“Quando um homem e uma mulher celebram o sacramento do matrimónio, Deus, por assim dizer, «espelha-se» neles, imprimindo neles os seus traços e o caráter indelével do seu amor. O matrimónio é o ícone do amor de Deus por nós” Papa Francisco, Audiência, 2 de abril de 2014.
Sumário
1. O que é o matrimónio?
2. O que disse Jesus sobre o matrimónio?
3. O que é o matrimónio como sacramento?
4. Como se celebra o matrimónio?
5. Qual é o aspecto essencial na celebração do matrimónio? O que é o consentimento matrimonial?
6. Pode haver matrimónio-sacramento nulo? Que motivos tornam um matrimónio nulo?
7. Quais os efeitos do sacramento do matrimónio?
8. Matrimónio para toda a vida? Que é o amor conjugal?
9. Filhos no matrimónio e casais sem filhos
10. O que significa a expressão “Igreja doméstica”?
11. A Igreja admite a separação dos cônjuges?
1. O que é o matrimónio?
A vocação ao matrimónio inscreve-se na própria natureza do homem e da mulher, conforme saíram das mãos do Criador. Apesar das numerosas variações sofridas ao longo dos séculos nas diferentes culturas, estruturas sociais e atitudes espirituais, existe em todas as culturas um certo sentido da grandeza da união matrimonial. A dignidade desta instituição, no entanto, nem sempre se revela com a mesma clareza.
Deus criou o homem por amor e chamou-o também ao amor, vocação fundamental e inata de todo o ser humano. Como diz o Génesis, o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é Amor. Tendo-os criado homem e mulher, o amor mútuo entre eles converte-se na imagem do amor absoluto e perfeito com que Deus ama o homem. Este amor é bom, muito bom, aos olhos do Criador.
A Sagrada Escritura afirma que o homem e a mulher foram criados um para o outro: no Génesis refere-se que “não é bom que o homem esteja só”. A mulher, “carne da sua carne”, sua igual, a criatura mais semelhante ao próprio homem, é-lhe dada por Deus. “Por isso deixa o homem o pai e a mãe para se unir a sua mulher, e tornam-se uma só carne”. Esta união indestrutível explica-a o próprio Senhor ao lembrar qual foi, “no princípio”, o plano do Criador: “E assim já não são dois, mas uma só carne”, conforme se lê no evangelho de São Mateus. Catecismo da Igreja Católica, 1603-1605
Texto de S. Josemaria para meditar
Ris-te porque te digo que tens “vocação matrimonial”? Pois é verdade: assim mesmo, vocação. Pede a São Rafael que te conduza castamente ao termo do caminho, como a Tobias (Caminho, 27).
2. O que disse Jesus sobre o matrimónio?
No início da sua vida pública, Jesus realiza o primeiro milagre – a pedido de sua Mãe – num banquete de bodas (veja-se o relato das bodas de Caná, no evangelho de São João, 2, 1-11). A Igreja atribui grande importância à presença de Jesus nesta boda. Vê nela a confirmação da bondade do matrimónio e o anúncio de que, daí em diante, o matrimónio será um sinal eficaz da presença de Cristo.
Na sua pregação, Jesus ensinou sem ambiguidades o sentido original da união do homem e da mulher, tal como o Criador a quis ao princípio: a autorização mosaica de repudiar a mulher era uma concessão à dureza do coração; a união matrimonial do homem e da mulher é indissolúvel: “não separe o homem o que Deus uniu”, são palavras de Jesus constantes do evangelho de São Mateus. (Catecismo da Igreja Católica, 1613-1614)
Texto de S. Josemaria para meditar
O amor puro e limpo dos esposos é uma realidade santa que eu, como sacerdote, abençoo com ambas as mãos. A tradição cristã viu frequentemente na presença de Cristo nas bodas de Caná uma confirmação do valor divino do matrimónio: O nosso Salvador foi às bodas – escreve S. Cirilo de Alexandria – para santificar o princípio da geração humana.
