“Deus concedeu-me o dom, imerecido, da conversão”

“Senti que alguém se interessava de facto pela minha alma e reconhecia a profunda necessidade de me reconciliar com Deus através da Sua Igreja”. Magdalena, uma jovem mãe das Filipinas, conta a sua caminhada em direção à Igreja Católica.

Cresci num país muito católico, nas Filipinas, e fui batizada de acordo com o rito romano, como a maioria dos filipinos. Mas o batismo marcou o ponto até onde chegou a minha relação com a Igreja – não fui educada como católica, e desde muito jovem que me tornei longe de o ser. Aos 19 anos, considerava-me lamentavelmente ateia.

Avançando uns quantos anos, sou hoje mulher de um homem bom, e desde há pouco, mãe de um menino. O meu marido e eu éramos um casal moderno médio de não-crentes. Vivíamos bem e tínhamos uma vida decente e com princípios, mas Deus e a religião eram totalmente irrelevantes para o nosso mundo. Tudo o que tinha a ver com fé estava fora de moda, desatualizado, era irracional. A vida era boa sem Deus, assim o pensávamos. E a vida parecia correr mesmo bem.

Então um dia, sem preâmbulos, Deus concedeu-me o dom, imerecido, da conversão. Como terrível pecadora e pouco amiga de Deus, esta graça foi-me terrivelmente dolorosa e pôs-me num estado de tremendo desequilíbrio interior. Eu mal pensava em Deus, e, de repente, como se alguém tivesse ligado um botão, só pensava em Deus, dia e noite, durante semanas a fio: será que há um Deus? Alguma vez Ele se nos revelou? Quem é Ele? Qual das religiões será a certa? Se Ele for real, o que tenho de fazer? Mas afinal o que é que se passa comigo?

O meu coração tornou-se cada vez mais frenético e obsessivo, à medida que eu procurava respostas, rezando com fervor pela primeira vez em anos. Foram-me concedidas graças enormes, nomeadamente, um desejo inexplicável de me ir confessar (o que nunca tinha feito antes) e um desejo real e físico de receber a Eucaristia (que não me era permitido receber). De certa maneira, sabia que tinha de regressar à Igreja Católica, mas como?

Percorri todos os caminhos de ajuda que me vinham à cabeça: contactei as minhas duas únicas amigas católicas; procurei ajuda junto de ordens religiosas e de organizações de leigos; dei muito trabalho à minha assoberbada paróquia para ver se me podia encontrar e falar com um padre... Mas, por uma razão ou por outra, nada consegui com as minhas tentativas, e, decorridos dois meses, ainda me sentia muito perdida e longe de poder estar apta a receber os Sacramentos.

O desespero apoderou-se de mim ao ver, pela primeira vez, a distância oceânica que eu intencionalmente tinha criado entre Deus e mim. A minha única esperança era uma oração estranha e pequena que comecei a aprender a rezar todos os dias, pouco familiar, mas reconfortante: o terço.

O perfume de Cristo

«Impregnar as nossas palavras e ações desse bonus odor é semear compreensão e amizade. Que a nossa vida acompanhe as vidas dos restantes homens, para que ninguém se encontre ou se sinta só. A caridade há de ser também carinho, calor humano» (S. Josemaria, Cristo que Passa, n. 36). Nossa Senhora não levou muito tempo a responder a esta pobre pecadora. Fui providencialmente encaminhada para o Opus Dei através de um vídeo do YouTube que por acaso mencionava como os seus membros eram incríveis a dar aconselhamento e formação espiritual.

Tudo o que sabia na altura sobre o Opus Dei vinha da Wikipédia. Também não tinha lido nada dos escritos de S. Josemaria Escrivá, mas não tinha importância. Sem qualquer experiência ou conhecimento prévio, foi fácil perceber e ser atraída para a Obra por pessoas que conheci. Elas emanavam alegria e paz de uma vida cristã. Pela primeira vez em meses senti que realmente alguém se interessava pela minha alma e reconhecia a minha necessidade profunda de me reconciliar com Deus através da Sua Igreja.

