obra é difundir a mensagem de que a vida quotidiana, o trabalho e as circunstâncias habituais da existência são uma ocasião de santificação. Para a difusão desta mensagem, o Opus Dei colabora com as igrejas locais, disponibilizando meios de formação cristã a quem os quiser receber. Do ponto de vista organizativo, as pessoas que se incorporam no Opus Dei continuam a ser fiéis da diocese a que pertencem, e estão sujeitas ao bispo diocesano da mesma maneira e nas mesmas matérias que os outros batizados, seus iguais, e dependem da prelatura para o cumprimento dos compromissos particulares – ascéticos, formativos e apostólicos – que assumem ao fazer parte do Opus Dei. A Obra existe, portanto, para servir a Igreja universal a as igrejas locais. A sua vida e desenvolvimento passam também pelo contacto e colaboração com os bispos diocesanos. Isto é o que S. Josemaria viveu com um espírito de fé e de oração, e é o que transmitiu aos seus filhos espirituais. Mostrou sempre um claro espírito de lealdade e afeto[10] relativamente aos bispos diocesanos, especialmente aqueles cujas dioceses acolhiam atividades do Opus Dei.

Porquê em 1951-53?

Na ausência de explicações de S. Josemaria sobre os motivos por que nomeou o santo sacerdote como intercessor em 1951-53, podem sugerir-se algumas hipóteses.

A primeira seria análoga à razão que se propôs para explicar o início deste recurso do fundador do Opus Dei ao santo pároco: como em 1938 a expansão da Obra em Espanha multiplicou as relações com os bispos e a necessidade de as apoiar com a oração, em 1951 iniciou-se a expansão internacional dos apostolados das filhas e filhos espirituais de S. Josemaria. Sob o seu impulso, o trabalho apostólico do Opus Dei começou em Itália (1943), Portugal (1946), Reino Unido (1946), Irlanda e França (1947), México e Estados Unidos (1949), Chile e Argentina (1950), Colômbia e Venezuela (1951). A seguir, depois de 1951: na Alemanha (1952); Guatemala e Peru (1953); Equador (1954); Uruguai e Suíça (1956); Brasil, Áustria e Canadá (1957); Japão, Quénia e El Salvador (1958); Costa Rica (1959); Países Baixos (1960); Paraguai (1962); Austrália e Filipinas (1963); Bélgica e Nigéria (1965); Porto Rico (1969)[11]. O trabalho apostólico, portanto, começa em novos países, em novas dioceses, com o acordo e a colaboração de novos bispos. No âmbito desta expansão apostólica e da sua dimensão primordialmente sobrenatural, S. Josemaria quer contar com a intercessão do santo pároco.

Esta primeira hipótese parece-me a mais importante, a mais apropriada para explicar a decisão do fundador do Opus Dei.

Podemos acrescentar mais duas. A primeira tem que ver com o desenvolvimento da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, que em 1950, um ano antes de 1951, abriu as portas aos sacerdotes diocesanos[12]. Movido pelo amor aos seus irmãos sacerdotes seculares, em 1948-1949, S. Josemaria pensou com pena que teria que deixar a Obra para fundar uma nova instituição dirigida aos sacerdotes diocesanos. A aprovação definitiva do Opus Dei estava em andamento – chegaria em 16 de junho de 1950 – e S. Josemaria via possível que a Obra continuasse sem ele, sem que a sua continuidade estivesse em perigo. Finalmente, compreendeu que os sacerdotes seculares se integravam perfeitamente na estrutura e no espírito da Obra: a sua mensagem de santificação da vida secular e o seu chamamento à contemplação na vida quotidiana também se adaptava ao ministério dos clérigos seculares, e não foi necessário o sacrifício de deixar a Obra para se dedicar a algo novo especificamente dirigido a sacerdotes. Portanto, a partir de 1950, o apostolado com os sacerdotes adquiriu uma nova forma institucional na vida de S. Josemaria, e a figura do sacerdote secular João María Vianney talvez também se tenha apresentado perante os seus olhos com um maior relevo (veremos mais adiante, a propósito do projeto de peregrinação a Ars, que S. Josemaria estabelece um certo vínculo entre a figura do cura d’Ars e o seu desejo de ajudar os sacerdotes diocesanos).

Uma última razão, mais acidental e sem dúvida menos importante, para situar em 1951-53 a decisão de propor aos seus filhos espirituais a intercessão do santo cura d’Ars, podia ser a incompreensão manifestada em 1950 pelo Arcebispo de Valladolid, Antonio García, acerca das relações da cúria diocesana com o centro local do Opus Dei[13]. S. Josemaria soube atuar – e fazer os seus filhos espirituais atuar – com a sua habitual veneração pelos bispos e com respeito pelo direito (conforme as indicações concretas da Congregação vaticana competente), de forma que a cúria diocesana acabou por já não encontrar dificuldades.

Talvez por no passado ter recebido numerosas manifestações de afeto de D. Antonio García, o fundador do Opus Dei – que sabia por experiência que a novidade da Obra podia causar algumas incompreensões – invocou com especial intensidade o cura d’Ars[14] para que se solucionasse o assunto de Valladolid, que lhe era especialmente penoso. É possível, portanto, que este breve desacordo com o governo diocesano recordasse a S. Josemaria a utilidade de dar aos seus filhos espirituais todos os meios sobrenaturais para conseguir uma relação justa e santa com o Ordinário do lugar.

Porquê o cura d’Ars?

Até agora assinalou-se que, pela sua natureza e missão, o Opus Dei tem vínculos com os bispos, e que precisa de os pôr sob a proteção do céu. Também se assinalou que os primeiros anos da década de 1950, marcados para a Obra por uma forte expansão internacional, tornaram ainda mais urgente o recurso a meios sobrenaturais. Mas pelo menos ainda fica outra pergunta: porquê recorrer ao cura d’Ars, porquê não escolher outro santo?

Creio que S. Josemaria indicou dois critérios: o primeiro, válido para todos os intercessores do Opus Dei, que não fossem espanhóis para sublinhar a universalidade da Obra, e não assimilar tudo à nacionalidade do fundador e dos seus primeiros seguidores, e animar assim os seus filhos espirituais de todos os países a viver um espírito autenticamente católico; o segundo critério, mais específico do intercessor para as relações com os bispos, que devia ser um sacerdote diocesano.

Mons. Escrivá falou em várias ocasiões sobre o primeiro ponto. Por exemplo, numa reunião com os estudantes do Colégio Romano da Santa Cruz em 20 de junho de 1956, antes duma viagem a Ars[15]. Fez notar então que como Espanha contava com numerosos santos, podia ter escolhido só intercessores do seu próprio país, mas preferiu não escolher nenhum, para evitar os nacionalismos[16].

Diz também – e isto confirma o segundo critério – que como intercessor das relações com os Ordinários locais, teria podido nomear, por exemplo, o então Bto. João de Ávila[17]. Penso que escolheu o exemplo deste santo do século XVI como alternativa ao cura d’Ars, porque ambos são sacerdotes seculares pertencentes a uma diocese, e, portanto, lógicos intercessores para as relações com os Ordinários locais.

João de Ávila, morto em 1569 e beatificado em 1894 por Leão XIII, vem talvez à mente de S. Josemaria em 1956 porque tinha sido proclamado padroeiro do clero secular espanhol dez anos antes por Pio XII mediante o breve Dilectus filius de 2 de julho de 1946. Foi canonizado por S. Paulo VI em vida de S. Josemaria, em 31 de maio de 1970[18]. Descartado João de Ávila pela sua nacionalidade, em 1951-53 havia poucos sacerdotes seculares canonizados. Além de S. João Maria Vianney, primeiro pároco canonizado[19] (em 1925), poucos sacerdotes seculares se contam entre os santos, além dos mártires e fundadores de congregações religiosas que, em geral, foram elevados aos altares porque derramaram o seu sangue por Cristo ou porque abriram um novo caminho de vida religiosa e não tanto por serem sacerdotes seculares. A única exceção que conheço é a de S. Yves de Tréguier, que morreu em 1303 e foi canonizado em 1347, mas não figura no calendário romano, e é possível que S. Josemaria, apesar da sua formação universitária em Direito, não tivesse ouvido falar do homem que em muitos países ostenta o título de padroeiro dos juristas.

