- Introdução
- A devoção a Pio X na Igreja
- A fama de santidade de Pio X desde a sua morte até meados dos anos trinta do século XX
- A fama de santidade de Pio X entre o fim dos anos trinta e a sua canonização
- A devoção de S. Josemaria Escrivá a S. Pio X e a sua nomeação como intercessor do Opus Dei
- A devoção de S. Josemaria Escrivá a S. Pio X na última fase da sua vida
- Conclusão
Introdução
O nosso estudo tem como objetivo investigar as circunstâncias em que S. Josemaria nomeou S. Pio X intercessor do Opus Dei para tudo aquilo que se refere às relações deste com a Santa Sé. Ao contrário daquilo que acontece com os outros quatro intercessores, o Papa Pio X é uma personagem muito recente, tendo sido beatificado alguns anos depois de que S. Josemaria tenha fixado a sua residência em Roma. Portanto, um dos modos de conhecer as circunstâncias em que se deu a sua nomeação como intercessor do Opus Dei é ver a devoção de S. Josemaria a este santo. É claro que tal afeto se insere na devoção comum em Espanha a este Papa e, mais amplamente, na história da devoção de toda a Igreja a partir da data da sua morte.
Por esta razão, o nosso trabalho vai começar por descrever nas suas linhas gerais os contornos da devoção a S. Pio X na Igreja, especialmente na Igreja espanhola. Isto vai ajudar a enquadrar e interpretar os momentos de piedade do Fundador do Opus Dei a este santo de que temos constância, que constituem a segunda parte do nosso estudo. Estamos convencidos de que assim se entenderá melhor o momento histórico em que S. Josemaria terá decidido nomeá-lo intercessor do Opus Dei para as relações com a Santa Sé. Enfim, veremos também alguns aspetos particulares dessa devoção que são posteriores à nomeação como intercessor, chegando até aos últimos anos de vida de S. Josemaria Escrivá.
A devoção a Pio X na Igreja
No dia 20 de agosto de 1914 morreu Pio X e puseram-lhe um crucifixo nas mãos, que foi retirado quando o corpo foi enterrado. Por sua vontade foi sepultado nas “Grutas vaticanas”, um local também conhecido por Cripta dos Papas, situado no piso inferior da Basílica de S. Pedro. Naquela altura a cripta conservava praticamente o mesmo aspeto que tinha em meados do século XVII, quando se concluiu a nova Basílica: era um lugar pouco arejado, com um pé direito muito mais baixo do que o atual e com una entrada através duma escada estreita. Por isso o acesso à Cripta era permitido com algumas restrições[1]. O Papa foi enterrado junto à coluna de Santo André, muito perto do lugar onde atualmente jaz o corpo de Pio XI; naquela altura, a essa zona da Cripta tinha-se acesso a partir do pilar situado a sudeste, onde está a estátua daquele Apóstolo. Era o primeiro enterro, desde há muitas décadas, que se fazia nesta zona da basílica[2].
A fama de santidade de Pio X desde a sua morte até meados dos anos trinta do século XX
As fontes consultadas mostram-nos que desde o início foram muitos os peregrinos, italianos e estrangeiros, que recorreram à sua intercessão e visitavam o seu túmulo para rezar quando entravam em S. Pedro. Às vezes, devido à impossibilidade de poder descer à Cripta, os fiéis ficavam na Basílica. Depois da morte do Papa, o cardeal Rafael Merry del Val foi nomeado arcipreste da Basílica e celebrava a Santa Missa junto ao túmulo do Papa no dia 20 de cada mês[3]. Ele conta que o ecónomo da Basílica de S. Pedro, Mons. De Bisogno, mandou colocar uma cruz de latão no pavimento da mesma, que assinalasse a posição que o túmulo ocupava na Cripta. Assim, os fiéis que se viam impossibilitados de poder ser acolhidos no piso subterrâneo, poderiam rezar o mais perto possível do corpo[4]. No ano 1923 foi inaugurada uma estátua de Pio X na Basílica Vaticana, perto da capela da Apresentação, e começou formalmente o seu processo de canonização[5]. Também é a partir deste ano que chegam à Postulação muitas cartas que manifestam a devoção a Pio X na Igreja e que nos podem ajudar a fazer o retrato de como é que este Papa era visto pelos fiéis do mundo inteiro durante as décadas de 1923-1943.
As cartas postulatórias, e aquelas que se escreveram diretamente ao cardeal Rafael Merry del Val manifestando alegria pelo início da Causa, mostram que a fama de santidade de Pio X era muito difundida na Igreja universal. As mais longas fazem uma breve resenha da vida deste Romano Pontífice, nas restantes sublinham-se alguns temas particulares, que indicamos: um primeiro ponto que aparece em muitas cartas é a convicção de que Pio X viveu santamente as virtudes. Um segundo ponto que aparece na quase totalidade das cartas que pudemos consultar é a ação de Pio X para aproximar a Eucaristia das crianças e a sua exortação à Comunhão frequente. Este Papa é conhecido principalmente por esta sua ação pastoral em relação ao Sacramento Eucarístico. Há cartas em que aparecem outras referências, por exemplo, à reforma litúrgica e àquela da música sacra, que são sempre muito mais concisas[6].
Por áreas geográficas poderíamos dizer que em Itália, na Irlanda e em França é mais assinalada a ação do Papa em relação à renovação da vida do clero, o favorecimento da catequese, a defesa da fé contra o modernismo e dos direitos da Igreja contra as intrusões do poder civil[7]. Noutros países a sua ação pastoral em relação à Eucaristia, tanto o adiantamento da primeira Comunhão das crianças como o encorajamento à Comunhão frequente, é o argumento principal que os bispos evocam[8]. Enfim, no caso da Espanha, encontramos uma carta coletiva, datada de 25 de outubro de 1923, assinada pelos bispos de 56 dioceses desse país. Entre aqueles que assinam, devido à sua importância para o nosso estudo, destacamos o bispo da diocese de Calahorra e La Calzada[9], da diocese de Barbastro e da arquidiocese de Saragoça. Na missiva pede-se a canonização de Pio X e justifica-se este requerimento com o reconhecimento das suas virtudes excelsas e singulares, e porque faz muitos favores. O episcopado espanhol chama-o «Pontífice da Eucaristia»[10]. Tanto nesta carta como naquela do Arcebispo de Westminster, Arthur Hinsley, de 28 de outubro de 1937, que enviara várias cartas postulatórias do Reino Unido e do Império Britânico (África e Índia inglesas), não há referências à defesa da fé contra o modernismo[11]. Por fim, como curiosidade, encontramos uma carta de 1925 em que um grupo de padres espanhóis escreve uma mensagem testemunhando a fama de santidade de Pio X, ao concluir os seus exercícios espirituais em Burgos. No registo das cartas postulatórias também se encontra um fragmento duma breve nota de 1915, assinada por Dom Leopoldo Eijo y Garay, então bispo de Tuy[12], ao cardeal Rafael Merry del Val, na qual se congratula com o facto de ter conseguido erigir uma estátua a Pio X naquela diocese.
A fama de santidade de Pio X entre o fim dos anos trinta e a sua canonização
Ao tratar de abrir um espaço para a capela sepulcral de Pio XI, no inverno de 1939, encontraram-se restos arqueológicos que levaram Pio XII a aprovar que se fizessem as escavações que depois conduziram à descoberta da Necrópole vaticana (também se fizeram escavações à volta do Túmulo de S. Pedro). No seu conjunto as obras só foram terminadas em 1950 e, durante alguns períodos, a Cripta foi totalmente fechada ao público. No fim desta época de escavações, iniciadas dez anos antes, a Cripta dos Papas tinha sofrido muitas modificações. Uma das mais conhecidas foi ter-se descido o nível do chão em 80 cm., como hoje se vê, mas a que mais nos interessa relaciona-se com a mudança de lugar do túmulo de Pio X, que foi trasladado para o nível da Basílica Vaticana e, mais em concreto, para um nicho na parede do lado direito da capela da Apresentação, no dia 11 de março de 1945. A escolha do lugar era bastante óbvia, visto que a estátua de Pio X inaugurada em 1923 estava mesmo ao lado – direito – dessa capela. Esta mudança do sepulcro de Pio X foi motivada pela sua fama de santidade[13].
A Causa de beatificação de Pio X continuou o seu percurso durante o pontificado de Pio XII. Em 1939 celebrava-se o 25º aniversário da morte de Pio X, pelo que em agosto se organizou uma peregrinação a Roma vinda de Veneza e de outros lugares ligados à memória daquele Papa. No seu discurso aos peregrinos, do dia 19 de agosto, Pio XII referiu-se aos diversos temas que já descrevemos brevemente ao tratar das cartas postulatórias, mas salientou as virtudes de Pio X, detendo-se principalmente nas circunstâncias daquele momento de “pré-guerra” e pedindo a paz. A liberdade da Igreja foi o outro tema que recebeu uma atenção especial neste discurso do Papa Pio XII[14].
