Viver a Santa Missa

Quais são os ritos litúrgicos da celebração da Eucaristia e qual é seu significado? Como podemos aprender a viver a Santa Missa?

Selecionamos alguns parágrafos do livro “Viver a Santa Missa*, onde D. Javier Echevarría explica o desenvolvimento de ritos litúrgicos e oferece matéria de reflexão sobre a Santa Missa.

“A Missa é ação de Deus, que nos permite participar na paixão, morte e ressurreição de Cristo, não como espectadores ou observadores, mas como protagonistas. Por isso, no título do livro quis usar a expressão viver a Santa Missa, que expressa bem o envolvimento total, humano e espiritual, que a Missa exige”, anota o autor.

► Veja também os vídeos breves de explicação da Missa:

(1) O que é a missa?
(2) É obrigatório ir à Missa aos domingos?
(3) O que é a Liturgia da Palavra?
(4) Para que serve a liturgia?
(5) Memorial, sacrifício e comunhão
(6) Qual é o significado dos gestos e dos símbolos?


Sumário


Cântico de entrada

O cântico ou antífona de entrada enfatiza o caráter festivo da celebração eucarística. A reunião da família de Deus na terra começa a acontecer, em comunhão com toda a Igreja – a Igreja que já contempla a Trindade no Céu, a Igreja que é purificada no Purgatório, a Igreja que ainda peregrina aqui em baixo, conduzida por Jesus Cristo nosso Senhor, o Verbo encarnado e o Primogénito entre muitos irmãos e irmãs (cf. Rom 8,28).

A reverência ao altar e o beijo que o celebrante deposita sobre a ara também aparecem cheios de significado. O sacerdote está ali, não em seu próprio nome, mas em nomine Ecclesiæ, em nome da Igreja. Ele representa, portanto, todos os fiéis e, em nome de todos, dá o beijo litúrgico a Cristo, simbolizado pelo altar.


Ato Penitencial

Pelo ato penitencial, que todos rezamos juntos, expressemos com maior consciência aqueles sentimentos de compunção, de dor de amor, para os quais a Igreja nos convida.


Glória

Do reconhecimento do nosso nada – ainda mais, de sermos pecadores, necessitados de perdão – passamos a proclamar a grandeza do Deus três vezes Santo. A nossa língua não consegue encontrar as palavras adequadas para expressar o reconhecimento devido a Deus, e alongamos o nosso canto em expressões de louvor pelas coisas boas que recebemos.


Coleta

Na Coleta (oração do dia), apresentamos a Deus Pai as petições que a Igreja eleva ao céu toda vez que o Santo Sacrifício é celebrado. Sempre o fazemos através de Jesus Cristo, o único Mediador, na comunhão do Espírito Santo, que reúne nossas súplicas. Mais uma vez, o mistério da Santíssima Trindade se faz presente na Missa.

O texto da Coleta compõe uma série de petições que são elevadas ao Céu com nuances diferentes, de acordo com os tempos litúrgicos e as festas que são celebradas, e que nos dispõe – já desde o início do Santo Sacrifício – para acolher Cristo em Comunhão da melhor maneira possível.


Liturgia da Palavra

“A Missa consta, por assim dizer, de duas partes: a liturgia da palavra e a liturgia da Eucaristia. Estas duas partes, porém, estão entre si tão estreitamente ligadas que constituem um único ato de culto” (Missal Romano, Instituição Geral, 28).


Primeira leitura

Deus fala aos homens. A primeira leitura, geralmente retirada do Antigo Testamento, apresenta-nos o Pai celestial que se reclina benignamente perante os seus filhos.

A consideração de que “o próprio Deus fala com seu povo” é muito oportuna para nos tornar graficamente conscientes desta realidade. Adverte-nos que temos que meditar cuidadosamente na dedicação com a qual nosso Senhor quis – e quer! – abrir um caminho para o seu povo: como Ele o libertou da sua tremenda escravidão; como Ele protegeu e conduziu aquela multidão através do deserto; e, ao mesmo tempo, temos que prestar atenção ao facto de que nós também somos tão duros de coração que nos rebelamos contra a vontade divina ou não damos importância aos desvelos do nosso Criador.


Salmo responsorial

Resposta dos fiéis à Palavra de Deus, o Salmo Responsorial é como uma extensão dos temas propostos na primeira leitura. O ensinamento recebido torna-se uma oração, uma oração que elevamos a Deus com palavras que Ele mesmo colocou na boca dos homens.