Mas seria demasiado simples e sem dúvida inexato, reduzir a figura do cura d’Ars aos olhos de S. Josemaria a dois critérios negativos: por um lado, não ser espanhol; por outro, ser um dos poucos sacerdotes seculares canonizados; quer dizer, não teria tido muitos concorrentes no momento de procurar um intercessor[20]. Proponho aqui outras hipóteses para explicar a escolha de S. João Maria Vianney.

O cura d’Ars, exemplo das relações com o bispo

Como veremos a seguir, S. Josemaria conhecia bastante bem a vida do santo pároco. Vianney viveu com grande submissão e lealdade para com o seu prelado: a sua intercessão nas relações com os bispos tem, portanto, a sua lógica, visto que viveu a sua de maneira exemplar. Assim – para dar um exemplo entre outros desta obediência –, abandonou o rigorismo dos seus primeiros anos de ministério graças ao seu bispo, D. Alexandre Devie (†1852), que o introduziu na moral de Sto. Afonso Maria de Ligório, em plena difusão no século XIX[21]. Em 1830, o bispo de Belley escreveu uma carta pastoral louvando a Theologia moralis de Sto. Afonso[22], e pode considerar-se que em 1839, o santo pároco abandonou o rigorismo que o tinha levado inicialmente a usar a absolução diferida como meio habitual para conduzir as almas à conversão[23]. Por outro lado, tinha um exemplar – que revia todos os invernos – da Teologia Moral para uso dos Sacerdotes e Confessores (1844) do cardeal Charles Gousset, Arcebispo de Reims († 1866), grande difusor da moral afonsina[24]. A influência de Ligório sobre o cura d’Ars, recebida através do seu bispo, permitiu-lhe absolver sem demora os penitentes verdadeiramente contritos, fortaleceu o seu amor pela Eucaristia e animou-o a pregar em tom positivo, quase sempre sobre o amor divino[25]. A influência do seu bispo está, portanto no centro das manifestações da santidade de João Maria Vianney: esse vínculo do santo pároco com o seu Ordinário explica talvez por que foi escolhido como intercessor das relações com os bispos.

O cura d’Ars e a vida de S. Josemaria antes de 1951-1953

O cura d’Ars na biografia de S. Josemaria

Vejamos algumas circunstâncias da vida do fundador do Opus Dei que facilitaram a sua simpatia pelo cura d’Ars.

O Papa Pio XI canonizou S. João Maria Vianney em 31 de maio de 1925, poucas semanas depois da ordenação sacerdotal de S. Josemaria, em 28 de março. Nesses anos, as canonizações eram menos frequentes do que agora: é fácil supor que S. Josemaria estivesse a par deste ato pontifício. Sabemos que em Madrid, a partir de 1927, o fundador da Obra distribuiu muitas revistas de informação religiosa: conhecia-as, sem dúvida que as lia de antemão, e com certeza que faziam eco da canonização[26].

Também é muito provável a sua proximidade com um dos escassos sacerdotes seculares canonizados até ao momento, que morreu menos de 70 anos antes. A canonização em 1925 do cura Vianney foi excecional, pelo menos de dois pontos de vista: era um sacerdote secular, e além disso era quase contemporâneo. Falamos antes do baixo número de sacerdotes seculares canonizados; a seguinte tabela ilustra a escassez das canonizações até ao Vaticano II, e o facto de que excecionalmente involucrassem homens e mulheres falecidos recentemente[27].

Papas

Canonizações

Santos do Século XIX

Santos do Século XX

Pio VII (1800-1823)

5

Gregório XVI (1831-1846)

5

Bto. Pio IX (846-1878)

52

Leão XIII (1878-1903)

18

S. Pio X (1903-1914)

4

1

Bento XV (1914-1922)

3

1

Pio XI (1922-1939)

34

11

Venerável Pio XII (1939-1958)

33

20

4

S. João XXIII (1958-1963)

10

5

1

S. Paulo VI (1963-1978)

84

34

1

S. João Paulo II (1978-2005)

482

(entre os quais, 402 mártires)

300

125

Bento XVI (2005-2013)

43

19

15

A canonização ocorreu apenas treze dias depois do regresso de S. Josemaria da aldeia aragonesa de Perdiguera, onde exerceu as suas primeiras semanas de ministério, e de onde partiu em 18 de maio de 1925. É fácil encontrar um paralelismo entre as pequenas paróquias rurais de Ars e Perdiguera. Sobre estas situações pastoral e humanamente análogas, um bom conhecedor da espiritualidade de fins do século XIX e princípios do XX escreveu: «João Maria Vianney tinha-se convertido para o clero católico num símbolo, numa esperança e numa bandeira. Havia muitos sacerdotes muito humildes como o cura d’Ars em aldeias que pareciam ser uma terra árida e estéril, pobres como ele, com poucos meios económicos, mas dispostos a rezar e trabalhar sinceramente esperançados no ressurgir da prática e do fervor religioso, graças à ajuda de Deus, por meio da Eucaristia e da devoção a Maria Santíssima»[28].

Convém assinalar de passagem que a escolha dum santo francês é ainda mais notável se recordarmos o clima de galofobia que rodeou o pequeno Josemaria, sobretudo no colégio, como consequência das más ações cometidas pelas tropas napoleónicas em Espanha durante a guerra de independência[29]. À medida que amadurecia humana e cristãmente, Josemaria não só aprendeu a rejeitar estos ressentimentos com um espírito verdadeiramente católico, mas também se sentiu em dívida com França como se tivesse que amá-la para apagar o clima de antipatia que tinha sofrido em criança[30]

A presença do cura d’Ars na vida de S. Josemaria

O primeiro facto a anotar seria a presença de livros de e sobre S. João Maria Vianney na biblioteca de trabalho que monsenhor Escrivá organizou em Roma depois de 1950 para si e para os seus sucessores[31]. Há dois volumes de sermões do cura d’Ars traduzidos em espanhol[32], e três livros clássicos sobre a espiritualidade e a vida do santo cura: os de Alfred Monnin, Hippolyte Convert e Francis Trochu[33].

Para provar que Josemaria leu estes livros e/ou outros de e sobre João Maria Vianney, vale a pena notar que o cita na sua pregação. Pô-lo como exemplo de fé durante um retiro sacerdotal pregado em Vitoria em agosto de 1938[34]. Durante outro retiro, em Valência, em novembro de 1940, utiliza dois episódios da vida do cura d’Ars: o primeiro, que se retoma no Catecismo da Igreja Católica, n. 2715: «“Olho-O e Ele olha-me”, dizia ao seu santo cura um camponês de Ars que orava diante do Sacrário (cf. F. Trochu, Le curé d’Ars Saint Jean Marie Vianney, pp. 223-224)». Não é este o livro de Trochu que está na biblioteca de S. Josemaria, mas a famosa biografia, um clássico para os sacerdotes seculares que, por exemplo, influiu na vocação sacerdotal de S. João Paulo II[35] e que podemos pensar que S. Josemaria terá lido. O segundo episódio contado durante esse retiro em 1940 foi também recolhido mais tarde num documento eclesial, desta vez a encíclica Sacerdotii Nostri Primordia de S. João XXIII. É a resposta do santo pároco a um companheiro sacerdote que se queixava da falta de eficácia do seu ministério: «Oraste, choraste, gemeste e suspiraste. Mas jejuaste, velaste, dormiste no chão, disciplinastes-te? Enquanto te negares a fazê-lo, não penses ter feito tudo»[36]. Quis citar estes documentos magisteriais e fazer referência aos santos João XXIII e João Paulo II para ilustrar que há ensinamentos da vida de João Maria Vianney que marcaram várias gerações de sacerdotes (Angelo Roncalli nasceu em 1881, Josemaria Escrivá em 1902 e Karol Wojtyła em 1920).

O cura d’Ars intercessor, mas não modelo da vocação específica do Opus Dei

S. Josemaria lê e cita S. João Maria Vianney, a sua vida e os seus ensinamentos inspiram-no, mas não o considera um modelo a imitar para viver a vocação para o Opus Dei. Aparentemente, terá sido por causa do cura d’Ars que Mons. Escrivá mudou o título dos intercessores da Obra, que num princípio se tinham chamado padroeiros menores. Com a mudança de título quis-se sublinhar que os fiéis do Opus Dei recorrem à intercessão destes santos, mas não estão obrigados a imitá-los.

