Bakhita, a santidade que transforma o mundo

"Os santos são a expressão suprema da beleza". Estas palavras do Papa, pronunciadas num diálogo improvisado com jornalistas durante um voo que o levava a mais um dos cantos do mundo a anunciar o Evangelho, parecem-me muito adequadas para descrever a figura santa de Josefina Bakhita.

Os santos, com a força do seu testemunho, redimem a violência contra o homem impressa no curso da história. Transformam em profundidade, cada um à sua maneira, tudo aquilo que os outros sofrem ou, quando muito, se limitam a deplorar. A sua actualidade é particularmente viva nos nossos dias, neste século de "progresso" que nenhum dado pode definir mais cruamente do que o número dos seus mártires. A sua paciência perante a injustiça possui o vigor da caridade mais delicada; a docilidade com que sofrem é uma luz que ilumina todos os dias. São os santos, com seu obstinado amar sempre e a todo o custo, quem cria novas civilizações.

Um lugar destacado neste panorama corresponde a Josefina Bakhita, a freira canossiana morta em Schio em 1947. A sua vida foi marcada por grandes sofrimentos. Sequestrada e feita escrava quando era criança, torturada, vendida várias vezes nos mercados de Obeidh y Khartum (documentos recentes, também audiovisuais, testemunham a subsistência de um florescente comércio de escravos no Sudão), resgatada pelo cônsul italiano em 1882 e acolhida pelas canossianas de Schio, recebeu o baptismo com 21 anos e aos 27 fez-se freira canossiana. O seu itinerário foi realmente duro, e não basta a sua bondade natural para explicar a compaixão que mostrou pelos que a tinham feito sofrer. O seu perdão era a expressão de uma caridade que só pode vir de Deus. A beleza - para voltar à imagem do Papa - não é um valor ornamental de objectos inertes.

Toda a Conferência Episcopal do Sudão estará presente na canonização de Bakhita. Os bispos recolhem com a audácia da fé a mensagem que emana da sua figura: uma mensagem forte de esperança e de perdão para os católicos do Sudão, que neste momento são objecto de uma cruel perseguição que os priva dos direitos mais elementares. Uma mensagem para a consciência de todos, que tantas vezes tendemos a cobrir com o silêncio a injustiça que se abate contra os que estão longe e não têm voz para fazer-se escutar.

Em Bakhita vemos também a personificação do paradoxo cristão da liberdade. Quando teve finalmente a possibilidade de orientar com autonomia a sua própria vida, encontrou outro "Patrão" (assim chamava a Deus) e deu-lhe, mais do que o seu trabalho, o palpitar mais profundo do seu coração e todos os seus pensamentos. Assim, enquanto realizava com alegria as tarefas mais humildes, foi capaz de prodigalizar ternura e carinho a mãos cheias, com sobriedade e simplicidade. Bakhita serviu o Senhor ao longo de quase cinquenta anos. Renovar o próprio sim ao Senhor cada dia é dirigir-se para a eternidade. Para ela, olhar para diante não significava esquecer o passado, mas antes transfigurá-lo, redimi-lo com a liberdade do amor.

Bakhita, no final da sua vida, expressava com estas simples palavras, escondidas detrás de um sorriso, a odisseia da sua vida: "Vou devagar, passo a passo, porque levo duas grandes malas: numa vão os meus pecados, e na outra, muito mais pesada, os méritos infinitos de Jesus. Quando chegar ao céu abrirei as malas e direi a Deus: Pai eterno, agora podes julgar. E a São Pedro: fecha a porta, porque fico".

La Madre "Moretta", como lhe chamavam os habitantes de Schio, foi beatificada juntamente com o beato Josemaría, fundador do Opus Dei, em 17 de Maio de 1992. Para todos nós foi uma experiência inolvidável. Desde aquele dia, comecei a senti-la muito próxima. Por este motivo, hoje é, também para mim, um dia de grande alegria. O exemplo heróico de Bakhita, dos mártires de China, de Katherine Drexel e de Maria Josefa do Coração de Jesus mostram aos homens o rosto glorioso de Cristo, que triunfa na caridade. Cada canonização é a celebração da santidade da Igreja, do prodígio contínuo da suprema beleza que a Esposa de Cristo irradia sobre o mundo. E é sempre uma festa para toda a Igreja.

Web editor: o Papa João Paulo II canonizou em 1 de Outubro Josefina Bakhita, freira canossiana sudanesa, na Praça de San Pedro. Madre "Moretta" foi beatificada conjuntamente com o fundador do Opus Dei em 17 de Maio de 1992.

D. Javier Echevarría // Avvenire