O matrimónio é um sacramento que faz de dois corpos uma só carne; como diz, com expressão forte, a teologia, são os próprios corpos dos contraentes que constituem a sua matéria. O Senhor santifica e abençoa o amor do marido à mulher e o da mulher ao marido; e ordenou, não só a fusão das almas, mas também a dos seus corpos. Nenhum cristão, esteja ou não chamado à vida matrimonial, pode deixar de a estimar. (Cristo que passa, 24)
3. O que é o matrimónio como sacramento?
Os sacramentos são sinais sensíveis e eficazes da graça, instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo para nos santificar. O sacramento do Matrimónio é um dos sete sacramentos instituídos por Cristo e, quando se recebe com as devidas disposições, confere a graça – uma ajuda sobrenatural – para ser cristãmente vivido.
A afirmação inequívoca de Cristo sobre o vínculo matrimonial pode causar perplexidade e parecer uma exigência irrealizável. No entanto, Jesus não impôs aos esposos uma carga impossível de transportar ou demasiado pesada. Ao vir ao mundo para restabelecer a ordem inicial da criação perturbada pelo pecado, Jesus dá, através do sacramento do Matrimónio, a força e a graça para que o Matrimónio seja vivido na nova dimensão do Reino de Deus. Esta graça do Matrimónio cristão é fruto da Cruz de Cristo, fonte de toda a vida cristã.
É isto que o apóstolo Paulo dá a entender na carta aos Efésios, ao dizer: “Maridos, amai as vossas mulheres como também Cristo amou a Igreja e se entregou a si mesmo por ela, para a santificar”, e ao acrescentar: “ «Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá a sua mulher, e serão os dois uma só carne». É grande este mistério; eu o entendo em relação a Cristo e à Igreja”.
Catecismo da Igreja Católica, 1615-1616
Texto de S. Josemaria para meditar
O Matrimónio é um sacramento santo. A seu tempo, quando tiveres de o receber, que o teu director ou o teu confessor te aconselhem a leitura de algum livro útil. E estarás preparado para levar dignamente as cargas do lar. (Caminho, 26)
4. Como se celebra o matrimónio?
Segundo a tradição latina, os esposos conferem um ao outro o sacramento do matrimónio ao declararem o seu consentimento perante um ministro da Igreja. Os esposos são, pois, os ministros do sacramento.
O sacerdote (ou o diácono) que assiste à celebração do matrimónio recebe o consentimento dos esposos em nome da Igreja e dá a bênção da Igreja. A presença do ministro da Igreja (bem como a das testemunhas) é a demonstração visível de que o Matrimónio é uma realidade eclesial.
Por tal razão a Igreja exige habitualmente aos seus fiéis a forma eclesiástica da celebração do matrimónio. Existem várias razões para explicar esta determinação:
- O matrimónio sacramental é um ato litúrgico. Portanto, convém que seja celebrado na liturgia pública da Igreja.
- O matrimónio origina direitos e deveres na Igreja, entre os esposos e para com os filhos.
- Ao ser um estado de vida na Igreja, é necessário existir a certeza da celebração do matrimónio (daí a obrigação de haver testemunhas).
- O caráter público do consentimento protege o “Sim”, uma vez dado e ajuda a permanecer-lhe fiel.
No rito latino, a celebração do matrimónio entre dois fiéis católicos tem lugar habitualmente – mas não necessariamente – durante a Santa Missa. Na Eucaristia realiza-se o memorial da Nova Aliança, na qual Cristo se uniu para sempre à Igreja, sua esposa amada, pela qual se entregou.
Por ser um sacramento, os esposos devem ter as devidas disposições para receberem a graça. Convém, portanto, que se preparem bem para a celebração do seu matrimónio, recebendo o sacramento da Penitência.
Neste sacramento, os esposos recebem o Espírito Santo como Comunhão de amor de Cristo e da Igreja. O Espírito Santo é o selo da aliança dos esposos, a fonte sempre generosa do seu amor, a força com que se renovará a sua fidelidade.