Esta mudança de terminologia parece estar relacionada com um episódio do verão de 1961; durante uma reunião com o fundador do Opus Dei no Colegio Mayor La Estila (Santiago de Compostela)[37], um dos presentes perguntou a S. Josemaria se os sacerdotes da Obra deviam imitar os então chamados padroeiros menores, acrescentando que lhe era difícil pensar que os sacerdotes da Obra deviam tomar como modelo o cura d’Ars. A pergunta não especifica os aspetos a que se refere o que a faz, mas poder-se-ia pensar em particular na forma concreta de viver a pobreza, que João Maria Vianney viveu heroicamente com uma batina muitas vezes suja e sapatos por limpar[38], enquanto que S. Josemaria procurava usar uma batina sempre limpa, que utilizava até a desgastar, e sapatos – tinha dois pares – que ele próprio limpava durante anos[39]. A sua atitude reflete o que pregava sobre as formas seculares de viver a pobreza, que implicam uma certa elegância vivida de acordo com as circunstâncias sociais de cada um. Outra testemunha recorda que S. Josemaria disse que o cura d’Ars não era modelo para os fiéis do Opus Dei no seu modo de se mortificar, ao comer muito pouco ou comer alimentos em mau estado[40]. O caso é que em 1961 o fundador do Opus Dei respondeu à pergunta dizendo que os padroeiros menores eram só intercessores, e que os membros da Obra devem viver o espírito que lhes corresponde e só imitar Jesus, Maria e José. O fundador não julgou negativamente a vida dos intercessores em geral, e a do santo cura em particular, mas simplesmente quis indicar que não era um modelo para viver segundo o espírito do Opus Dei. Uns meses depois, em 13 de abril de 1962, enviou uma nota do governo que afirmava que os intercessores não eram um modelo para viver a vocação específica do Opus Dei[41].

S. Josemaria e o cura d’Ars depois de 1951-1953

Uma vez que o nomeou intercessor para as relações com os Ordinários locais, S. Josemaria rezou ao cura d’Ars porque era o primeiro a viver o espírito que transmitiu aos seus filhos, e continua a mencioná-lo nos seus ensinamentos. Em 15 de dezembro de 1954, por exemplo, falando da necessidade de pedir a Deus muitos sacerdotes doutos e santos para o Opus Dei, acrescentou: «Porque se não forem doutos não podem ser santos. E dir-me-eis: – Padre, e o cura d’Ars? O cura d’Ars acabou sendo douto e santo, porque o Senhor lhe dava as suas iluminações e porque tinha posto todo o esforço humano – os meios humanos – para ser douto»[42]. Uma vez mais, S. Josemaria mostra o seu bom conhecimento da vida do cura d’Ars, que, apesar das dificuldades dos seus estudos eclesiásticos, pôde adquirir um bom nível de formação intelectual. Como já se disse, todos os invernos estudava a Théologie morale à l’usage des curés et des confesseurs (1844) do cardeal Charles Gousset, arcebispo de Reims, conforme o relatado pelo seu vigário Raymond[43]. Lia um livro de teologia ou espiritualidade todos os dias, na cama, mesmo que tivesse confessado durante muitas horas. A sua biblioteca constava de 426 volumes[44], escritos dos Padres, de autores espirituais como frei Luís de Granada. Releu amiúde o livro fundamental da sua formação inicial, as Instructions sur le rituel, concernant la théorie et la pratique des sacrements et de la morale, do bispo de Toulon, Louis Albert Joly de Choin (1778); mas os seus livros preferidos foram os dois volumes da Vie des saints de François Giry[45].

Em 8 de novembro de 1968, catorze anos depois do primeiro exemplo que escolhemos, no contexto da crise pós-conciliar, S. Josemaria exortava os seus ouvintes a estudar a doutrina e comentava: «Ao santo cura d’Ars, para o ordenar, o seu bispo só lhe exigiu que soubesse o Pai Nosso e o Credo. Agora, se a alguns lhes perguntam pelo Credo e pelo Pai Nosso, tropeçam»[46]. Neste caso os dados biográficos não parecem exatos: Joseph Courbon, vigário geral do cardeal Fesch, arcebispo de Lyon no exílio em Roma, teria perguntado pelo cura d’Ars, cujos resultados nos exames não foram brilhantes: «É piedoso? Tem devoção à Santíssima Virgem?», e como lhe responderam: «Sim, é um modelo de piedade», decidiu ordená-lo[47].

Também há outros pormenores concretos da devoção a S. João Maria Vianney que não se manifestaram na vida de Mons. Escrivá até depois de 1951-1953. A primeira destas manifestações seria sem dúvida as visitas a Ars. S. Josemaria foi lá rezar nove vezes, de 1953 a 1960: todas estas visitas tiveram lugar depois da sua nomeação como intercessor – e pode-se deduzir que S. Josemaria lhe rezasse como tal, para acompanhar a expansão do trabalho apostólico dos seus filhos espirituais em novas dioceses –, e também depois de o fundador do Opus Dei ver que a Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz podia abrir-se aos sacerdotes diocesanos, pelo que é de supor que também se rezasse a João Maria Vianney enquanto santo sacerdote secular, algo que se ilustra com uma segunda manifestação de piedade: o projeto não levado a cabo de realizar uma peregrinação da Sociedade Sacerdotal a Ars. Segundo D. Javier Echevarría, prelado do Opus Dei e testemunha presencial de várias destas peregrinações a Ars, foram estas duas intenções de oração que animaram S. Josemaria durante as suas visitas a Ars: «Presenciei o carinho que lhe manifestava o nosso Padre, quando numa ocasião foi venerá-lo em Ars, para lhe pedir pela santidade dos sacerdotes e pelas relações do Opus Dei com os bispos diocesanos»[48].

Visitas a Ars

Sobre estas visitas encontrou-se pouca documentação[49]. A primeira teve lugar em 25 de outubro de 1953, quando S. Josemaria e os seus acompanhantes chegaram de Paris e Fontainebleau e depois partiram para Chambéry e Itália[50].

A segunda visita foi em 20 de novembro de 1955. Desta vez vieram de Itália passando por Milão. Este dia 20 de novembro era domingo, e a igreja de Ars estava cheia quando entraram para rezar[51]. A seguir deixaram a aldeia para ir a Mâcon e depois a Fontainebleau[52].

A terceira visita teve lugar em 27 de junho de 1956. S. Josemaria celebrou a Santa Missa pela primeira vez em Ars, partiu para Versalhes e Paris, e depois para a Bélgica[53].

En 1957 realizou três visitas a Ars[54]: a primera teve lugar em 21 de maio (seguiram[55] o itinerário Bolonha - Bardonecchia - Modane - Ars e partiram para Avinhão, depois Lurdes, Paris e de regresso a Itália[56]). Em Lurdes e em Ars, S. Josemaria rezou pela sua irmã Carmen, diagnosticada com cancro pouco antes, em 4 de março, e que morreu em 20 de junho[57]; a segunda de 1957, nos dias 13 e 14 de setembro (vinham de Lyon para passar a que provavelmente foi a primeira noite de S. Josemaria em Ars e prosseguem para Itália: Modane - Bardonecchia - Montecatini[58]); a terceira de 1957, a 24 de novembro (vinham de Itália[59] e tinham passado previamente por Lurdes e Marselha, e depois continuaram a viagem a Versalhes e Paris, para finalmente regressar a Roma[60]).

A sua sétima visita tem lugar nos dias 1 e 2 de fevereiro de 1958; depois de celebrar a Missa[61] voltam diretamente para Roma[62]. A oitava peregrinação foi em 13 de maio de 1959: vêm de Itália, passam por Mónaco e depois vão para o sul de França e Espanha[63].

S. Josemaria fez a sua nona e última peregrinação de 31 de outubro a 1 de novembro de 1960: chegou de Paris e Lyon, e anteriormente de Espanha, e depois de Ars passou de novo por Lyon antes de ir para Roma via Milão[64].

Ainda lhe restavam quinze anos de vida – como se sabe, S. Josemaria faleceu em 1975 –, esta nona visita tem lugar durante a sua décima sétima passagem por França, país a que voltará em dezoito ocasiões[65], mas parece que já não irá a Ars; porquê? À falta de provas documentais, eu poria três hipóteses. Por um lado, o trabalho apostólico da Obra desenvolvia-se em França especialmente em Paris, e as viagens do fundador eram, em primeiro lugar, para ver os seus filhos espirituais, para os animar e para rezar com eles e por eles; por outro lado, a crise da Igreja, que fez sofrer tanto a S. Josemaria nos últimos anos da sua vida[66], leva-o a recorrer mais intensamente a Nossa Senhora, e a multiplicar as visitas aos santuários de Nossa Senhora durante as suas viagens: Maria tem prioridade sobre os outros santos, a hiperdulia sobre adulia; finalmente, embora seja um motivo mais prosaico, algumas viagens não se fazem de carro mas de avião[67] e a passagem pela pequena aldeia de Ars torna-se mais difícil.

