Evangelho de sábado: para sermos bons filhos, dizer bom dia

Comentário ao Evangelho de sábado da I semana da Quaresma. «Se saudardes apenas os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário?». Num mundo cheio de gente com má cara, somos os cristãos que estamos chamados e contagiar com o sorriso, fruto de nos sabermos filhos do Pai.

Evangelho (Mt 5, 43-48)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:

«Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos. Se amardes aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem a mesma coisa os publicanos? E se saudardes apenas os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito».


Comentário

Deus não esperou que nós O amássemos. «Amou-nos primeiro» (1Jo 4, 19). Mas não só isso: também nos amou depois do pecado original. Ele ama-nos antes, durante e depois de cada queda. Ele ama-nos apesar de nós próprios. E depois da Cruz, ele olha para nós como aqueles por quem o seu Filho deu a sua vida. Valemos todo o sangue de Cristo. Por outras palavras, valemos tudo para Deus.

É assim que o Senhor se comporta, e é assim que Ele aspira a que nos comportemos. O problema é que, no nosso caso, as desculpas surgem rapidamente.

O vizinho, que acho antipático, porque uma vez não me cumprimentou. A senhora da loja da esquina que uma vez me atendeu sem sequer olhar para mim. O funcionário do balcão do banco que nada faz para resolver o meu problema.

A minha cunhada, que é muito severa. O meu patrão, que é insuportável. Os meus filhos, que são impossíveis de aturar.

E assim por diante, poderíamos continuar com uma lista infinita. De cada pessoa que conhecemos, poderíamos mencionar um defeito, um erro cometido, mesmo um mal que nos tenham causado. Mas Jesus, neste trecho do Sermão da Montanha, deixa muito claro: não há desculpa. O Senhor amou-nos primeiro, e por todos deu a sua vida. Jesus não se recusou a saudar ninguém: nem mesmo Judas no Jardim das Oliveiras.

Num mundo cheio de obscuridade, os cristãos são chamados a trazer luz. Num mundo cheio de caras tristes, os cristãos são chamados a espalhar sorrisos. Num mundo cheio de olhos no chão e de ouvidos ocupados com auscultadores, os cristãos são chamados a dizer sempre, aconteça o que acontecer, bom dia.

Os avanços das neurociências levaram a uma compreensão crescente da razão pela qual o sorriso é contagioso. As explicações são muito profundas, mas o que nos interessa aqui é a ratificação do facto: o riso, a ciência confirma, é contagioso.

Nunca sabemos o que poderá acontecer depois dessa saudação. Talvez seja o primeiro passo para o «fogo de Cristo que levamos nos nossos corações»[1] começar a aquecer outras vidas. Se lhe parecer que ninguém à sua volta sorri, comece por sorrir, «para poder ser filho do vosso Pai que está nos céus». Terá certamente mais do que uma surpresa.


[1] S. Josemaria, Caminho, n. 1.

Luis Miguel Bravo Álvarez // kstudio - Canva Pro