O Osservatore Romano também conta que depois da Missa em São Pedro os peregrinos desciam às Grutas vaticanas pelas escadas situadas no pilar de Santo André. Faziam fila e os gendarmes deviam regular o acesso ao subterrâneo, visto que não era permitido deter-se demasiado tempo junto ao túmulo deste Papa. Isto aconteceu durante todo o dia 20 de agosto de 1939, domingo, e o jornal conta que alguns fiéis não puderam descer ao túmulo, contentando-se com ajoelhar-se junto da cruz dourada que, no pavimento da Basílica, indicava o lugar correspondente ao túmulo. Nesse dia passaram pelo local aproximadamente dez mil pessoas[15].
As peregrinações continuaram depois da segunda guerra mundial, havendo uma especialmente numerosa nos primeiros dias de setembro de 1948, que veio da arquidiocese de Boston e estava composta pelos membros da arquiconfraria da Doutrina Cristã[16]. O Papa Pio XII recebeu esta peregrinação e no seu discurso em inglês falou especialmente da importância de ser fiéis à doutrina cristã, que se contém no catecismo. Nesse mesmo texto o Papa indicou que poucos anos antes tinha mandado transferir o corpo de Pio X desde a Cripta para um lóculo provisório da capela da Apresentação da Basílica, para facilitar a visita ao túmulo por parte dos fiéis e para facilitar também a frequência dessas visitas. O Papa estava convencido de que ao fazer isto estava a promover que os fiéis estivessem mais perto de Deus[17].
No dia 3 de setembro de 1950 foi aprovado o Decreto das virtudes heroicas de Pio X e, menos de seis meses mais tarde, foi aprovado o Decreto de reconhecimento de dois milagres atribuídos à sua intercessão. A beatificação de Pio X realizou-se no dia 3 de junho de 1951[18]. Analisando as virtudes e as ações mais notáveis que se mencionam durante os festejos pela beatificação de Pio X, imediatamente sobressaem alguns pontos. Em primeiro lugar, a virtude da humildade, a sua afabilidade, a sua caridade e as virtudes próprias do bom pastor. No seu discurso Pio XII defende a heroicidade das virtudes do novo beato e rebate as dúvidas daqueles que o consideravam mais forte que prudente. Também se falou então da liberdade da Igreja e da luta pela defesa da fé e contra os inimigos da Igreja. Mas Pio XII considerava que a caraterística mais específica e singular do Beato Pio X era ser o Papa da Santíssima Eucaristia, referindo-se expressamente à medida pela qual adiantou a idade da primeira Comunhão, permitindo que fosse dada também às crianças. Na sua prece, Pio XII pedia ao novo Beato que protegesse a Igreja dos perigos do mundo[19]. Convém ter em conta a situação delicada que então se vivia: guerra fria, guerra da Coreia, opressão comunista na China e nos países da Europa de Leste. A urna com o corpo de Pio X esteve exposta à veneração dos fiéis durante alguns dias, primeiro junto ao altar da Confissão e depois na capela da Apresentação. Pouco tempo depois, ela foi posta dentro do altar de Cristo Rei, na nave central das Grutas Vaticanas, entretanto remodeladas. Hoje em dia, nesse lugar, está um vidro que permite a visão do túmulo de S. Pedro e da arca dos pálios aos peregrinos que estão nas Grutas. Em fevereiro de 1952 o corpo do Papa foi transferido para o altar da capela da Apresentação, onde está ainda hoje[20].
Pouco tempo depois da beatificação verificaram-se os dois milagres necessários para proceder à canonização do Beato Pio X. Após o estudo habitual nestes casos, Pio XII aprovou os dois milagres em 17 de janeiro de 1954 e, mais tarde, marcou a canonização para o dia 29 de maio desse mesmo ano. Entre as questões que mais se assinalaram estava o desejo de instaurar tudo em Cristo, tanto no âmbito individual como no público, a esperança de que esta canonização levasse ao aumento do fervor eucarístico, de que se seguisse mais S. Tomás de Aquino na filosofia e na teologia e, enfim, de que este Papa que tanto rezou pela paz ajudasse os povos que estavam ameaçados pela guerra[21]. Na sua homilia do dia 29 de maio o Papa Pio XII falou do espírito de justiça e de direito e da defesa da fé contra o modernismo (visto como separação entre fé e ciência e como germe de divisão entre os homens que leva à guerra); referiu-se também à procura da santidade em Cristo, estendendo-se muito sobre a ação de S. Pio X ligada à Eucaristia. Além das alusões habituais, Pio XII apresentou este sacramento como fonte de vida sobrenatural, duma renovada vida social, fazendo ver como S. Pio X pregava muito sobre a ligação da Eucaristia à vida interior. No fim recorreu ao novo Santo para lhe pedir pela Igreja e pela concórdia entre as classes sociais[22]. A festa litúrgica de S. Pio X ficou marcada para o dia 3 de setembro.
Podemos resumir sinteticamente o quadro apresentado dizendo que Pio X gozou sempre duma grande fama de santidade. Esta foi a causa da transferência do seu corpo para a Basílica de S. Pedro antes da sua beatificação. Portanto, apesar das obras que limitaram o acesso à Cripta dos Papas, era possível rezar diante do seu túmulo a partir dos meses finais da segunda guerra mundial. Além disto, este Papa era conhecido e estimado principal- mente pelas suas virtudes e por ter aproximado de todos a Santíssima Eucaristia. As referências ao modernismo, ao Catecismo, à liberdade da Igreja, ao Código de direito canónico e a outras medidas são muito menos assinaladas. Em Espanha, onde viveu S. Josemaria Escrivá, a referência à Eucaristia não só era muito frequente como eclipsava outras medidas e ações deste Papa.
A devoção de S. Josemaria Escrivá a S. Pio X e a sua nomeação como intercessor do Opus Dei
Acabámos de ver os principais elementos que desenham os contornos da fama de santidade de que gozava Pio X na vida da Igreja. Eles proporcionam-nos o contexto específico em que viveu S. Josemaria Escrivá, que já nos oferece um primeiro quadro conjuntural para percebermos a sua devoção a S. Pio X.
Há dois acontecimentos da sua vida infantil que talvez valha a pena indicar e que podem ser enquadrados no discurso que acabámos de fazer. O primeiro é que S. Josemaria recebeu um prémio por bom comportamento infantil a 4 de outubro de 1908. Este prémio derivava dum concurso que se realizou, com ocasião do cinquentenário da ordenação sacerdotal de Pio X, para premiar as crianças mais bem comportadas da diocese de Barbastro, onde ele então residia com seus pais. Na entrega do prémio esteve o bispo administrador diocesano, Dom Isidro Badía y Sarradell e, no fim, foi enviado um telegrama ao Santo Padre em nome de toda a diocese manifestando-lhe o amor filial de todos os seus membros. Isto motivou uma resposta, também em telegrama, do cardeal secretário de estado Rafael Merry del Val[23]. Outro acontecimento importante daquela época foi o decreto de 1910 em que o Papa permitiu dar a Primeira Comunhão às crianças a partir da idade dos sete anos, razão pela qual S. Josemaria pôde fazer a sua pouco tempo depois, em 23 de abril de 1912[24]. Ficou sempre na sua memória esta data e durante toda a vida se referiu a este decreto de Pio X com grande agradecimento e veneração.
Na nossa pesquisa não encontramos nenhum documento jurídico em que o Fundador do Opus Dei tenha deixado constância de ter nomeado S. Pio X como intercessor do Opus Dei. Para poder determinar a data do evento tivemos de consultar várias fontes, como os testemunhos recolhidos aquando do Processo de beatificação e canonização de S. Josemaria Escrivá, os diários das estadias romanas do Fundador do Opus Dei e, na medida do que foi possível, as notas ou referências formuladas por ele próprio. Dessa consulta emerge que a decisão de nomear S. Pio X intercessor da Obra não é um facto isolado. Os dados que pudemos recolher mostram que ela se explica melhor dentro da devoção de S. Josemaria Escrivá a S. Pio X, que é muito mais ampla e se estende ao longo do tempo, até ao fim da sua vida. Por isso, decidimos seguir agora uma exposição em ordem cronológica dos elementos que encontramos, deixando para a parte final do nosso trabalho a última etapa da vida de S. Josemaria.
O primeiro registo que temos duma referência a Pio X na pregação de S. Josemaria Escrivá é dos meses que passou na Legação de Honduras, durante a guerra civil espanhola, em que se mostrou convencido da santidade deste Papa[25]. Naquela ocasião o Fundador do Opus Dei quis ligar o lema do pontificado instaurare omnia in Christo com a missão de reconduzir a criação a Cristo segundo a luz que tinha recebido no dia 7 de agosto de 1931: et ego si exaltatus fuero a terra omnia traham ad meipsum. Também do ano 1937 temos uma referência a Pio X, que consiste num breve episódio acontecido em Lourdes depois de ter celebrado a Santa Missa no santuário, isto é, numa das etapas conclusivas da passagem dos Pirenéus. Situa-se portanto nos primeiros dias de dezembro daquele ano. Quando estava à saída da Cripta da Basílica do Rosário, S. Josemaria encontrou-se diante duma estátua de Pio X muito bonita e aí renovou o seu amor e fidelidade ao Papa; «Com que profunda satisfação lhe beijei a mão!», escreveu[26].
