Meditações: Sagrada Família

Reflexão para meditar no domingo dentro da Oitava de Natal, Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José. Os temas propostos são: A família no plano de Deus; Berço de todos os dons; O nosso primeiro apostolado.



«Seu pai e Sua mãe estavam admirados com as coisas que d’Ele se diziam» (Lc 2, 33). E assim estamos nós também: maravilhados por Deus se ter tornado um filho, por ter precisado de uma família. Nela aprendemos a deixar-nos amar, a deixar-nos ajudar, a deixar-nos perdoar. Muitos recebemos amor e cuidados bem antes de podermos ter consciência disso. Nunca seremos capazes de o retribuir, e isso acontece geração após geração. Não é um peso que incomoda, mas uma realidade que nos enche de gratidão e nos impele a corresponder. Agradecemos-Te, Senhor, pela família que nos deste, a cada um!

«Honra teu pai de todo o coração e não te esqueças das dores da tua mãe; lembra-te que eles te geraram» (Sir 7, 29-30), diz a Sagrada Escritura. Temos um dever de gratidão para com aqueles que tomaram conta de nós quando nem sequer lhes podíamos agradecer. É justo que os nossos pais partilhem a nossa alegria. Foram muitas vezes eles que plantaram a semente da fé e da vida interior nas nossas vidas.

S. Josemaria coloca-nos perante a missão insubstituível de cada família: «Quando penso nos lares cristãos, gosto de os imaginar luminosos e alegres, como foi o da Sagrada Família. A mensagem de Natal ressoa com toda a sua força: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra às pessoas de boa vontade” (Lc 2, 14). “Que a paz de Cristo triunfe nos vossos corações”, escreve o Apóstolo (Cl 3, 1 5). A paz de nos sabermos amados pelo nosso Pai Deus, incorporados a Cristo, protegidos pela Virgem Santa Maria, amparados por S. José. Esta é a grande luz que ilumina as nossas vidas e que, no meio das dificuldades e das misérias pessoais, nos anima a avançar com coragem»[1].


O IMPORTANTE na nossa vida é saber que somos amados, e aprender a amar. E isto acontece, em primeiro lugar, dentro da nossa família. Ao mesmo tempo, é verdade que nem tudo é o ideal. Estamos todos longe de ser perfeitos. Por isso, podemos agora pedir a Jesus, Maria e José que intercedam por todas as famílias que atravessam dificuldades.

Poder-se-ia dizer que este primeiro círculo social é o berço de todos os dons. Aí nos sentimos confirmados por ser quem somos, abençoados, e descobrimos que a nossa vida é também um dom para os outros. Está inscrito nos nossos corações que todos somos filhos. Alguns são também pais, outras são mães, podemos ter irmãs ou irmãos... mas todos somos filha ou filho. A vida foi-nos doada, e há alguém à nossa espera. Mesmo nas situações mais difíceis, a condição de filho tem tanta força que normalmente continua a ser um caminho privilegiado para encontrarmos Deus, Pai.

«O Natal considera-se a festa da família. O facto de nos reunirmos e de trocarmos presentes sublinha o forte desejo de comunhão recíproca e destaca os valores mais elevados da instituição familiar. A família redescobre-se como uma comunhão de amor entre pessoas, fundada sobre a verdade, a caridade, na fidelidade indissolúvel dos esposos e no acolhimento da vida. À luz do Natal, a família compreende a sua vocação para ser uma comunidade de projetos, de solidariedade, de perdão e de fé, onde a pessoa não perde a sua identidade, mas antes, cooperando com os seus dons específicos, contribui para o crescimento de todos. Assim aconteceu na Sagrada Família, que a fé apresenta como princípio e modelo das famílias iluminadas por Cristo»[2].


EM BELÉM, Deus tornou-se um de nós. Quer viver a nossa história, o nosso caminho e a nossa liberdade. «A família é um sinal cristológico, porque manifesta a proximidade de Deus, que partilha a vida do ser humano, unindo-se a ele na Encarnação, na Cruz e na Ressurreição»[3]. É tal a força da família que podemos ter sempre esperança. A capacidade de transformação e de cura que o amor tem na família é capaz de superar todas as dificuldades, por muito esmagadoras que pareçam. As nossas famílias são o lugar escolhido por Deus para nos dar todos os Seus dons: o primeiro de todos, a vida, e com ela, a fé, a vocação, um nome, a educação, o temperamento, a linguagem, um lugar a que pertencemos… Este grande desafio levou S. João Paulo II a incluir uma invocação à Rainha da Família na Ladainha do Terço. Desde então, milhões de vozes e de corações têm pedido a Nossa Senhora que proteja as famílias de todo o mundo, para que todas elas possam ser esse berço onde a humanidade continuamente se renova.

Os nossos pais e irmãos são da nossa carne e do mesmo sangue, e por eles deve começar a nossa preocupação apostólica. Assim começou o apostolado dos primeiros discípulos de Cristo. «André encontrou primeiro o seu irmão Simão e disse-lhe: encontrámos o Messias, que significa: "Cristo". E levou-o a Jesus» (Jo 1, 41-42). E João, que com André foi o primeiro a aproximar-se do Senhor, comunicou a descoberta ao seu irmão Tiago e preparou-o para quando Jesus Cristo o encontrasse, no meio das redes, e o chamasse ao Seu serviço. É natural que S. Josemaria chamasse o dulcíssimo preceito ao mandamento de Moisés de honrar a própria família.

Com Maria e com José, queremos encher-nos de admiração. Em Belém, Deus desceu a cada família, especialmente às mais feridas, para nos curar, para nos acompanhar e descobrir connosco o papel decisivo que ela tem, para cada filho e para Jesus.


[1] S. Josemaria, Cristo que passa, n. 22.

[2] João Paulo II, Audiência Geral, 29/12/1999.

[3] Francisco, Amoris Laetitia, n. 161.