Catecismo da Igreja Católica, 1621 - 1624
Texto de S. Josemaria para meditar
O amor que conduz ao matrimónio e à família pode ser também um caminho divino, vocacional, maravilhoso, para uma completa dedicação ao nosso Deus. Realizai as coisas com perfeição, tenho-vo-lo recordado; ponde amor nas pequenas actividades da jornada; descobrir – insisto – esse algo divino que se oculta nos pormenores… toda esta doutrina encontra especial lugar no espaço vital em que se enquadra o amor humano. (Temas Atuais do Cristianismo, 121)
5. Qual é o aspecto essencial na celebração do matrimónio? O que é o consentimento matrimonial?
Os protagonistas da aliança matrimonial são um homem e uma mulher batizados, livres para contrair matrimónio, e que livremente manifestam o seu consentimento. “Ser livre” quer dizer:
- não agir sob coação;
- não estar impedido por nenhuma lei natural ou eclesiástica.
A Igreja considera a permuta de consentimentos entre os esposos como elemento indispensável “que constitui o Matrimónio”. Se falta o consentimento, não existe Matrimónio.
O consentimento consiste “num ato humano pelo qual os esposos se dão e se recebem mutuamente”: “Eu recebo-te por minha esposa” – “Eu recebo-te por meu esposo” (Ritual da celebração do Matrimónio, 62). Este consentimento, que une os esposos entre si, encontra a sua plenitude no facto de os dois “se tornarem uma só carne”.
O consentimento deve ser um acto da vontade de cada um dos contraentes, livre de violência ou de grave temor externo. Se falta esta liberdade, o matrimónio é inválido.
Catecismo da Igreja Católica, 1625-1627
Textos de S. Josemaria para meditar
Amar é não albergar senão um pensamento: viver para a pessoa amada, não se pertencer a si mesmo, estar submetido, venturosa e livremente, com a alma e o coração, a uma vontade alheia - e ao mesmo tempo própria. (Sulco, 797)
Nunca te tinhas sentido tão livre, libérrimo, como agora que a tua liberdade está tecida de amor e desprendimento, de segurança e insegurança, porque já não te fias em nada de ti e te fias em tudo de Deus. (Sulco, 787)
Nunca deixo de dizer aos que foram chamados por Deus a formar um lar que se amem sempre, que se queiram com o amor cheio de entusiasmo que tinham quando eram noivos. Pobre conceito tem do matrimónio – que é um sacramento, um ideal e uma vocação – quem pensa que o amor acaba quando começam as penas e os contratempos que a vida traz sempre consigo. É então que o amor se fortalece. As torrentes dos desgostos e das contrariedades não são capazes de submergir o verdadeiro amor. O sacrifício partilhado generosamente une mais. Como diz a Escritura, aquae multae – as muitas dificuldades, físicas e morais – non potuerunt extinguere caritatem (Cant. VII, 7), não poderão apagar o amor. (Temas Atuais do cristianismo, 91)
6. Pode haver matrimónio-sacramento nulo? Que motivos tornam um matrimónio nulo?
Por falta de liberdade (ou por outras razões que tornem o matrimónio nulo e inválido), a Igreja, após exame da situação pelo tribunal eclesiástico competente, pode declarar “a nulidade do Matrimónio”, isto é, que o Matrimónio nunca existiu.
Para o “Sim” dos esposos ser um ato livre e responsável, e para a aliança matrimonial ter bases humanas e cristãs sólidas e estáveis, a preparação para o matrimónio é de importância primordial:
- O exemplo e o ensino dados pelos pais e pelas famílias são o caminho privilegiado desta preparação.
- O papel dos pastores e da comunidade cristã como “família de Deus” é indispensável para a transmissão dos valores humanos e cristãos do Matrimónio e da família, e isto tanto mais quanto é certo que nos nossos dias muitos jovens conhecem a experiência de lares desfeitos, que já não oferecem garantia suficiente para esta iniciação.
Catecismo da Igreja Católica, 1625 - 1632
Textos de S. Josemaria para meditar
Durante o nosso caminhar terreno, a dor é pedra de toque do amor. No estado matrimonial, considerando as coisas de uma maneira descritiva, poderíamos afirmar que há anverso e reverso: por um lado, a alegria de se saber amado, o entusiasmo por edificar e sustentar um lar, o amor conjugal, a consolação de ver crescer os filhos; por outro, dores e contrariedades, o decurso do tempo que consome os corpos e ameaça azedar os caracteres, a monotonia dos dias, aparentemente sempre iguais.