O projeto de peregrinação

Outra manifestação da devoção de S. Josemaria a S. João Maria Vianney é o seu projeto – não efetuado – de realizar uma peregrinação a Ars com os sacerdotes da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz. Tinha-o planeado para 1956 e, na nota de governo que anunciava o projeto, pedia aos diretores da Obra e aos sacerdotes da Sociedade Sacerdotal que dessem a sua opinião sobre o assunto. Quando redigiu a nota, ainda não tinha especificado o programa da peregrinação: só anunciou que se ia procurar uma alta figura eclesiástica para presidir a atividade, e que incluirá uma recoleção que ele próprio pregaria. Como esperava muitos frutos espirituais dessa reunião, pedia aos seus filhos orações para os obter: «1. Comunico-vos que tenho o propósito de organizar, dentro do ano de 1956, uma peregrinação a Ars. Convém que assistam, com os sacerdotes numerários que se designarem, o maior número possível de sacerdotes agregados[68], supranumerários, cooperadores e assistentes eclesiásticos das diferentes regiões. 2. Rezai pelo assunto, para que, na devida altura, tenhamos muitos frutos espirituais desta visita ao santo cura d’Ars, nosso padroeiro. 3. Oportunamente indicar-se-á, com antecedência suficiente, quando se vai fazer a peregrinação, os dias que se vão empregar, as celebrações – entre as quais, um dia de recoleção –, o preço, etc. 4. Procurar-se-á que presida uma alta personalidade eclesiástica; e o Diretor espiritual será o vosso Padre. 5. Estudar-se-ão também com carinho as coisas materiais, para conseguir que a viagem e a estadia na paróquia de S. João Maria Vianney sejam mais um Convívio, dos nossos! 6. Ide contando estas coisas, sem lhes dar caráter oficial, para que esses filhos da S.S.S.+ [Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz] deem o seu parecer e, sobretudo, indiquem a altura mais oportuna. 7. Não deixeis de me dizer o que fordes pensando sobre este assunto»[69].

Em novembro de 1955, de passagem por Paris, falava do projeto aos seus filhos, explicando-lhes que contaria com eles para certos pormenores da organização[70]. Alguns meses mais tarde, em março de 1956, uma nova nota anunciava o adiamento da peregrinação para 1957, um atraso devido à preparação do II Congresso Geral do Opus Dei, que se realizaria em Einsiedeln (Suíça) de 22 a 25 de agosto de 1956[71]. S. Josemaria termina escrevendo: «Continuai a rezar pelo assunto, pois não tardaremos muito a realizar este projeto»[72].

>A partir desse momento, os arquivos mantêm silêncio: não há rasto das reações ao projeto inicial formulado em 1955, nem outras opiniões posteriores que expliquem o abandono duma ideia que afinal nunca se levou a cabo, nem em 1957 nem mais tarde. Sabe-se apenas que abandonou a ideia porque considerou que a organização de atividades coletivas deste género não pertencia ao espírito do Opus Dei[73]. Pode-se pensar, sem dúvida, que nesta decisão pesou o que S. Josemaria chamava humildade coletiva, que entendia que os seus filhos deviam viver com ele, para evitar o fanatismo de grupo, a falsa glória dos números, das multidões e das estatísticas; animava com frequência os seus filhos espirituais a viver unicamente para a glória de Deus, a amar o trabalho silencioso e eficaz sem procurar aplausos, a esconder-se e a desaparecer[74]. Talvez S. Josemaria tenha pensado que esta peregrinação podia fomentar um espírito de corpo fora de sítio; talvez também temesse que a sua humildade sofresse com um ato coletivo em que necessariamente a sua pessoa teria sido ponto de referência como fundador da Sociedade Sacerdotal.

O santo cura d’Ars em Villa Tevere

A devoção aos santos tem outra manifestação habitual na história da espiritualidade que se encontra na relação de S. Josemaria com S. João Maria: os cristãos constroem lugares de culto para honrar a Deus ao mesmo tempo que recordam os seus santos e veneram as suas representações. É o que fez o fundador do Opus Dei em Villa Tevere, onde viveu em Roma e donde dirigiu a Obra em todo o mundo.

Dum ponto de vista arquitetónico, essa tradição cristã de exprimir a devoção através da arte sacra aprecia-se no oratório dedicado ao cura d’Ars em Villa Tevere. A sua construção decidiu-se depois de março de 1952, e portanto durante o período 1951-1953, o período da nomeação como intercessor, como vimos antes[75]. A realização do projeto dá-se cinco anos mais tarde, quando os arquitetos já estão a trabalhar na zona de Villa Tevere em que ficará situado esse oratório. As primeiras indicações recebidas de S. Josemaria foram bastante genéricas: que o estilo devia ser «relativamente moderno» e que o retábulo, que seria presidido por uma imagem do santo pároco, comemoraria dalguma maneira a história da Sociedade Sacerdotal[76]. Os arquitetos começaram a trabalhar em março de 1958[77] e em breve se preocuparam com o limitado espaço que o evoluir das obras deixava à sua disposição. S. Josemaria animou-os paternalmente, aprovou as suas propostas e consolou-os pelo pequeno tamanho do oratório, fazendo-os considerar que mais tarde tinham que realizar construções mais ambiciosas: «já chegará o momento de fazer catedrais», disse-lhes[78].

Um pormenor mostra novamente o conhecimento de S. Josemaria sobre a vida e a personalidade de S. João Maria. Quando o oratório era apenas um projeto, o fundador do Opus Dei aludiu à possibilidade de colocar sob o futuro altar do santo pároco as relíquias do corpo inteiro dum mártir, e mencionou a este respeito a devoção do cura d’Ars às relíquias[79]. No fim, o altar não incluiu o corpo inteiro de nenhum santo, mas é interessante notar que S. Josemaria sabe que S. João Maria gostava de rezar aos santos diante das suas relíquias[80].

O oratório definitivo não inclui o retábulo que devia ilustrar a história da Sociedade Sacerdotal, sem dúvida por ser mais pequeno do que o previsto inicialmente pelos arquitetos. O elemento essencial da sua decoração, que o vincula ao cura d’Ars, é uma grande estátua do santo colocada num pedestal por trás do altar, e que tem a mesma altura que S. Josemaria[81]. Em maio de 1957, o diário das obras menciona que será de tamanho natural, e se baseará numas fotografias trazidas por S. Josemaria, que passou por Ars em 21 de maio durante a sua quarta visita ao santuário. Essas fotografias, que não encontrei nos arquivos da Prelatura, eram talvez a estátua de Émilien Cabuchet ou do relicário do santo. O diário das obras especifica também que S. Josemaria entregou aos arquitetos uma imagem do santo pároco[82]. Trata-se possivelmente duma imagem de madeira, feita em França em 1953 para S. Josemaria[83]: recebeu-a em julho do mesmo ano, gostava muito dela e colocou-a durante uns tempos na sua mesa de trabalho, conforme disse aos seus filhos de França[84].

Em 12 de junho de 1957, entregaram-se as fotografias ao escultor Pasquale Sciancalepore, que apresentou rapidamente um esboço, quatro dias mais tarde[85]. A encomenda formalizou-se em julho, e o artista, despois de escolher um bloco de mármore em Querceta (Toscana)[86], começou a escultura. S. Josemaria visitou o seu estúdio pelo menos duas vezes durante a realização da obra, e em cada uma delas exprimiu a sua satisfação com o resultado[87]. A escultura ficou acabada em maio de 1958[88], o pedestal que a sustenta foi montado no oratório em agosto[89], e tudo deve ter sido acabado entre agosto de 1958 e maio de 1959, período sobre o qual não há notas no diário das obras.

