Três perguntas a Clarisse

Com 23 anos, Clarisse é estudante de medicina e explica como sentiu o apelo para ser do Opus Dei e em que é que isso alterou a sua vida.

Como conheceu esta instituição da Igreja católica e como é que se traduziu em si esse apelo de Deus?

Antes de entrar no primeiro ano de medicina, andei à procura de uma residência de estudantes em que pudesse preparar-me bem para o exame de acesso à faculdade. Visitei, então várias residências de estudantes que eram todas muito semelhantes. Aquela que mais me agradou foi a que propunha uma formação cristã confiada ao Opus Dei. Distinguia-se das outras pela vontade das pessoas que tratavam das residentes de pretenderem criar um ambiente de família entre nós. Foi principalmente este o aspecto que mais me agradou à partida e que depois muito me ajudou nesse ano particularmente difícil de preparação do exame. Quando regressava da faculdade – onde a pressão do exame era forte – era sempre muito agradável encontrar pessoas acolhedoras, disponíveis, apesar das suas ocupações pessoais.

Como se traduziu para mim este apelo de Deus? Deus permitiu que não entrasse na primeira leva... o que me permitiu conhecer melhor o espírito da Obra. Estava muito animada com o facto de se poder procurar ser santo fazendo o que se tinha que fazer, habitualmente, no dia a dia; e como passava o tempo a estudar, essa perspectiva entusiasmou-me; sentia-me verdadeiramente mais útil a oferecer o meu trabalho por intenções concretas, pelos meus amigos, pela família, pelo Papa…

Ao ver a entrega a Deus e aos outros, de uma forma desinteressada, das pessoas do Opus Dei da residência, fui-me convencendo, pouco a pouco, de que talvez Deus me estivesse a chamar para Lhe entregar tudo e O seguir. Depois de ter tentado por várias vezes sufocar esse apelo tive que me render à evidência... Deus era mais forte!

A vocação mudou a sua vida quotidiana?

Isto poderá parecer surpreendente, mas não! A minha vida de todos os dias era ir para a Faculdade, estar com as amigas... tudo o que uma estudante faz normalmente! Após ter pedido a admissão no Opus Dei, continuei a ir de manhã para a Faculdade e a estar com as mesmas amigas...

No entanto, depois de ter dito sim a esse apelo de Deus, tinha a impressão – talvez não passasse de uma impressão! – de ser a mais feliz da minha turma porque tinha realmente encontrado o meu caminho. Senti, de uma forma mais urgente, a responsabilidade de transmitir às minhas amigas esta alegria falando-lhes de Deus.  

Que influência teve o espírito do Opus Dei no seu trabalho, que implica uma grande dimensão de atenção aos outros?

São Josemaria escreveu no Caminho «Criança – Doente – Ao escrever estas palavras, não sentis a tentação de as pôr com maiúscula?... »

Após ter lido este ponto disse para comigo «não sei bem o que posso dar a todos estes doentes que vejo todos os dias no hospital, mas vou tentar dar-lhes a impressão de que são Doentes com um D maiúsculo».

O facto de pensar que cada doente que trato é um filho de Deus ajuda-me muito a procurar considerar cada um deles como um Doente. A dignidade que dá o facto de ser criado por Deus vale bem mais do que todos os medicamentos ou todas as terapias que um médico possa receitar.

Enquanto estudante, não posso, ainda, prescrever nada aos doentes, faço-lhes pequenas coisas, pequenas atenções para lhes aliviar os sofrimentos. No período em que os examino, rezo por eles, pela sua família e procuro fazê-lo sob o olhar de Deus.  

Como procura divulgar mais os ensinamentos da Igreja em matéria de bioética?

Na minha faculdade não há formação de bioética. Com uma amiga, tivemos a ideia de propor aos colegas organizar uma conferência por mês sobre um tema de ética médica. Contra todas as expectativas, os estudantes apareceram em grande número a assistir a essas conferências.

Com um grupo mais restrito de amigos, reunimo-nos para aprofundar os ensinamentos da Igreja sobre estes assuntos. É importante porque muitas pessoas que sabem que somos católicos vêm pedir-nos explicações sobre as posições da Igreja em matéria de contracepção, de HIV, de eutanásia, etc.

Estes assuntos vêm muitas vezes à conversa no hospital e é preciso que saibamos responder!