“Vão voltar?”

“O meu marido e eu não pensávamos que iríamos ter o melhor Natal das nossas vidas”, diz Pilar Caranti, mãe de seis filhos de Houston, Texas, que regularmente visita uma prisão de alta segurança com o marido.

Os nossos filhos não conseguiram voar para casa antes do Natal devido a uma inesperada tempestade de neve, e decidimos visitar uma prisão de alta segurança na cidade perto do nosso rancho.

Fomos com Robert, ministro da comunhão da paróquia em Huntsville que visita esta prisão três vezes por semana. Pensámos que a visita duraria uma hora e meia, mas quando entrámos, soubemos que iria durar toda a tarde. Pensei: “Está fora de questão passar todos os domingos a visitar presos. De vez em quando, é suficiente”. Eu não sabia o impacto que teria nos nossos corações ver o mundo da humanidade atrás das grades: pessoas, filhos de Deus

Começámos numa volta que terminou numa grande capela, transformada num lugar de culto por presos como Brady. Ali conhecemos Tim, Keith, Juan, Chad, Brady, Marco, Alan, Sebastian, e outros, e ficámos a conhecer as suas histórias, caminhos para a fé católica, e os desafios que enfrentavam “ali”. Alguns trabalhavam nas fábricas da prisão, fazendo sinais de trânsito, placas de carro ou colchões para universidades estatais. Outros fazem carpintaria ou aprendem diferentes ofícios, e alguns estudam para acabar o secundário ou completar cursos universitários.

Um momento impactante aconteceu durante a aula de Apologética dirigida por Tim, um preso convertido ao Catolicismo. Ele, com orgulho, mostrou objetos comprados com fundos angariados entre eles, castiçais, um crucifixo, e outros, para substituir os antigos. Não tinham suficiente para comprar uma nova custódia para substituir a de madeira e prometi-lhes arranjar uma.

O dia continuou com uma celebração bilingue, dirigida pelos presos sem padre.

Apesar da ausência de elementos tradicionais, o ambiente era respeitoso e profundo. Robert, com quatro acólitos escolhidos entre os presos, dirigiu a assembleia, cantando hinos e conduzindo orações. O “Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós” ressoou ruidosamente, e eu não consegui deixar de chorar. Foi muito forte. Deixei de rezar como costumava. Agora, rezo cada palavra com mais ponderação e peço verdadeiramente a Deus perdão durante aquela parte da liturgia.

Antes do cântico final, Tim pegou no microfone e falou-lhes na minha reação, dizendo, “Ela vai sair e contar a todas as pessoas o que viu”. Fiel às suas palavras, eu tenho desde esse momento contado a amigos, família e conhecidos sobre o que vivemos naquele Natal. Muitos ficam em lágrimas. Um dos meus amigos contou-me que nunca mais assistiu à Missa da mesma forma depois de ouvir isso. Depois da história, muitas pessoas decidiram rezar pelos presos.

Quando nos despedimos, os presos agradeceram-nos por termos lá estado e fizeram-nos duas perguntas: “Viram que nós não somos assim tão maus?” e “Vão voltar?”. Sem nos darmos conta, tínhamos valorizado, reconhecido e legitimado esses homens. Agora vemo-los como homens com dignidade, com necessidade de afeto e misericórdia.

E as seis horas que lá passámos, foram suficientes para mudar a minha relutância inicial em impaciência por voltar.

A partir desse Natal transformador, rezamos por cada um deles todos os dias. Como é habitual, recebemos muito mais do que demos, e os nossos corações dilataram-se porque trazemos connosco os seus nomes e histórias.