“Comprometei-vos no vosso dever quotidiano, no estudo, no trabalho, nas relações de amizade”

No dia 1 de maio celebramos a memória litúrgica de S. José Operário. Recordamos textos do Papa Francisco, Bento XVI e de S. Josemaria sobre a figura do esposo de Maria que nos ajudam a preparar melhor esta festa do padroeiro dos trabalhadores.



PAPA FRANCISCO

AUDIÊNCIA GERAL

Praça de São Pedro
Quarta-feira, 1º de maio de 2013

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje, primeiro dia de Maio, celebramos são José trabalhador e damos início ao mês tradicionalmente dedicado a Nossa Senhora. Então, neste nosso encontro gostaria de meditar sobre estas duas figuras tão importantes na vida de Jesus, da Igreja e da nossa vida, com dois breves pensamentos: o primeiro sobre o trabalho, e o segundo sobre a contemplação de Jesus.

Jesus entra na nossa história, vem ao meio de nós, nascendo de Maria por obra de Deus, mas com a presença de são José, o pai legal que o protege e que lhe ensina também o seu trabalho.

1. No Evangelho de são Mateus, no momento em que Jesus volta para o seu povoado, Nazaré, e fala na sinagoga, salientam-se o assombro dos seus compatriotas pela sua sabedoria, e a interrogação que levantam: «Não é ele o filho do carpinteiro?» (13, 55). Jesus entra na nossa história, vem ao meio de nós, nascendo de Maria por obra de Deus, mas com a presença de são José, o pai legal que o protege e que lhe ensina também o seu trabalho. Jesus nasce e vive numa família, na Sagrada Família, aprendendo de são José a profissão de carpinteiro na oficina de Nazaré, compartilhando com ele o compromisso, o cansaço, a satisfação e também as dificuldades de cada dia.

o trabalho «unge-nos» de dignidade, enche-nos de dignidade; torna-nos semelhantes a Deus, que trabalhou e trabalha, agindo sempre

Isto faz-nos pensar na dignidade e na importância do trabalho. O livro do Génesis narra que Deus criou o homem e a mulher, confiando-lhes a tarefa de encher a terra e de a submeter, o que não significa explorá-la, mas cultivá-la, preservá-la e cuidá-la com a própria obra (cf. Gn 1, 28; 2, 15). O trabalho faz parte do plano de amor de Deus; nós somos chamados a cultivar e preservar todos os bens da criação, e deste modo participamos na obra da criação! O trabalho é um elemento fundamental para a dignidade da pessoa. Para usar uma imagem, o trabalho «unge-nos» de dignidade, enche-nos de dignidade; torna-nos semelhantes a Deus, que trabalhou e trabalha, agindo sempre (cf. Jo 5, 17); doa-nos a capacidade de nos mantermos, a nós e à nossa família, de contribuir para o crescimento da própria Nação. E aqui penso nas dificuldades que hoje, em vários países, o mundo do trabalho e da empresa enfrenta; penso em quantos, e não apenas jovens, estão desempregados, muitas vezes por causa de um conceito economicista da sociedade, que procura o lucro egoísta, fora dos parâmetros da justiça social.

comprometei-vos no vosso dever quotidiano, no estudo, no trabalho, nas relações de amizade, na ajuda aos outros; o vosso futuro depende também do modo como souberdes viver estes anos preciosos da vossa vida.

Desejo dirigir a todos o convite à solidariedade, e aos Responsáveis do Governo, o encorajamento a fazer todos os esforços para dar um novo impulso ao emprego; isto significa preocupar-se pela dignidade da pessoa; mas, sobretudo, gostaria de dizer que não percam a esperança; também são José enfrentou momentos difíceis, mas nunca perdeu a confiança e soube superá-los, na certeza de que Deus não nos abandona. E depois gostaria de me dirigir especialmente a vós, rapazes e moças, a vós jovens: comprometei-vos no vosso dever quotidiano, no estudo, no trabalho, nas relações de amizade, na ajuda aos outros; o vosso futuro depende também do modo como souberdes viver estes anos preciosos da vossa vida. Não tenhais medo do compromisso, do sacrifício, e não olheis para o futuro com temor; mantende viva a esperança: há sempre uma luz no horizonte.

Acrescento uma palavra sobre outra particular situação de trabalho que me preocupa: refiro-me àquele que poderíamos definir como o «trabalho escravo», o trabalho que escraviza. Quantas pessoas, no mundo inteiro, são vítimas deste tipo de escravidão, em que é a pessoa que serve o trabalho, enquanto é o trabalho que deve oferecer um serviço às pessoas, para que tenham dignidade. Peço aos irmãos e às irmãs na fé, e a todos os homens e mulheres de boa vontade, uma opção decidida contra o tráfico de pessoas, no âmbito do qual se enquadra o «trabalho escravo».