Além deste oratório dedicado ao cura d’Ars e a imagem de madeira do oratório-biblioteca mencionada anteriormente, S. João Maria Vianney também está presente em Villa Tevere com os outros intercessores: há relíquias suas no altar da Santíssima Trindade, onde S. Josemaria costumava celebrar a Santa Missa[90]; no retábulo dum oratório dedicado aos intercessores[91]; e uma pequena imagem de prata que adorna o sacrário do oratório do Conselho Geral da Prelatura, que chegou a Villa Tevere em setembro de 1956[92]. Também tem de se mencionar, fora de Villa Tevere, a estátua do santo pároco colocada – com as dos outros intercessores – no retábulo do santuário de Torreciudad, cuja elaboração S. Josemaria seguiu muito de perto[93].

Como escreveu S. John Henry Newman, «a Igreja Católica jamais perde o que uma vez possuiu. (…) Em vez de passar duma fase da vida para outra, leva consigo a juventude e a maturidade até à velhice. (…) Domingos não faz sombra a Bento»[94], e podia acrescentar-se que S. Josemaria não faz sombra a S. João Maria Vianney. Graças à bela verdade da comunhão dos santos[95], forjam-se amizades entre os cristãos através dos séculos, e a devoção do fundador do Opus Dei pelo cura d’Ars é um bom exemplo duma dessas pontes de afeto e de confiança construídos para além da morte: isto é o que este artigo tratou de ilustrar. Vemos que «os santos dão a mão uns aos outros e nos dão a mão a nós»[96] para nos animar também a ir até Deus.


[1] O artigo centra-se, portanto, na relação entre os dois santos no que diz respeito à nomeação do cura d’Ars como intercessor. Não se tenta aqui comparar sistematicamente a espiritualidade dos dois Santos: seria interessante situar Josemaria em relação a João Maria, e analisar o primeiro na história da espiritualidade sacerdotal do seu tempo, destacando os aspetos mais tradicionais e as possíveis originalidades, especialmente a secularidade da espiritualidade sacerdotal; mas isto seria objeto doutras investigações.

[2] cf. a seguinte nota n. 54 e os parágrafos sobre as visitas a Ars (a primeira teve lugar em 25 de outubro de 1953) para explicar a escolha do ano 1953 como o annus ad quem da nomeação.

[3] Nota sobre relação com bispos, Roma, 9 de agosto de 1951: AGP, A.3, 179-4-11. Não se recolhe nada sobre esta nota no diário do Colégio Romano à volta de 9 de agosto: AGP, M.2.2., 427-8, nem nas quatro cartas do epistolário enviado de Roma nesse dia.

[4] AGP, A.3.4, 262-2, carta 500902-01. Esta data dada por S. Josemaria é sem dúvida mais fiável do que a vaga recordação do redator do diário do Colégio Romano, que escreveu na sexta-feira 27 de fevereiro de 1953, depois duma reunião com o fundador, precisando que lhe falhava a memória: «A meio da tertúlia o Padre vem ter connosco. Diz-nos que em 1934 ou 1935 – não recordo exatamente – pôs sob o patrocínio do Santo cura d’Ars as relações da Obra com os bispos. E há poucos dias, encomendou a S. Pio X as relações com a Santa Sé»: AGP, M.2.2., 427-16. Parece que foi precisamente em 1953 que ganhou forma a ideia dum grupo de santos a que o Opus Dei confiaria diferentes intenções institucionais.

[5] «Josemaria foi fazendo um itinerário em que incluiu também outras finalidades, como a de visitar todos os bispos para lhes ir dando a conhecer a Obra». Andrés Vázquez De Prada, El Fundador del Opus Dei, vol. II, Madrid, Rialp, 1997-2003, p. 254.

[6] cf. Vázquez De Prada, El Fundador, vol. II, pp. 253 y ss.

[7] cf. Constantino Ánchel, La predicación de san Josemaría. Fuentes documentales para el período 1938-1946, SetD 7 (2013), pp. 125-198, especialmente 135-139.

[8] Para esta breve explicação, utilizo aqui algumas expressões da página web da Prelatura em francês www.opusdei.fr, na sua secção O que é o Opus Dei? (consultado em 9 de janeiro de 2014).

[9] cf. especialmente o Codex Iuris Particularis Operis Dei, Tit. IV, cap. V, em Amadeo de Fuenmayor - José Luis Illanes - Valentín Gómez-Iglesias, El itinerario jurídico del Opus Dei. Historia y defensa de un carisma, Pamplona, Eunsa, 19904, pp. 654-656.

[10] Pelas suas amizades com os bispos de Espanha, onde nasceu o Opus Dei e onde se expandiu em primeiro lugar, temos de mencionar Leopoldo Eijo y Garay, José López Ortiz, Santos Moro Briz, Pedro Cantero Cuadrado, Carmelo Ballester Nieto, José María Bueno Monreal, José María García Lahiguera e Juan Hervás Benet, entre outros. Cf. os índices de nomes citados nos três volumes de Vázquez De Prada, El Fundador del Opus Dei; ou os testemunhos recolhidos em Benito Badrinas (ed.),Beato Josemaría Escrivá de Balaguer: un hombre de Dios. Testimonios sobre el fundador del Opus Dei, Madrid, Palabra, 1994. Para o período posterior e especialmente durante o Concílio Vaticano II, cf. por exemplo Carlo PIOPPI, Alcuni incontri di san Josemaría Escrivá con personalità ecclesiastiche durante gli anni del Concilio Vaticano II, SetD 5 (2011), pp. 165-228. A relação do Cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Gonçalves Cerejeira, com o Opus Dei serve para ilustrar o respeito e afeto de S. Josemaria nuns momentos complicados pelos mal-entendidos: cf. Vázquez De Prada,El Fundador, vol. III, pp. 359-365. Cf. também Hugo de Azevedo, Primeiras viagens de S. Josemaria a Portugal (1945), SetD 1 (2007), pp. 15-39.

[11] cf. Federico M. Requena - Javier Sesé (eds.), Fuentes para la historia del Opus Dei, Barcelona, Ariel, 2002, pp. 85-93; 109.

[12] cf. Vázquez De Prada, El Fundador, vol. III, pp. 170-176; Fuenmayor - Illanes - Gómez-Iglesias,El itinerario, pp. 288-291.

[13] cf. especialmente as cartas AGP, A.3.4, 262-2, cartas 500902-01, 500903-01 e 500914-03 do epistolário de S. Josemaria.

[14] AGP, A.3.4, 262-2, carta 500902-01.

[15] AGP, M.2.2, D 428-6.

[16] Testemunho de Mons. Agustín Romero, atual vigário judicial da arquidiocese de Paris, que relata uma visita de S. Josemaria a Paris em 20 de maio de 1959, quer dizer, como se verá a seguir, uma semana depois de visitar Ars: «Como um exemplo da universalidade do espírito que lhe tinha dado, falou-nos dos santos intercessores: são Tomás Moro, um inglês maravilhoso; o Santo cura d’Ars, um francês; S. Pio X, um italiano»: AGP, A.2, 83-1-2, H, p. 4.

[17] «Reparem que em Espanha temos montes de santos e não procurei nenhum espanhol. Pede-nos que não sejamos nacionalistas. [...] Contava como podia ter escolhido como padroeiro das nossas relações com os ordinários o Bto. João de Ávila e no entanto escolheu o cura d’Ars»: AGP, M.2.2, 428-6, em 20 de junho de 1956; AGP, A.5, 206-3-8: «Fazia-nos ver como tinha escolhido intercessores de diferentes nações, para que não fossemos nacionalistas, podendo ter escolhido santos espanhóis em abundância»: Testemunho de Hugo de Azevedo, Porto, 6 de setembro de 1975.

[18] E proclamado doutor da Igreja por Bento XVI em 7 de outubro de 2012.

[19] cf. Marc Venard (ed.), Histoire du christianisme, t. VIII: Le temps des confessions, Paris, Desclée, 1992, p. 1026. S. Pedro Fourier (†1640), pároco de Mattaincourt em Lorena, tinha sido canonizado em 1897, mas como fundador das cónegas regrantesda Congregação de Nossa Senhora.

[20] O deão do pároco rural de Bernanos observa: «O cura d’Ars não é uma exceção? Não é insignificante a proporção, comparada com esta venerável multidão de clérigos zelosos, que consagram as suas forças às cargas esmagadoras do ministério? E quem ousaria pretender, no entanto, que a prática das virtudes heroicas seja privilégio dos monges ou, se insistes muito, até dos simples leigos?»: Georges Bernanos, Journal d'un curé de campagne, en Albert Béguin (ed.), Œuvres romanesques, Paris, (Bibliothèque de la Pléiade, 155) Gallimard, 1966, p. 1083.

