A história de Laura faz parte de “A caminho”, uma série de histórias de homens e mulheres que se puseram a caminho. É o testemunho de pessoas que se encontraram com Jesus e mudaram as coordenadas das suas vidas. A rota, nalguns momentos, pode tornar-se confusa ou tranquila, difícil ou apaixonante. E, embora nestas histórias o destino seja o mesmo, cada caminho é único, tal como o seu viajante. Todos coincidem em descobrir que, tendo Jesus como copiloto, a viagem é uma aventura incrível.
Uma ponte para Deus
«Encontrei-me com Deus graças a uma ponte, a melhor ponte que cruzei na minha vida, a Celina», conta a Laura. Conheceu a Celi na paróquia do seu bairro e tornou-se sua amiga inseparável.
Em 2011, quando estava em casa de uma amiga, o Padre Pedro Velasco passou por lá para os cumprimentar. Este sacerdote era o capelão do Buen Consejo, um colégio que funciona como porta de inclusão para as crianças do Bairro 21-24 em Barracas, e costumava visitar as famílias desta instituição. Nesta visita à família de Celina, o Padre Pedro teve uma pequena conversa com Laura que a deixou a pensar. «Disse-me: ‘quando precisares de falar, vem ter comigo’», recorda.
«SEM DIZER MUITO, COMECEI A ENCONTRAR AS RESPOSTAS PARA O QUE ME ESTAVA A ACONTECER. DEUS ESTAVA ALI»
Algum tempo depois, Laura estava a sentir-se triste, devido a uns problemas pessoais, e voltaram-lhe à mente as palavras deste sacerdote. Não hesitou: pegou nas suas coisas e dirigiu-se ao Buen Consejo para voltar a falar com ele. «Sem dizer muito, comecei a encontrar as respostas para o que me estava a acontecer. Deus estava ali», conta Laura. Abriu-se outro horizonte no caminho e começou a ver o amor de Deus de outro modo: «um Deus que nos ama tal como somos, que nos perdoa, que nos abraça e nos consola perante a dor. Um Deus que está sempre presente, aconteça o que acontecer». A partir desse dia, começou a falar mais frequentemente com o Padre Pedro, ele acompanhava-a espiritualmente e ela sentia que a sua relação com Deus crescia pouco a pouco.
Novos rumos

A mãe, dona de casa, e o pai, pedreiro, deixaram na sua vida as marcas do valor do esforço e do trabalho. Laura sempre admirou a forma como o pai, Júlio, se levantava de madrugada para ir trabalhar e regressava à noite, quer fizesse chuva ou estivesse muito calor, e nunca o viu faltar. «Enchia-me de orgulho quando passávamos por um edifício em que ele tinha trabalhado e mo mostrava. Eu sabia o esforço que cada tijolo lhe tinha custado». E também a mãe, Maria: se havia alguma temporada em que estavam economicamente mal, arranjava maneira de trazer algum dinheiro para casa, para que não nos faltasse a comida. «Penso que eles, sem se aperceberem, com o seu exemplo deram-me o empurrão necessário para seguir o meu sonho de ser advogada».
«PENSO QUE ELES, SEM SE APERCEBEREM E COM O SEU EXEMPLO, ME DERAM O EMPURRÃO NECESSÁRIO PARA SEGUIR O MEU SONHO DE SER ADVOGADA»
Um dia, os pais decidiram regressar ao Paraguai e perguntaram-lhe se queria ir com eles. «Custou-me muito tomar a decisão, pois voltar para o Paraguai significava deixar para trás o meu sonho de tirar um curso universitário». No entanto, depois de refletir, compreendeu que o melhor a fazer nesse momento era estar perto da família.
Pouco depois de chegar ao país vizinho, sentiu a necessidade de receber catequese, de aprender mais sobre a vida de Jesus. A recordação das suas conversas com o Padre Pedro animou-a a procurar um centro do Opus Dei. Num desses dias, encontrou «O homem de Villa Tevere», um livro que conta a história de São Josemaria. «Comecei a lê-lo e fiquei maravilhada, senti muito profundamente que o Opus Dei era o meu lugar». «É isto», pensou. E entendeu-o ainda melhor. «Descobri e encontrei a minha vocação no Paraguai: um caminho a percorrer o quotidiano da minha vida, tendo Jesus como acompanhante e o Amor como bússola.