Depois da guerra civil espanhola encontramos um relato duma testemunha: «Um dia daquela primavera ou verão de 1940, o Padre estava a falar-nos, no oratório de Jenner, da Sagrada Eucaristia e, como que de passagem, referiu-se à influência decisiva que Pio X tinha tido na promoção da comunhão frequente. Ao realizar esta alusão, disse que Pio X tinha sido um Papa muito santo e que muito em breve o veríamos nos altares, e fê-lo dum modo tão firme e seguro que em mim não deixou qualquer dúvida de que isso iria acontecer. Isto sucedeu bastantes anos antes de que fosse canonizado»[27]. Entre os escritos que se conservam está uma dedicatória que colocou no livro de Ferruccio de Carli, Pio X y su tiempo, que ofereceu a uma irmã de Dom Eliodoro Gil no dia 6 de janeiro de 1944.
Podemos concluir que, antes de viajar a Roma e de se estabelecer na cidade, o Fundador do Opus Dei já considerava que Pio X era santo e tinha-lhe uma devoção particular que se manifestava em oração e difusão da sua vida. Entre os aspetos da vida e atuação deste Papa, bem presentes na mente de S. Josemaria, a Eucaristia tem um lugar destacadíssimo, seguida do amor à Igreja e do desejo de que o Reino de Cristo se instaure em todas as pessoas. Não consta nenhuma referência ao modernismo, à liberdade da Igreja, à reforma da música sacra ou a outros eventos. Se temos em conta o que já dissemos sobre a devoção a S. Pio X em Espanha, pode concluir-se que os dados de que dispomos mostram que a devoção de S. Josemaria converge e é coerente, nas suas linhas principais, com aquela que pudemos verificar naquele país a partir das fontes documentais do Processo de S. Pio X.
O próximo grupo de provas documentais diz respeito aos primeiros anos da vida de S. Josemaria Escrivá em Roma, antes da canonização de Pio X, isto é, entre junho de 1946 e maio de 1954. Como já vimos, quando chegou à Cidade Eterna o piso inferior da Basílica de S. Pedro estava em obras profundas, motivadas pela descoberta do túmulo de S. Pedro e da Necrópole vaticana, mas o corpo de Pio X já tinha sido transferido provisoriamente para um lóculo na parede do lado direito da capela da Apresentação da própria Basílica, estando portanto acessível a todos os peregrinos. Com a beatificação, a urna com os restos mortais do Papa foi colocada no altar de Cristo Rei, na Cripta dos Papas e, em 17 de fevereiro de 1952, foi transladada para o altar da Capela da Apresentação. Há uma grande documentação relativa às presenças de S. Josemaria Escrivá na Basílica, mas nos primeiros anos está principalmente relacionada com a visita ao túmulo do primeiro Apóstolo e ligada à sua devoção de, ao chegar a Roma, ir rezar um Credo diante do altar da Confissão. Nos diários dos Centros de Roma, relativos aos primeiros anos da sua estadia nessa cidade, consta claramente esta devoção de «ir rezar um Credo em S. Pedro»[28], embora em termos bastante genéricos e variados, pelo que o Símbolo poderia ser rezado na Praça, às vezes indica-se o foco duma das elipses do Colonnato, ou dentro da Basílica. Como naquela altura era possível entrar habitualmente com o carro até dentro da Praça, consta que algumas vezes S. Josemaria não chegava a descer do automóvel, aproveitando uma passagem perto de São Pedro para parar na própria Praça e rezar um Credo[29]. A partir de outubro de 1953 esses mesmos diários relatam – de vez em quando e duma forma mais específica – que os membros do Opus Dei que viajavam a Roma eram acompanhados, pelo Fundador ou por outra pessoa da Obra, ao interior do Basílica, demorando-se alguns minutos lá dentro para rezar[30]. No entanto, nos diários do Colégio Romano da Santa Cruz continua a ser mais frequente a referência genérica de «ir a S. Pedro para rezar um Credo». Em datas posteriores aparece com mais clareza o percurso que S. Josemaria Escrivá aconselhava a fazer ao entrar em S. Pedro: primeiro, fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento, depois, rezar uma Salvé junto duma das imagens de Nossa Senhora, em terceiro lugar, rezar um Credo de joelhos diante da Confissão e, em quarto lugar, ir rezar um Pai-nosso junto do túmulo de S. Pio X, que estava na capela da Apresentação, pedindo pelo Papa, pela Igreja e por alguma intenção especial ligada às relações da Obra com a Santa Sé[31].
Os diários de Piazza della Città Leonina e, mais tarde, do Colégio Romano da Santa Cruz, relatam que S. Josemaria tinha a devoção de ir celebrar a Santa Missa em S. Pedro num dos dias seguintes à sua chegada a Roma e num dos dias anteriores à sua partida de Roma[32]. Não dispomos dum registo dos altares em que terá celebrado, mas consta no diário que no dia 31 de agosto de 1946, dia em que regressava a Espanha, S. Josemaria foi com Dom Álvaro del Portillo a S. Pedro, de manhã, para rezar. Dom Álvaro del Portillo celebrou ali a Santa Missa «no altar de Pio X» e S. Josemaria veio-se embora e celebrou em casa[33]. Sabemos também, duma forma genérica, que S. Josemaria celebrou na Basílica de S. Pedro noutras datas e que foi rezar várias vezes junto do túmulo de Pio X antes da sua canonização[34]. Pelos vistos, por volta do dia 12 de fevereiro de 1953 S. Josemaria foi várias vezes à Basílica ou à Praça de S. Pedro para rezar[35]. No dia 26 de fevereiro desse mesmo ano o diário regista que S. Josemaria e Dom Álvaro del Portillo foram ao dentista e depois foram à Basílica de S. Pedro, onde entraram, pois o Fundador do Opus Dei «queria rezar a S. Pio X [sic]». O texto do diário parece cometer um erro, pois Pio X era só Beato naquela altura. Este erro volta a aparecer no dia seguinte, 27 de fevereiro:
«A meio da tertúlia o Padre veio estar connosco. Diz-nos que em 1934 ou 1935 – não recordo com exatidão – pôs sob o patrocínio do Santo Cura d’Ars as relações da Obra com os bispos. E há poucos dias, confiou a S. Pio X [sic] as relações com a Santa Sé. A propósito disto falou-nos de alguma devoção particular aos santos, que os homens piedosos têm e que é uma caraterística que o Padre quer para todos os seus filhos na Obra»[36].
Várias semanas depois encontramos outro texto eloquente no mesmo diário: «De manhã saem o Padre, com Dom Álvaro e Dom José Maria. Primeiro vão a S. Pedro, para que Dom José Maria se possa despedir. Entram na Basílica e rezam uma oração a S. Pio X [sic], nosso padroeiro – por devoção do Padre – nas relações com a Santa Sé»[37]. O sublinhado é um acrescento posterior à redação do Diário, com outro tipo de letra e outra caneta.
Da análise dos textos apresentados podemos deduzir que a data em que S. Pio X passou a ser intercessor do Opus Dei nas relações com a Santa Sé é fevereiro de 1953: é provável que se trate da segunda metade do mês, e é certo que essa decisão é anterior ao dia 27. A decisão está precedida por momentos de oração do Fundador do Opus Dei diante do túmulo do então Beato Pio X, pedindo por assuntos ligados à relação da Obra com a Santa Sé. Embora só tenhamos constância dum relato explícito dessa oração diante do túmulo de S. Pio X e dum testemunho genérico de Lourdes Toranzo, que sabe que o Fundador do Opus Dei antes da canonização ia com frequência lá rezar, como a devoção que lhe tinha é muito anterior e sólida, temos a certeza moral de que terá ido muitas vezes rezar àquele local antes de 27 de fevereiro de 1953. Essa nomeação como «padroeiro» – só mais tarde é que se lhe aplicaria o termo «intercessor» – tinha como objetivo as relações da Obra com a Santa Sé.
Na documentação consultada não há elementos que explicitem o objetivo desta intercessão naquele preciso momento da história do Opus Dei. Constam, sim, por outras fontes, algumas dificuldades importantes naqueles anos que poderiam ter comprometido as relações entre o Opus Dei e a Santa Sé, causadas por calúnias infundadas. Um primeiro grupo de acusações deste género levou-o a consagrar o Opus Dei à Sagrada Família de Nazaré em 14 de maio de 1951 (pouco antes, portanto, da beatificação de Pio X). Um segundo tipo de calúnias conduziu-o a consagrar a Obra ao Imaculado Coração de Maria em 15 de agosto de 1951 (já depois da beatificação daquele Papa). Sobre os obstáculos que levaram a esta última consagração, há documentação já publicada que mostra o sofrimento de S. Josemaria e as diligências que realizou a partir daquela data e até à entrevista do cardeal Federico Tedeschini com Pio XII em 18 de março de 1952, que foi o momento em que se resolveu a questão. Em outubro desse mesmo ano, na festa de Cristo Rei, o Fundador do Opus Dei voltou a fazer a consagração da Obra e dos seus apostolados, desta vez ao Sagrado Coração de Jesus. Sabemos, enfim, que no fim desse ano S. Josemaria tinha pedido a todos os membros do Opus Dei que se preparassem bem para as bodas de prata da Obra, que seriam celebradas em 2 de outubro de 1953[38].
Enfim, também consta com clareza que naquele momento – fevereiro de 1953 – Pio X era só Beato e a aprovação dos milagres para a canonização, como já vimos, é de 17 de janeiro de 1954, quase um ano depois. O Diário do Colégio Romano chama-o «santo», várias vezes, pelo que parece impossível que seja um erro. Provavelmente o diário reflete um tom oral de conversa com o qual se faz referência a um santo, sem a intenção de precisar a sua situação específica (Beato ou Santo).