Para ouvir o Senhor, é necessário aprender a contemplá-lo, a sentir a sua presença constante na nossa vida; é preciso parar e dialogar com Ele

2. Menciono o segundo pensamento: no silêncio do agir quotidiano, são José juntamente com Maria só têm um único centro comum de atenção: Jesus. Eles acompanham e protegem, com compromisso e ternura, o crescimento do Filho de Deus que por nós se fez homem, meditando tudo o que acontecia. Nos Evangelhos, são Lucas sublinha duas vezes a atitude de Maria, que é também de são José: «Conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração» (2, 19.51). Para ouvir o Senhor, é necessário aprender a contemplá-lo, a sentir a sua presença constante na nossa vida; é preciso parar e dialogar com Ele, reservar-lhe espaço mediante a oração. Cada um de nós, também de vós rapazes, moças e jovens, tão numerosos hoje de manhã, deveria interrogar-se: que espaço reservo ao Senhor? Paro para dialogar com Ele? Desde quando éramos crianças, os nossos pais acostumaram-nos a começar e a terminar o dia com uma oração, a fim de nos educar para sentir que a amizade e o amor de Deus nos acompanham. Recordemo-nos mais do Senhor durante os nossos dias!

Seria bom se, sobretudo neste mês de Maio, recitássemos juntos, em família, com os amigos, na paróquia, o Santo Rosário ou alguma oração a Jesus e à Virgem Maria!

E neste mês de Maio, gostaria de evocar a importância e a beleza da prece do Santo Rosário. Recitando o Ave-Maria, somos levados a contemplar os mistérios de Jesus, ou seja, a meditar sobre os momentos centrais da sua vida a fim de que, como para Maria e são José, Ele seja o cerne dos nossos pensamentos, das nossas atenções e das nossas obras. Seria bom se, sobretudo neste mês de Maio, recitássemos juntos, em família, com os amigos, na paróquia, o Santo Rosário ou alguma oração a Jesus e à Virgem Maria! A oração recitada juntos é um momento precioso para tornar ainda mais sólida a vida familiar, a amizade! Aprendamos a rezar mais em família e como família!

Caros irmãos e irmãs, peçamos a são José e à Virgem Maria que nos ensinem a ser fiéis aos nossos compromissos diários, a viver a nossa fé nos gestos de todos os dias, a reservar mais espaço ao Senhor na nossa vida e a pararmos para contemplar o seu Rosto. Obrigado!

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PAPA BENTO XVI

ANGELUS

III Domingo de Quaresma, 19 de março de 2006
Solenidade de São José

Queridos irmãos e irmãs!

Celebra-se hoje, 19 de Março, a solenidade de São José, mas coincidindo com o terceiro Domingo de Quaresma, a sua celebração litúrgica foi adiada para amanhã. Contudo, o contexto mariano do Angelus convida a deter-se hoje em veneração sobre a figura do esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria e Padroeiro da Igreja universal. Apraz-me recordar que era muito devoto de São José também o amado Papa João Paulo II, o qual lhe dedicou a Exortação apostólica Redemptoris Custos Guarda do Redentor e certamente experimentou a sua assistência na hora da morte.

A sua grandeza, ao mesmo nível da de Maria, sobressai ainda mais porque a sua missão se desempenhou na humildade e no escondimento da casa de Nazaré.

A figura deste grande Santo, mesmo sendo bastante escondida, reveste na história da salvação uma importância fundamental. Antes de tudo, pertencendo ele à tribo de Judá, ligou Jesus à descendência davídica, de forma que, realizando as promessas sobre o Messias, o Filho da Virgem Maria se pôde tornar verdadeiramente "filho de David". O Evangelho de Mateus, de modo particular, ressalta as profecias messiânicas que encontraram cumprimento mediante o papel de José: o nascimento de Jesus em Belém (2, 1-6); a sua passagem através do Egipto, onde a Sagrada Família se tinha refugiado (2, 13-15); a alcunha "Nazareno" (2, 22-23). Em tudo isto ele demonstrou-se, ao mesmo nível da esposa Maria, herdeiro autêntico da fé de Abraão: fé no Deus que guia os acontecimentos da história segundo o seu misterioso desígnio salvífico. A sua grandeza, ao mesmo nível da de Maria, sobressai ainda mais porque a sua missão se desempenhou na humildade e no escondimento da casa de Nazaré. De resto, o próprio Deus, na Pessoa do seu Filho encarnado, escolheu este caminho e este estilo a humildade e o escondimento na sua existência terrena.

O exemplo de São José é para todos nós um forte convite a desempenhar com fidelidade, simplicidade e humildade a tarefa que a Providência nos destinou.

O exemplo de São José é para todos nós um forte convite a desempenhar com fidelidade, simplicidade e humildade a tarefa que a Providência nos destinou. Penso antes de tudo, nos pais e nas mães de família, e rezo para que saibam sempre apreciar a beleza de uma vida simples e laboriosa, cultivando com solicitude o relacionamento conjugal e cumprindo com entusiasmo a grande e difícil missão educativa. Aos sacerdotes, que exercem a paternidade em relação às comunidades eclesiais, São José obtenha que amem a Igreja com afecto e dedicação total, e ampare as pessoas consagradas na sua jubilosa e fiel observância dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência. Proteja os trabalhadores de todo o mundo, para que contribuam com as suas várias profissões para o progresso de toda a humanidade, e ajude cada cristão a realizar com confiança e com amor a vontade de Deus, cooperando assim para o cumprimento da obra da salvação.

