Meditações: 24 de dezembro

Reflexão para meditar no dia 24 de dezembro. Os temas propostos são: dar graças pela chegada de Jesus; manifestou-se a graça de Deus; termina a espera.


«BENDITO seja o Senhor Deus de Israel, porque visitou e resgatou o seu povo» (Lc 1, 67). Estas são as palavras de Zacarias após nove meses sem poder falar. O seu cântico poderia resumir-se num: quão bom é Deus! A Igreja quer terminar o tempo de espera que vivemos com este evangelho. Este homem santo não encarou aqueles meses como um castigo. Pelo contrário: agradece pelo que lhe foi oferecido, pela maravilhosa oportunidade de se dispor devidamente para o que seu filho João vai anunciar. É um tempo semelhante ao Advento que Deus nos ofereceu, mais uma vez, também a nós. Pode acontecer que tenhamos aproveitado melhor ou pior esses dias de preparação. Em qualquer caso, faz-nos muito bem dar graças a Deus por ter trabalhado na nossa alma, ainda que nos pareça um estábulo humilde. Deus preparou um lugar muito especial no nosso portal para o seu Filho.

Pode ser que nos aconteça como a um dos pastores na véspera de Natal: «Conta uma graciosa história que, no nascimento de Jesus, os pastores acorriam à gruta com vários dons. Cada um levava o que tinha, uns os frutos do seu trabalho, outros algo precioso. Mas, enquanto todos se prodigalizavam com generosidade, havia um pastor que não tinha nada. Era muito pobre, não tinha nada para oferecer. E enquanto todos se emulavam na apresentação dos seus dons, ele mantinha-se aparte, com vergonha. A dada altura, S. José e Nossa Senhora sentiram dificuldade para receber todos os dons – eram tantos –, especialmente Maria que devia segurar nos braços o Menino. Então, vendo aquele pastor com as mãos vazias, pediu-lhe que se aproximasse e colocou-lhe Jesus nas mãos.

Ao acolhê-l'O, aquele pastor deu-se conta de ter recebido aquilo que não merecia: ter nas mãos o maior dom da História. Olhou para as suas mãos, aquelas mãos que lhe pareciam sempre vazias tornaram-se o berço de Deus. Sentiu-se amado e, superando a vergonha, começou a mostrar aos outros Jesus, porque não podia guardar para si o dom dos dons»[1].


«SE AS TUAS MÃOS te parecem vazias, se vês o teu coração pobre de amor, esta é a tua noite. Manifestou-se a graça de Deus, para resplandecer na tua vida. Acolhe-a e brilhará em ti a luz do Natal»[2]. Para além da perceção pessoal que tenhamos dos frutos da nossa luta e do nosso apostolado, sabemos que na realidade as nossas mãos não estão vazias. S. Josemaria aconselhava a que nos apresentássemos em Belém com algo muito precioso: «Nessa fria solidão, com a sua Mãe e S. José, o que Jesus quer, o que O aquece, é o nosso coração»[3].

Talvez estivéssemos mais tranquilos se tivéssemos chegado a este momento com as mãos cheias de boas obras, santidade e carinho por todos os que nos rodeiam. Mas a realidade muitas vezes fica aquém dos nossos desejos; pode ser que na nossa vida, cheia de compromissos e esforços pendentes, o tempo tenha passado muito depressa, sem que o tenhamos notado. Não importa: podemos igualmente aproximar-nos hoje do portal e seremos muito bem recebidos. Descobriremos que nos esperavam, que a Virgem e S. José se alegram infinitamente por nos ter ali neste preciso momento da nossa história.

A salvação já está aqui. Poucas horas nos separam dela, mas a alegria começa a inundar-nos. S. Bernardo confirma os nossos desejos mais ambiciosos: «Agora, pois, a nossa paz não é prometida, mas enviada; não é diferida, mas concedida; não é profetizada, mas realizada: o Pai enviou à terra algo como um saco cheio de misericórdia; um saco, diria, que se quebrará na Paixão, para que se derrame o preço do nosso resgate que ele contém; um saco que, embora pequeno, está completamente cheio. Com efeito, um menino nos foi dado, mas neste menino habita toda a plenitude da divindade»[4].


AS PALAVRAS de Zacarias são a última profecia antes de que a nossa salvação seja finalmente cumprida. Deus foi movido pelas trevas em que vivemos e vem para nos salvar, não para julgar se somos dignos de recebê-l'O. Queremos, das mãos deste israelita justo e piedoso, chegar às profundezas da intimidade divina: «graças à terna misericórdia do nosso Deus, que nos trará do alto a visita do Sol nascente» (Lc 1, 78).

Não existe maneira mais ardente de falar. Poderíamos perder este privilégio por uma distração, muito fácil nestas horas finais: «Vivemos em filosofias, em negócios e ocupações que nos preenchem completamente e o caminho para o presépio torna-se muito longo. Deus tem de encorajar-nos continuamente de muitos modos e de nos dar a mão para que possamos sair do emaranhado dos nossos pensamentos e dos nossos compromissos, e assim encontrar o caminho para Ele»[5].

Vamos percorrer esta última etapa pela mão de Nossa Senhora, talvez com Ela no burrinho que A leva a Belém. Nesta noite – para usar as palavras de S. João Paulo II – Deus «entra na história. Ele submete-se à lei do fluir humano. Cerra o passado; com Ele termina o tempo de espera, ou seja, a Antiga Aliança. Abre o futuro: a Nova Aliança da graça e da reconciliação com Deus. É o novo “Começo” do Tempo Novo»[6].

Acompanhamos a Virgem enquanto Ela prepara o portal: a palha, a manjedoura, as fraldinhas... E põe aí todo o carinho para que não falte nada ao Menino. Adoramos prestar esses serviços e ver que, de certa forma, os dois quiseram precisar de nós.


[1] Francisco, Homilia, 24/12/2019.

[2] Ibid.

[3] S. Josemaria, Em diálogo com o Senhor, “Rezar sempre”, n. 2.

[4] S. Bernardo, Primeiro Sermão da Epifania, 1-2.

[5] Bento XVI, Homilia, 24/12/2008.

[6] S. João Paulo II, Homilia, 01/01/1979.