14 Questões sobre a Família

Resposta de S. Josemaria a várias perguntas sobre o amor na família, os conflitos familiares, a relação entre pais e filhos, a educação dos filhos e a fé na família.

Resposta de S. Josemaria a várias perguntas sobre o amor em família, os conflitos familiares, a relação pais e filhos, a educação dos filhos ou a fé em família.

Sumario
1. Como fazer com que o amor preencha a vida da família?
2. Como ser bom pai e boa mãe?
3. Que papel tem a família na educação dos filhos?
4. Como resolver a falta de tempo que muitos pais sentem hoje para estar com os filhos, para a vida de família?
5. Algumas ideias para a educação dos filhos.
6. Como conjugar a autoridade com a liberdade?
7. Que significa a confiança e a compreensão entre pais e filhos?
8. Há alguma justificação para a atitude que por vezes os pais têm de querer impor aos filhos a escolha de curso ou de profissão, de namorado ou de um determinado modo de vida?
9. Que fazer para superar os conflitos familiares?
10. Que fazer quando um filho põe à consideração dos pais uma entrega completa a Deus?
11. Que devem os filhos fazer pela família?
12. Como se manifesta a fé na família?
13. A oração em família é importante?
14. É bom que a família reze unida?


O que é a família? Como ser bom pai ou boa mãe? Que papel tem a família na educação dos filhos? Como conjugar a autoridade com a liberdade? Como viver a confiança mútua no dia a dia?

“O que é a família?” Pergunta-se o Papa Francisco, e responde: “para além dos seus problemas prementes e das suas necessidades decisivas, a família é um «centro de amor», onde reina a lei do respeito e da comunhão, capaz de resistir ao ímpeto da manipulação e da dominação por parte dos «centros de poder» mundanos. No centro da família, a pessoa integra-se com naturalidade e harmonia num grupo humano, superando a falsa oposição entre indivíduo e sociedade. No seio da família, ninguém é posto de lado: nela encontram acolhimento tanto o idoso quanto a criança. A cultura do encontro e do diálogo, a abertura à solidariedade e à transcendência encontram nela a sua origem. Por esta razão, a família constitui uma grande «riqueza social». Neste sentido, gostaria de frisar dois contributos primários: a estabilidade e a fecundidade.”

1. Como fazer com que o amor preencha a vida da família?

Ao pensar nos lares cristãos, gosto de imaginá-los luminosos e alegres, como foi o da Sagrada Família. Cada lar cristão deveria ser um remanso de serenidade, em que se notassem, por cima das pequenas contrariedades diárias, um carinho e uma tranquilidade, profundos e sinceros, fruto de uma fé real e vivida.

Os casados estão chamados a santificar o seu matrimónio e a santificar-se nessa união: cometeriam, por isso, um grave erro se edificassem a sua vida espiritual à margem do lar. A vida familiar, as relações conjugais, o cuidado e a educação dos filhos, o esforço por sustentar, manter e melhorar economicamente a família, as relações com as outras pessoas que constituem a comunidade social, tudo isso são situações humanas e correntes que os esposos cristãos devem sobrenaturalizar.

Queres um segredo para ser feliz? Dar-se e servir os outros, sem esperar que te agradeçam.

A fé e a esperança hão-de manifestar-se na serenidade com que se focam os grandes ou pequenos problemas que surgem em todas as famílias, no empenho com que se persevera no cumprimento do dever. A caridade há-de encher tudo e levará a partilhar as alegrias e os possíveis dissabores; a saber sorrir, esquecendo-se das preocupações pessoais para atender os outros; a escutar o outro cônjuge ou os filhos, mostrando-lhes que são amados e compreendidos deveras; a passar por alto pequenos atritos sem importância, que o egoísmo poderia transformar em montanhas; a fazer com grande amor os pequenos serviços de que se compõe a convivência diária.

