Evangelho (Mc 4, 35-41)
Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse aos seus discípulos:
«Passemos à outra margem do lago».
Eles deixaram a multidão e levaram Jesus consigo na barca em que estava sentado. Iam com Ele outras embarcações.
Levantou-se então uma grande tormenta e as ondas eram tão altas que enchiam a barca de água. Jesus, à popa, dormia com a cabeça numa almofada. Eles acordaram-n’O e disseram:
«Mestre, não Te importas que pereçamos?».
Jesus levantou-Se, falou ao vento imperiosamente e disse ao mar:
«Cala-te e está quieto».
O vento cessou e fez-se grande bonança. Depois disse aos discípulos:
«Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?».
Eles ficaram cheios de temor e diziam uns para os outros:
«Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe obedecem?».
Comentário
Os três Evangelhos sinópticos narram duas tempestades, que se levantaram bruscamente nas águas geralmente tranquilas do lago de Genesaré. A do Evangelho de hoje foi a primeira. Muitos autores, em especial os Padres da Igreja, sublinharam o seu carácter simbólico. Viram, nesta barca sacudida pelas ondas, a barca de Pedro, a Santa Igreja, e também todo o cristão, no esforço por ser fiel à fé cristã.
Se tivermos em conta a atualidade recente, hoje podemos pensar sobretudo na Igreja, nossa Mãe. É que, desde há algum tempo, dá a impressão de que se desencadearam contra ela forças maléficas, contra os seus Pastores e os fiéis. A violência ou a subtileza destes ataques podem afetar alguns e levá-los a ter dúvidas na sua fé. Se este pensamento nos vier à cabeça, recordemos o que o Papa Francisco disse num dos seus documentos. Falando da Igreja aos jovens, escreveu: «Com efeito, nos seus momentos mais dramáticos, sente o chamamento a retornar ao essencial do primeiro amor»[1].
Não há dúvida de que este convite nos enche de entusiasmo. Portanto, no momento atual, cada um deve tratar de responder a este chamamento o melhor possível, mais ainda porque alguns podem pensar que Deus nos abandonou ou que se desinteressa do que sucede no nosso mundo, na Igreja e até na nossa própria vida. Porém, seja qual for a nossa impressão pessoal, podemos ter a certeza de que este pensamento não passa de uma tentação sem fundamento.
Basta recordar um texto maravilhoso de Isaías, cuja leitura sempre nos consola e nos dá forças: «O Senhor abandonou-me, o meu dono esqueceu-se de mim. Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria!» (Is 49, 14-15). Pela parte de Deus, é um autêntico compromisso, que Nosso Senhor confirmou pouco antes de subir ao céu, com uma nova promessa solene: «E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos!» (Mt 28, 20). Todos os dias, incluindo aqueles a que costumamos chamar “maus”. Neste campo, cada um pode pensar nas suas “tempestades” pessoais, sem dúvida pouco importantes, mas não por isso menos desagradáveis, na vida de cada dia
Não o esqueçamos nunca e, ao mesmo tempo, sintamo-nos responsáveis, cada um, de acordo com a sua situação pessoal. A resposta que o Senhor espera é, em primeiro lugar, a maior fidelidade possível a todos os ensinamentos do Magistério da Igreja. Depois, a nossa oração e mortificação, contínuas e fervorosas. Sem esquecer o nosso esforço na luta pela santidade, cada um no lugar que ocupa e tendo em conta as suas condições pessoais. E quando vemos que continuam os ataques, as calúnias ou as interpretações retorcidas, recordemos outras palavras de Nosso Senhor: «Esta casta de espíritos só pode ser expulsa à força de oração» (Mc 9, 29), como disse imediatamente após ter expulsado um demónio.
Continuemos a rezar com constância e confiança a Nossa Senhora, que celebrámos há quase um mês como Mãe da Igreja. Rezemos-lhe quando tudo vai bem e, mais ainda, quando nos apercebemos de alguma notícia mais ou menos “má”, que nos preocupe ou nos entristeça.
[1] Francisco, Christus vivit, n. 34.