Evangelho de quinta-feira: Jesus Cristo, Caminho e Porta para o Pai

Comentário ao Evangelho de quinta-feira da III semana da Páscoa. «Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o trouxer». Deus é a fonte da Vida, e, só podemos chegar a essa fonte, através do Filho na oração e nos sacramentos.

Evangelho (Jo 6, 44-51)

Naquele tempo, disse Jesus à multidão:

«Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o trouxer; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia. Está escrito no livro dos Profetas: ‘Serão todos instruídos por Deus’. Todo aquele que ouve o Pai e recebe o seu ensino vem a Mim. Não porque alguém tenha visto o Pai; só Aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: Quem acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. No deserto, os vossos pais comeram o maná e morreram. Mas este pão é o que desce do Céu, para que não morra quem dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é a minha carne que Eu darei pela vida do mundo».


Comentário

O Evangelho segundo S. João transmitiu-nos como nenhum outro Evangelho os discursos de Jesus nos quais fala da sua relação com o Pai. Nestes dias, a liturgia recorda-nos as palavras que encontramos no capítulo sexto, concretamente no discurso do Pão do Céu. As pessoas que seguiam o Senhor procuravam n’Ele a vida. E, sim, Jesus oferecia-se como Pão da Vida, mas de uma Vida que eles não podiam imaginar. O alimento que oferecia não era simplesmente para o corpo.

Com as palavras do Evangelho de hoje animamo-nos a não desistir de procurar, encontrar e amar Jesus[1]. Para isso, é necessária uma atitude aberta do coração, de escuta confiada e agradecida, que responda implicando-se num diálogo de amor com a própria existência. Isto é: uma verdadeira escuta é aquela pela qual nos deixamos tocar no mais profundo do nosso ser e, em consequência disso, conformamos a nossa vida segundo aquilo que recebemos. Cristo quer dar-nos a mão, iluminar a nossa inteligência, fortalecer a nossa vontade e acompanhar-nos no caminho até ao Pai. Deus é a fonte da Vida, e quer levar-nos a essa fonte. Como o faz? Deixando-nos exemplo para que sigamos os seus passos (cf. 1Pd 2, 21). Isto é a fé: identificação com Aquele em quem se crê.

Numa das leituras da Vigília Pascal líamos estas palavras: «Atenção! Todos vós que tendes sede, vinde beber desta água. Mesmo os que não tendes dinheiro, vinde, comprai trigo para comer sem pagar nada. Levai vinho e leite, que é de graça. Porque gastais o vosso dinheiro naquilo que não alimenta? E o vosso salário naquilo que não pode saciar-vos. Se me escutardes, havereis de comer do melhor, e saborear pratos deliciosos» (Is 55, 1-2). Quantas vezes teremos usado a palavra “saciar” sem saber realmente o que significa estar saciados! Porque o profeta está a falar de algo que enche e já não se perde. É aí que devemos investir: em nos alimentarmos de Cristo, em converter toda a nossa existência num diálogo com Ele, trabalhando com Ele, descansando com Ele, cuidando das amizades com o Seu amor, desejando ver um Pai cujo rosto só Ele contemplou e que nos mostrou e nos mostra na medida em que O deixarmos viver em nós.


[1] cf. S. Josemaria, Caminho, n. 382.

Juan Luis Caballero // Photo: Rodnae Productions - Pexels