O acontecimento seguinte que nos interessa é a canonização de Pio X, que é registada oportunamente no Diário porque nesse dia, que era sábado, o horário da casa mudou para facilitar a assistência à cerimónia. Tanto o Osservatore Romano, como o Diário do Colégio Romano referem a grande afluência de pessoas, que encheu a Praça de São Pedro. O Osservatore Romano diz que Pio XII celebrou a canonização na Praça por causa do grande número de peregrinos, oferecendo também o texto integral da sua homilia. O Diário do Colégio Romano conta as diligências de vários membros da Obra para poderem estar o mais perto possível do Papa, relata que vieram de Espanha várias pessoas conhecidas para o evento e manifesta que S. Josemaria assistiu à canonização em Villa Tevere através da televisão[39]. No dia anterior à canonização, S. Josemaria dizia aos que viviam com ele que Pio X era intercessor da Obra no que respeita às relações com a Santa Sé[40].
No que respeita à devoção de S. Josemaria Escrivá a este Papa, as fontes que pudemos consultar mostram que é cada vez mais explícito o percurso que aconselhava a fazer aos peregrinos na Basílica de S. Pedro[41]. Encontramos também alguma referência aos elogios que o Fundador do Opus Dei fazia a este Papa quando falava dele aos membros da Obra no fim dos anos 50 e, enfim, encontramos um testemunho explícito duma visita de S. Josemaria Escrivá ao túmulo de S. Pio X em 1962, recolhendo-se em oração para pedir por alguma intenção[42]. Esta mesma oração a S. Pio X pediu-a aos membros da Obra em diversas ocasiões antes do início do Concílio Vaticano II, tendo ficado recolhidas nas fontes que pudemos consultar[43]. Também é daquele tempo o interesse do Fundador do Opus Dei em dispor de alguma relíquia deste Papa para a conservar num relicário no Oratório da Santíssima Trindade, em Villa Tevere; consta que no verão de 1958 já tinha uma[44].
Há ainda três referências de tipo arquitetónico ou artístico, todas da segunda metade dos anos 50, em que se manifesta a presença de S. Pio X entre os intercessores do Opus Dei. A primeira é o Sacrário do Oratório de Pentecostes, situado na Sede Central do Opus Dei em Roma, que contém quatro estátuas dos intercessores. Sabemos que o Fundador do Opus Dei consagrou o altar desse Oratório na segunda-feira, dia 11 de março de 1957, à noite[45]. Sobre este Sacrário há uma referência no Diário das obras de Villa Tevere que conta ter-se encarregado um «coprifilo» para os degraus do Tabernáculo desse oratório no dia 12 de janeiro daquele ano[46]. Trata-se duma espécie de medalhão que cobre as uniões dos aros que enfeitam os três degraus da base circular do Sacrário. A principal biografia de S. Josemaria conta que no dia 29 de setembro de 1956 o Sacrário do Oratório de Pentecostes chegou a Roma e sabemos que tinha sido encomendado a «Talleres de Arte Granda» dois anos antes[47].
A segunda é o conjunto de cinco relicários que atualmente está no Oratório da Santíssima Trindade, que também se encontra nos edifícios que formam a Sede Central do Opus Dei em Roma. No Diário das obras de Villa Tevere do ano 1957 surge pela primeira vez uma alusão aos relicários por parte de S. Josemaria Escrivá: «o Padre disse a Jesús A. G. [Jesús Álvarez Gazapo] que no altar do Oratório do Padre [Oratório da Santíssima Trindade, usado pelo Prelado] faremos umas provas para pôr umas pequenas arcas, entre os candelabros, que hão de conter relíquias dos padroeiros [sic]: o Cura de Ars, S. Tomás Moro, Pio X, etc. Poder-se-iam fazer em prata dourada ou ottone [latão] dourado». A data desta anotação é de 22 de janeiro daquele ano[48]. A terceira é o retábulo do Oratório da Aula, também ele situado na Sede da Cúria Prelatícia do Opus Dei em Roma, que tem quatro estátuas em baixo relevo dos quatro intercessores então existentes. A data de dedicação desse oratório é 1959.
Podemos concluir que a devoção de S. Josemaria Escrivá a S. Pio X era já muito grande antes da sua canonização, rezava-lhe, visitava o seu túmulo com frequência, difundia a sua devoção, tendo inclusivamente confiado as relações da Obra com a Santa Sé à sua intercessão quando ele ainda era Beato, na segunda metade de fevereiro de 1953. A sua canonização foi vivida pelo Fundador do Opus Dei e pelos membros do Opus Dei com grande alegria. S. Josemaria Escrivá lembra este Papa principalmente pela Eucaristia, mas também recorda as suas virtudes e outras ações suas. A sua intercessão está muito ligada às relações da Obra com a Santa Sé no período de 1946-1965, isto é, o momento de várias aprovações pontifícias e das diversas tentativas duma solução jurídica mais adequada, que ficou adiada para depois do Concílio Vaticano II[49].
A devoção de S. Josemaria Escrivá a S. Pio X na última fase da sua vida
Vamos analisar agora os últimos dez anos da vida de S. Josemaria Escrivá, que foram de grande crescimento do Opus Dei em todo o mundo, mas também de grande sofrimento pelas diversas crises que a Igreja viveu. Do material consultado pode-se referir que a devoção a S. Pio X mantém-se, nas suas linhas principais, duma forma constante: visitas a São Pedro, com um percurso já habitual que aconselhava às pessoas da Obra a realizar quando chegavam a Roma, e vivência especial da memória litúrgica de S. Pio X. Há, no entanto, algumas acentuações que são específicas desta época e estão ligadas a alguns eventos, que apresentaremos agora.
Entre os dias 1 e 15 de setembro de 1969 realizou-se um Congresso Geral do Opus Dei para a revisão dos Estatutos, de modo que pudessem adaptar-se melhor aos documentos conciliares. Esse congresso revelou-se providencial porque, durante a preparação do mesmo, iniciada vários meses antes, S. Josemaria tinha recebido a notícia de que na Santa Sé se tinha constituído uma comissão especial para julgar e analisar a situação de alguns Institutos Seculares entre os quais se contava naquele momento o Opus Dei. Escreve o cardeal Julián Herranz nas suas memórias que «era algo anómalo: formar uma comissão sobre uma realidade apostólica da Igreja, ocultando-o à pessoa que a governa – neste caso, o próprio Fundador – e aos seus membros. Além disso, entre os que integravam essa comissão contavam-se várias pessoas com notórios preconceitos em relação ao Opus Dei»[50]. Nestas circunstâncias começou o Congresso Geral do Opus Dei. O dia 3 de setembro, memória de S. Pio X, situava-se precisamente no interior deste evento. S. Josemaria pediu que se celebrasse esta memória ainda mais do que aquilo que já era habitual então na Obra: que houvesse bênção eucarística, que se rezasse mais a este Papa e se fizesse uma refeição um pouco melhor para festejar este santo intercessor[51]. O diário do Conselho Geral da Obra sintetiza em poucas linhas o que S. Josemaria disse naqueles dias e uma das coisas que refere é precisamente a exortação a rezar a S. Pio X[52].
No início dos anos 70, através dum padre que trabalhava na Sagrada Congregação das Causas dos Santos, Mons. Francisco Vives, o arquiteto Jesús Álvarez Gazapo e Mons. Joaquín Alonso conheceram os sobrinhos de S. Pio X, Maria Pia e Giuseppe Sartor[53]. A amizade fez-se mais intensa ao longo do tempo e os sobrinhos do Papa conheceram a devoção que lhe tinha S. Josemaria Escrivá. Uma das vezes que os foram visitar, os sobrinhos de S. Pio X mostraram-lhes as recordações que tinham deste Papa. Como se aproximava o septuagésimo aniversário de S. Josemaria, os visitantes sugeriram aos sobrinhos do Papa oferecer-lhe como presente uma relíquia do tio. Estes pensaram que um genuflexório poderia ser um bom presente e ficou combinado dar-lho no dia 9 de janeiro de 1972. Estando assim as coisas acordadas, Mons. Joaquín Alonso lembrou que se poderia adiantar o presente para 6 de janeiro, que era o tradicional dia de Reis, em Espanha, e em Itália era também dia de intercâmbio de presentes[54]. Este genuflexório é bastante simples e tinha sido usado por Pio VII. Quando, muitos anos mais tarde, o cardeal Giuseppe Sarto o encontrou numa loja de velharias, afeiçoou-se a ele e, tendo sido eleito Papa, trouxe-o para Roma. Depois da sua morte um sobrinho sacerdote tinha ficado com as coisas de Pio X e, mais tarde, tinha dado tudo o que possuía a estes dois sobrinhos leigos.
A alegria de S. Josemaria quando lhe deram o genuflexório foi notória e quis que ficasse no oratório que usava habitualmente. Ainda hoje este genuflexório está situado no lugar em que S. Josemaria dispôs que se pusesse, do lado esquerdo e ligeiramente de lado, para que quem se ajoelhe possa ver diretamente o Sacrário sem torcer o pescoço[55].
