Evangelho de 11 de fevereiro: Nossa Senhora de Lurdes

Comentário ao Evangelho da Memória Litúrgica de Nossa Senhora de Lurdes. «A certa altura faltou o vinho. Então a Mãe de Jesus disse-Lhe: ‘Não têm vinho!’». «Olha como pede a seu Filho em Caná. E como insiste, sem desanimar, com perseverança. – E como consegue. – Aprende».

Evangelho (Jo 2, 1-11)

Naquele tempo, realizou-se um casamento em Caná da Galileia e estava lá a Mãe de Jesus. Jesus e os seus discípulos foram também convidados para o casamento. A certa altura faltou o vinho. Então a Mãe de Jesus disse-Lhe:

«Não têm vinho».

Jesus respondeu-Lhe:

«Mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora».

Sua Mãe disse aos serventes:

«Fazei tudo o que Ele vos disser».

Havia ali seis talhas de pedra, destinadas à purificação dos judeus, e cada uma levava duas ou três medidas. Disse-lhes Jesus:

«Enchei essas talhas de água».

Eles encheram-nas até acima. Depois disse-lhes:

«Tirai agora e levai ao chefe de mesa».

E eles levaram. Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho, – ele não sabia de onde viera, pois só os serventes, que tinham tirado a água, sabiam – chamou o noivo e disse-lhe:

«Toda a gente serve primeiro o vinho bom e, depois de os convidados terem bebido bem, serve o inferior. Mas tu guardaste o vinho bom até agora».

Foi assim que, em Caná da Galileia, Jesus deu início aos seus milagres. Manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele.


Comentário

Hoje celebra-se na Igreja a festa de Nossa Senhora de Lurdes. Em cada 11 de fevereiro, comemoramos a primeira aparição de Maria a Sta. Bernadette Soubirous em Lurdes. Em 1992, S. João Paulo II instituiu a Jornada Mundial do Doente nesta data. O relato de Lurdes narra-nos como Maria se torna decisiva na história da humanidade. Tal como na cena do Evangelho de hoje. Nas bodas de Caná, Maria adquire grande protagonismo. O narrador não tem reparo em menciona-l’A antes do seu Filho no relato das bodas.

Festejar um casamento no antigo Oriente podia durar vários dias. Sobretudo, se os convidados fizessem longas deslocações a pé, vindos de lugares distantes. Esse facto suaviza um tanto a indolência dos noivos e dos encarregados, que talvez com a passagem dos dias do festejo não tenham reparado que faltou o vinho. Que azar! «Como é possível celebrar uma boda e fazer festa, se falta o que os profetas indicavam como um elemento típico do banquete messiânico? (cf. Am 9, 13-14; Jo 2, 24; Is 25, 6)»[1]. Este pormenor quotidiano, mas importante para todos, não passa despercebido à intuição feminina e prática de Maria, habituada a centrar a sua atenção e interesse nos outros. Ao descobrir o problema, pensa imediatamente no seu Filho para o solucionar. Com diligência e fé, reúne os servos e atreve-se a apelar em público à condição divina de Jesus: «Não têm vinho». «– Olha como pede a seu Filho em Caná. E como insiste, sem desanimar, com perseverança. – E como consegue. – Aprende»[2].

O pedido de Maria ultrapassa, além disso, a cena de Caná e faz vibrar no coração do seu Filho a promessa de salvação que Deus anunciou no Génesis. Por isso, Jesus chama-lhe com solenidade bíblica “Mulher”, e exprime uma censura aparente por não ter chegado a sua hora. Censura que Maria parece ignorar: «Sua Mãe disse aos serventes: ‘Fazei tudo o que Ele vos disser’». São estas as últimas palavras de Maria recolhidas nos Evangelhos. São como um testamento materno para todos os homens.

Jesus não só cede ao pedido da sua Mãe, mas também admite a colaboração dos servos que Maria lhe apresenta. O que multiplica o vinho habitualmente através da água filtrada pelas vinhas dos campos, acelera agora o processo através da água derramada pelo trabalho dos homens. Quando somos generosos e utilizamos os meios ao nosso alcance: «‘Enchei essas talhas de água’. Eles encheram-nas até acima», Deus abençoa com a sua ação santificadora e transforma a tarefa humana em obra divina, em sinal do seu amor para benefício de todos. «E o mais vulgar converte-se em extraordinário, em sobrenatural, quando temos a boa vontade de atender ao que Deus nos pede»[3].

Podemos reparar noutro pormenor. O relato diz que havia ali seis vasilhas cuja capacidade equivaleria a um total de quase 600 litros. A água da purificação dos judeus é convertida por Deus em vinho excelente e muito abundante porque «a festa de Deus com a humanidade começou»[4]. A grande quantidade de vinho simboliza o imenso amor de Deus pelos homens e prefigura o sangue do Cordeiro que se imolaria até ao extremo para atrair todos a Si. Simboliza também a entrega do cristão aos outros pelo mandamento novo do amor, cuja medida é não ter medida. Maria adianta a hora de Jesus: a do mistério pascal da sua morte e da sua ressurreição, insinuado no apontamento temporal com que começava o relato: “ao terceiro dia”.

Vemos no relato a grandeza de Maria que é capaz de mudar os planos iniciais de Deus. Que não realizará Jesus pela Sua Mãe? Tu e eu também podemos pedir ajuda a Maria, nossa mãe. Ela, como intercessora diante de Deus, conseguir-nos-á as graças necessárias para melhorar na nossa própria vida interior. Ajudar-nos-á a nós ou aos que temos em nosso redor, a sarar as feridas da alma ou do corpo. O Papa Francisco afirmava: «Peçamos por sua intercessão que o Senhor conceda a saúde da alma e do corpo a todos os que sofrem por alguma doença e pela atual pandemia, e fortaleça os que lhes dão assistência e os acompanham neste tempo de provação por que passam as suas vidas»[5].


[1] Francisco, Catequese, 08/06/2016.

[2] S. Josemaria, Caminho, n. 502.

[3] S. Josemaria, Carta 14/09/1951, n. 23.

[4] Bento XVI, Jesus de Nazaré (Do Batismo à Transfiguração)Esfera dos Livros, Lisboa 2007, p. 318.

[5] Francisco, Audiência, 10/02/2021 (aos fiéis de língua espanhola).

Pablo Edo // Cathopic Yael Portabales