Formaria um pobre conceito do matrimónio e do amor humano quem pensasse que, ao tropeçar com essas dificuldades, a alegria e o contentamento se acabam. É precisamente então que os sentimentos que animavam aquelas criaturas revelam a sua verdadeira natureza, que a doação e a ternura se enraizam e se manifestam com um afecto autêntico e profundo, mais poderoso que a morte. (Cristo que passa, 24)
Os casados estão chamados a santificar o seu matrimónio e a santificar-se nessa união; cometeriam, por isso, um grave erro, se edificassem a sua vida espiritual à margem do lar. A vida familiar, as relações conjugais, o cuidado e a educação dos filhos, o esforço por sustentar, manter e melhorar economicamente a família, as relações com as outras pessoas que constituem a comunidade social, tudo isso são situações humanas e correntes que os esposos cristãos devem sobrenaturalizar. (Cristo que passa, 23)
7. Quais os efeitos do sacramento do matrimónio?
O consentimento pelo qual os esposos se dão e se recebem um ao outro é selado pelo próprio Deus (cfr. Mc. 10,9). A isto dá-se o nome de vínculo matrimonial, que é estabelecido pelo próprio Deus, de maneira que o matrimónio celebrado e consumado entre batizados não pode nunca mais ser dissolvido. Este vínculo, que resulta do ato humano livre dos esposos e da consumação do matrimónio, passa a ser uma realidade irrevogável e dá origem a uma aliança garantida pela fidelidade de Deus. A Igreja não tem poder para se pronunciar contra esta disposição da sabedoria divina.
A graça própria do sacramento do Matrimónio destina-se a aperfeiçoar o amor dos cônjuges e a fortalecer a sua unidade indissolúvel. Por meio desta graça, “eles auxiliam-se mutuamente a santificar-se, pela vida conjugal e pela aceitação e educação dos filhos”.
Cristo é a fonte desta graça. “Assim como outrora Deus veio ao encontro do seu povo com uma aliança de amor e de fidelidade, assim agora o Salvador dos homens e Esposo da Igreja vem ao encontro dos esposos cristãos com o sacramento do Matrimónio”. Permanece com eles, dá-lhes força para O seguirem carregando a sua cruz, para se levantarem depois das quedas, para se perdoarem um ao outro, para levarem as cargas uns dos outros e para se amarem com um amor sobrenatural, delicado e fecundo. Nas alegrias do seu amor e da sua vida familiar Ele dá-lhes, já nesta terra, a saborear o céu.
Catecismo da Igreja Católica, 1639 - 1642
Texto de S. Josemaria para meditar
É importante que os esposos adquiram o sentido claro da dignidade da sua vocação saibam que foram chamados por Deus para atingir também o amor divino através do amor humano, que foram escolhidos, desde a eternidade, para cooperar com o poder criador de Deus, pela procriação e depois pela educação dos filhos, que o Senhor lhes pede que façam, do seu lar e de toda a sua vida familiar, um testemunho de todas as virtudes cristãs.
O matrimónio – não me cansarei nunca de o repetir – é um caminho divino, grande e maravilhoso e, como tudo o que é divino em nós, tem manifestações concretas de correspondência à graça, de generosidade, de entrega, de serviço. O egoísmo, em qualquer das suas formas, opõe-se a esse amor de Deus que deve imperar na nossa vida. Este é um ponto fundamental que é preciso ter muito presente a propósito do matrimónio e do número de filhos. (Temas Atuais do Cristianismo, 93).
8. Matrimónio para toda a vida? Que é o amor conjugal?
“O amor conjugal comporta um todo em que entram todos os elementos da pessoa – apelo do corpo e do instinto, força do sentimento e da afectividade, aspiração do espírito e da vontade; visa uma unidade profundamente pessoal que, para além da união numa só carne, leva a não ter senão um só coração e uma só alma; exige a indissolubilidade e a fidelidade na definitiva doação recíproca; e abre-se à fecundidade. Numa palavra: trata-se das caraterísticas normais de todo o amor conjugal natural, mas com um significado novo que não só as purifica e consolida, mas também as eleva, a ponto de fazer delas expressão de valores especificamente cristãos”.