Pouco tempo depois de receber o presente, no mesmo ano de 1972, S. Josemaria recebeu os sobrinhos do Papa na sua residência de viale Bruno Buozzi. Os sobrinhos perceberam o agradecimento do Fundador do Opus Dei e o modo como tinha acolhido esta relíquia, o que suscitou neles o desejo de lhe oferecerem mais recordações do tio. Ofereceram-lhe uma cama de ferro que o tio tinha usado em Mântua, um solidéu e outras recordações. Na tertúlia do dia 21 de janeiro de 1972 o Fundador da Obra contou com muita alegria que no dia seguinte lhe iam trazer a cama de S. Pio X[56].
O sobrinho do Papa, Giuseppe Sartor, morreu algum tempo depois, deixando a irmã Maria Pia, adoentada e sozinha, com uma criada já idosa que a cuidava. S. Josemaria recomendou a várias pessoas da Obra que a acompanhassem, tanto em casa como, mais tarde, no hospital em que teve de ser atendida na via Flaminia. Maria Pia Sartor quis dar todos os seus bens à Obra, mas S. Josemaria pediu-lhe que deixasse todo o dinheiro à sua empregada já idosa, aceitando só o recheio da casa com as recordações de S. Pio X que ela conservava[57]. Ela achou bem e redigiu o testamento nesses termos. Maria Pia Sartor foi atendida pelas pessoas da Obra até ao momento da sua morte e, depois de falecida, o dinheiro que possuía foi entregue à sua empregada, como indicava o testamento. As mulheres da Obra procuraram ajudar esta senhora idosa a encontrar um lugar para viver em Roma, visto que ela não quis ir viver para Veneza. S. Josemaria recebeu então um enorme número de relíquias de S. Pio X, que foram quase todas para Cavabianca, a sede do Colégio Romano da Santa Cruz, em Saxa Rubra. A maioria destas relíquias está guardada em dois grandes armários no corredor de passagem entre uma das casas e a Igreja de Nossa Senhora dos Anjos. Bem perto desses armários está uma estátua de mármore de S. Pio X em tamanho maior que o natural, que S. Josemaria mandou fazer no início dos anos 70, para que todos os que passassem por ali rezassem a este Papa pela Igreja, pelo Papa e pela firmeza do Opus Dei na fé. No Oratório da Casa del Fiume – no Centro internacional Cavabianca – também se conservam várias relíquias deste Papa e no soggiorno dessa mesma casa está o relógio de prata que lhe pertencia[58].
Há muitas fontes que falam da devoção de S. Josemaria Escrivá a S. Pio X naqueles três últimos anos da sua vida, aludindo especialmente às relíquias deste Papa que lhe foram chegando às mãos ou àquelas que ele distribuiu por vários Centros do Opus Dei em todo o mundo[59]. S. Josemaria interpretava a receção das relíquias como um gesto de agrado por parte de Pio X por aquilo que ele e toda a Obra lhe rezavam[60].
A devoção de S. Josemaria Escrivá nesses anos adquiriu uma maturidade notável e alargou-se a outros âmbitos que iam muito mais além das relações da Prelatura do Opus Dei com a Santa Sé. Por um lado pedia a S. Pio X que a Obra estivesse sempre firme no meio da crise que a Igreja estava a viver[61], mas por outro lado pedia pelo Papa e pelas necessidades da Igreja, que ele via tão atacada naqueles primeiros cinco anos da década de setenta do século passado[62]. É bastante conhecida a fase crítica atravessada pela Igreja depois do Concílio Vaticano II, pelo que não nos vamos deter nela. Basta dizer que S. Josemaria a viveu num clima de grande sofrimento, de oração contínua, sem perder a esperança, realizando viagens de catequese para avivar e confirmar na fé os membros da Obra e todos aqueles que recebiam, de algum modo, os frutos da ação pastoral do Opus Dei, e recorrendo amiúde a Nossa Senhora – são conhecidas as suas romarias marianas daqueles anos – e aos santos, como S. Pio X. Um dos modos em que naquela altura S. Josemaria procurou difundir muito a devoção a este Papa, além da distribuição de relíquias e pagelas (santinhos), foi através da difusão dos seus ensinamentos, estimulando a publicação dos seus documentos e especialmente do seu catecismo, que recomendou vivamente em diversos países por onde passou[63].
S. Josemaria continuou a referir-se ao modo em que Pio X viveu as virtudes, especialmente a pobreza, a simplicidade, o amor à Eucaristia[64] e ao sacerdócio. Ao receber um diário do Papa, em que se contavam diversos episódios da vida normal, e o quadro de Maria Bambina – a quem Pio X tinha muita devoção – S. Josemaria também sublinhou a simplicidade deste Papa, na sua piedade e nos modos que tinha de se dirigir a Deus. Nalgumas ocasiões S. Josemaria comparou a situação que a Igreja estava a viver com aquela que se vivia no tempo de S. Pio X, sugerindo que as medidas que este Papa tinha tomado para resolver a situação de crise poderiam ser úteis para, duma forma análoga, ajudar a Igreja a superar a situação em que se encontrava[65].
Uma das relíquias que os sobrinhos de S. Pio X deram a S. Josemaria foi a cruz que esse Papa teve nas mãos depois da sua morte e antes do enterro. Alguma vez a mostrou numa tertúlia, manifestando que gostaria muito que lha pusessem nas mãos no momento da sua morte[66]. De facto, no dia 26 de junho de 1975, entre as mãos do corpo já sem vida de S. Josemaria foi posto o crucifixo que também S. Pio X tinha tido entre as suas naqueles mesmos momentos. Desta forma, até a morte e enterro de S. Josemaria Escrivá, Dom Álvaro del Portillo, Dom Javier Echevarría e aqueles que habitualmente conviviam com ele, interpretando o seu desejo, manifestaram duma forma clara a devoção que ele tinha pelo Santo Papa Pio X[67].
Conclusão
Chegados ao fim do nosso percurso, podemos concluir o seguinte:
- S. Josemaria Escrivá nomeou S. Pio X intercessor do Opus Dei para as relações com a Santa Sé na segunda quinzena de fevereiro de 1953, quando ele era ainda Beato e não se sabia quando é que seria canonizado, visto que os milagres só foram aprovados pelo Papa Pio XII em 17 de janeiro de 1954.
- Esta nomeação está ligada aos favores específicos que lhe pedia, mas vinha apoiada por um antigo convencimento da santidade deste Papa e por uma devoção pessoal que já lhe tinha desde há muitos anos.
- A devoção de S. Josemaria Escrivá a S. Pio X está muito ligada à Eucaristia, tanto à primeira Comunhão das crianças, da qual foi uma das primeiras gerações que se beneficiou, como à Comunhão frequente. Este é um aspeto que se nota constantemente ao longo da sua vida.
- A devoção do Fundador do Opus Dei a S. Pio X, embora seja sólida e constante, tem alguns aspetos que vão evoluindo ao longo da sua vida. As fontes revelam que numa primeira fase da sua vida ela se insere na comum devoção a este «Papa da Eucaristia» que existia na Igreja. Outros aspetos da vida deste Papa também são considerados, mas vêm-se como secundários, por exemplo, a heroicidade das suas virtudes, a sua solicitude de Pastor, de catequista, de defensor dos direitos da Igreja e da fé. É neste contexto que foi nomeado intercessor do Opus Dei nas relações da Prelatura com a Santa Sé. Estas caraterísticas não desapareceram com o decorrer do tempo.
- Numa segunda fase da sua vida, depois do Concílio Vaticano II, além dos elementos que permanecem, há um amadurecimento dessa devoção, que já não está só ligada ao Opus Dei, mas também à vida da Igreja e do Romano Pontífice – Paulo VI e os que lhe sucedessem. Nesta segunda fase o Fundador da Obra recebe muitas relíquias do Santo, distribui algumas e difunde a devoção a Pio X através da reedição dos seus escritos, do Catecismo e de pagelas. É um momento em que conheceu melhor alguns aspetos mais íntimos da vida do Papa, através dessas relíquias que recebeu e das notícias que os parentes lhe contaram, e em que apresentou as medidas que este Papa tinha tomado como um exemplo inspirador para que a Igreja pudesse ultrapassar a crise que agora atravessa. Este último aspeto é uma manifestação bastante tradicional de seguimento do exemplo dos santos, que é muito comum na vida da Igreja e que já deu muitos frutos ao longo da sua história.
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O autor, Miguel de Salis Amaral, é sacerdote português incardinado na Prelatura do Opus Dei; fez a licenciatura em Engenharia Civil na Universidade do Porto e o doutoramento em Teologia na Universidade de Navarra. Foi Assistente na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (1993-1994), e também foi Assistente na Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra (1998-2000). Desde o ano 2000 vive em Roma, desenvolvendo a sua atividade de pesquisa e ensino na Pontifícia Universidade da Santa Cruz, onde é Professor Associado de Eclesiologia e Ecumenismo. No ano 2002 o Papa João Paulo II nomeou-o Consultor Teólogo da Congregação das Causas dos Santos. Além de artigos em diversas revistas italianas e estrangeiras, publicou alguns livros: Dos visiones ortodoxas de la Iglesia: Bulgakov y Florovsky (Eunsa 2003, também publicado em romeno em 2009), Concittadini dei santi e familiari di Dio: studio storico-teologico sulla santità della Chiesa (Edusc 2009, também publicado em português em 2013) e, com outros professores, publicou Dono e compito. La Chiesa nel Simbolo della fede (Città Nuova, 2012).