[21] cf. Gilbert Humbert, Jalons chronologiques pour une histoire de la pénétration en pays francophones de la pensée et des œuvres d'Alphonse de Liguori, en Jean DELUMEAU (ed.), Alphonse de Liguori: pasteur et docteur, París, Beauchesne, 1987, pp. 369-401; La recezione del pensiero alfonsiano nella Chiesa: atti del congresso in occasione del terzo centenario della nascita di S. Alfonso De Liguori, Roma 5-7 marzo 1997, (Bibliotheca historica Congregationis SSmi. Redemptoris, 18) Collegium S. Alfonsi de Urbe, 1998.

[22] cf. Gérard Cholvy - Yves-Marie Hilaire, Histoire religieuse de la France contemporaine (1800-1880), I, Toulouse, Privat, 1985, p. 156.

[23] cf. Gérard Cholvy, Être chrétien en France au XIXe siècle (1790-1914), París, Seuil, 1997, p. 113.

[24] cf. Henri Convert, Le saint curé d’Ars et le sacrement de pénitence, 1ª partie, c. VII, Lyon, Emmanuel Vitte, 1923.

[25] cf. Bernard Nodet, Jean-Marie Vianney, Curé d’Ars. Sa pensée, son cœur, Le Puy, Xavier Mappus, 1960, p. 20.

[26] Em 1930 escreveu: «Desde há muito tempo, além de levar revistas religiosas (El Mensajero, el Iris de Paz, revistas de missões e outras de diferentes congregações) aos doentes, distribuí-as, tranquila e descaradamente, pelas ruas: nos bairros pobres, houve uma temporada em que não podía passar por algumas ruas sem que me pedissem revistas»: S. Josemaria, Apuntes íntimos, n. 86, 25 de Agosto de 1930, en Vázquez De Prada, El Fundador, vol. I, p. 321. Também podemos pensar numa revista mais científica como La Vida Sobrenatural.Cf. Federico M. Requena, El «Amor Misericordioso» en La Vida Sobrenatural, «Vida Sobrenatural» 591 (1997), pp. 166-182; ID, San Josemaría Escrivá de Balaguer y la devoción al Amor Misericordioso (1927-1935), SetD 3 (2009), pp. 139-174.

[27] cf. Benoît Pellistrandi, De la «acción de los católicos» a la santidad laical. El historiador frente a la santidad contemporánea, em Josep-Ignasi Saranyana et alii (eds.), El camino histórico de la santidad cristiana: de los inicios de la época contemporánea hasta el Concilio Vaticano II, XXIV Simpósio Internacional de Teología da Universidad de Navarra, Pamplona, Serviço de Publicações da Universidade de Navarra, 2004, pp. 19-42.

[28] Pietro Stella s.d.b., Don Bosco nella storia della religiosità cattolica, II, Roma, LAS, 1981, p. 307. Neste contexto, Pio XI nomeou o cura d’Ars patrono dos párocos de todo o mundo na Carta Apostólica Anno iubilari (23 de abril de 1929): AAS 21 (1929), pp. 312-313.

[29] cf. Vázquez De Prada, El Fundador, vol. III, p. 414.

[30] «Acrescentou que gostava muito de França. Por espírito de justiça, por reparação. Ensinaram-me a odiá-la tanto quando era pequeno!»: AGP, M.2.2, 428-6, 20 de junho de 1956. Um francês do Opus Dei, François Gondrand, recorda que no seu primeiro encontro com S. Josemaria, em maio de 1960, lhe disse que «tinha tido que fazer um esforço para gostar de França, quando reparou que os bons religiosos que tinham sido seus professores na escola primária, tinham tentado inculcar-lhe ódio aos franceses, porque em Aragão se conservava uma recordação muito viva das campanhas napoleónicas. O Padre encarregou-nos de dizer aos outros franceses que viriam depois, que ele gostava muito mais de França, precisamente porque tinha tido que fazer este esforço na sua juventude, para compensar o ódio aos franceses que tinham tentado inculcar-lhe nos seus primeiros anos. Acrescentou que era uma coisa terrível introduzir o ódio no coração das crianças e que, apesar de tudo, apesar do que tinha feito em Espanha, Napoleão não era o monstro que lhe tinham descrito»: AGP, A.2, 83-1-2, K, p. 2.

[31] cf. Jesús Gil Sáenz, La biblioteca de trabajo de san Josemaría Escrivá de Balaguer en Roma, EDUSC, Roma, 2015. Alguns dos livros chegaram de Madrid depois de 1950, S. Josemaria ocupou a sala que conduz às estantes desta biblioteca de trabalho em 9 de janeiro de 1953.

[32] San Juan Bautista María Vianney, Sermones de Juan Bta. M.ª Vianney, cura de Ars, Barcelona, Eugenio Subirana, 1927, vol. 1-2.

[33] Alfred Monnin, Esprit du Curé d'Ars: Saint J.-B. M. Vianney dans ses catéchismes, ses homélies et sa conversation, París, P. Téqui, 193534. Livro sem cortar; ID., Spirito del Curato d'Ars, Roma, Ares, 1956 (dois exemplares); Francis Trochu, L'âme du Curé d'Ars, Lyon-Paris, Emmanuel Vitte, 1928. Livro sem cortar; Hippolyte Convert, Le Saint Curé d'Ars et la Famille, Lyon-París, Emmanuel Vitte, 1922. Livro sem cortar; ID. Méditations sacerdotales: Le Saint Curé d’Ars modèle du prêtre retraitant, Lyon-Paris, Emmanuel Vitte [1935]. Como observa Gil Sáenz: «Os tomos fechados, quer dizer, os que conservam as bordas sem cortar: não permitem afirmar que o fundador do Opus Dei nunca tivesse lido esses livros, mas que nunca ninguém leu esses exemplares concretos. Ao tratar-se de presentes, muitos tê-los-ia lido antes de lhos terem enviado». Gil Sáenz acrescenta numa nota: «Também afirmado por Mons. Echevarría no mesmo lugar [um questionário apresentado pelo autor do escrito em 20 de maio de 2011], e além disso reitera-o em várias perguntas do questionário».

[34] cf. S. Josemaria, Camino, ed. crítico-histórica preparada por Pedro Rodríguez, Roma-Madrid, Istituto Storico San Josemaría Escrivá - Rialp, 20043, p. 733.

[35] cf. S. João Paulo II, Ma vocation: don et mystère, París, Bayard-Cerf-Fleurus-Mame-Téqui, 1996, p. 70.

[36] No n. 277, segundo a numeração de www.vatican.va.

[37] AGP, A.5, 221-2-2: «Outra recordação da tertúlia que tivemos com o Padre, no verão de 1961, na Estila, é o que se segue: Um dos presentes perguntou-lhe – foi uma pergunta bastante longa – se devíamos imitar os que então chamávamos padroeiros menores. Alongou-se acerca de que lhe era difícil pensar que os sacerdotes de Casa devessem imitar as virtudes do cura d’Ars, tomá-lo como modelo. O Padre apressou-se a esclarecer que os padroeiros menores eram simples intercessores, e que recorríamos a eles exclusivamente neste sentido. Que o nosso espírito era um concreto – o querido por Deus – que é o que tínhamos que viver. Que só devíamos imitar Jesus, a Virgem Santíssima e S. José, e aos outros pedir-lhes a sua intercessão nas coisas que tínhamos posto sob a sua proteção. Uns meses mais tarde chegou-nos uma indicação do Padre, dizendo que a partir de então chamaríamos santos intercessores aos padroeiross menores». Testemunho de Carlos Jordana Butticaz, 20 de Julho de 1975.

[38] «Voluntariamente, por mortificação e espírito de humildade, usava uma batina gasta, um chapéu velho, sapatos remendados que não conheceram o luxo de ser escovados»: Francis Trochu, Le curé d’Ars, saint Jean-Marie-Baptiste Vianney, 1786-1859, d’après toutes les pièces du procès de canonisation et de nombreux documents inédits, E. Vitte, Lyon-Paris 195412, p. 315, que cita na mesma página uma das pessoas que iam receber os conselhos do santo, a baronesa Alix-Henriette de Belvey: «Se o Sr. Vianney gostava da limpeza, a sua indigência exterior prejudicava-o um pouco»; «Só consentia mandar arranjar e lavar a batina quando já precisava demasiado»: Alfred Monnin, Le Curé d'Ars, vie de M. Jean-Baptiste-Marie Vianney, Lyon, C. Douniol, 1868, p. 167.