Portanto, constitui a melhor resposta às exigências divinas que ouvimos. O povo responde às palavras do leitor ou do celebrante com uma breve aclamação, geralmente tirada do próprio salmo, que resume o significado da nossa oração. Vamo-nos esforçar para recitar estas palavras – que são, repito, oração – em harmonia, todos juntos, pensando no que estamos dizendo e a Quem o dizemos.


Proclamação do Evangelho e homilia

O diácono ou o sacerdote levanta sua voz para anunciar que Jesus Cristo está entre nós: O Senhor esteja convosco! Depois toca o livro com o polegar da mão direita, traçando uma pequena cruz, e depois persigna-se na testa, boca e peito, enquanto notifica a assembleia que se prepara para proclamar o Evangelho de Jesus Cristo, a força de Deus para a salvação de todos os que creem (Rom 1, 16), como escreve São Paulo.

Estes gestos têm um significado muito preciso. Simbolizam o nosso desejo de nos apropriarmos da Verdade do Evangelho, de modo que ela informe plenamente os nossos pensamentos, palavras e ações. Os ensinamentos de Nosso Senhor são-nos comunicados para que possamos meditá-los na nossa intimidade pessoal e incorporá-los na nossa alma, para então comunicá-los – com a nossa conversa e as nossas ações – às pessoas que encontramos durante o dia.

Procuremos esforçar-nos para aprofundar nas leituras da Missa, talvez mantendo na nossa memória alguma frase que possa servir de alimento para a presença de Deus ao longo do dia.

A homilia é sempre uma explicação simples e vibrante, bem enraizada nos textos litúrgicos, de algum aspecto da vida cristã. Os sacerdotes devem prepara-la com carinho, mesmo que seja muito breve: o Espírito Santo quer fazer uso destas considerações para penetrar mais profundamente nas almas dos seus ouvintes.


Credo: a profissão de fé

Com a palavra de Deus na nossa alma, ilustrada pela homilia e assimilada na meditação pessoal, os fiéis – sacerdotes e leigos – tornam-se mais conscientes da dignidade da nossa vocação. “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade”, dizia São Leão Magno. Isto é o que nos propõe a última parte da Liturgia da Palavra, que serve como um elo entre as leituras e a oferta do pão e do vinho.

A recitação do Credo – nos domingos e solenidades – e a oração dos fiéis são como a marca registada do cristão. Em particular, a recitação ou o canto do Credo deve ser sempre uma fonte de orgulho santo para os filhos de Deus, pois saboreiam a incrível realidade de ser o Povo de Deus, o Corpo de Cristo, o Templo do Espírito Santo. “Somos um povo que confessa uma fé, um Credo; um povo reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (São Leão Magno, Homilia I sobre a Natividade do Senhor, PL 54, 192).


Oração dos fiéis

A oração dos fiéis conclui a primeira parte da Missa. Graças ao sacerdócio comum recebido no Batismo, os fiéis elevam as orações de intercessão pela Igreja e pelo mundo inteiro. Não diminuamos a importância desta responsabilidade de rezar intensamente pelo Corpo Místico de Cristo e pela humanidade. Não esqueçamos, além disso, que ao elevar estas orações, é o próprio Cristo que as apresenta a Deus Pai pelo poder do Espírito Santo.


Liturgia eucarística

Apresentação das oferendas

Na Missa, Jesus deseja que por Ele, com Ele e n’Ele, os membros do seu Corpo Místico participem da sua oblação a Deus Pai. As palavras que acompanham a apresentação dos dons deixam claro o que o Senhor espera de nós. O pão e o vinho, frutos da terra e do trabalho humano, representam toda a criação, que deve ser restituída a Deus, depois de distanciada dele pelo pecado humano, graças também aos esforços dos cristãos em união com o sacrifício de Cristo.

O ofertório não é somente um rito externo, algo que é realizado pelo sacerdote e que os fiéis simplesmente testemunham. Além de constituir a matéria da Eucaristia, o pão e o vinho simbolizam a entrega de nossa própria vida.

Jesus Cristo assume a nossa oferta – mesmo as falhas, se as retificarmos e pedirmos perdão – quando intencionalmente a unimos ao pão e ao vinho que se tornarão no seu Corpo e Sangue. Desta forma, somos incorporados à oferta da sua Vida e da sua Morte que ele confiou à Igreja, e a entrega da nossa vida e do nosso trabalho é agradável a Deus.