[1] cf. Vittorio Lanzani, Le Grotte Vaticane, Roma, Elio de Rosa Ed., 2003, p. 49. Para mais pormenores sobre o estado da Cripta dos Papas, cfr. Id., Le Grotte Vaticane. Memorie storiche, devozioni, tombe dei papi, Roma – Città del Vaticano, Elio de Rosa Ed. − Fabbrica di San Pietro, 2010, pp. 109ss.
[2] Tenha-se em conta que o Beato Pio IX foi enterrado na Basílica de São Lourenço extramuros e o Papa Leão XIII tinha sido enterrado na Basílica de São João de Latrão.
[3] Todos os dados que oferecemos nesta primeira parte do estudo estão baseados na Positio que se preparou para a Causa de canonização deste Papa. Agradecemos à Congregação das Causas dos Santos, particularmente ao Cardeal Angelo Amato S.D.B., ao Secretário e ao Subsecretário, e àqueles que trabalham no arquivo desse Dicastério vaticano, a colaboração prestada. Também queremos agradecer ao Delegado da Fábrica de São Pedro, Mons. Vittorio Lanzani, ao diretor do arquivo da mesma Fábrica, Dr. Pietro Zander e a todos os que ali trabalham, a colaboração prestada para poder realizar este estudo. Enfim, agradecemos ao Cabido de São Pedro, na pessoa de Mons. D. de Rezza, as facilidades para investigar no arquivo capitular.
[4] cf. S. Rituum Congregatione E.mo ac R.mo Domino Carolo Card. Salotti Praefecto S.R.C., Relatore, Romana Beatificationis et Canonizationis Servi Dei Pii Papae X. Positio super introductione Causae, Romae, Typis Poliglottis Vaticanis, 1942, pp. 163-172. O testemunho do cardeal Rafael Merry del Val está recolhido no Summarium, p. 982. A cruz tem 12x12 cm e uma espessura de 3 cm, indicando ainda hoje o primeiro lugar que ocupou o corpo de São Pio X nas Grutas Vaticanas.
[5] cf. Romana Beatificationis et Canonizationis Servi Dei Pii X, Summarium super dubio. An sit signanda Commissio Introductionis Causae in casu et ad effectum de quo agitur. Litterae Postulatoriae, Roma, 1939, pp. 302-304. A Causa desenvolveu-se em quatro Processos informativos: Roma, Veneza, Mantua e Treviso, que foram apresentados à Sagrada Congregação dos Ritos no dia 8 de julho de 1931.
[6] Nas cartas e mensagens recolhidas pela Postulação alude-se a várias outras iniciativas pastorais de Pio X. Em relação ao clero: a reforma do Breviário, a formação dos padres, a reforma da disciplina do clero e o fomento da santidade sacerdotal, o Código de direito canónico. Em relação à fé: o Catecismo da doutrina cristã, ao que se acrescenta normalmente a ação do Papa na difusão da doutrina católica, a sua defesa da fé contra o modernismo. Em relação à situação da Igreja no mundo: a sua defesa dos direitos da Igreja em relação ao Estado (Portugal, França e México) e face às ameaças do liberalismo de então, a sua procura constante da paz, o seu esforço para que se difundisse o Reino de Cristo nas nações e nas pessoas, o seu empenho na Ação Católica, entre outros. Este terceiro conjunto de temas não é tão assinalado e há vários testemunhos e cartas que não se referem a alguns dos temas que se encontram neste grupo. Além disso, o espaço dedicado a este tipo de questões é sempre muito mais curto do que aquele que se dedica à Eucaristia.
[7] Veja-se as cartas do cardeal Eugenio Tosi, arcebispo de Milão (5 de novembro de 1923), do Cardeal Michael Loghe, Arcebispo de Armagh (21 de outubro de 1924), do Cardeal Louis-Joseph Luçon, Arcebispo de Reims (15 de agosto de 1923) e do Arcebispo Raymond M. Rouleau, o.p. (27 de outubro de 1927), em Romana Beatificationis et Canonizationis Servi Dei Pii X, Summarium super dubio. An sit signanda commissio introductionis Causae in casu et ad effectum de quo agitur. Litterae postulatoriae, Roma, 1939, pp. 6-11, 14 e 144s.
[8] É o caso do episcopado suíço (carta de 2 de agosto de 1924), cfr. ibid., pp. 36s; do episcopado da nova república da Checoslováquia (carta de 25 de janeiro de 1924), cfr. ibid., p. 39; os bispos da Austrália fundam a sua petição em três razões: 1. a santidade pessoal de Pio X; 2. o seu amor à Eucaristia e a sua promoção da Comunhão frequente e a das crianças; 3. o seu interesse paterno pela formação e santificação do clero, cfr. ibid., pp. 49-54 (a carta é de 17 de março de 1925). O cardeal Francis Bourne, Arcebispo de Westminster refere-se ao modernismo, brevemente, e dedica mais espaço à Comunhão frequente e das crianças, cfr. ibid., p. 13.
[9] A partir de 1959 a diocese passou a chamar-se Calahorra e La Calzada − Logronho.
[10] cf. Romana Beatificationis et Canonizationis Servi Dei Pii X, Summarium super dubio. An sit signanda commissio introductionis Causae in casu et ad effectum de quo agitur. Litterae postulatoriae, Roma, 1939, p. 11. Em primeiro lugar assina Dom Henrique Reig y Casanova, Cardeal Arcebispo de Toledo. O seminário de Mântua também chamou a Pio X «Pontífice da Eucaristia» na carta postulatória que enviou, cfr. ibid., p. 86.
[11] cf. ibid., p. 35.
[12] Em 1959 esta diocese galega mudou de nome, passando a chamar-se Tuy-Vigo.
[13] cf. Lanzani, Le Grotte Vaticane. Memorie, pp. 92-94 e 100-101. «Nelle Sacre Grotte i lavori della nuova sistemazione proseguono piuttosto lentamente a causa delle perduranti difficoltà di rifornimenti di materiali e di trasporti; non è stato ancora possibile riaprire al pubblico neppure la parte di esse nella quale erano collocate le tombe degli ultimi Pontefici defunti [...]. Date le incessanti richieste dei fedeli che desideravano prostrarsi avanti alla tomba di Pio X, la Salma del Servo di Dio, ottenuto dal Revmo Promotore della Fede il consenso del Santo Padre, è stata provvisoriamente sistemata in un loculo nella Ss. Basilica nella parete destra della Cappella della Presentazione della B. Vergine; tale posizione risulta quanto mai appropriata trovandosi a ridosso del monumento già esistente di Pio X»: L’Attività della Santa Sede. Dal 15 dicembre 1944 al 15 dicembre 1945, Città del Vaticano, Tipografia Poliglotta Vaticana, p. 168, cfr. também «L’Osservatore Romano», 11 de março de 1945, p. 2. Fazemos constar que o corpo de Pio X foi exumado em maio de 1944, para o reconhecimento canónico, e reposto num nicho próximo do pilar de Longinos, nas Grutas Vaticanas, em julho daquele mesmo ano. Portanto, entre julho de 1944 e março de 1945 o corpo de Pio X esteve inacessível aos fiéis que lhe eram devotos.
[14] cf. «L’Osservatore Romano», 20 de agosto de 1939, pp. 1 e 3; Romana Beatificationis et Canonizationis Servi Dei Pii X, Summarium super dubio. An sit signanda commissio introductionis Causae in casu et ad effectum de quo agitur. Litterae postulatoriae, Roma, 1939, pp. 112f-112n.
[15] cf. «L’Osservatore Romano», 21 e 22 de agosto de 1939, p. 2. Na página 3 do jornal explica-se a disposição dos túmulos de Pio X, Bento XV e do cardeal Merry del Val, num ambiente de penumbra e algo apertado devido ao pé direito, que era muito baixo naqueles anos. Sobre a cruz dourada encastoada no pavimento cfr. ibid., 20 de agosto de 1939, p. 3.
[16] Sacra Rituum Congregatione E.mo ac R.mo Domino Clemente Card. Micara Præfecto S. R. C., Relatore, Romana Beatificationis et Canonizationis Servi Dei Pii Papae X. Positio super virtutibus, Typis Polyglottis Vaticanis 1949, p. 154. Para mais informações sobre esta peregrinação, cfr. ibid., p. 153; «L’Osservatore Romano», 1 de setembro de 1948, p. 2.
[17] cf. ibid., 2 de setembro de 1948, p. 1.
[18] Todos estes passos foram devidamente publicitados no jornal da Santa Sé, cfr. ibid., 4 e 5 de setembro de 1950, pp. 1ss; 12 e 13 de fevereiro de 1951, p. 1; 5 e 6 de março 1951, pp.1ss; 3 de junho de 1951, pp.1ss; 4 e 5 de junho de 1951, pp.1-3.