[39] cf. Javier Echevarría, Memoria del Beato Josemaría Escrivá, Madrid, Rialp, 2000, pp. 159-161.

[40] AGP, A.5, 217-2-5. Cf. Trochu, Le curé d’Ars Saint Jean Marie Vianney, pp. 555-564: Trochu diz também p. 556 que esta mortificação do santo lhe parece «mais admirável do que imitável».

[41] AGP, E.1.3, nota 658: «Os padroeiros da Obra não são propriamente modelos para nós, para a nossa vocação específica; mas intercessores, protetores da nossa Obra. Tende-o em conta nas meditações e nas palestras». S. Josemaria introduziu a mudança de vocabulário, de padroeiros menores para intercessores, no Catecismo da Obra, que apresenta o direito particular do Opus Dei em forma de perguntas e respostas. Cf. o exemplar da terceira edição do AGP (29 de março de 1959), art. 5, nn. 20-27, 25 y 27, AGP, E.1.9, 205-3-1, com correções manuscritas de S. Josemaria para a quarta edição, de padroeiros para intercessores.

[42] Testemunho de Iñaki Celaya, Roma, 22 de setembro de 1975: AGP, A.5, 204-3-4.

[43] Henri Convert, Le saint curé d'Ars et le sacrament de pénitence, 1ère partie, c. VII, Lyon, Emmanuel Vitte, 1923.

[44] Bernard Nodet, Jean-Marie Vianney, curé d’Ars. Sa pensée, son cœur, Le Puy, Xavier Mappus, 19605, p. 18

[45] Bernard Ardura o.praem., «Nella biblioteca del curato d’Ars. Conoscere san Giovanni Maria Vianney attraverso i suoi libri», L’Osservatore Romano, 9 gennaio 2010, p. 5.

[46] Enrique PÈLACH, Abancay: un obispo en los Andes Peruanos, Madrid, Rialp, 2005, p. 86; AGP, A.5, 237-1-3.

[47] cf. Tocanier, Procès de l'ordinaire, p. 115, en Henry Aurenche, La passion du saint curé d'Ars, Paris, NEL, 1949, p. 54.

[48] Javier Echevarría, Carta Pastoral (1 de julho de 2009) em http://www.opusdei.fr/art.php? p=34517 consultada em 9 de janeiro de 2014.

[49] AGP, A.2, 83-1, sobre as 35 estadas de S. Josemaria em França. No entanto, os elementos encontrados permitirão esclarecer certos pontos. A biografía de Andrés Vázquez de Prada dá as datas: 1953, 1956, 1958, 1959 y 1960. Portanto, a visita de 1955 e as três visitas de 1957 desapareceram. O autor menciona como fonte o Summarium do processo de canonização, p. 837, que fala das peregrinações a Ars, mas não dá nenhuma data. Cf. Vázquez De Prada, El Fundador del Opus Dei, vol. III, p. 338.

[50] AGP, A.2, 83-1-1. Não encontrámos nada sobre Ars e o santo cura à volta de 25 de Outubro nos diários do Centro da Rue de Bourgogne (Paris) AGP, M.2.2., 270-17; nem nos do Colégio Romano da Santa Cruz: AGP, M.2.2., 427-18. O centro de Grenoble não abrirá até julho de 1962, depois da última visita de S. Josemaria a Ars; o de Lyon não abrirá até depois do falecimiento do fundador do Opus Dei: portanto, não há diários para estes dois centros, que estão mais perto de Ars que de Paris, para o período que nos interessa.

[51] «Estiveram presentes num ofício solene a que assistiu todo o povo, e que faz pensar na profunda marca deixada por este santo»: AGP, A.2, 83-1-2, B, p. 1; Crónica, XII-1955, p. 14, AGP, Biblioteca, P01.

[52] AGP, A.2, 83-1-1. Não se encontrou nada sobre Ars e o santo cura no seu regresso da viagem de S. Josemaria no diário do Colégio Romano da Santa Cruz: AGP, M.2.2, 248-3. Cf. Também Ana SASTRE, Tiempo de caminar, Madrid, Rialp, 1991, p. 440

[53] AGP, A.2, 83-1-1. «Sem dúvida celebraram a Missa»: AGP, A.2, 83-1-2, C, p. 1. S. Josemaria esteve acompanhado pelo Bto. Álvaro del Portillo e por Giorgio de Filippi (mesma fonte). Não se encontrou nada sobre Ars e o santo cura por volta de 27 de junho nos diários do centro do Boulevard Saint-Germain (París): AGP, M.2.2., 269-17, e do Colégio Romano da Santa Cruz: AGP, M.2.2., 428-6.

[54] 1957 foi um ano importante pelos mal-entendidos expressos pelo cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira a que se fez referência anteriormente. Esta intenção por si só não pode explicar as três peregrinações a Ars, mas estava presente no coração de S. Josemaria e dos que o acompanhavam, especialmente do Bto. Álvaro del Portillo, que tinha ido ex professo a Lisboa em maio de 1956 para esclarecer a situação com o patriarca. Cf. Vázquez De Prada, El Fundador, vol. III, p. 362.

[55] S. Josemaria foi acompanhado nesta viagem pelo Bto. Álvaro del Portillo, Giorgio de Filippi, e pelo que seria depois prelado do Opus Dei Mons. Javier Echevarría, então jovem sacerdote que ia pela primera vez a Paris: AGP, A.2, 83-1-2, D.

[56] AGP, A.2, 83-1-2. Não se encontrou nada sobre Ars e o santo pároco por volta de 21 de maio nos diários do centro do Boulevard Saint-Germain (Paris): AGP, M.2.2., 269-19 e do Colégio Romano da Santa Cruz: AGP, M.2.2., 428-8.

[57] AGP, A.5, 237-1-4; Vázquez De Prada, El Fundador, vol. III, pp. 263-272.

[58] AGP, A.2, 83-1-1. Não se encontrou nada sobre Ars e o santo cura por volta de 13 e 14 de setembro nos diários do Centro do Boulevard Saint-Germain (París): AGP, M.2.2., 269-20 (S. Josemaria não passou por Paris nesta viagem) e do Colégio Romano da Santa Cruz: AGP, M.2.2., 428-8.

[59] S. Josemaria foi acompanhado nesta viagem pelo Bto. Álvaro del Portillo e por Giorgio de Filippi: AGP, A.2, 83-1-2, E.

[60] Não se encontrou nada sobre Ars e o santo pároco por volta de 24 de novembro nos diários do centro do Boulevard Saint-Germain (París): AGP, M.2.2, 269-21, e do Colégio Romano da Santa Cruz: AGP, M.2.2, 428-9.

[61] S. Josemaria foi acompanhado pelo Bto. Álvaro del Portillo, o P. Javier Echevarría e Armando Serrano: AGP, A.2, 83-1-2, F.

[62] AGP, A.2, 83-1-1. Não se encontrou nada sobre Ars e o santo pároco por volta de 1 e 2 de fevereiro nos diários do centro do Boulevard Saint-Germain (Paris): AGP, M.2.2, 269-21 e do Colégio Romano da Santa Cruz: AGP, M.2.2, 428-9.

[63] AGP, A.2, 83-1-1. S. Josemaría foi acompanhado pelo Bto. Álvaro del Portillo, o P. Javier Echevarría e Armando Serrano. Não há nenhum diário do centro do Boulevard Saint-Germain para este período no AGP. Não se encontrou nada sobre Ars e o santo cura por volta de 13 de maio no diário do Colégio Romano da Santa Cruz: AGP, M.2.2, 428-12.

[64] AGP, A.2, 83-1-1. Não se encontrou nada sobre Ars e o santo pároco por volta de 31 de outubro e 1 de novembro nos diários do centro do Boulevard Saint-Germain (París): AGP, M.2.2., 269-27 e do Colégio Romano da Santa Cruz: AGP, M.2.2., 428-16. Cf. também Peter Berglar, Josemaría Escrivá. Leben und Werk des Gründers des Opus Dei, Köln, Adamas, 2005, p. 351.

[65] AGP, A.2, 83-1-1.

[66] cf. por exemplo Vázquez De Prada, El Fundador, vol. III, pp. 582-588; pp. 591-596.