Santificar o lar no dia a dia, criar, com carinho, um autêntico ambiente de família: é disso precisamente que se trata. Para santificar cada um dos dias, é necessário exercitar muitas virtudes cristãs; em primeiro lugar, as teologais e, depois, todas as outras: a prudência, a lealdade, a sinceridade, a humildade, o trabalho, a alegria... Queres um segredo para ser feliz?: dar-se e servir os outros, sem esperar que to agradeçam.

2. Como ser um bom pai ou uma boa mãe?

Se eu tivesse de dar um conselho aos pais, dar-lhes-ia sobretudo este: que os vossos filhos vejam (não tenhais ilusões: desde crianças, vêem tudo e julgam-no) que procurais viver de acordo com a vossa fé, que Deus não está só nos vossos lábios, que está nas vossas obras; que vos esforçais por serdes sinceros e leais, que vos amais e os amais a eles realmente.

Os pais educam fundamentalmente com a conduta. O que os filhos e as filhas procuram no seu pai ou na sua mãe não são apenas conhecimentos mais amplos do que os seus ou conselhos mais ou menos acertados, mas algo de maior importância: um testemunho do valor e do sentido da vida, encarnados numa existência concreta e confirmados nas diversas circunstâncias e situações que se sucedem ao longo dos anos.

os pais educam fundamentalmente com a sua conduta

Para mim, não existe exemplo mais claro dessa união prática da justiça com a caridade do que o comportamento das mães. Amam com idêntico carinho todos os seus filhos e esse amor leva-as precisamente a tratá-los de modo diferente - com uma justiça desigual - visto que cada um é diferente dos outros.

Assim contribuireis melhor para fazer deles homens e mulheres íntegros, capazes de enfrentar com espírito aberto as situações que a vida lhes depare, de servir os seus concidadãos e de contribuir para a solução dos grandes problemas da humanidade, levando o testemunho de Cristo onde mais tarde vierem a encontrar-se na sociedade.

3. O ambiente que rodeia os filhos também tem influência na sua educação, no modo de ver as coisas. Qual o papel da família na educação dos filhos?

Os pais são os principais educadores dos filhos, tanto no aspecto humano como no sobrenatural, e hão-de sentir a responsabilidade dessa missão, que exige deles compreensão, prudência, saber ensinar e, sobretudo, saber amar; e devem preocupar-se por dar bom exemplo.

O ideal para os pais é chegarem a ser amigos dos filhos

A imposição autoritária e violenta não é caminho acertado para a educação. O ideal para os pais é chegarem a ser amigos dos filhos; amigos a quem se confiam as inquietações, a quem se consulta sobre os problemas, de quem se espera uma ajuda eficaz e amável

A paternidade e a maternidade não terminam com o nascimento; essa participação no poder de Deus, que é a faculdade de gerar, há-de prolongar-se na cooperação com o Espírito Santo, para que culmine com a formação de autênticos homens cristãos e autênticas mulheres cristãs.

4. Como resolver a falta de tempo que muitos pais sentem hoje para estar com os filhos, para a vida familiar? Muitas vezes, quando a mãe realiza um trabalho fora de casa, pesam sobre ela as solicitações do lar, e, quando permanece completamente dedicada à família, sente as suas possibilidades limitadas. Que diria às mulheres que sentem essas contradições? Como conciliar a vida profissional e a familiar?

O problema que levanta acerca da mulher não é extraordinário. Com outras particularidades, muitos homens experimentam algumas vezes algo de semelhante.

Em todo o caso, é necessário também pôr em prática pequenos remédios, que parecem banais, mas que não o são: quando há muitas coisas a fazer, é preciso estabelecer uma ordem, é necessário organizar-se.

Numa palavra, respeitar a sua liberdade, já que não há verdadeira educação sem responsabilidade pessoal, nem responsabilidade sem liberdade.

É necessário que os pais arranjem tempo para estar com os filhos e falar com eles. Os filhos são o que há de mais importante; mais importante do que os negócios, do que o trabalho, do que o descanso.