O amor dos esposos exige, por sua pópria natureza, a unidade e a indissolubilidade da sua comunidade de pessoas, a qual engloba toda a sua vida: “Assim, já não são dois, mas uma só carne”. Esta comunhão humana é confirmada, purificada e aperfeiçoada pela comunhão em Cristo, conferida pelo sacramento do Matrimónio. Aprofunda-se pela vida da fé comum e pela Eucaristia recebida em comum.
Por sua própria natureza, o amor conjugal exige dos esposos fidelidade inviolável, que é consequência da mútua doação de si mesmos. O amor autêntico tende, por si mesmo, a ser algo definitivo e não passageiro.
O motivo mais profundo deste amor reside na fidelidade de Deus à sua aliança, na fidelidade de Cristo à sua Igreja. Pelo sacramento do matrimónio, os esposos ficam capacitados para representar e testemunhar essa fidelidade. Pelo sacramento, a indissolubilidade do Matrimónio ganha um sentido novo e mais profundo.
Pode parecer difícil, ou mesmo impossível, ficar ligado a um ser humano para toda a vida. Por isso é tão importante anunciar a boa nova de que Deus nos ama com amor definitivo e irrevogável, de que os esposos participam desse amor, que os conforta e os sustém, e de que pela sua fidelidade se convertem em testemunhas do amor fiel de Deus.
Catecismo da Igreja Católica, 1646 - 1648
Texto de S. Josemaria para meditar
Pelo que respeita à castidade conjugal, asseguro aos esposos que não devem ter medo de manifestar o seu carinho; pelo contrário, essa inclinação é a base da sua vida familiar. O que o Senhor lhes pede é que se respeitem mutuamente e que sejam mutuamente leais, que actuem com delicadeza, com naturalidade, com modéstia. Dir-lhes-ei também que as relações conjugais são dignas quando são prova de verdadeiro amor e, portanto, estão abertas à fecundidade, aos filhos.
Quando a castidade conjugal está presente no amor, a vida matrimonial é expressão de uma conduta autêntica, marido e mulher compreendem-se e sentem-se unidos; quando o bem divino da sexualidade se perverte, destrói-se a intimidade e marido e mulher já não podem olhar-se nobremente, cara a cara. (Cristo que passa, 25).
9. Filhos no matrimónio e casais sem filhos
Os filhos são o mais excelente dom do Matrimónio e contribuem em muito para o bem de seus pais. Foi o próprio Deus que disse: “Não convém que o homem esteja só”, e que no princípio “os fez homem e mulher”. Querendo comunicar-lhe uma participação especial na sua obra criadora, abençoou o homem e a mulher dizendo: “Crescei e multiplicai-vos”. Por isso, o culto autêntico do amor conjugal e toda a vida familiar de que dele nasce, sem pormos de parte os outros fins do Matrimónio, tendem a que os esposos, com fortaleza de ânimo, estejam dispostos a cooperar com o amor do Criador e do Salvador, que por meio deles por seu intermédio aumenta continuamente e enriquece a sua família. Santificar o lar dia a dia, criar, com amor, um autêntico ambiente de família – é disso que se trata.
Os pais são para os filhos os primeiros e principais educadores na fé. Neste sentido, o dever fundamental do Matrimónio e da família é estar ao serviço da vida.
No entanto, aqueles esposos a quem Deus não concedeu filhos podem viver uma vida conjugal plena de sentido, tanto humana como cristãmente. O seu casamento pode irradiar fecundidade de caridade, de acolhimento e de serviço.
Catecismo da Igreja Católica, 1543 – 1654
Textos de S. Josemaria para meditar
Comove-me que o Apóstolo qualifique o matrimónio cristão como “sacramentum magum”, sacramento grande. Também daqui deduzo que o trabalho dos pais de família é importantíssimo.
- Participais do poder criador de Deus e, por isso, o amor humano é santo, nobre e bom: uma alegria do coração, à qual Nosso Senhor, na sua providência amorosa, quer que outros livremente renunciemos.
– Cada filho que Deus vos concede é uma grande bênção divina: não tenhais medo aos filhos! (Forja, 691).