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S. JOSEMARIA

TRECHO DA HOMILIA "NA OFICINA DE JOSÉ"

pronunciada no dia 19 de março de 1963

Ouvir a homilia áudio:

Texto completo da homilia "Na Oficina de José"

Tanto S. Mateus como S. Lucas nos falam de S. José como varão descendente de uma estirpe ilustre: a de David e de Salomão, reis de Israel. Historicamente, os pormenores dessa descendência são algo confusos. Não sabemos qual das duas genealogias que os evangelistas trazem corresponde a Maria - Mãe de Jesus, segundo a carne - e qual a S. José, que era seu Pai segundo a lei judaica. Nem sabemos se a cidade natal de José era Belém, onde se dirigiu para se recensear, ou Nazaré, onde vivia e trabalhava.

Sabemos (...) [que S. José] não era uma pessoa rica; era um trabalhador como milhões de homens no mundo.

Sabemos, no entanto, que não era uma pessoa rica; era um trabalhador como milhões de homens no mundo. Exercia o ofício fatigante e humilde que Deus escolheu também para Si quando tomou a nossa carne e viveu trinta anos como uma pessoa mais entre nós.
A Sagrada Escritura diz que José era artesão. Vários Padres acrescentam que foi carpinteiro. S. Justino, falando da vida de trabalho de Jesus, afirma que fazia arados e jugos. Baseando-se talvez nestas palavras, Santo Isidoro de Sevilha concluiu que José era ferreiro. De qualquer modo era um operário que trabalhava ao serviço dos seus concidadãos, que tinha uma habilidade manual, fruto de anos de esforço e de suor.

[S. José] sabe enfrentar-se com os problemas, superar as situações difíceis, assumir com responsabilidade e iniciativa os trabalhos que lhe são encomendados.

Das narrações evangélicas depreende-se a grande personalidade humana de S. José: em nenhum momento nos aparece como um homem diminuído ou assustado perante a vida; pelo contrário, sabe enfrentar-se com os problemas, superar as situações difíceis, assumir com responsabilidade e iniciativa os trabalhos que lhe são encomendados.
Não estou de acordo com a forma clássica de representar S. José como um homem velho, apesar da boa intenção de se destacar a perpétua virgindade de Maria. Eu imagino-o jovem, forte, talvez com alguns anos mais do que a Virgem, mas na pujança da vida e das forças humanas.
Para viver a virtude da castidade não é preciso ser-se velho ou carecer de vigor. A castidade nasce do amor; a força e a alegria da juventude não constituem obstáculo para um amor limpo. Jovem era o coração e o corpo de S. José quando contraiu matrimónio com Maria, quando conheceu o mistério da sua Maternidade Divina, quando vivei junto d'Ela respeitando a integridade que Deus lhe queria oferecer ao mundo como mais um sinal da sua vinda às criaturas. Quem não for capaz de compreender um amor assim conhece muito mal o verdadeiro amor e desconhece por completo o sentido cristão da castidade.

E que pode esperar da vida um habitante de uma aldeia perdida, como era Nazaré? Apenas trabalho, todos os dias, sempre com o mesmo esforço

Como dizíamos, José era artesão da Galileia, um homem como tantos outros. E que pode esperar da vida um habitante de uma aldeia perdida, como era Nazaré? Apenas trabalho, todos os dias, sempre com o mesmo esforço. E, no fim da jornada, uma casa pobre e pequena, para recuperar as forças e recomeçar o trabalho no dia seguinte.
Mas o nome de José significa em hebreu Deus acrescentará. Deus dá à vida santa dos que cumprem a sua vontade dimensões insuspeitadas, o que a torna importante, o que dá valor a todas as coisas, o que a torna divina. À vida humilde e santa de S. José, Deus acrescentou - se me é permitido falar assim - a vida da Virgem Maria e a de Jesus Nosso Senhor. Deus nunca se deixa vencer em generosidade. José podia fazer suas as palavras que pronunciou Santa Maria, sua Esposa: Quia fecit mihi magna qui potens est, fez em mim grandes coisas Aquele que é todo poderoso quia respexit humilitatem, porque pôs o seu olhar na minha pequenez.
José era efectivamente um homem corrente, em quem Deus confiou para realizar coisas grandes. Soube viver exactamente como o Senhor queria todos e cada um dos acontecimentos que compuseram a sua vida. Por isso, a Sagrada Escritura louva José, afirmando que era justo. E, na língua hebreia, justo quer dizer piedoso, servidor irrepreensível de Deus, cumpridor da vontade divina; outras vezes significa bom e caritativo para com o próximo.
Numa palavra, o justo é o que ama a Deus e demonstra essa amor, cumprindo os seus mandamentos e orientando toda a sua vida para o serviço dos seus irmãos, os homens.