[19] cf. ibid., 3 de junho de 1951, p. 3; 4 e 5 de junho de 1951, pp. 1ss. O discurso de Pio XII na beatificação de Pio X reflete e confirma a investigação aprofundada que se fez durante o Processo de beatificação deste Papa. Como se sabe, Pio XII tinha a intenção de o beatificar em 1950, mas devido a algumas dúvidas sobre a heroicidade das virtudes, surgidas na fase de estudo da Causa, o Papa encarregou a Congregação dos Ritos da pesquisa pormenorizada de algumas questões ligadas ao modo de lidar com temas afins ao modernismo. O resultado desse estudo, feito pelo Pe. F. Antonelli, franciscano e Relator geral, foi recolhido no documento Sacrum Rituum Congregatione Sectio Historica n. 77, Romana Beatificationis et canonizationis Servi Dei Pii Papae X. Disquisitio circa quosdam obiectiones modum agendi Servi Dei respicientes in modernismi debellatione una cum Summario additionale ex officio compilato, Typis Polyglottis Vaticanis, 1950, tendo convencido Pio XII a proceder à beatificação.
[20] cf. «L’Osservatore Romano», 6 de junho de 1951, p. 1; 21 de agosto de 1951, p. 1; 17 de fevereiro de 1952, entre outros números do jornal daqueles mesmos dias, que recolhem material fotográfico e relatos da afluência dos fiéis.
[21] cf. Compendium vitae virtutum et miraculorum necnon actorum in Causa canonizationis beati Pii Papae X, Confessoris, Typis Polyglottis Vaticanis, 1954, p. 12.
[22] cf. «L’Osservatore Romano», 1 de junho de 1954, p. 1.
[23] Para os pormenores cfr. Andrés Vázquez de Prada, El Fundador del Opus Dei, Madrid, Rialp, 1997-2003, vol. I, pp. 38-39 e «Boletín Eclesiástico Oficial del Obispado de Barbastro», ano LV, núm. 18, de 24 de novembro de 1908, que recolhe circulares do ano anterior, editais dos concursos, resultados e prémios, etc.
[24] Uma citação da biografia mais importante sobre S. Josemaria ajuda a explicar as circunstâncias de então: «En España no solían hacer los niños la Primera Comunión hasta haber cumplido los doce o trece años, costumbre seguida también en otros muchos países. Fue en virtud de un decreto de san Pío X, en 1910, cuando se rebajó esa edad al momento en que se alcanzase el uso de razón, alrededor de los siete años. La fecha de la disposición coincidía con los preparativos para el Congreso Eucarístico Internacional que iba a celebrarse en Madrid en junio de 1911. Por ello se hizo en todas las parroquias de España una intensa labor catequética, con la idea de que se acercasen a recibir la Sagrada Eucaristía el mayor número posible de niños», Vázquez de Prada, El Fundador, vol. I, p. 50.
[25] «Si los hombres oyeran su voz [de Cristo, n.d.r.] y le conocieran, recobraría el mundo su perdido equilibrio y volverían a su antiguo orden los que hoy son elementos de perturbación. Éste es nuestro trabajo: renovar en Cristo todas las cosas, llevar a la realidad aquel lema santo de un Pontífice santo: Instaurare omnia in Christo. Este es el objetivo de la Obra», Apontamentos duma meditação de Josemaria Escrivá, 16 de maio de 1937, «Crecer para adentro», Arquivo Geral da Prelatura (AGP), Biblioteca, P12, p. 77.
[26] «¡Con qué honda satisfaccion le besé la mano!», Josemaria Escrivá, Apuntes íntimos, n. 1430, cit. em Positio super virtutibus Servi Dei Iosephmariæ Escrivá de Balaguer. Biographia Documentata, p. 515. De acordo com o testemunho de Mons. Pedro Casciaro, que o acompanhava nesta travessia, S. Josemaria celebrou no segundo altar lateral da direita da nave, bastante perto da entrada da Cripta, cfr. ibid.
[27] «Un día de aquella primavera o verano de 1940, estaba hablándonos el Padre, en el oratorio de Jenner, de la Sagrada Eucaristía y, de pasada, se refirió a la decisiva influencia que había tenido Pío X en promover la comunión frecuente. Al hacerlo, dijo de una manera tan firme y segura que no dejó en mí lugar a dudas, que Pío X había sido un Papa muy santo y que le veríamos pronto en los altares. Esto sucedía bastantes años antes de que se le canonizara», Testemunho de Francisco Ponz Piedrafita, AGP, série A.5, 238-3-5.
[28] Diário do Colégio Romano da Santa Cruz, 22 de julho de 1951, 13 de novembro de 1951 e 15 de maio de 1953, AGP, série M.2.2-427, entre outros lugares.
[29] Diário do Colégio Romano da Santa Cruz, 25 de janeiro de 1952, AGP, série M.2.2-427.
[30] Diário do Colégio Romano da Santa Cruz, 30 de outubro e 16 de novembro de 1953, AGP, série M.2.2-427.
[31] Nos Diários que pudemos consultar não há especificações sobre o lugar em que está o corpo de Pio X, isto é, no lóculo (antes da beatificação) ou no altar da capela da Apresentação (a partir de 17 de fevereiro de 1952), cfr. «L’Osservatore Romano», 17 fevereiro 1952, p. 1 e 18-19 fevereiro 1952, p. 1.
[32] «El Padre tiene verdadera ilusión de celebrar en S. Pedro su primera Misa “apud S. Petrum”», Diário de Villa Tevere, 21 de novembro de 1947, AGP, série M.2.2-436-10; nos mesmos termos, mas referindo-se também à celebração antes de sair de Roma, Diário de Villa Tevere, 22 de maio de 1948, AGP, série M.2.2-436-13.
[33] «Por la mañana el Padre y don Álvaro fueron a hacer la oración a la basílica de S. Pedro, mientras Salvador e Ignacio la hacían en el oratorio. Don Álvaro celebró allí en el altar de Pio X y el Padre volvió y celebró en casa», Diário de Piazza della Città Leonina, 31 de agosto de 1946, AGP, série M.2.2. Fazemos notar que naquela data o corpo de Pio X não estava no altar, e sim no lóculo aberto na parede direita da capela da Apresentação. Isto quer dizer que a pessoa que escreveu o diário parece usar normalmente como referência daquele altar o túmulo do Papa, então situado num lugar próximo, mas não no altar.
[34] «Son casi innumerables los detalles relacionados con el amor de nuestro Padre por el Romano Pontífice, fuese quien fuese el Vicario de Cristo en la tierra. Escojo algunos. Por ejemplo, las numerosas “escapadas” que, de pronto, hacía el Padre hasta la Basílica de San Pedro para hacer la Visita en la Capilla del Santísimo y, luego, la oración. Y para rezar ante la tumba de Pío X, antes de que fuese canonizado, encomendándole las relaciones filiales de la Obra con la Santa Sede», Testemunho de Lourdes Toranzo, AGP, série A.5, 246-1-1.
[35] O Diário regista que S. Josemaria regressava a Viale Bruno Buozzi com Dom Álvaro del Portillo, depois de ter ido fazer uma diligência mas, «antes de regresar a casa pasan por la plaza de San Pedro, donde el Padre, según tiene por costumbre –que estos días intensifica– reza un Credo», Diário do Colégio Romano da Santa Cruz, 12 de fevereiro de 1953, AGP, série M.2.2, 427-16.
[36] «A mitad de tertulia viene el Padre con nosotros. Nos dice que en 1934 o 1935 –no recuerdo con exactitud– puso bajo el patrocinio del Santo Cura de Ars las relaciones de la Obra con los obispos. Y hace pocos dias, encomendó a San Pio X las relaciones con la Santa Sede. Nos habló a propósito de esto de alguna devoción particular a los santos, que tienen los hombres piadosos, que es una característica que el Padre quiere para todos sus hijos en la Obra», Diário do Colégio Romano da Santa Cruz, 27 de fevereiro de 1953, AGP, série M.2.2, 427-16.
[37] «Por la mañana sale el Padre, con Don Álvaro y Don José Maria. Van primero a San Pedro, para despedirse Don José Maria. Entran en la Basílica y rezan una oración a San Pio X, nuestro patrón –por devoción del Padre– en las relaciones con la Santa Sede», Diário do Colégio Romano da Santa Cruz, 17 de abril de 1953, AGP, série M.2.2, 427-16.
[38] Para uma exposição dos pormenores destas dificuldades e para conhecer melhor o contexto geral destes anos pode-se consultar Vázquez de Prada, El Fundador, vol. III, pp. 179-246.
[39] cf. Diário do Colégio Romano da Santa Cruz, 29 de maio de 1954 AGP, série M.22, 427; cfr. «L’Osservatore Romano», 1 de junho 1954, p. 1; Carta a Dom Fernando Maycas, Roma, 31 de maio 1954, AGP, série M.1.1, 1537-B15; Carta a Fernando Inciarte, Roma, 31 de maio 1954, AGP, série M.1.1, 1537-B15.
[40] «Roma estos dias estaba invadida completamente por extranjeros con motivo de la canonización de Pío X. El día anterior a la canonización el Padre nos recordaba que es Patrón nuestro, el de las relaciones de la Obra con la Santa Sede», Carta de Antonio Linares González a Dom Fernando Maycas, Roma, 31 de maio 1954, AGP, série M.1.1, 1537-B15; naquela data o Fundador do Opus Dei ainda não tinha precisado a diferença entre os padroeiros e os intercessores.