Nessas conversas, convém escutá-los com atenção, esforçar-se por compreendê-los, saber reconhecer a parte de verdade - ou a verdade inteira - que possa haver em algumas das suas rebeldias. E, ao mesmo tempo, apoiar as suas aspirações, ensiná-los a ponderar as coisas e a raciocinar; não lhes impor uma conduta, mas mostrar-lhes os motivos, sobrenaturais e humanos, que a aconselham. Numa palavra, respeitar a sua liberdade, já que não há verdadeira educação sem responsabilidade pessoal, nem responsabilidade sem liberdade.

5. Educar, na prática, não é uma tarefa simples. Pode dar-nos algumas ideias para a educação dos filhos?

O segredo costuma estar na confiança. Que os pais saibam educar num clima de familiaridade.

A vossa confiança, a vossa relação amigável com os filhos, receberá como resposta a sinceridade deles para convosco

Escutai os vossos filhos, dedicai-lhes também o vosso tempo, mostrai que tendes confiança neles; acreditai em tudo o que vos disserem, mesmo que alguma vez vos enganem; não vos assusteis com as suas rebeldias, pois também vós, na idade deles, fostes mais ou menos rebeldes; ide ao seu encontro, até meio do caminho, e rezai por eles. E vereis que recorrerão aos seus pais com simplicidade - podeis ter a certeza disso, se actuais cristãmente - em vez de irem ter, para satisfazer as suas legítimas curiosidades, com um amigalhaço desavergonhado ou brutal.

A vossa confiança, a vossa relação amigável com os filhos, receberá como resposta a sinceridade deles para convosco; e isto, mesmo que não faltem disputas e incompreensões de pouca monta, é a paz familiar, a vida cristã.

6. Como conjugar a autoridade com a liberdade?

Aconselho sempre aos pais que procurem tornar-se amigos dos filhos. Pode-se harmonizar perfeitamente a autoridade paterna, que a própria educação requer, com um sentimento de amizade que exige pôr-se de alguma maneira ao mesmo nível dos filhos.

Os jovens - mesmo os que parecem mais indóceis e desprendidos - desejam sempre essa aproximação com os pais. O segredo costuma estar na confiança. Que os pais saibam educar num clima de familiaridade, que nunca dêem a impressão de que desconfiam, que dêem liberdade e que ensinem a administrá-la com responsabilidade pessoal.

Quando se compreende a fundo o valor da liberdade, quando se ama apaixonadamente esse dom divino da alma, ama-se o pluralismo que a liberdade traz consigo.

É preferível que se deixem enganar alguma vez. A confiança que se põe nos filhos faz com que eles próprios se envergonhem de terem abusado, e se corrijam. Pelo contrário, se não têm liberdade, se veem que não se confia neles, sentir-se-ão levados a enganar sempre.

Mais ainda, como nesses terrenos ninguém pode pretender estar na posse da verdade absoluta, o convívio mútuo, cheio de afeto, é um meio concreto para aprender dos outros o que eles nos podem ensinar, e também para que os outros aprendam, se quiserem, o que cada um daqueles que com eles convivem lhes pode ensinar, que sempre será alguma coisa.

Não é cristão, nem sequer humano, que uma família se divida por estas questões. Quando se compreende a fundo o valor da liberdade, quando se ama apaixonadamente esse dom divino da alma, ama-se o pluralismo que a liberdade traz consigo.

7. Pode concretizar melhor o que significa a confiança e a compreensão entre pais e filhos? Como viver a confiança mútua no dia a dia?

Essa amizade de que falo, esse saber pôr-se ao nível dos filhos facilitando-lhes que falem confiadamente dos seus pequenos problemas, torna possível algo que me parece de grande importância: que sejam os pais quem dê a conhecer aos filhos a origem da vida, de um modo gradual, adaptando-se à sua mentalidade e à sua capacidade de compreender, antecipando-se um pouco à sua natural curiosidade. É necessário evitar que os filhos rodeiem de malícia esta matéria, que aprendam uma coisa em si mesma nobre e santa por uma má confidência dum amigo ou duma amiga. Isto mesmo costuma ser um passo importante para firmar a amizade entre pais e filhos, impedindo uma separação exactamente no despertar da vida moral.

