“Como professora, procuro deixar marca, não a minha, mas a de Deus”

Mariel tentou repetidas vezes silenciar a inquietação vocacional que estava a despertar no seu coração. E, quando as nuvens que a impediam de ver o caminho se dissiparam, sentiu fortemente o chamamento para deixar marca; não a sua, mas a de Deus.

A história de Mariel faz parte de “A caminho”, uma série de histórias de homens e mulheres que se puseram a caminho. É o testemunho de pessoas que se encontraram com Jesus e mudaram as coordenadas das suas vidas. A rota, nalguns momentos, pode tornar-se confusa ou tranquila, difícil ou apaixonante. E, embora nestas histórias o destino seja o mesmo, cada caminho é único, tal como o seu viajante. Todos coincidem em descobrir que, tendo Jesus como copiloto, a viagem é uma aventura incrível.

O caminho faz-se caminhando

Tudo começou no bairro de São Justo, em La Matanza, Argentina. Ali nasceu, deu os primeiros passos e cresceu junto dos pais e dos dois irmãos mais novos. Aos domingos, costumavam visitar a igreja da zona; era um momento que partilhavam em família. E, embora isso mantivesse a sua fé desperta, com o passar dos anos essa centelha foi-se apagando.

No entanto, Deus sempre Se faz encontradiço e foi o que aconteceu na vida de Mariel: começou a frequentar as aulas de catequese da sua escola e, pouco a pouco, foi despertando na sua alma o desejo de conhecer um pouco mais esse Jesus amigo que tempos atrás tinha esquecido.

«Senti uma forte necessidade de me confessar e esse foi o momento que marcou para mim um antes e um depois»

Começou o Curso Superior de Educação. A sua vida decorria com certa normalidade, com os altos e baixos, sonhos e aprendizagens próprios de uma jovem que vai fazendo o seu caminho à medida que avança. E, nesse caminho, deparou-se com uma reviravolta inesperada. Tudo começou quando o irmão a convidou para conhecer o sacerdote com quem costumava conversar, uma pessoa que ele apreciava muito. Nesse dia, embora Mariel não se apercebesse, ia ter lugar um ponto de inflexão no seu percurso; uma paisagem repentina surgia diante dos seus olhos e iluminaria doravante os seus passos: «Senti uma forte necessidade de me confessar e esse foi o momento que marcou para mim um antes e um depois; embora já me tivesse confessado outras vezes, foi a primeira experiência de que Deus era meu Pai e que era Ele quem me estava a perdoar; foi experimentar que Deus me amava, a mim, pessoalmente».

A partir desse momento, a sua vida inverteu a marcha, queria aproximar-se de Deus e conhecê-l’O melhor, «Estar perto d'Ele tinha-se tornado uma necessidade que eu sentia no fundo do meu coração», explica. Pouco a pouco, foi incorporando práticas de piedade na sua vida: começou a ir à Missa com mais frequência, começou a rezar e a receber acompanhamento espiritual: «Deus mete-Se na vida de cada um e vai-nos conduzindo», afirma, sorridente.

Passados alguns meses, uma amiga convidou-a a participar nuns dias de retiro, um stop na vida quotidiana, um pouco de silêncio para se renovar por dentro, em diálogo com Deus. «O que me aconteceu durante esses dias foi algo decisivo. Sempre tinha pensado em casar e ter filhos, mas naquele retiro senti que Deus me podia chamar para algo diferente», recordou. Sentiu-se inquieta, não compreendia exatamente o que Deus lhe poderia estar a pedir. Decidiu pedir conselho ao sacerdote que pregava o retiro: «Fez-me ver o que me estava a acontecer. Recordo que me disse: “Estás a descobrir que Deus tem uma vocação, um chamamento para ti e, pouco a pouco, to irá mostrando”, e isso encheu-me de tranquilidade», explicou, emocionada.