Uma supranumerária simpática e fiel do Opus Dei da minha cidade acompanhou-me ao longo da minha crise de fé com uma caridade espantosa. Ao longo de vários meses, deu-me recursos para ter umas bases do Catecismo, orientação e preparação para a minha primeira Confissão, aconselhamento jurídico (direito canónico) e apoio para obter a validez do meu casamento pela Igreja, e, contra todas as probabilidades, conseguiu também milagrosamente tratar do meu Crisma. O meu filho também foi batizado na nossa igreja paroquial. Pouco depois de ter conhecido esta supranumerária, descobrimos que íamos ambas para Jerusalém: ela, em peregrinação, eu mudava-me para lá com a minha família. Foi Providência Divina.

Jerusalém

«Com os filhos de Deus, temos de comportar-nos como filhos de Deus: o nosso amor há de ser abnegado, diário, tecido de mil e um pormenores de compreensão, de sacrifício calado, de entrega silenciosa. Este é o bonus odor Christi que arrancava uma exclamação aos que conviviam com os primeiros cristãos: “Vede como se amam!”» (S. Josemaria, Cristo que Passa, n. 36)

Por mais que tivéssemos tentado, houve só uma coisa que não conseguimos fazer nas Filipinas: casar pela Igreja. O casamento misto entre mim e o meu marido requeria uma dispensa especial de um arcebispo antes de podermos efetivamente casar ao abrigo das leis da Igreja, e, apesar de todas as nossas tentativas diligentes, não a conseguimos obter antes de partirmos para Israel. Um sacerdote amável o do Opus Dei que conheci tinha muita esperança. Tinha quase a certeza de que de, fosse como fosse, havíamos de casar na Terra Santa... E tinha razão.

Através de um conhecimento pessoal desse mesmo padre, fomos recebidos em casa de numerários que viviam em Jerusalém há bastante tempo, pouco depois de termos aterrado. O meu marido e eu já tínhamos estado em Jerusalém. Ele até tem parentes que vivem na cidade. Mas desta vez sentimo-nos menos estranhos e mais em casa, pela pronta e sincera amizade que nos foi proporcionada por pessoas da Obra.

O nosso casamento, que parecia tão impossível quando estávamos nas Filipinas, foi resolvido rapidamente. Três semanas depois estávamos a celebrar esse sacramento sagrado no seu oratório simples, mas bonito. Além do nosso filho pequeno, todos os que lá estavam eram caras totalmente novas, mas, não obstante, afetuosas e sentindo-se felizes por nós. Acho que a palavra "estranho" não existe no vocabulário dos membros da Obra. Nunca nos sentimos como estranhos no meio deles no dia do nosso casamento.

Uma Recém-Nascida na Terra Santa

«A santidade – quando é verdadeira – transborda do recipiente para encher outros corações, outras almas, dessa superabundância. Nós, os filhos de Deus, santificamo-nos santificando. - Alastra à tua volta a vida cristã? Pensa nisso diariamente» (S. Josemaria, Forja, n. 856).

Quando planeámos a mudança da minha família para Jerusalém, a minha vida era completamente desprovida de fé. No meio da própria cidade de Deus e do Seu povo escolhido, eu teria visto e não visto, ouvido e não ouvido. Mas em vez disso, Deus salvou-me antes de sairmos das Filipinas, e ao fazer a viagem para minha casa em Jerusalém, a minha alma também a fez.

Como por milagre, esta antiga pagã dá por si a construir o seu lar na Terra Santa como católica “recém-nascida”, rodeada de pessoas cujos corações procuram fervorosamente Deus todos os dias, indo à Missa com peregrinos de todo o mundo, percorrendo muitas das mesmas estradas por onde Nosso Senhor e Nossa Senhora andaram. Já anteriormente tinha contemplado a beleza resplandecente de Jerusalém, mas nada se compara ao que ela parece agora para uma alma apaixonada pelo seu Criador.

Magdalena Garcia