Tomás e Inês (Lisboa): as aventuras de uma família imperfeita desde o namoro até aos filhos

Casaram há 16 anos. A Inês tem 39 anos, é arquiteta e pintora. O Tomás tem 42 anos, e trabalha como relações-públicas numa empresa na área das cidades inteligentes. Em discurso direto falam no namoro, casamento, a vida em casal e a chegada dos filhos.

Tomás e Inês falam do namoro, casamento, a vida em casal e a chegada dos filhos.
Tomás e Inês falam do namoro, casamento, a vida em casal e a chegada dos filhos.

1. O Namoro
2. O Casamento

3. Marido e Mulher

4. A Família


Tomás - Foi no Alentejo que nos conhecemos melhor, e desde o início estabelecemos regras para o namoro. O que é, paradoxalmente, uma manifestação de liberdade. Permitiu uma grande descontração. Deixou de haver um peso enorme sobre nós.

Inês – Um dia tínhamos ido passar um dia numa casa no Alentejo, pertencente a alguém que nos lembrou que havia só um quarto onde podíamos passar a noite. O resultado foi que eu dormi no quarto, enquanto o Tomás passou a noite na sala, constantemente lambido pelos cães e sem conseguir dormir.

Tomás - Por vezes os amigos estranhavam e diziam "isso já não se usa". Coisas como haver um lugar para as raparigas e outros para os rapazes dormirem, quando íamos todos para fora. Mas depois acabavam por apreciar e ficavam cativados.

Inês - Eu não tinha medo de dizer nada daquilo que pensava. Se ele não gostasse, ia-se embora e pronto. O Tomás, embora tenha este "ar de santo" também é difícil. Por isso, discordar dele dá trabalho... Mas era muito bom não ter medo nenhum de discutir fosse o que fosse.


A sessão do Tomás e Inês no curso Aprender a namorar:  "Na saúde e na doença? Para sempre? É possível?"



Tomás
- Em certa fase levava a Inês a casa, a Sintra, e rezávamos o terço pelo caminho. E a naturalidade com que rezávamos os dois determinou a naturalidade com que hoje rezamos em família. Tivemos pessoas que foram grandes e importantes exemplos. Além dos pais de ambos, os meus avós, que viviam em Coimbra. O meu avô, sempre apaixonado pela avó, levava-lhe flores e chamava-lhe "a minha namorada". Quando íamos a Coimbra almoçar com os meus avós, a sensação que tínhamos quando voltávamos era a mesma que se tem quando se volta de um retiro.

Inês - Esses avós do Tomás eram românticos e jovens, e arranjavam-se um para o outro. Não eram pessoas fechadas no seu cantinho, mas cultivavam relações. Nós o que queríamos era ser assim.


Tomás - No dia seguinte ao pedido de casamento, pedi a mão da Inês ao pai dela. Acho que ele devia estar a rir-se por dentro, pois eram muitas irmãs, e já tinha experiência. É um “cerimonial” muito engraçado e divertido. Tal como o jantar de noivado que fizemos. Fizemos a preparação para o casamento com o Pe. João Seabra e depois com o Pe. Ricardo Neves, entretanto já falecido. Essa preparação incluiu testemunhos de outros casais. A Inês recorda um casal que acordava às 5h00 da manhã para tomarem o pequeno-almoço juntos, conversando um com o outro.

Inês - Nesse jantar os irmãos do Tomás diziam que ele era muito chato, e eu sem entender. E pensei: procurei namorar como deve ser, conhecê-lo, e não notei nada. Mas depois casámos, e... está provado... (risos de ambos).

Inês – Quando casámos, faltavam dois anos para eu acabar o curso de arquitetura. Parecia lógico que acabasse o curso antes de termos filhos, mas passados alguns meses, pensámos que aquilo assim não tinha graça nenhuma, que a casa estava a ficar muito vazia... E a casa começou a encher-se. E acabei o curso nesses dois anos. Foi nessa altura que o meu pai faleceu.

Tomás - A certa altura estava a ficar preocupado ao pensar em como poderia gerir uma família tão grande. É bom fazer planos, mas Deus ri-se um pouquinho de nós; e, melhor ainda do que fazer planos, é sabermos adaptar-nos às circunstâncias que a vida nos apresenta.

