Aprender a cuidar uns dos outros em família

Eugene e Ann Keng partilham ideias sobre a educação da sua família, com seis filhos, em Singapura. Cuidar do seu filho mais novo, Jerome, que tem Síndrome de Down, é um desafio especial.

Eugene e Ana Keng são pais comuns de uma família numerosa, com seis filhos, em Singapura. Estão na idade dos quarentas, e celebraram o seu 20.º aniversário de casamento em dezembro de 2018. Recentemente, viram-se confrontados com o desafio de prescindir, durante três semanas, dos serviços da empregada, Lita Ganiron. Embora Lita tenha as suas férias todos os anos, esta foi a primeira vez que tirou uma licença tão longa durante o período escolar das crianças.

Apesar de terem pensado em recorrer a outra ajuda temporária, Eugene e Ann decidiram que deveriam atribuir mais responsabilidades aos filhos mais velhos, e que estes poderiam acompanhar a família sem qualquer outra ajuda extra.

A sua principal preocupação era o filho mais novo, o Jerónimo, que tem Síndrome de Down. Agora com sete anos, Jerome tem um atraso no desenvolvimento da fala e ainda precisa de ajuda nas coisas básicas da vida diária. Assim, tornou-se óbvio que Jerome passaria a ser a prioridade da família, uma vez que precisava de muita ajuda especial de todos os membros da família, incluindo o pai, a mãe, as quatro irmãs mais velhas, Clarice (19 anos), Charlene (18), Cheryl (17), Celeste (15) e o irmão mais velho, Joel, que, com 11 anos, pode ser mais um obstáculo do que uma ajuda.

Ann elaborou um plano com os horários das tarefas diárias, que foi apresentado à família, numa noite, ao jantar. As tarefas incluíam fazer as camas de manhã, aspirar o chão, lavar, dobrar e passar a roupa, cozinhar para a família, lavar a louça, deitar o lixo fora e até limpar as casas de banho! No princípio, todos estavam apreensivos, pois não sabiam se seriam capazes de lidar com essas novas responsabilidades.

Ann e Eugene no terraço de cima no prédio onde moram.

Mas, para sua agradável surpresa, tudo correu bem. Todos os membros da família fizeram as tarefas que lhes foram atribuídas e às vezes, até mais do que o esperado.

Clarice aprendeu a utilizar o aspirador de forma eficiente e manteve a casa limpa e arrumada. Até se queixava quando havia lixo no chão.

Charlene ofereceu-se como voluntária para cuidar de Jerome. Ia buscá-lo diariamente ao autocarro da escola, mudava-lhe a roupa e assegurava-se de que ele tomava as refeições a horas. Dava-lhe banho todas as noites antes de se deitar e persistia, mesmo quando ele gritava para que fosse a mãe a dar-lhe banho. Se não podia cumprir este seu dever, por causa das tarefas escolares e dos trabalhos de grupo, pedia às outras irmãs que a substituíssem. Elas faziam-no sem uma palavra de queixa.

Cheryl foi a irmã que mais melhorou na área das limpezas em casa. Quando estava no início da adolescência, escapava-se às tarefas da casa. Mas como estava à espera de se inscrever no Politécnico, percebeu que estava disponível para ajudar em tudo. Enquanto os outros irmãos estavam ocupados com os seus horários escolares, ela preocupava-se com as necessidades dos outros, em vez de arranjar desculpas. Enchia as garrafas de água dos irmãos antes de eles saírem para a escola e ajudava a lavar a roupa com diligência. O seu tempo livre era normalmente passado a brincar com o Jerome. Isto fazia com que ele se afeiçoasse ainda mais a ela. Ele gosta muito dela e procura-a para os seus momentos de lazer.

Celeste, atualmente a estudar para o exame de nível O, foi dispensada das tarefas da casa. No entanto, ajuda voluntariamente nesses trabalhos, pois é cuidadosa por natureza. Mesmo em circunstâncias normais, não hesita em oferecer a sua ajuda quando vê que é necessário. E também sabe que “muitas mãos tornam o trabalho mais leve”.

Joel sai para a escola de manhã cedo, e habitualmente só regressa a casa depois das suas atividades curriculares, ao fim da tarde. Não se esperava que ele ajudasse muito em casa, mas, para surpresa de todos, lava alegremente a louça, leva o lixo e até ajuda a dobrar a roupa. Compreende agora o significado de demonstrar amor através de atos voluntários de serviço na família.

A casa enchia-se muitas vezes de risos e gargalhadas quando alguém recordava histórias ou acontecimentos engraçados nas habituais reuniões ao serão. Mas nalguns dias, não se fazia NADA. A casa ficava desarrumada, as roupas e os livros espalhados por todo o lado, todos pareciam estar ocupados com os seus telemóveis em vez de fazerem a sua parte das tarefas. Olha, está a chover. Alguém se deu ao trabalho de trazer a roupa para dentro de casa antes que ficasse outra vez encharcada? O Jerome precisa de beber água. Está a ser ignorado outra vez. Oh não, ele molhou-se... Espera... quem é que o está a ajudar? Os Kengs são, afinal, uma família de gente normal e corrente. Felizmente, estes períodos foram poucos e distantes, e Deus mostrou a Sua bondade, ajudando a garantir que a casa funcionasse sem problemas nem incidentes.

Embora tomar conta do Jerome exija muita paciência e esforço, ele tem a capacidade de puxar pelas melhores respostas da parte dos seus irmãos. As raparigas fizeram um esforço especial para ficarem em casa com mais frequência, para o poderem ajudar. Durante estas semanas desafiantes, todos se aperceberam, mais do que antes, que ele é de facto uma bênção muito especial para a família.

Apesar de uma agenda preenchida com compromissos de trabalhos e tarefas escolares, foi possível encontrar tempo para as necessidades espirituais, como o Terço em família e a Via Sacra durante a Quaresma. Através destas atividades espirituais, a família uniu-se ainda mais, partilhando responsabilidades e crescendo no amor uns pelos outros.

Os miúdos também fizeram a importante descoberta de que fazer bem as pequenas coisas significava muito para o bom funcionamento da vida familiar, e cada um sentia o apreço dos outros. Perceberam que os grandes desafios da vida se resolvem através de muitas pequenas realizações nas tarefas normais da vida quotidiana. Ann e Eugene esperam que, ao crescerem neste espírito de serviço aos outros, os seus filhos se apercebam de que os seus talentos para o trabalho árduo, iniciativa e fortaleza, são tudo dons que receberam de Deus e que precisam de aplicar para o bem dos outros.