[41] «Sé que al comienzo, cuando eran apenas un pequeño puñado en Roma, le gustaba al Padre llevarlos personalmente a la basílica de San Pedro y allí hacer ese recorrido que tantísimas veces hicimos; Visita al Santísimo, Credo en la Confesión ante la tumba del Apóstol Pedro, Salve a la Virgen María y Padrenuestro en la tumba de San Pío X», Testemunho de Cipriano Rodríguez Santamaría, AGP, série A.5, 1465-1-10; Testemunho de Rafael Horacio Téllez Téllez, AGP, série A.5, 348-3-4.
[42] «Voy a referir un hecho que pude presenciar referente a su devoción a San Pío X. Un día de la primavera de 1962, al volver del mercado estábamos Elena Vázquez y yo oyendo la Santa Misa en San Pedro, en el altar de San Pío X, cuyo cuerpo está visible en una urna debajo del altar; entró el Padre con Don Javier Echevarría. Estuvo rezando durante largo rato, embebido en la oración. Muchas veces nos había hablado de su devoción a San Pío X y nos había dicho que acudiéramos a su intercesión», Testemunho de Purificación González, AGP, série A.5, 217-1-1; «Estabamos Elena Vázquez y yo en la acción de gracias de la comunión, en el altar de San Pío X donde habíamos asistido a misa y comulgado. Vimos llegar al Padre acompañado de Don Javier Echevarría. Rezaba con la vista puesta en San Pío X, ponía mucha intensidad y un gran recogimiento en aquella oración porque no dejó de mirar un momento. No nos vio ni siquiera al marchar, aunque pasó por delante de nosotras y estábamos solas. Don Javier sí nos vio», Testemunho de Purificación González, AGP, série A.5, 217-1-1.
[43] «El 3 de septiembre [de 1960] regresamos a Londres y tuvimos una tertulia, con el Padre para celebrar la fiesta de San Pío X. El Padre nos pidió que rezáramos por una intención especial a través de aquel santo Papa, intercesor nuestro», Testemunho de José María de Torre Callejas, AGP, série A.5, 245-3-3.
[44] Testemunho de Jaime Planell Fonrodona, AGP, série A.5, 238-2-6.
[45] Diário de Obras, 15 de março de 1957, AGP, série M.2.2, 1059-7.
[46] Diário de Obras, 12 de janeiro de 1957, AGP, série M.2.2, 1059-7.
[47] cf. Vázquez de Prada, El Fundador, vol. III, pp. 306-307.
[48] «El Padre le ha dicho a Jesús A. G. que en el altar del Oratorio del Padre haremos unas pruebas para poner unas arquetas, entre los candelabros, que contendrán relíquias de los patronos: el Cura de Ars, Sto. Tomás Moro, Pio X, etc. Se podrían hacer en plata dorada o bien en ottone dorado», Diário de Obras, 22 de janeiro de 1957, AGP, série M.2.2, 1059-7. Como já dissemos, naquela data ainda não se chamava os intercessores com esse termo, sendo todos tidos por padroeiros [patronos em castelhano]. Só mais tarde é que S. Josemaria Escrivá explicou a diferença entre os padroeiros e os intercessores; para mais pormenores veja-se o estudo sobre o Santo Cura d’Ars, publicado neste mesmo fascículo de SetD.
[49] O período de 1946 a 1965 é denso de diligências do Fundador do Opus Dei junto da Santa Sé, primeiro para conseguir a aprovação pontifícia menos desvantajosa e, mais tarde, para conseguir uma configuração jurídica que respondesse à realidade do Opus Dei. Para um estudo mais atento dos diversos passos e diligências, cfr. Amadeo de Fuenmayor – José Luis Illanes – Valentín Gómez Iglesias, El itinerario jurídico del Opus Dei. Historia y defensa de un carisma, Pamplona, Eunsa, 1989, pp. 145-361.
[50] Julián Herranz Casado, En las afueras de Jericó. Recuerdos de los años con San Josemaría y Juan Pablo II, Madrid, Rialp, 20073, p. 192: «Era algo anómalo: formar una comisión sobre una realidad apostólica de la Iglesia, ocultándoselo a su cabeza –en este caso, el propio fundador− y a sus miembros. Además, entre los integrantes de la comisión se contaban varias personas con notorios prejuicios hacia el Opus Dei» [a tradução é nossa]. Para conhecer melhor as circunstâncias e o desenvolvimento da situação, cfr. ibid., pp. 189-201 e 225-242.
[51] «El día 3 de septiembre de 1969, fiesta de San Pío X, a las ocho de la mañana, nos llamó el Padre a Marlies y a mí para que fuéramos al comedor de la Villa Vecchia. Nos dijo que deseaba que ese día se celebrase mucho más la fiesta de San Pío X, que tuviésemos bendición con el Santísimo y que rezáramos muy especialmente invocando la ayuda de este Santo Intercesor. Después añadió que advirtiéramos a la Administración, para que en la comida hubiera algún pequeño extraordinario», Testemunho de Mercedes Morado García, AGP, série A.5, 159-1-3.
[52] «El Padre ha contado algunas cosas en las tertulias, que trataré de resumir: el común denominador ha sido sin embargo el mismo: oración por la intención especial; rezar mucho a San Pio X; estar todos unidos cor unum et anima una», Diário do Conselho Geral do Opus Dei, 1-15 de setembro de 1969, AGP, série M.1.2, 430-17. No início dos anos 70 o Diário do Conselho Geral do Opus Dei regista a ida de vários membros da Obra ao túmulo de São Pio X, no dia 3 de setembro, para lhe pedir pelas intenções de S. Josemaria.
[53] Trata-se de dois sobrinhos dum sobrinho de Pio X, Mons. Giovanni Battista Parolin.
[54] Apontamentos duma conversa com Mons. Joaquín Alonso em Roma, 26 de julho de 2011.
[55] Testemunho de Antonio Miralles García, AGP, série A.5, 326-3-3. Este genuflexório foi usado também por João Paulo I uns dias antes de ter sido eleito Papa. O cardeal Karol Wojtyla, antes de entrar no Conclave em que foi eleito, também esteve no Oratório em viale Bruno Buozzi mas, quando lhe sugeriram ajoelhar-se nele, preferiu só beijar esta relíquia de São Pio X: Testemunho de Amelia Díaz Guardamino Echeverría, AGP, série A.5, 2236-2-4; cfr. Herranz Casado, En las afueras de Jericó, pp. 265 e 278.
[56] Testemunho de Pablo Bofill de Quadras, AGP, série A.5, 198-3-1.
[57] Apontamentos duma conversa com S. Josemaria, 20 de novembro de 1974, «Crónica», dezembro 1974, p. 32, AGP, Biblioteca, P01.
[58] Apontamentos duma conversa com Mons. Joaquín Alonso em Roma, 26 de julho de 2011.
[59] cf. Testemunho de Peter Haverty, AGP, série A.5, 219-1-1; Werner H. Schmidt, AGP, série A.5, 2199-3-10; Vicente Villanueva Ochoa, AGP, série A.5, 334-2-5; Manuel Ordeig Corsini, AGP, série A.5, 233-3-1; José Gabriel de la Rica Olave, AGP, série A.5, 345-3-2; Ernst Burkhart, AGP, série A.5, 199-3-7; Andrés Rueda Salaberry, AGP, série A.5, 243- 1-3; Javier González Murgoitiobeña, AGP, série A.5, 348-3-3; José Rodríguez Iturbe, AGP, série A.5, 241-3-1, entre outros.
[60] «He estado leyendo recientemente los documentos de este Santo Papa... Le quiero particularmente, y pienso que él, desde el Cielo, está ayudando mucho al Opus Dei. Parece que está contento, porque ha puesto en mis manos, en este año pasado, un montón de reliquias suyas». Apontamentos duma conversa de São Josemaria com sacerdotes em Enxomil (Portugal), 31 de outubro de 1972, «Dos meses de catequesis», 1972, vol. I, p. 258, AGP, Biblioteca, P04.
[61] Testemunho de María Eugenia Amado, AGP, série A.5, 329-3-6.
[62] «Noticias», 1972, p. 774, e 1973, p. 38, AGP, Biblioteca, P02; Testemunho de Alejandro Cantero Fariña, AGP, série A.5, 202-2-9.
[63] Testemunho de Manuel García Rodríguez, AGP, série A.5, 214-3-7; Ismael Sánchez Bella, AGP, série A.5, 244-1-2; Manuel Cabello, AGP, série A.5, 320-2-2; Rolf Weingand, AGP, série A.5, 345-1-18.
[64] Testemunho de Peter Haverty, AGP, série A.5, 219-1-1; Pedro Martínez, AGP, série A.5, 331-3-2; José Rodríguez, AGP, série A.5, 241-3-1.
[65] Carta de 14 de fevereiro de 1974, nn. 25 e 26, AGP série A.3, leg. 95, carp. 2, exp. 4.
[66] Apontamentos duma conversa com S. Josemaria, 20 de novembro de 1974, «Crónica», dezembro 1974, p. 32, AGP, Biblioteca, P01.
[67] AGP, Positio super vita et virtutibus Servi Dei Iosephmariæ Escrivá de Balaguer y Albás. Biographia documentata, p. 1387; veja-se também o testemunho de D. Álvaro del Portillo no Summarium, pp. 1657 e 1993, entre outras declarações das testemunhas escutadas nos Processos de Roma e de Madrid.