Os pais também têm de procurar manter o coração jovem, para que lhes seja mais fácil receber com simpatia as aspirações nobres e inclusivamente as extravagâncias dos filhos

Por outro lado, os pais têm também de procurar manter o coração jovem, para que lhes seja mais fácil receber com simpatia as aspirações nobres e inclusivamente as extravagâncias dos filhos. A vida muda e há muitas coisas novas que talvez não nos agradem - é possível até que não sejam objetivamente melhores que outras de antes - mas que não são más, são simplesmente outros modos de viver sem transcendência de maior. Em não poucas ocasiões, os conflitos aparecem porque se dá importância a ninharias que se superam com um pouco de perspetiva e de sentido de humor

8. Haverá alguma justificação para a atitude dos pais que por vezes querem impor aos filhos a escolha do curso ou da profissão, ou do namorado, ou de determinado modo de vida, opondo-se por vezes a que sigam o chamamento de Deus para se dedicar ao serviço das almas? Não seria melhor dar-lhes liberdade para que cheguem à maturidade pessoal?

Em última instância, está claro que as decisões que determinam o rumo de uma vida deve tomá-las cada um pessoalmente, com liberdade, sem coação nem pressão de espécie alguma.

Isto não quer dizer que não seja necessária, habitualmente, a intervenção de outras pessoas. Precisamente porque são passos decisivos, que afetam uma vida inteira, e porque a felicidade depende em grande parte de como se derem, é lógico que requeiram serenidade, que se evite a precipitação, que exijam responsabilidade e prudência. E uma parte da prudência consiste justamente em pedir conselho. Seria presunção - que se costuma pagar cara - pensar que podemos decidir sem a graça de Deus e sem o calor e a luz de outras pessoas, especialmente dos nossos pais.

Os pais podem e devem prestar aos filhos uma ajuda preciosa, descobrindo-lhes novos horizontes, comunicando-lhes a sua experiência, fazendo-os refletir para que não se deixem arrastar por estados emocionais passageiros, oferecendo-lhes uma apreciação realista das coisas. Umas vezes, prestarão essa ajuda com o seu conselho pessoal; outras, animando osfilhos a recorrer a outras pessoas competentes: a um amigo sincero e leal, a um sacerdote douto e piedoso, a um perito em orientação profissional.

Os pais devem precaver-se contra a tentação de se quererem projectar indevidamente nos filhos

Mas o conselho não tira a liberdade, dá elementos de opinião, e isso amplia as possibilidades de escolha e faz com que a decisão não seja determinada por fatores irracionais. Depois de ouvir os pareceres de outros e de ponderar tudo bem, chega um momento em que é preciso escolher, e então ninguém tem o direito de violar a liberdade.

Os pais devem precaver-se contra a tentação de se quererem projectar indevidamente nos filhos - de construí-los segundo as próprias preferências -, devem respeitar as inclinações e as aptidões que Deus dá a cada um. Se há verdadeiro amor, isto, em geral, torna-se simples. Inclusive no caso extremo, quando o filho toma uma decisão que os pais têm fortes motivos para julgar errada e até para prevê-la como origem de infelicidade, a solução não está na violência mas em compreender e - mais de uma vez - em saber permanecer a seu lado para ajudá-lo a superar as dificuldades e, se fosse necessário, para extrair daquele mal todo o bem possível.

9. Ter uma família estável, com paz, é sem dúvida desejo de todos. Mas no convívio diário no casamento e na família há pequenos atritos ou grandes enfados, dificuldades mais ou menos objectivas e muitas vezes diversidade de pareceres e de entendimento entre pais e filhos. Que fazer para superar essas situações e conflitos familiares?

