Meditações: quinta-feira da XXXI semana do Tempo Comum

Reflexão para meditar na quinta-feira da XXXI semana do Tempo Comum. Os temas propostos são: o mistério de Deus ser misericórdia.; Deus alegra-Se ao perdoar-nos; O perdão que encontramos na Confissão.


«QUEM DE VÓS, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar?» (Lc 15, 4). Ao escutarmos hoje estas palavras, é possível que nos enchamos de gratidão a Deus recordando-nos de tantas vezes em que sentimos a constância de Deus em nos procurar quando estávamos perdidos. «Eu vos digo – continua Jesus –, assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento» (Lc 15, 7). Queremos compreender esta «maior alegria do Céu» da qual Cristo nos fala. Que mistérios encerra? Porque é que Deus se alegra tanto por um pecador que se arrepende? Não se importa mais com as nossas boas ações ou com a nossa luta por cumprir os seus mandamentos?

S. Josemaria tentou mergulhar nestas cenas e saboreá-las: «Não O ouvistes falar também de ovelhas e rebanhos? E com que ternura! Como Se regozija ao descrever a figura do Bom Pastor!»[1]. Ele próprio tinha experiência de observar no campo cenas parecidas: «Se alguma se tinha descalabrado – como dizem ali –, se tinha partido uma pata, reproduzia-se a velha imagem: levavam-na aos ombros. Vi também como o pastor – eram pastores toscos, que parecia não terem capacidade de ternura – levava amorosamente entre os seus braços um cordeiro recém-nascido»[2]. Na realidade, esta «alegria do Céu» por encontrar uma ovelha perdida revela-nos o verdadeiro rosto de Deus Pai, que «perdoa tudo e perdoa sempre. Quando Jesus descreve aos seus discípulos o rosto de Deus, esboça-o com expressões de terna misericórdia. Diz que há mais alegria no Céu por um pecador que se arrepende do que por uma multidão de justos que não precisam de conversão. Nos Evangelhos nada sugere que Deus não perdoa os pecados de quem tem boas disposições»[3]. Talvez o desafio seja compreender que somos nós os primeiros a precisar da misericórdia de Deus; que somos nós que, voltando uma e outra vez para o Pastor, podemos alegrar o Céu inteiro.


«ALEGRAI-VOS COMIGO, porque encontrei a minha ovelha perdida» (Lc 15, 6). A alegria de Deus é contagiosa. Reúne todas as pessoas e pede-lhes que partilhem a sua alegria. Não podemos imaginar o grau de felicidade que Deus experimenta na sua intimidade, mas podemos aproximar-nos deste mistério pelo menos com o desejo de aprofundar nele. Porque é que Deus é tão feliz quando nos perdoa? Uma das razões é que, com o perdão, não perdemos a maravilha do amor de Deus. De facto, a palavra «perdoar» significa dar completamente, outorgar uma oferenda perfeita. «Que te fiz eu, Jesus, para que me ames assim? – perguntava-se S. Josemaria –. Ofender-Te... e amar-Te. Amar-Te: a isto se vai resumir a minha vida»[4].

Por outro lado, quando se pede perdão estão-se a manifestar, ainda que implicitamente, muitas coisas à pessoa ofendida. As mensagens que se costumam transmitir são, por exemplo: «Gostaria de não o ter feito» ou «Gostaria de restabelecer o afeto que tínhamos antes». Um filho que pede perdão é um filho que ama o seu pai, confia nele, quer-lhe bem. Custa-lhe tê-lo feito sofrer. Ao pedir perdão queremos pôr fim à situação que causa o pecado, que é precisamente a rejeição do amor de Deus por nós. A alegria que experimentamos quando somos perdoados, sendo já grande, é um pálido reflexo da alegria que Deus sente quando nos recupera vivos.

«O orante do Salmo 27, rodeado pelos inimigos (...), pode oferecer o seu testemunho cheio de fé, afirmando: ‘O meu pai e a minha mãe abandonaram-me, mas o Senhor socorreu-me’. Deus é um Pai que nunca abandona os seus filhos, um Pai amoroso que sustenta, ajuda, acolhe, perdoa e salva, com uma fidelidade que ultrapassa imensamente a dos homens, para se abrir a dimensões de eternidade»[5]. E não Se fica por aí. Além disso, diz-nos que perdoar-nos é a sua grande alegria.


NA CONFISSÃO, podemos aprofundar neste mistério da alegria e do gozo divinos. «Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo» (Jo 21, 17). Com esta frase, ou com alguma semelhante, dizemos a Jesus que, embora por vezes os nossos atos o escondam um pouco, no fundo amamo-l'O. É verdade que vamos confessar os nossos pecados, mas confessamos acima de tudo a sua bondade, o seu carinho e a sua misericórdia. Não merecemos nada e, no entanto, atrevemo-nos a pedir perdão. Embora talvez nos tenhamos habituado, na realidade, ao confessarmos os nossos pecados, desafiamos a lógica humana e somos introduzidos em cheio na lógica divina. Abandonamos o juízo que instintivamente fazemos acerca da nossa vida para deixar que Deus tenha a última palavra.

E a sentença é contundente: «Declaro-te inocente». No mesmo processo, vemos como Cristo assume as nossas culpas, os nossos pecados e a responsabilidade que nos corresponde. Carrega com os nossos pecados para nos libertar deles: «O castigo que nos devia trazer a paz caiu sobre Ele, e nós fomos curados nas suas chagas» (Is 53, 5). «O perdão não é fruto dos nossos esforços, mas uma dádiva; é um dom do Espírito Santo, que nos enche com a purificação de misericórdia e de graça que brota incessantemente do coração, aberto de par em par, de Cristo crucificado e ressuscitado»[6]. E, como se tal não bastasse, diz-nos que isso O enche de alegria. Onde se viu algo semelhante?

Transmitir aos outros, quando for oportuno, a existência deste dom, é sinal de que o valorizamos e de que estamos sinceramente gratos por ele. Podemos pedir à Virgem Maria que sejamos apóstolos da Confissão, para aproximar os nossos amigos do abraço do perdão divino.


[1] S. Josemaria, Notas de uma tertúlia, 13/03/1955.

[2] S. Josemaria, Cartas 27, n. 22.

[3] Francisco, Audiência, 24/04/2019.

[4] S. Josemaria, Apontamentos íntimos, 5, 358-359, 29/10/1931.

[5] Bento XVI, Audiência, 30/01/2013.

[6] Francisco, Audiência, 19/02/2014.