"Os jovens podem parecer santos mais facilmente, e os mais velhos, muitas vezes, não... Contudo, habitualmente, os mais jovens não alcançaram ainda a santidade que procuram, enquanto os mais velhos, que gastam as suas vidas ao serviço de Deus, e que humildemente pensam que não são santos de todo, nem o serão nunca, mas que estão a fazer o que podem para o conseguir, estes são os que levam vidas santas".

Estas palavras de S. Josemaria Escrivá parecem ganhar vida de novo. A Kemi, como era normalmente chamada pelos seus amigos mais íntimos e pelas suas irmãs, era uma pessoa cheia de vida. A sua morte apareceu-nos como um choque, porque era uma pessoa tão forte… Não estava doente, nem se queixava, como costumamos fazer quando somos confrontados com muito trabalho. A Kemi foi-se deitar no sábado cheia de vida, e passou para a eternidade às primeiras horas da manhã de domingo. E mais uma vez, no seu estilo habitual, sem alarido. Quando uma pessoa encontrava a Kemi pela primeira vez, ficava sempre impressionada com a sua maneira de estar. De longe, podia parecer austera e obstinada. Mas à medida que nos tornávamos próximos, a sua grandeza de coração envolvia-nos. Às vezes, fazia um esforço por manter aquele olhar 'sério' enquanto corrigia alguém, mas só para florir depois no sorriso, aberto, de orelha a orelha, que era a sua imagem de marca.

Como se descreve a vida de uma mulher sem pretensões? Kemi respondeu ao chamamento de Deus em 7 de dezembro de 1988. Nesse dia, comprometeu-se a viver a sua vida como numerária auxiliar na Prelatura do Opus Dei. Isto significa que nos seus mais de 33 anos seguintes de vida, ela trabalharia de forma ativa ao serviço das suas irmãs e irmãos, transformando o seu trabalho em oração e apostolado. E assim fez.

Nos últimos anos, viveu e trabalhou no Lagoon Institute of Hospitality. Juntamente com uma equipa de estudantes, supervisionava a hora do almoço na cafetaria para grupos : a avalanche de estudantes e pessoal da Escola de Hotelaria Lagoon. Estava sempre ali, presente, com um sorriso disponível. Ugonwa conta como "numa ocasião, Kemi viu-me na fila, sorriu, depois virou-se para a estudante encarregada dos pratos quentes, dizendo-lhe que me servisse a melhor dose ". Para Chinyere, professora com a filha na primária, a experiência foi a mesma: "Eu tinha a ideia que ela era muito dura e inabalável. Um dia esqueci-me de trazer de casa a lancheira com a comida para a minha filha. Estava preocupada com o almoço dela. Então, alguém me sugeriu que contasse à “tia” Kemi. Sentia-me um pouco relutante em fazê-lo, mas enchi-me de coragem e contei-lhe. Nunca esquecerei a sua bondade... Disse-me que não me preocupasse, e deu à minha filha uma refeição quente e uma bebida. Naquele dia, mudei de paradigma".

Chika, outra mãe desta escola, contou à filha que a ”tia” Kemi ia para o céu. A filha exclamou: "Oh, mãe, eu conheço-a! Ao almoço, ela vinha, sentava-se e falava connosco... Ficávamos sempre à espera de que chegasse ". Na venda de bolos de sábado, não era raro encontrar a Kemi no seu melhor. "Qualquer pessoa que lhe chamasse a atenção recebia os seus cuidados", diz Nkiru. "Sorria frequentemente e dizia piadas bem-humoradas, enquanto chamava os seus clientes para comprarem zobo (uma bebida de infusão caseira), chin-chin (bolos de pastelaria fritos), batatas fritas e bolos de banana. E se alguém dizia que não tinha dinheiro, ela respondia em tom de brincadeira: "nós temos solução".

Sobre a mesa em que está aberto o seu livro de homenagens, leem-se vários testemunhos sobre Kemi. São escritos por pessoas de origens variadas. E o que mais se destaca é a simplicidade desses relatos. Eventos comuns, da vida quotidiana, que nunca serão considerados dignos de notícia. Contudo, revelam um coração que estava apaixonado por Deus, e pelos outros, por amor a Ele.

"Sempre que a Kemi me acompanhava ao mercado para fazer compras, trazia também alguns snacks para nós, para o motorista e Alabaru (o porteiro), que carregavam as nossas compras pesadas para a carrinha. Ela fazia sempre isto. Era a sua maneira de ser. Tinha um coração tão grande!". Cecilia

"Tenho presente claramente uma recordação tua, do mês passado. Enquanto te observava, de onde estava sentada, a limpar com a mopa o chão da entrada da Escola, por alguma razão desconhecida para mim, só de te ver a limpar o chão, naquela manhã, fiquei tão tocada que até disse uma pequena jaculatória"! Osose

"A tua dedicação ao trabalho, serviço e capacitação de raparigas novas é louvável. Nos nossos primeiros encontros achava que eras demasiado séria, até que passei mais tempo contigo e me apercebi pessoalmente do teu calor e alegria. Nunca esquecerei a forma como delicadamente cuidavas dos paninhos usados na capela, preparavas as coisas para a Missa, e também como tinhas sempre uma graça ou uma palavra amável para todos, quando vínhamos ter contigo". Catherine

"Uma coisa eu percebo claramente: partiste no momento certo. Pensando em ti e nos teus últimos meses, semanas e dias, não tenho dúvidas de que estavas perfeitamente preparada para essa viagem". Uche

" Vou sentir saudades de te ver, depois de cada dia de recoleção, na banca da venda de bolos. Sentirei saudades das conversas breves mas ricas que tínhamos, sempre que eu precisava de comprar livros ou objetos na livraria". Chinelo

Neste vídeo, Kemi aparece do minuto 2.44 até ao fim.

“Uma joia sem preço, uma luz a brilhar na escuridão, as nossas conversas estavam sempre centradas nesse profundo amor pelas almas". Tessy

"Um coração aberto ao mundo". Lillian

Também aqui se cumpriram as palavras de S. Josemaria: "…. os mais velhos, que gastam as suas vidas ao serviço de Deus, e que humildemente pensam que não são santos de todo, nem o serão nunca, mas que estão a fazer o que podem para o conseguir, estes são os que levam vidas santas".

Na Kemi, temos um exemplo de como é uma vida realizada ao serviço dos outros. A bendita perseverança que fez a sua vida tão comum mas tão grande. Vale a pena viver e morrer ao serviço de Deus!

Ugonwa OHUCHE

Lagos, Nigeria