A minha resposta não pode ser senão uma: conviver, compreender, desculpar.

Sejamos sinceros: a família unida é o normal. Há atritos, diferenças... Mas isto são coisas banais, que, até certo ponto, contribuem inclusivamente para dar sabor aos nossos dias. São insignificâncias que o tempo supera sempre. Depois, só fica o estável, que é o amor, um amor verdadeiro - feito de sacrifício - e nunca fingido, que os leva a preocuparem-se uns com os outros, a adivinhar um pequeno problema e a sua solução mais delicada. E, porque tudo isto é normal, a maior parte das pessoas entendeu-me muito bem quando me ouviu chamar - já o venho repetindo desde a década de 20 - dulcíssimo preceito ao quarto mandamento do Decálogo.

Compete em primeiro lugar aos pais facilitar o entendimento, com flexibilidade, com espírito jovial, evitando esses possíveis conflitos com amor inteligente

O problema é antigo, se bem que talvez agora se apresente com mais frequência ou de forma mais aguda, por causa da rápida evolução que carateriza a sociedade actual. É perfeitamente compreensível e natural que os jovens e os adultos vejam as coisas de modo diferente. Sempre assim foi. O mais surpreendente seria que um adolescente pensasse da mesma maneira que uma pessoa madura. Todos sentimos impulsos de rebeldia para com os mais velhos quando começamos a formar o nosso critério com autonomia, e todos também, com o correr dos anos, compreendemos que os nossos pais tinham razão em muitas coisas, que eram fruto da sua experiência e do amor por nós. Por isso compete em primeiro lugar aos pais - que já passaram por esse transe - facilitar o entendimento, com flexibilidade, com espírito jovial, evitando esses possíveis conflitos com amor inteligente.

10. Que fazer quando um filho põe à consideração dos pais uma entrega completa a Deus?

Os pais que amam deveras e procuram sinceramente o bem dos seus filhos, depois dos conselhos e das considerações oportunas, devem-se retirar com delicadeza, para que nada prejudique o grande bem da liberdade que torna o homem capaz de amar e servir a Deus. Devem lembrar-se de que o próprio Deus quer ser amado e servido com liberdade, e respeita sempre as nossas decisões pessoais: Deus deixou o homem - diz-nos a Escritura - nas mãos do seu livre arbítrio (Ecl. 15, 14).

Os pais devem lembrar-se de que o próprio Deus quer ser amado e servido com liberdade, e respeita sempre as nossas decisões pessoais

Quando pais católicos não compreendem essa vocação, penso que fracassaram na sua missão de formar uma família cristã, que nem sequer são conscientes da dignidade que o Cristianismo dá à sua própria vocação matrimonial.

Aliás, a experiência que tenho no Opus Dei é muito positiva. Costumo dizer aos membros da Obra que devem noventa por cento da sua vocação aos seus pais, porque os souberam educar e os ensinaram a ser generosos. Posso assegurar que na imensa maioria dos casos - praticamente na totalidade - os pais não só respeitam como também amam essa decisão dos filhos e que passam a ver a Obra como uma ampliação da própria família. É uma das minhas grandes alegrias e uma confirmação mais de que, para sermos muito divinos, temos de ser também muito humanos.

11. . Falámos do papel dos pais. Mas, que devem fazer os filhos pela família?

Os filhos têm de pôr também alguma coisa da sua parte. A juventude sempre teve uma grande capacidade de entusiasmo por todas as coisas grandes, pelos ideais elevados, por tudo o que é autêntico.

Convém ajudá-los a compreender a beleza despretensiosa - por vezes calada e sempre revestida de naturalidade - que há na vida dos seus pais

Convém ajudá-los a compreender a beleza despretensiosa - por vezes calada e sempre revestida de naturalidade - que há na vida dos seus pais. Que reparem, sem lhes causar tristeza, no sacrifício que fizeram por eles, na sua abnegação - muitas vezes heroica - para manter a família.