«Estar perto d'Ele tinha-se tornado uma necessidade que eu sentia no fundo do meu coração»

A vida continuou entre os estudos, os amigos, o trabalho. Mariel tentava silenciar a inquietação vocacional que despertara no seu coração. Mesmo assim, a sua vida de oração e a sua relação com Jesus continuavam a crescer. Conheceu a mensagem de São Josemaria: «Falaram-me de como Deus está no meio da vida quotidiana e que eu podia encontrá-l’O onde quer que estivesse, inclusive no meu namoro»; era a primeira vez que ouvia falar desse caminho e, com certa curiosidade, animou-se a participar nalgumas atividades de catequese: «Fiquei encantada com a alegria e o entusiasmo das pessoas que encontrei e, pouco a pouco, fui aprendendo cada vez mais sobre os ensinamentos deste santo».

A bifurcação

No percurso há momentos em que o caminho se divide e é preciso tomar uma decisão. Incerteza, medo e inquietação foram alguns dos sentimentos que invadiram Mariel quando se viu confrontada com esta bifurcação. Na sua alma começou a percorrer uma etapa de discernimento, onde voltaram a surgir as dúvidas vocacionais: «Eu sabia que os dois caminhos que me eram apresentados eram bons, tanto o casamento como uma vida de entrega total do coração a Deus, mas perguntava-me a qual dos dois Ele me chamava. A primeira saída era constituir família, mas no meu interior dava-me conta de que Jesus me estava a pedir algo diferente».

«A primeira saída era constituir família, mas no meu interior dava-me conta de que Jesus me estava a pedir algo diferente»

Após um longo período de reflexão interior e de muita oração, começaram a dissipar-se as nuvens que a impediam de ver claramente o caminho. Foi assim que descobriu que Deus a convidava a segui-l’O, entregando-Lhe completamente a sua vida, mas sem se afastar do mundo, levando aí a mensagem de amor e esperança do Evangelho. Deus chamava-a a ser agregada: «Pude ver, com clareza, que esse chamamento não implicava negar a maternidade. Compreendi que Deus me dava esse dom para o pôr ao serviço dos outros, vivendo-o de uma forma diferente, dilatando-o nessa maternidade espiritual, com esta entrega do coração exclusivamente a Deus e com esses fortes desejos de O levar a muitas pessoas na nossa vida quotidiana».

Um caminho de crianças

Depois de terminar os estudos, começou a dar aulas em diferentes escolas e há mais de 7 anos que trabalha num colégio como professora do primeiro ciclo. «A vida de uma professora é apaixonante; todos os dias preparo as aulas, partilho com os alunos, tenho a oportunidade de acompanhar as famílias, de aprender com os meus colegas», e acrescentou que também tenta dedicar tempo para ir aperfeiçoando o próprio trabalho e assim poder ajudar melhor as alunas e as suas famílias.

«Procuro viver cada ano com esse desejo de deixar marca; não a minha, mas a d’Ele»

Os seus olhos brilham ao falar das suas alunas: «Em primeiro lugar importa amá-las, obviamente. Como? Rezando por elas e, depois, ensinando, já que ensinar e preparar as aulas é uma forma de amar; estando atenta para escutar e também pedindo perdão quando me engano. Procuro viver cada ano com esse desejo de deixar marca; não a minha, mas a d’Ele».

Mesmo que o caminho se torne íngreme, seguimos sempre em frente com companhia

Na vida, à medida que se vão tomando decisões e se assumem compromissos, o caminho pode tornar-se mais sinuoso. «Surgem situações em que é preciso parar, reafirmar-se e dizer ‘eu volto a escolhê-lo’», e acrescenta: «É preciso voltar a dizer que sim, redescobrindo sempre, em primeiro lugar, que Deus é fiel. Pode ter-se caído, ter batido no chão, ir parar à berma da estrada, mas Deus está e estará sempre connosco».

Podes ter caído, ter batido no chão, ir parar à berma da estrada, mas Deus está e estará sempre contigo

Na mochila da sua vida, há provisões que nunca faltam e que a ajudam a seguir em frente, cultivando a sua relação com Deus: «o Terço, a confissão, a oração e, sobretudo, esse momento especial de encontro com Jesus na Eucaristia. Sem esse encontro pessoal com Ele, tudo perde sentido».