Evangelho de 6 de agosto: Transfiguração do Senhor

Comentário ao Evangelho da Festa da Transfiguração do Senhor (Ciclo B). «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». A festa de hoje relaciona a divindade com a Cruz de Cristo. Deus torna-nos capazes de Si próprio, diviniza-nos através de um dom puramente gratuito de Deus. Ser capaz de Deus é um dom que Deus nos dá para nos fazer felizes aqui na terra e para nos reservar a felicidade eterna.

Evangelho (Mc 9, 2-10)

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles para um lugar retirado num alto monte e transfigurou-Se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia assim branquear. Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro tomou a palavra e disse a Jesus:

«Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias».

Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados. Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra e da nuvem fez-se ouvir uma voz:

«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O».

De repente, olhando em redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus, sozinho com eles. Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, enquanto o Filho do homem não ressuscitasse dos mortos. Eles guardaram a recomendação, mas perguntavam entre si o que seria ressuscitar dos mortos.


Comentário

Hoje celebramos a festa da Transfiguração do Senhor. A razão pela qual esta festa foi fixada em 6 de agosto é porque foi posta em relação com a festa da Exaltação da Santa Cruz a 14 de setembro: passam 40 dias entre as duas festas. Nalgumas tradições, formam uma segunda Quaresma. Assim, a Igreja Bizantina vive este período como um tempo de jejum e contemplação da Cruz. Mostra-nos que a manifestação da glória de Deus está intimamente ligada à Sua paixão e morte na Cruz.

A festa de hoje relaciona a divindade de Cristo com a Cruz de Cristo. É de grande importância pelo conteúdo doutrinário que nos ensina a cada um dos cristãos. Mostra-nos uma das ideias mais importantes da nossa fé: a divinização do homem porque é um puro dom gratuito de Deus.

Está intimamente relacionado com a Eucaristia porque, como ocorre na Transfiguração, revestimo-nos de Cristo, divinizamo-nos quando recebemos o Corpo de Cristo. Jesus convida-nos a recebê-l'O na Eucaristia, como convidou Pedro, Tiago e João para a Transfiguração. E quer que Lhe digamos o mesmo que Pedro: que bem se está aqui, Senhor! Espera por nós no sacrário. Ele está lá para nós.

Jesus quer mostrar-nos o céu na terra. Por meio dos sacramentos, os cristãos recebem a graça que nos impulsiona para o céu. Por pura bondade de Deus, o homem é capaz de Deus. Um dom, um privilégio para o homem, um prémio imerecido que todo o homem pode alcançar aqui na terra.

Cada um de nós pode louvar a Deus cada dia por meio da nossa oração pessoal. S. Josemaria escreveu «Jesus: ver-Te, falar contigo! Permanecer assim, contemplando-Te; abismado na imensidade da Tua formosura, e nunca mais deixar de Te contemplar! Ó Cristo, quem Te pudesse ver! Quem Te visse, para ficar ferido de amor por Ti!»[1]. Devemos ouvi-l'O e permitir que a Sua vida e os Seus ensinamentos divinizem a nossa vida quotidiana.

Este dom de Deus, esta graça recebida sem nenhum mérito, é um dom que Deus nos dá para nos fazer felizes. A razão pela qual Deus Se faz homem e torna o homem capaz de Deus é porque quer o melhor para nós, deseja a nossa felicidade. «O caminho de Jesus sempre nos leva à felicidade, haverá cruz ou provas pelo meio, mas no final sempre nos leva à felicidade. Jesus não nos engana. Prometeu-nos a felicidade e no-la dará se seguirmos o Seu caminho»[2].

Podemos, nesta festa, aumentar os nossos desejos de nos unirmos a Deus, como fizeram Pedro, Tiago e João, e como fizeram todos os santos. «Vultum tuum, Domine, requiram» (Sl 26, 8), procurarei o Teu rosto, Senhor. «Encanta-me cerrar os olhos, e considerar que chegará o momento – quando Deus quiser – em que poderei vê-l'O, não “como num espelho, e sob imagens obscuras…, mas face a face” (1Cor 13, 12). “Sim, o meu coração está sedento do Deus, do Deus vivo; quando irei e verei a face de Deus?” (Sl 41, 3)»[3].

Aproveitemos esta celebração para agradecer a Deus tantos dons recebidos aqui na terra. Peçamos a Jesus ser dignos de tais méritos. Que nos prepare para 'perder a própria vida', doando-a para que todos os homens sejam salvos e para que possamos reencontrar-nos na felicidade eterna.


[1] S. Josemaria, Santo Rosário, Apêndice, quarto mistério luminoso.

[2] Francisco, Angelus, 01/03/2015.

[3] S. Josemaria, Santo Rosário, Apêndice, quarto mistério luminoso.

Pablo Erdozáin // Photo: Thomas Kinto - Unsplash