Oração eucarística (anáfora)

Nesta oração muito solene, o “centro e cume de toda a celebração”, a Igreja dirige-se ao Pai, fonte de todo o bem, em união com Cristo, pelo poder do Espírito Santo.

Todos os ritos litúrgicos a apresentam como uma grande súplica composta de várias orações que estão intimamente entrelaçadas. Começa com uma ação de graças, o prefácio, coroado pelo Santo, seguido por uma epiclese ou súplica ao Espírito Santo, pedindo ao Paráclito para transformar o pão e o vinho no Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo pelo seu poder divino. Depois vem o relato da instituição da Eucaristia, que não é uma mera lembrança, mas um ato em que – graças às palavras da Consagração, que o sacerdote pronuncia em persona Christi, na pessoa de Cristo – realiza-se a transubstanciação do pão e do vinho, fazendo presente no altar a mesma Vítima do Calvário, agora gloriosa.

Imediatamente depois, no cumprimento do mandato de Jesus Cristo, vem a anamnese (que significa “memorial”, “lembrança”), modo pelo qual se recolhe tudo o que Nosso Senhor realizou por nós (especialmente a sua morte, ressurreição e ascensão ao céu), e a Igreja apresenta ao Pai a oferenda do seu Filho. Não faltam as intercessões, em vários momentos, de acordo com as diferentes Orações Eucarísticas, nas quais se deixa clara a comunhão da Igreja na terra com a do céu, e se reza por todos os fiéis, vivos e mortos, e especialmente pelo Papa e pelos bispos do mundo inteiro.

Termina com a doxologia ou oração de louvor à Santíssima Trindade, à qual o povo responde Amén com uma só voz.


Prefácio: ação de graças

Assim começa o Prefácio: “Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em todo o lugar, Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente...”. (Missal Romano, Oração Eucarística, Primeira parte do Prefácio).

A Eucaristia é o sacrifício eminente de adoração e ação de graças, de propiciação e impetração, assim como o sacrifício do Calvário que ela torna presente em todos os tempos e lugares. O Prefácio expressa de maneira particular o louvor e a gratidão da Igreja “ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, por todas as suas obras, pela criação, redenção e santificação”.

Desta forma, a nossa gratidão pelos dons recebidos será muito agradável para a Santíssima Trindade. Então, quando rezarmos ou cantarmos o Santo, com o qual termina o Prefácio, estaremos intimamente unidos à adoração, à ação de graças, ao louvor que a Igreja celestial canta incessantemente ao Deus três vezes Santo.


As intercessões

As diversas Orações Eucarísticas complementam-se: cada uma delas ilustra ou desenvolve aspetos insinuados nas outras, contribuindo assim para destacar mais claramente as riquezas insondáveis do Mistério Eucarístico.

Ao concluir estas primeiras orações de intercessão, antes de invocar o Espírito Santo e atualizar as palavras de Cristo na Última Ceia, o Canone Romano coloca nos lábios do celebrante uma oração, o Hanc igitur (Por isso) – recebei ó Pai –, na qual recapitula tudo o que pediu até aquele momento, com o desejo de não deixar nada fora da santíssima oblação.


A epiclese ou invocação do Espírito Santo

Ao recitar uma ou outra das Orações Eucarísticas, podemos nos regozijar em descobrir as várias maneiras pelas quais a ação do Paráclito é descrita. Nós o invocamos especialmente naquela oração (epiclese) com a qual “a Igreja pede ao Pai que envie seu Espírito Santo... sobre o pão e o vinho, para que eles se tornem, por seu poder, o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo”.


Consagração

Chegamos agora ao momento crucial do Santo Sacrifício, a Consagração, quando – como afirma o Catecismo da Igreja Católica – “o poder das palavras e ações de Cristo e o poder do Espírito Santo tornam o seu Corpo e Sangue sacramentalmente presentes sob as espécies de pão e vinho, o seu sacrifício oferecido na Cruz de uma vez por todas”.

Que profundidade atesouram as palavras: este é o meu Corpo; este é o cálice do meu Sangue! Elas enchem-nos de segurança, fortalecem a nossa fé, asseguram a nossa esperança e enriquecem a nossa caridade. Sim: Cristo vive, ele é o mesmo de há dois mil anos atrás, e viverá para sempre. Mais uma vez ele vem até nós como um companheiro de viagem, assim como fez em Emaús, para dar-nos apoio em tudo o que temos entre mãos.