«DESCOBRI E ENCONTREI A MINHA VOCAÇÃO NO PARAGUAI: UM CAMINHO A PERCORRER OS MOMENTOS MAIS QUOTIDIANOS DA MINHA VIDA COM JESUS COMO ACOMPANHANTE E O AMOR COMO BÚSSOLA»
Regressar à Argentina não foi fácil; tinha de equilibrar a sua vida: procurar alojamento, voltar à Faculdade de Direito, encontrar emprego. E, embora tivesse Deus presente, não era uma prioridade na sua vida. Aquilo que tinha visto tão claramente no Paraguai, a sua vocação, tinha de certo modo caído no esquecimento.
Recalculando
Depois de muitas reviravoltas, quando os diferentes elementos da sua vida começavam a encontrar um certo equilíbrio, fez um retiro espiritual. Foi aí que voltou a sentir fortemente que Deus a chamava. «Fiquei gelada. Na noite em que regressei do retiro, chorei muito, foi um pranto inexplicável, senti a arder dentro de mim o convite de Deus para O seguir. É algo muito difícil de explicar com palavras», exprime Laura com emoção.
«EMBORA EXTERIORMENTE A MINHA VIDA NÃO TENHA MUDADO MUITO, PORQUE CONTINUO A SER A MESMA DE ANTES, POSSO DIZER QUE ENCONTREI O AMOR»
Apesar das dificuldades, começou a aproximar-se cada vez mais de Deus. «Com Ele sentia consolo e via um futuro com esperança», explica. E, no dia 1 de novembro, dia de Todos os Santos, viu claramente que Deus a chamava a segui-l’O como supranumerária do Opus Dei. «Desde esse momento, sinto-me muito feliz. Embora exteriormente a minha vida não tenha mudado muito, porque continuo a ser a mesma de antes, posso dizer que encontrei o Amor».
Deus e o rock na mochila

«Quando nos deixamos conduzir, Deus torna a nossa vida incrível. Desde que disse a Deus: vem, entra na minha vida, Ele ajuda-me a ser a melhor versão de mim mesma».
«QUANDO NOS DEIXAMOS CONDUZIR, DEUS TORNA A NOSSA VIDA INCRÍVEL.DESDE QUE DISSE A DEUS: VEM, ENTRA NA MINHA VIDA; ELE AJUDA-ME A SER A MELHOR VERSÃO DE MIM MESMA»
Desde criança que eu e os meus irmãos somos fãs de La Renga, e foi num dos seus concertos que compreendi perfeitamente a minha vocação para o Opus Dei, a minha missão», explica, ao recordar alguns dos momentos vividos com os irmãos.
«Lembro-me de estar ali, em pé, no meio de um mar de gente, a dançar pogo, e a cantar com todo o meu ser: “Não chores mais, dá-me a tua mão, conta-me o teu destino”, e senti a necessidade de parar por um momento e rezar por todas aquelas pessoas. Pensei que por alguma razão Deus me tinha dado a oportunidade de estar ali». Foram apenas uns segundos, uma Ave-Maria em silêncio, e continuou a cantar e a dançar como se nada tivesse acontecido. Ninguém reparou, mas ela guarda no seu coração aquele momento de paragem em silêncio e de oração por todos. «Senti uma alegria e uma serenidade profunda, convicta de que Deus ia atuar através da minha oração».
«O CAMINHO VALE A PENA, DIZER QUE SIM A DEUS CADA VEZ QUE ME LEVANTO, VALE A PENA»
Laura formou-se como advogada e continuou com o seu sonho de crescer profissionalmente e constituir família. Conheceu Pepe: «é o amor da minha vida, uma pessoa muito boa que me ajuda a sentir que todos estes objetivos são possíveis». Passado algum tempo, casaram-se e tiveram um filho, a quem deram o nome de Pedro, em memória daquele sacerdote que a ajudou a descobrir o amor de Deus na sua vida. «Parece-me uma loucura como Deus se molda a nós e não nos pede grandes mudanças», confessa ela. E acrescenta: «O caminho vale a pena! Dizer sim a Deus cada vez que me levanto, vale a pena! Não estou a dizer que é sempre fácil. Muitas vezes custa. Mas que é que não custa na vida?».