Em Chelas às 7 da manhã para ajudar as Missionárias da Caridade

Estuda no Técnico e quer ser Engenheiro. Tinha o sonho de ir para África fazer voluntariado, mas descobriu que a 2 km de casa, a sua ajuda faz a diferença. Em tempos de Covid-19, os dias começam cedo na casa das Missionárias da Caridade em Chelas, onde cuida dos idosos, a quem trata por amigos, seguindo os passos de Santa Teresa de Calcutá.

Estuda no Técnico e quer ser Engenheiro. Tinha o sonho de ir para África fazer voluntariado, mas descobriu que a 2 km de casa, a sua ajuda faz a diferença. Em tempos de Covid-19, os dias começam cedo na casa das Missionárias da Caridade em Chelas, onde cuida dos idosos, a quem trata por amigos, seguindo os passos de Santa Teresa de Calcutá.

“Porque é que queres ir à Guiné, se nem fazes sequer voluntariado aqui?”. Na altura, fiquei chateado, mas reconheci que, como é costume, a minha mãe tinha razão

O meu voluntariado na casa das Irmãs Missionárias da Caridade em Chelas começou com um “Não”. Participo nas atividades de formação cristã para estudantes universitários na Residência Montes Claros em Lisboa. Quando soube que a residência iria à Guiné no Verão de 2018, fui para casa muito entusiasmado contar aos meus pais que queria ir, mas para minha deceção obtive a seguinte resposta: “Porque é que queres ir à Guiné, se nem fazes sequer voluntariado aqui?”. Na altura, fiquei chateado, mas reconheci que, como é costume, a minha mãe tinha razão. Acabei por não ir, mas tomei a decisão de corrigir este aspeto com a intenção de poder ir no ano seguinte.

Após algum tempo à procura, soube que um amigo de família costumava ir às quintas-feiras de manhã ajudar nesta casa e aproveitei a oportunidade para ir experimentar. Na altura, conhecia pouco acerca das Missionárias da Caridade além do facto de terem sido fundadas pela Madre Teresa de Calcutá, a tal ponto que nem suspeitava que tivessem casas em Portugal (têm em Lisboa, Setúbal e Faro) e muito menos uma a 2 km de minha casa.

Confesso que ao início não me sentia muito à vontade, portanto limitava-me apenas a fazer as camas.

A casa de Chelas tem dois pisos, um para os homens e outro para as mulheres com capacidade para 20 pessoas. De manhã as tarefas consistem em dar banho e vestir os homens que precisam de ajuda, fazer as camas e ajudar a limpar, terminando sempre com a Missa. Confesso que ao início não me sentia muito à vontade, portanto limitava-me apenas a fazer as camas. No entanto, à medida que me ia habituando à aventura que era dar banho a outra pessoa, fui-me apercebendo que entrava às sete da manhã cheio de sono e arrependido de ter ido, mas saía às nove cheio de alegria e energia e começou a fazer mais sentido aquela pergunta curiosa que me fizeram certa vez: “Vamos visitar os nossos amigos?”. Após algum tempo, além de alguns amigos, a minha família acabou por também se juntar: primeiro o meu pai, depois a minha mãe e, por fim, uma das minhas irmãs que é médica.

É desconcertante assistir ao carinho e à alegria com que [as missionárias] servem: desde cozinhar grandes panelas de comida a cuidar de pessoas acamadas em más condições

Por isso, depois do ritual inicial que é mudar de calçado, vestir luvas e etc, agora não faço muito mais do que fazia antes, simplesmente passei a ir mais dias.

Felizmente, apesar da situação atual de quarentena e respeitando as medidas de prudência das autoridades, as coisas continuam a correr dentro do normal e sem incidentes graves dentro da casa de Chelas. Por isso, depois do ritual inicial que é mudar de calçado, vestir luvas e etc, agora não faço muito mais do que fazia antes, simplesmente passei a ir mais dias. Embora custe por vezes acordar cedo, especialmente para um molengas como eu, tem sido um ambiente muito propício ao crescimento espiritual, além da graça que é poder visitar quase diariamente o Santíssimo presente no sacrário da capela e oferecer as manhãs antes de voltar para casa.

o exemplo de oração das religiosas é impressionante. Levantam-se ainda antes das 5 horas da manhã.

Em primeiro lugar, a observação do modo de proceder das Irmãs muda-nos. Faz-me pensar na força da oração. Mesmo existindo tantas necessidades de assistência social por causa do Coronavírus, o exemplo de oração das religiosas é impressionante. Levantam-se ainda antes das 5 horas da manhã. Fazem a oração da manhã, as lides domésticas e às 8h00 têm Missa. E, se por um lado, existe uma intransigência perante a vida de oração, o seu fruto é a docilidade com que vivem o voto de “um serviço gratuito e de todo o coração aos mais pobres entre os pobres”.

Apesar de a casa não ser propriamente luxuosa e muitas vezes o seu trabalho ser duro, é desconcertante assistir ao carinho e à alegria com que servem aqueles que estão ao seu cuidado desde cozinhar grandes panelas de comida a cuidar de pessoas acamadas em más condições.

Santa Teresa de Calcutá, fundadora das Missionárias da Caridade. Na foto com S. João Paulo II e Beato Álvaro del Portillo no dia 1 de junho de 1985.

ao aperceber-me do quão pouco faço, objectivamente, durante o tempo que lá estou, torno-me também consciente do quão pequeno sou e, consequentemente, da forma como Deus actua através da minha vida

Em segundo lugar, ao aperceber-me do quão pouco faço, objectivamente, durante o tempo que lá estou, torno-me também consciente do quão pequeno sou e, consequentemente, da forma como Deus actua através da minha vida: assim como não sou eu a causa da alegria e do amor daquela humilde casa em Chelas, também não sou eu o responsável pelos frutos e sucessos que vou encontrando.

Por fim, gostaria de pedir para que rezassem pelas Irmãs Missionárias da Caridade e pelas pessoas que estão ao seu cuidado, não só dentro da casa, neste tempo de especial provação onde têm menos apoio.

João


Ver também

Teresa de Calcutá via na humanidade uma família”. Palavras de D. Javier Echevarría por ocasião da canonização da Madre Teresa de Calcutá: "A caridade de Deus levava-a continuamente a inclinar-se espiritualmente para acolher as pessoas abandonadas", disse o Prelado do Opus Dei.

S. Josemaria e a Madre Teresa de Calcutá. Pelo Pe. Brian Kolodiejchuck M.C., postulador da causa de canonização da Madre Teresa de Calcutá