A presença real de Jesus é uma consequência do mistério inefável que se cumpre com a transubstanciação, diante do qual não há outra atitude senão a de adorar a omnipotência e o amor de Deus. Por isso ajoelhamo-nos quando chega este momento sublime, que constitui o núcleo da celebração eucarística. Nesses momentos, o sacerdote é um instrumento do Senhor, age in persona Christi, na pessoa de Cristo.

Após a Consagração do pão e do vinho, o sacerdote proclama que o sacrifício divino tornou-se sacramentalmente presente – mysterium fidei! – e o povo responde com uma aclamação que – em qualquer caso – expressa o compromisso dos cristãos de trabalhar pela difusão do reino de Cristo na terra, até à sua gloriosa vinda no final dos tempos: anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição, vinde Senhor Jesus!


Rito da Comunhão

O Pai Nosso, a oração dos filhos de Deus

Roguemos humildemente ao Paráclito que nos conceda a graça de não nos acostumarmos a ser, a agir, a chamar-nos por este santíssimo nome de filhos de Deus.

Decidamo-nos a fomentar o espírito de filiação divina, considerando muitas vezes esta verdade: sou filho de Deus, em Cristo, pelo Espírito Santo! Pensar e agir desta maneira, mover-se habitualmente com a certeza de saber-se filho muito querido do Pai celestial, “não implica arrogância, mas fé; proclamar o que se recebeu”, escreve Santo Ambrósio, “não supõe soberba, mas devoção. Levantai, pois, os olhos ao Pai que vos gerou pelo Batismo, ao Pai que vos redimiu pelo Filho, e dizei: Pai nosso”.


Rito da paz

O fortalecimento dos laços de fraternidade com todas as almas ajuda a unir-se frutuosamente a Jesus na Eucaristia; assim, além disso, colaboramos na realização dessa harmonia entre os homens, pela qual a Igreja intercede na Santa Missa.


Comunhão: união com Jesus Cristo

Na Sagrada Comunhão, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, oferece-se a nós como alimento espiritual para nos unir mais a Ele e para aperfeiçoar a primeira configuração com Ele, recebida no Batismo. Toda a eficácia do mistério da Encarnação – vida, morte e glorificação do Senhor – é-nos dada naquele momento, e a recebemos com maior ou menor perfeição de acordo com a qualidade de nossas disposições pessoais.

Com o dom divino da Sagrada Comunhão, cada um de nós situa-se pessoalmente diante de nosso Senhor com os seus próprios defeitos e limitações, mas também vemo-nos exortados a acolhê-lo com um verdadeiro desejo de purificação.


Depois da Comunhão

Entre as recomendações da Igreja para depois da Comunhão, destaca-se a de permanecer alguns instantes em silêncio, em ação de graças a Deus por nos ter entregado o seu Filho como alimento da alma: é o momento dos afetos, do amor e da contrição.

Hora das petições pela Igreja, pelo Papa, pela família, por tantas outras pessoas e intenções concretas. Haverá melhor ocasião que esta, quando permanece ainda a presença real de Cristo em nós, para manifestar-lhe, cheios de confiança, as nossas necessidades, as da Igreja e as de todas as pessoas que amamos?


Rito de conclusão

Ite, missa est: da Missa à missão

Por ser o centro e raiz da vida espiritual do cristão, a Santa Missa constitui a fonte de energia sobrenatural que permite que nos empenhemos a fundo no apostolado. Justamente porque se uniu ao Sacrifício de Cristo, presente sobre o altar, e porque participou do Corpo do Senhor, o fiel cristão está em condições de levar a mensagem de Jesus a seus vizinhos e parentes, aos colegas, a todas as pessoas com as quais se se cruzar no seu quotidiano.


Ação de graças após a Missa

Quando o tempo dedicado à ação de graças dentro da Missa é muito breve, pode ser uma boa norma de conduta – se outras obrigações urgentes não o impedirem – prolongar a ação de graças mais uns minutos, de modo pessoal, ao terminar o Santo Sacrifício da Missa

• E depois da Missa, o que fazer? Veja algumas ideias neste artigo: Que dizer-Lhe depois de comungar?


* Agradecemos à Fundação Studium a licença para reproduzir alguns parágrafos do livro “Vivir la Santa Misa”.