Escutai os vossos filhos, dedicai-lhes também o vosso tempo, mostrai que tendes confiança neles; acreditai em tudo o que vos disserem, mesmo que alguma vez vos enganem; não vos assusteis com as suas rebeldias, pois também vós, na idade deles, fostes mais ou menos rebeldes; ide ao seu encontro até meio do caminho e rezai por eles. E vereis que recorrerão aos seus pais com simplicidade – podeis ter a certeza disso, se actuais cristãmente – em vez de irem ter, para satisfazer as suas legítimas curiosidades, com um amigalhote desavergonhado ou brutal. A vossa confiança, a vossa relação amigável com os filhos, receberá como resposta a sinceridade deles para convosco; e isto, mesmo que não faltem disputas e incompreensões de pouca monta, é a paz familiar, a vida cristã. (Cristo que passa, 29).
10. O que significa a expressão “Igreja doméstica”?
Cristo quis nascer e crescer no seio da Sagrada Família de José e de Maria. A Igreja não é senão a “família de Deus”.
Nos nossos dias, num mundo frequentemente estranho e até hostil à fé, as famílias crentes têm importância primordial, ao serem faróis de uma fé viva e irradiante. Por isso, o Concílio Vaticano II aplica à família uma antiga expressão: Igreja Doméstica. No seio da família, “os pais deverão ser para os filhos os primeiros anunciadores da fé, com a palavra e com o exemplo”.
É aqui que de modo privilegiado se exercita o sacerdócio batismal do pai de família, da mãe, dos filhos, de todos os membros da família, “na recepção dos sacramentos, na oração e na acção de graças, com o testemunho de uma vida santa, com a renúncia e o amor traduzido em obras”. Deste modo, o lar torna-se na primeira escola de vida cristã e “escola do mais rico humanismo”. Aqui se aprende a paciência e a alegria no trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e sempre renovado, e sobretudo o culto divino, por meio da oração e do oferecimento da própria vida.
Catecismo da Igreja Católica, 1655 - 1657
Textos de S. Josemaria para meditar
A fé e a esperança hão-de manifestar-se na serenidade com que se focam os grandes ou pequenos problemas que surgem em todos os lares, no empenho com que se persevera no cumprimento do dever. A caridade há-de encher tudo e levará: a partilhar as alegrias e os possíveis dissabores; a saber sorrir, esquecendo-se das preocupações pessoais para atender os outros; a escutar o outro cônjuge ou os filhos, mostrando-lhes que são amados e compreendidos deveras; a passar por alto pequenos atritos sem importância, que o egoísmo poderia transformar em montanhas; a fazer com grande amor os pequenos serviços de que se compõe a convivência diária. Santificar o lar no dia a dia, criar, com carinho, um autêntico ambiente de família: é disso precisamente que se trata. Para santificar cada um dos dias, é necessário exercitar muitas virtudes cristãs; em primeiro lugar, as teologais e, depois, todas as outras: a prudência, a lealdade, a sinceridade, a humildade, o trabalho, a alegria… Ao falar do matrimónio, da vida matrimonial, é necessário começar por referir-nos claramente ao amor dos cônjuges. (Cristo que passa, 23, 24)
Digo com gratidão e com orgulho de filho que continuo a rezar – de manhã e à noite e em voz alta – as orações que aprendi, quando era criança, dos lábios de minha mãe. Essas orações levam-me a Deus, fazem-me sentir o carinho com que me ensinaram a dar os meus primeiros passos de cristão e, oferecendo ao Senhor o dia que começa ou dando-Lhe graças pelo que acaba, peço a Deus que aumente no Céu a felicidade dos que especialmente amo, e no Céu depois nos mantenha unidos para sempre. (Temas Atuais do Cristianismo, 103).
11. A Igreja admite a separação dos cônjuges?
Verificam-se situações em que a coabitação matrimonial se torna praticamente impossível, por razões muito diversas. Em tais casos, a Igreja admite a separação física dos esposos e os fins da coabitação. Os esposos não deixam de ser marido e mulher diante de Deus; nem ficam livres para contrair nova união. Nesta difícil situação, a melhor solução seria, se possível, a reconciliação. A comunidade cristã está chamada a ajudar tais pessoas a viverem cristãmente a sua situação, na fidelidade ao vínculo matrimonial, que permanece indissolúvel.
Catecismo da Igreja Católica, 1649