O meu Encontro com “Caminho”

Passados cerca de trinta anos do seu primeiro encontro, o Pe. Idahosa ainda saboreia com prazer as considerações breves de “Caminho”. Leu recentemente “de novo” os 999 pontos, durante 87 dias, com um grupo online do WhatsApp no assim chamado Cell Word Sharing (Partilha da Palavra por Telemóvel). O grupo conta com 673 membros e promove a leitura de livros espirituais. O desafio final era: Depois do teu estudo geral do livro, qual é o teu ponto 1000?

Reunião presencial com membros do grupo Cell Word Sharing

O meu primeiro contacto com Caminho deu-se quando eu era adolescente e andava na escola secundária. Encontrei uma edição de bolso, de pequeno formato, no chão do nosso dormitório dos alunos. Descobri mais tarde que tinha sido trazida por um dos nossos colegas estudantes, cujo pai era da Obra. Quando o apanhei do chão e o comecei a ler, o livro marcou-me profundamente. Tinha uma maneira especial de fomentar ideais elevados. Isso passou-se numa época da minha juventude vigorosa, quando eu gastava muita energia em sonhos sobre ideais elevados. Por isso, Caminho tornou-se para mim um companheiro adequado.

Ainda hoje saboreio aquelas considerações breves que não deixavam lugar a meias-tintas e que me convidavam a explorar horizontes: «Que a tua vida não seja uma vida estéril. Sê útil. Deixa rasto. Ilumina com o resplendor da tua fé e do teu amor» (Caminho, n. 1). Até então pouco tinha ouvido falar sobre o autor. Mas as palavras de Caminho ressoavam alto e de forma clara. Achava-as úteis para a minha meditação diária e também para o aconselhamento espiritual. Têm uma certa forma de dizer que para todas as situações há um caminho. Chegam ao coração da fé cristã e fazem brotar a sua essência de modo muito natural e fácil de contar.

Pe. Idahosa Amadasu

Quando li Caminho pela primeira vez, não sabia praticamente nada sobre S. Josemaria e sobre os seus ensinamentos. Mas ir conhecendo os ensinamentos do fundador do Opus Dei, especialmente a sua insistência na nossa chamada universal para a santidade, ajudou-me a apreciar melhor o contexto de Caminho. A naturalidade com que falava sobre a nossa chamada a sermos santos, não como coisa para poucos, era muito impressionante. “Somos todos chamados a ser santos, santos que podem ser canonizados”. Estes ensinamentos encontraram um contraponto prático nas considerações breves de Caminho. Mostram-nos o ‘como’ para ser um Santo. Somos chamados a ser santos no meio do mundo ao convertermos as nossas alegrias e infortúnios em momentos para encontrar Deus no amor. «Estas crises mundiais são crises de santos» (Caminho, n. 301).

Tive recentemente oportunidade de ler de novo Caminho com um grupo de amigos no WhatsApp, chamado Cell Word Sharing (Partilha da Palavra por Telemóvel), ao qual presto assistência como coordenador. O telemóvel feito à medida para ajudar, no sentido de prestar auxílio a todos, especialmente às pessoas muito ocupadas, para que possam fazer uma leitura espiritual diária. Um trecho do livro espiritual que anda a ser lido é enviado diariamente, juntamente com uma versão áudio do post. O trecho pode ser lido em menos de dez minutos e a versão áudio pode ser ouvida em menos tempo ainda. Depois de o lerem, os membros são convidados a marcarem-no como 'lido' e a partilharem qualquer reflexão sua a partir do trecho ou a levantarem questões, se as tiverem.

Depois de termos concluído um conjunto de livros, decidimos consultar os membros do grupo sobre qual seria a próximo conjunto de livros que íamos ler. Caminho foi um dos dez livros pré-selecionados. Mas o primeiro livro escolhido para ser lido foi a “Imitação de Cristo” de Thomas de Kempis. O nosso estudo desta obra da Idade Média provou ter sido enriquecedor, uma vez que o autor sempre convida o seu leitor, que basicamente vem dum ambiente monástico, a dar passos radicais no seu modo de vida cristão. Algumas das pessoas do grupo do WhatsApp, na sua maioria constituído por leigos, tiveram dificuldades com algumas das propostas lançadas pelo livro. Embora apreciassem a sua profundidade, sentiam que não falava sobre a sua situação, mesmo com as reflexões diárias que tentavam ajudá-los a interpretar o livro à luz dos nossos dias. Que livro poderíamos então ler que pudesse servir de contraponto à Imitação, ou seja, que dissesse a mesma coisa dentro dum contexto diferente, o contexto do cristão no meio do mundo? A escolha foi clara: Caminho de S. Josemaria – um livro escrito para encorajar os cristãos no meio do mundo a abraçarem a vida da santidade.

printscreen do grupo

Decidimos que iríamos ler os 999 pontos em 87 dias. Mas algumas das pessoas do grupo questionaram como é que esse livro podia servir de leitura espiritual. Não seria mais apropriado como um livro de meditação? Como é que uma pessoa podia ler as considerações breves, havendo pontos que levam um dia inteiro a analisar? À medida que avançávamos, decidimos que não precisávamos de assimilar as complexidades do número de pontos enviados por dia, antes de fazermos uma leitura espiritual diária conclusiva. Bastará insistir sobre qualquer ponto que nos impressione e, a partir daí, fazer o nosso ponto 1000 para completarmos os 999 pontos de Caminho.

Para mim, ler Caminho no telemóvel foi um tempo para relembrar todas aquelas considerações que tão essenciais foram para as minhas intuições fundamentais. Fazem-me pensar que a chamada para a santidade é possível. A graça está disponível. Tudo o que tenho de fazer é pedi-la: «Que a tua vida não seja uma vida estéril. Sê útil»; «Estas crises mundiais são crises de santos!».

Pe. Idahosa Amadasu, Formador, Seminário de Todos os Santos, Uhiele, Ekpoma