Meditação do Prelado (21/5): A amizade de Maria

Segunda reflexão de Mons. Fernando Ocáriz, prelado do Opus Dei no contexto do mês de maio, dedicado a Nossa Senhora.

Em maio, olhando para a nossa Mãe, Santa Maria, esforçamo-nos especialmente para recordá-La e crescer em intimidade com Ela. Na verdade, temos a oportunidade de aprender, sempre de novo, com o exemplo da sua vida. Também agora, neste tempo especial de "distanciamento social" - que estamos a viver - Nossa Senhora ajuda-nos a ser melhores amigos, a inspirar a nossa generosidade para nos tornarmos presentes e próximos dos outros, para que ninguém se sinta só. A vida de Maria ensina-nos que, também na nossa vida, a amizade humana surge com uma força nova e sobrenatural da amizade com Deus.

Rezar juntos o terço também ajuda a unir mais a família. Através da Comunhão dos Santos, fazemo-lo espiritualmente com toda a Igreja, como uma grande família que se dirige à mesma Mãe

Aprendemos isto cada vez que rezamos o terço. O Papa Francisco pediu "que redescobríssemos a beleza de rezar o terço em casa durante o mês de maio". Face à atual crise sanitária, rezar o terço em família ajudar-nos-á, como diz o Santo Padre, a "contemplar juntos o rosto de Cristo com o coração de Maria, nossa Mãe" e, desta forma, "unir-nos-á ainda mais como família espiritual e ajudar-nos-á a superar esta prova".

Rezar juntos o terço também ajuda a unir mais a família. Através da Comunhão dos Santos, fazemo-lo espiritualmente com toda a Igreja, como uma grande família que se dirige à mesma Mãe; e, de alguma forma, com toda a humanidade. Podemos também convidar um amigo ou uma amiga a rezá-lo connosco, se o desejar, talvez através dos meios digitais. Em alguns casos, talvez será a ocasião para ajudar alguém a descobri-lo pela primeira vez.

S. João Paulo II disse que o terço é "como um compêndio do Evangelho", uma oração que é, ao mesmo tempo, mariana e cristológica. Em cada mistério contemplamos um momento da história da salvação. Desta contemplação, pode surgir o compromisso de descobrir as necessidades dos outros, adiantando-nos a servir, como fazem os amigos.

Maria percebe que Isabel vai precisar de ajuda. E Ela, já Mãe de Deus, mostra-nos assim essa manifestação de amor e verdadeira amizade, que é adiantar-se na entrega, no serviço desinteressado.

Nossa Senhora, depois do seu fiat! ("faça-se segundo a Tua palavra"), parte depressa para ajudar a sua prima Isabel. O Anjo não lhe tinha pedido isto, tinha-lhe comunicado a gravidez da sua prima como sinal da omnipotência de Deus. Mas Maria percebe que Isabel vai precisar de ajuda. E Ela, já Mãe de Deus, mostra-nos assim essa manifestação de amor e verdadeira amizade, que é adiantar-se na entrega, no serviço desinteressado.

Os anos passam, e vemos Nossa Senhora a acompanhar Jesus num casamento em Caná: também ali descobre em primeiro lugar a necessidade dos noivos e toma a iniciativa. O amor de amizade ilumina-Lhe os olhos e descobre coisas que talvez passem despercebidas aos outros.

Mais tarde, contemplamos Maria junto à Cruz do seu Filho. S. Josemaria estimula cada um de nós: "Admira a firmeza de Santa Maria: ao pé da Cruz, com a maior dor humana - não há dor como a sua dor -, cheia de fortaleza. - E pede-lhe dessa firmeza, para que saibas também estar junto da Cruz"[1]. Peçamos-Lhe que nos ajude a imitar a Sua capacidade de ser fortes perante o sofrimento, especialmente neste tempo, para que possamos ser ajuda e consolo para os outros com uma amizade sincera.

Depois da Ressurreição de Jesus, Maria reúne os apóstolos que estavam dispersos após a paixão do Senhor; Ela acompanha-os e consola-os.

Sabe esperar pelos tempos de Deus e, entretanto, "medita" as coisas "no seu coração". No fundo, é isso que é a oração: uma relação profunda de amizade e confiança com Deus, que Ele deseja ter com cada um de nós.

S. Lucas diz de Nossa Senhora: "Ela guardava todas estas coisas - as que diziam respeito a Jesus - e ponderando-as no Seu coração”. Maria reza: a sua conversa com Deus é contemplação e diálogo de amor. É a amizade com Deus. E no Seu trato com Deus, não hesita em mostrar o que pensa, como vemos em vários momentos no Evangelho. Por exemplo, quando responde ao anjo: "Como se fará isto se não conheço homem?” (Lc 1, 34). Mais tarde, quando encontra o Menino no Templo, pergunta a Jesus: "Porque nos fizestes isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos, à tua procura" (Lc 2, 48). Nas bodas de Caná, partilha com Jesus o que vê com toda a simplicidade, dizendo: "Não têm vinho" (Jo 2, 3). Outras vezes, parece não precisar de muitas palavras para dialogar com o Senhor. Sabe esperar pelos tempos de Deus e, entretanto, "medita" as coisas "no seu coração". No fundo, é isso que é a oração: uma relação profunda de amizade e confiança com Deus, que Ele deseja ter com cada um de nós.

Vamos ter com Jesus através de Maria. S. Josemaria apresenta muitas vezes este itinerário para a vida cristã: "Se procurais Maria, encontrareis Jesus"[2]. Em muitos países de tradição cristã, "procuramos Maria" visitando santuários dedicados a Ela. Este ano, talvez não seja possível ir fisicamente aos santuários que temos nas proximidades. Mas os meios digitais também nos ajudarão a encontrar formas de fazer estas romarias de maio de outra forma, mesmo a partir da nossa própria casa.

Ela, que passou por momentos muito difíceis e dolorosos, poderá consolar-nos e fortalecer-nos, para que (...) possamos ser apoio para os nossos amigos e entes queridos, amando verdadeiramente os outros.

Quando rezamos o terço, vamos com Maria a Jesus, porque cada vez que nos dirigimos a Nossa Senhora, Ela leva-nos ao Seu Filho. Voltamo-nos para Ela, omnipotência suplicante, para que possamos ser fiéis aos desígnios de Deus para cada uma e cada um de nós, mesmo em tempos de grande incerteza. Ela, que passou por momentos muito difíceis e dolorosos, poderá consolar-nos e fortalecer-nos, para que - confiando nos planos de Deus - possamos ser apoio para os nossos amigos e entes queridos, amando verdadeiramente os outros.

Ver também: Meditação do Prelado (11/5): Mãe de Deus e esperança nossa


[1] S. Josemaria, Caminho, n. 508

[2] S. Josemaria, Cristo que Passa, n. 144.