A mulher no mundo e na Igreja

Para Maria José Nogueira Pinto, Josemaría Escrivá tinha a convicção de que a participação da mulher “constituía um benefício para a sociedade, a partir do contributo de um olhar e sentir feminino sobre a polis”.

Uma das muitas facetas surpreendentes do Beato Josemaría Escriva é a de ter tratado todos os assuntos realmente importantes, com uma grande clarividência e sentido prospectivo, antecipando mesmo o correcto enfoque de questões mais polémicas nas nossas sociedades.

É o caso do papel da mulher no mundo e na Igreja. Há mais de trinta anos Monsenhor Escrivá sentia já a necessidade de tratar esta questão com equilíbrio, libertando-a tanto dos excessos dos movimentos feministas como das versões passadistas e nostálgicas do modelo exclusivamente doméstico.

Acentuou, então, vários aspectos fundamentais.

O inconveniente em insistir na contraposição sistemática entre vida familiar e vida profissional. Recorde-se que só muito mais tarde se viria a falar na conciliação entre ambas como o caminho adequado.

O direito à diferença em vez de uma reivindicação pura e simples de um estatuto de igualdade.

Recorde-se que só recentemente, também, esta terminologia veio a ser adoptada.

A necessidade de procurar o verdadeiro centro da vida humana como única via de dar um sentido, uma ordem, uma hierarquia a tudo.

Para Monsenhor Escrivá era, já então, claro que uma sociedade moderna e democrática não só tinha de reconhecer à mulher o direito de participar activamente na vida política como criar as condições favoráveis para que tal direito pudesse ser efectivamente exercido. Como era claro que tal participação constituía um benefício para a sociedade, a partir do contributo de um olhar e sentir feminino sobre a polis, indispensáveis ao progressivo aperfeiçoamento do exercício do poder político.

Mas nada disto diminuiu o grau de exigência que deve aplicar-se a mulheres e homens com responsabilidades públicas. Com efeito Monsenhor Escrivá acentuava não só o direito da mulher a encontrar aberto o caminho da actividade pública, a todos os níveis, como lhe reconhecia o dever de se preparar convenientemente, garantindo a qualidade da sua intervenção. E assim não há razão para ver a intervenção feminina circunscrita a áreas específicas, mas a todas para as quais a sua capacitação o recomende.

É que Monsenhor acentua algo que está, hoje, na ordem do dia: a exigência de uma preparação adequada a quantos, mulheres ou homens, desejam dedicar-se à causa pública, constitui um dever particularíssimo: quem ocupa postos de direcção, na sociedade, presta um serviço do qual depende o bem estar dos cidadãos e trabalha para o bem comum. A sua responsabilidade é enorme.

Também na Igreja a participação da mulher é indispensável. A Igreja, sendo a totalidade do Povo de Deus, integra mulheres e homens, igualmente convocados à missão de cristianizar o mundo inteiro a partir de dentro. Cada um com a sua vocação e mandato, em todas as actividades humanas.

Maria José Nogueira Pinto

Provedora da Misericórdia de Lisboa

Agência Ecclesia, 24 de Setembro de 2002