E que os filhos aprendam também a não dramatizar, a não representar o papel de incompreendido. Que não esqueçam que estarão sempre em dívida para com os pais e que o modo de corresponderem - já que não podem pagar o que devem - deve ser feito de veneração, de carinho grato, filial.

12. Como se manifesta a fé na família?

A fé e a esperança hão-de manifestar-se na serenidade com que se focam os grandes ou pequenos problemas que surgem em todas as casas de família, no empenho com que se persevera no cumprimento do dever.

A caridade há-de encher tudo e levará a partilhar as alegrias e os possíveis dissabores; a saber sorrir, esquecendo-se das preocupações pessoais para atender os outros; a escutar o outro cônjuge ou os filhos, mostrando-lhes que são amados e compreendidos deveras; a passar por alto pequenos atritos sem importância, que o egoísmo poderia transformar em montanhas; a fazer com grande amor os pequenos serviços de que se compõe a convivência diária.

13. A oração em família é importante?

Considero que é precisamente o melhor caminho para dar aos filhos uma autêntica formação cristã. A Sagrada Escritura fala-nos dessas famílias dos primeiros cristãos - a Igreja doméstica, diz S. Paulo (1 Cor. 16, 1 9) - às quais a luz do Evangelho dava novo impulso e nova vida.

Considero que a oração em família é precisamente o melhor caminho para dar aos filhos uma autêntica formação cristã

Em todos os ambientes cristãos se conhecem por experiência os bons resultados que dá essa natural e sobrenatural iniciação à vida de piedade, feita no calor do lar. A criança aprende a colocar o Senhor na linha dos primeiros e fundamentais afectos, aprende a tratar a Deus como Pai e à Virgem como Mãe, aprende a rezar seguindo o exemplo dos pais. Quando se compreende isto, vê-se a enorme tarefa apostólica que os pais podem realizar e como têm obrigação de ser sinceramente piedosos, para poderem transmitir - mais do que ensinar - essa piedade aos filhos.

14. É bom que a família reze unida?

Tratar-se-á de costumes diversos segundo os lugares, mas penso que sempre se deve fomentar algum acto de piedade, que os membros da família realizem juntos, de forma simples e natural, sem beatices. Há práticas de piedade - poucas, breves e habituais - que sempre se viveram nas famílias cristãs, e entendo que são maravilhosas: a oração antes e depois das refeições, a recitação do Terço juntos (…),as orações pessoais ao levantar e ao deitar.

Que Deus seja visto e tratado como é na realidade, também no meio do lar

Dessa maneira conseguiremos que Deus não seja considerado um estranho a quem se vai ver uma vez por semana à igreja, ao Domingo; que Deus seja visto e tratado como é na realidade, também no meio do lar, porque, como disse o Senhor, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles (Mt. 18, 20).

Digo com gratidão e com orgulho de filho que continuo a rezar - de manhã e à noite e em voz alta - as orações que aprendi, quando era criança, dos lábios de minha mãe. Essas orações levam-me a Deus, fazem-me sentir o carinho com que me ensinaram a dar os meus primeiros passos de cristão e, oferecendo ao Senhor o dia que começa ou dando-Lhe graças pelo que acaba, peço a Deus que aumente no Céu a felicidade dos que especialmente amo, e no Céu depois nos mantenha unidos para sempre.


Os textos foram seleccionados principalmente do livro "Entrevistas a S.Josemaria", que recolhe sete entrevistas concedidas por S. Josemaria, entre 1966 e 1968, a Le Figaro, The New York Times, Time, L'Osservatore della Domenica e a várias revistas espanholas (Telva, Gaceta Universitaria e Palabra) e da homilia "O Matrimónio, Vocação Cristã" publicada no livro Cristo que passa.

Para saber mais
Catecismo da Igreja Católica, nºs 2197-2257
Livro electrónico sobre a educação dos filhos
Catequeses do Papa Francisco sobre a família
Carta às Famílias do Papa João Paulo II
Exortação apostólica Familiaris Consortio