Evangelho de sexta-feira: deixar-se instruir pelo Mestre

Comentário ao Evangelho de sexta-feira da XXIII semana do Tempo Comum. «Porque vês o argueiro que o teu irmão tem na vista e não reparas na trave que está na tua?». Podemos aprender muito das pessoas que nos rodeiam. Que os argueiros que possam ter não nos impeçam de ver tudo os que os outros têm de bom.

Evangelho (Lc 6, 39-42)

Naquele tempo, disse Jesus aos discípulos a seguinte parábola:

«Poderá um cego guiar outro cego? Não cairão os dois nalguma cova? O discípulo não é superior ao mestre, mas todo o discípulo perfeito deverá ser como o seu mestre. Porque vês o argueiro que o teu irmão tem na vista e não reparas na trave que está na tua? Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o argueiro que tens na vista’, se tu não vês a trave que está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e então verás bem para tirar o argueiro da vista do teu irmão».


Comentário:

«Seguir Cristo: – dizia S. Josemaria – é este o segredo. Acompanhá-l’O tão de perto, que vivamos com Ele, como os primeiros doze; tão de perto, que com Ele nos identifiquemos»[1].

O discípulo não está acima do mestre. Todo aquele que for bem instruído pode ser como o seu mestre. O discípulo de Cristo aspira, como ideal que engloba todos os aspetos da sua vida, a ser como o seu Mestre. Foi assim que os santos viveram e ensinaram e é também a nossa experiência diária: quando na oração o Espírito Santo nos faz vislumbrar uma característica da vida de Jesus ou uma atitude sua que podemos incorporar às nossas lutas diárias, ficamos cheios de alegria e de desejo de nos identificarmos com Ele. É por isso que é tão importante que o discípulo se permita ser instruído pelo mestre, para se tornar como Ele. Para isso, é necessário que o cristão cuide da sua formação, tenha um desejo real de conhecer a doutrina em profundidade: a Palavra do Senhor e da sua Igreja. O tempo gasto na própria formação é um tempo que dá frutos no amor a Deus e ao próximo.

Conhecer a doutrina, para contemplá-la com alegria e vivê-la. Jesus continua a instruir-nos sobre o modo de nos relacionarmos com o próximo: todo o cristão é chamado a ser guia e, de alguma forma, também mestre, na medida em que se identifica com Cristo. Damos o primeiro passo, auxiliados pela luz do Espírito Santo: conhecer-nos, purificar o nosso olhar, limpar a nossa alma na contrição e na graça do Senhor. A humildade que vem de nos vermos com o olhar amoroso do Senhor permite-nos conduzir os outros pelo caminho da imitação de Cristo. Somente a partir da verdade sobre nós mesmos se pode corrigir autenticamente.

Jesus detesta os hipócritas, aqueles que julgam sem amor e compreensão, os que procuram ser bem vistos pelos outros, sem se preocupar realmente com encarar os seus defeitos. Essa é a trave, enorme, no olho do hipócrita. Deus nos livre dessa censura terrível.


[1] S. Josemaria, Amigos de Deus, n. 299.

Antonio Marti // Photo: Josh Calabrese - Unsplash