[67] Pelo menos os de 23 de julho de 1961 e de 3 de outubro de 1972, última passagem por França em Lourdes: AGP, A.2, 83-1-1.

[68] S. Josemaria decidiu mais tarde chamar-lhes agregados.

[69] AGP, E.1.3, nota 100.

[70]AGP, M.2.2, 269-15 (22 de novembro de 1955); AGP, A.2, 83-1-2, B.II. Não se encontrou nada sobre o tema por volta das mesmas datas no diário do Colégio Romano da Santa Cruz, AGP, M.2.2, 428-3.

[71] cf. Vázquez De Prada, El Fundador, vol. III, pp. 257-260.

[72] AGP, E.1.3, nota 4144 (15 de março de 1956).

[73] cf. as recordações de Mons. Javier Echevarría em Crónica, 1994, p. 330, AGP, Biblioteca, P01.

[74] cf. por exemplo Ernst Burkhart - Javier López,Vida cotidiana y santidad en la enseñanza de san Josemaría. Estudio de teología espiritual, vol. II, Madrid, Rialp, 2011, pp. 400-405.

[75] cf. AGP, A.3, 176-2-19, que é uma lista, escrita à mão por S. Josemaria, de 23 oratórios previstos em Villa Tevere, sendo o 22 o do cura d’Ars. No verso da lista há indicações sobre as obras de Villa Tevere, de março de 1952.

[76] «Quer o Padre que seja de estilo relativamente moderno e que no retábulo, onde a estátua ficará a presidir, se comemore dalgum modo a história da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz»: Diário de obras, 30 de maio de 1957: AGP, M.2. Pela informação que provém do diário das obras, escrito pelo arquiteto Jesús Álvarez Gazapo, agradeço a sua ajuda a Alfredo Méndiz, do Istituto Storico San Josemaría Escrivá.

[77] Diário de obras, 12 de março de 1958: AGP, M.2.2, D 1059, 9.

[78] «O Padre esteve muito tempo connosco no ateliê de manhã. Viu como se apresentou o oratório do cura d’Ars, que fica pequeníssimo. Diz o Padre que pode ficar uma coisa simpática, onde será possível fazer muito trabalho com os padres oblatos e supranumerários»: Ibid., 15 de março de 1958: AGP, M.2.2, D 1059, 9: «O Padre esteve muito tempo de manhã no ateliê. Comentando sobre o oratório do cura d’Ars, disse para não nos preocuparmos, já chegará a hora de fazer catedrais»: 17 de março de 1958: Ibid., «O Padre esteve muito tempo no gabinete connosco de manhã. Continuamos a dar voltas ao cura d’Ars; o Padre diz que nos conformemos com o que tínhamos preparado, mas não acaba de nos convencer»: 18 de março de 1958: Ibid.

[79] O diário do Colégio Romano da Santa Cruz diz exatamente: «O corpo inteiro de S. Félix [ficará] sob o altar do cura d’Ars, que era muito devoto das reliquias; por cima ficará uma estátua de corpo inteiro do santo cura que vai ser feita por um bom escultor»: AGP, M.2.2., 428-8 (6 de junho de 1957). As relíquias de S. Félix não estão em Villa Tevere: o redator do diário deve ter confundido com S. Severino, cujas relíquias, entregues a S. Josemaria pelo cardeal Marcello Mimmi, arcebispo de Nápoles, chegaram a Villa Tevere em 1957 e foram colocadas sob o altar do oratório de S. José.

[80] cf. por exemplo Monnin, Le Curé d'Ars, p. 573.

[81] AGP A.5, 329-2-1; AGP A.5, 323-2-9; AGP A.5, 338-1-4; AGP A.5, 218-2-3. Desejo agradecer a Constantino Ánchel por me ter comunicado estes dados.

[82] «O Padre deu a Jesús [Álvarez Gazapo] ontem à noite várias coisas que trazia da viagem, para nós. Fotografias de coisas aproveitáveis, um livrinho sobre Avinhão e umas fotos e uma escultura do cura d’Ars. Estas últimas servir-nos-ão para que um escultor – possivelmente Sciancalepore – faça uma escultura do santo, em tamanho natural, que presidirá o seu oratório»: Diário de obras, 30 de maio de 1957: AGP, M.2.2, D 1059, 7.

[83] «Hoje Fernando Maycas e Pepe saíram e compraram uma estátua do cura d’Ars (estava encomendada há tempos) para o Padre. É uma talha de madeira, digna mas simples»: Diário do centro da rue du Docteur Blanche (Paris), 12 de abril de 1953: AGP, M.2.2., 272-40.

[84] Como informa Fernando Maycas segundo o redator do diário: «Gostou imenso da imagem do cura d’Ars que lhe enviámos, tem-na sempre na mesa de trabalho»: Diário do centro da rue du Docteur Blanche (Paris), 10 de julho de 1953: AGP, M.2.2., 272-40. Mons. Maycas, que foi vigário judicial da arquidiocese de Paris – designado pelo cardeal Jean-Marie Lustiger – e com quem manteve correspondência sobre este assunto antes do seu falecimento em 2014, com 92 anos de idade, reconhecia a imagem que lhe ofereceram em 1953 nas fotos do oratório-biblioteca de Villa Tevere, a poucos passos do quarto que S. Josemaria ocupava, o que confirmaria uma vez mais a sua devoção ao santo pároco. Gostava de agradecer ao Pe. Fernando Maycas a sua colaboração, e ao Pe. Ángel Martínez, que teve a amabilidade de atuar como intermediário dos nossos correios eletrónicos.

[85] «O Padre e o P. Álvaro estiveram muito tempo no escritório. De manhã cedo, vendo o esboço do cura d’Ars, que trouxe Sciancalepore, e de que o Padre gostou»: Diário de obras, 16 de junho de 1957: AGP, M.2.2, D 1059, 7.

[86] Ibid. 8 de Julho de 1957: AGP, M.2.2, D 1059, 7.

[87] «O Padre e Jesús foram no carro das obras, conduzido por Javier Abad, ver Sciancalepore. O Padre viu o cura d’Ars, que já está muito adiantado e gostou muito: quer que façamos um molde do esboço pequeno em barro, para poder fundir pequenas imagens em metal leve»: Ibid. 31 de Março de 1958: AGP, M.2.2, D 1059, 9; «Invenção da Santa Cruz. O Padre foi a Santa Croce in Gerusalemme ao princípio da manhã rezar junto das relíquias, ao voltar passou pelo ateliê de Sciancalepore, que deve ter tido uma boa surpresa. O Padre está muito contento pela forma como está a ficar a estátua»: Ibid. 3 de maio de 1958: AGP, M.2.2, D 1059, 10.

[88] Id. 17 de maio de 1958: AGP, M.2.2, D 1059, 10

[89] Id. 13 de agosto de 1958: AGP, M.2.2, D 1059, 10.

[90] Por exemplo, Id. 2 de junho de 1957: AGP, M.2.2, D 1059, 7

[91] «O Padre quer que conservemos os modelos dos quatro intercessores para depois poder fazer cópias»: Id. 4 de julho de 1959: AGP, M.2.2, D 1059, 11.

[92] cf. Vázquez De Prada, El Fundador, vol. III, pp. 306-309.

[93] cf. Manuel González-Simancas Lacasa, Un retablo de alabastro en pleno siglo XX, en Manuel Gómez Leira - Manuel Garrido González (eds.), Torreciudad, Madrid, Rialp, 1988, pp. 165-192, especialmente o que se refere à estátua do cura d’Ars: pp. 170-172; 174; 182-184; 187-188; 191.

[94] John Henry Newman, La mission de saint Benoît, en Yves-Marie J. Congar o.p., Sainte Église, París, (Unam Sanctam, 41) Cerf, 1964, p. 559.

[95] «Na santa Igreja os católicos encontramos (…) o sentido da fraternidade, a comunhão com todos os irmãos que já desapareceram e que se purificam no purgatório – Igreja padecente –, ou com os que já gozam – Igreja triunfante – da visião beatífica, amando eternamente o Deus três vezes santo. É a Igreja que permanece aqui e, ao mesmo tempo, transcende a história»: S. Josemaria, Amar a la Iglesia, Madrid, Rialp, 20024, pp. 42-43.

[96] François-Marie Léthel o.c.d., La lumière du Christ dans le cœur de l’Église. Jean-Paul II et la théologie des saints, Paris, Parole et Silence, 2011, p. 16.

Laurent Touze