Tomás - Tivemos contrariedades pelo facto de termos muitos filhos e algumas pessoas que pensavam que era uma grande irresponsabilidade. Fomos para Sintra com os quatro filhos que já tínhamos (um deles ainda por nascer). As rendas já eram caras. Em Lisboa não precisávamos de transportes públicos; em Sintra, passámos a necessitar de dois automóveis. A vida estava-se a transformar numa enorme desordem. O dinheiro não estica…

Inês - Sentimos a necessidade de rezar porque as dificuldades continuam, mas também para limpar a intenção: pôr-me no lugar dos outros – em especial, daqueles que nos desafiam mais -, e perceber que terão as suas razões para não nos entender... Ter jeito e não permitir quebras com os outros familiares. Criar pontes. Os filhos dão-se bem com toda a família.


Inês - Pedimos ajuda ao Espírito Santo para transportar coisas do namoro para o casamento, pois a verdade é que não nos entendemos com tanta facilidade como poderia parecer. Preocupados com o facto de sermos tão diferentes um do outro, fomos falar com um padre, que se riu e nos explicou que essas diferenças eram boas. Admirar o outro é muito importante, mas é um exercício, pois muitas vezes o que apetece é andar à estalada…

Inês - Ter filhos não significa morrer. Nem andar vestida de fato de treino com uma mola na cabeça. Nada disso. Ninguém quer que a namorada se transforme nisso. O Tomás agora tem uma regra: quando nos convidam, vamos. Se fazemos anos, fazemos uma festa. Custa imenso, às vezes. Mas agora os nossos filhos, embora alguns deles sejam pequenos, já podem ficar em casa à guarda dos irmãos mais velhos. Comemorar as festas. Passar uma semana ou dez dias por ano sem os filhos. Ao princípio, quando estamos só os dois, há a tendência para falarmos só dos filhos, mas isso passa. Não podemos deixar de ser quem somos. Temos de cuidar de nós. Se não, aí é que os filhos ficam sem pai e sem mãe.

Tomás - Uma vez por mês vamos ver um bom concerto ou um bom espetáculo, um bom cinema. Pôr música uma vez por semana, com os miúdos na cama, uns acepipes, e dançar; e os problemas ficam logo com outra cor.

Inês - Há fases em que num minuto parece que nos afastamos muito um do outro, mas com esforço e com as graças do sacramento do matrimónio, que se sentem mesmo, conseguimos superar as dificuldades que vão aparecendo.

Tomás - Querer o bem do outro. Às vezes é dizer aquilo que o outro não quer ouvir. Tomar as decisões a dois, sempre com Deus presente, é fundamental.


Inês – Os filhos entretêm-se uns aos outros; nós só temos de os educar muito de vez em quando, de polir um bocadinho, especialmente quando são mais novos. Depois é outra história, que exige saber manter o diálogo com eles.

Tomás – Regras de vida que temos lá em casa: aquelas que o Papa Francisco recordou: agradecer, pedir desculpa, pedir licença; outras regras importantes: viver sem fingir; escutar sem julgar; amar sem exigir; falar sem ofender. Tornaram-se um guião de vida, embora pareçam coisas muito simples.

Inês - Nem sempre cumprimos as regras: nem todos os dias rezamos o terço em família; nem todos os dias a cozinha fica um brinco. As tarefas da casa são de ambos. Há dias em que um tem mais energia, noutro dia, é o outro. O Tomás tem dificuldade em não dizer coisas como "eu pus-te a louça na máquina"... Os filhos também cumprem tarefas em casa. A hora de deitar: temos estes filhos todos… eles têm de ir para a cama a uma hora.

Tomás - A nossa opção é que, enquanto são pequenos, não há telefones, não há Internet, não há nada disso. Às vezes ouvimos algumas críticas sobre esta opção, mas cada vez mais apercebemo-nos que não é por serem privados dos telemóveis em pequenos que são menos aptos para a tecnologia a seguir. Mas a verdade é que é uma alegria ver os miúdos terem atenção ao que os rodeia. Também nós procuramos deixar os telefones na cómoda da entrada. A casa é para nós.

Inês - As pessoas vêm a nossa casa. Ficam admiradas com coisas como, por exemplo, os nossos filhos irem deitar-se sozinhos, a uma certa hora, mesmo com dois anos . Percebe-se que muitas pessoas costumam ficar ali bastante tempo, quando vão deitar os seus filhos. E nós admiramos essa paciência. Aprendemos com eles e eles connosco.

Tomás - Por vezes atuamos por antecipação, outras vezes em reação. Há decisões relativamente aos filhos em que temos de ir até aos fim, e há outras em que temos que mudar, e isso faz-nos bem. Saber pedir desculpa. O medo de perder a base de confiança que os filhos têm nos pais.

Inês - Não é fácil ser nosso filho!


Ver também:

- Carta do Papa aos esposos por ocasião do Ano da Família

- Ebook gratuito: "Amor humano e vida cristã" (áudio)

Dulce e José Maria (Lisboa): das dificuldades do namoro ao casamento