Ruth Pakaluk: esposa, mãe, amiga, ativista

Ruth Pakaluk era uma mulher extraordinariamente carinhosa e com talento. Entrou na Universidade de Harvard como ateia pro-choice. Após a sua conversão ao catolicismo, dedicou-se a educar a família e ao ativismo pró-vida. Aos 33 anos, Ruth foi diagnosticada com cancro. Pouco antes de morrer em paz aos 41 anos, escreveu a uma amiga: “Amei a vida que Deus me deu. Não há outra vida que eu preferisse ter vivido”.

Este esboço de Ruth Pakaluk provém do livro e podcast de John Coverdale “Encounters: Finding God in All Walks of Life”. Encounters apresenta perfis de pessoas que vivem a mensagem de São Josemaria: encontrar Deus na vida quotidiana.

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Ruth Pakaluk converteu-se do ateísmo ao cristianismo em Harvard e tornou-se católica um ano após a sua formatura. Mãe de sete filhos, estava profundamente envolvida no movimento pela Vida e desempenhou um papel ativo na sua paróquia e na organização das atividades apostólicas do Opus Dei. Foi diagnosticada com cancro da mama aos trinta e quatro anos, mas continuou a viver uma vida normal até um mês antes da sua morte, sete anos depois, em setembro de 1998, aos quarenta e um anos.

De ateia a católica, passando por evangélica

Ruth nasceu Ruth Elizabeth Van Kooy em 19 de março de 1957, em South Orange, New Jersey, uma cidade suburbana nos arredores da cidade de Nova Iorque. O pai era engenheiro eletrotécnico. Em vez de exercer engenharia, lecionou numa escola profissional como forma de contribuir para a sociedade. A mãe ficou em casa enquanto as crianças eram muito pequenas, mas depois trabalhou como secretária executiva. No ensino secundário, Ruth produziu, dirigiu e atuou em inúmeras peças e musicais sob os auspícios de um grupo de teatro fundado e administrado por estudantes. Era uma excelente cantora, escolhida para o coro All-Eastern. Também era uma pianista talentosa e tocava oboé, flauta, violino e bombo em vários grupos musicais. Ruth era boa atleta e jogava na equipa de hóquei em campo. Na sua infância, frequentou uma igreja presbiteriana com a família, mas na adolescência, rejeitou o cristianismo liberal dos seus pais e tornou-se ateia e pro-choice.

Durante o seu último ano no ensino secundário, Ruth considerou tirar um curso numa escola de hospedeiras de bordo porque “o que é preciso fazer é só sorrir, e pode-se ver o mundo”. Também pensou em ir para a Universidade McGill, onde o rapaz com quem ela estava a ter o que ela descreveu no final de sua vida como “um romance quase de conto de fadas” planeava ir. Por sugestão de um ex-aluno local do Radcliffe College, candidatou-se à Universidade de Harvard. Não podia recusar a oferta porque, se tivesse recusado, “eu nunca saberia se poderia competir com os melhores”.

Ruth saiu-se tão bem no seu ano de caloira que foi convidada para ser monitora no ano seguinte no curso Espaço, Tempo, Movimento. No segundo ano, a cadeira que lhe foi atribuída incluía o relato do governador Bradford sobre como os Pilgrims sobreviveram ao seu primeiro inverno extremamente frio na América. Ficou impressionada com o heroísmo e sacrifício com que eles cuidaram uns dos outros durante a doença que varreu a colónia e contrastou isso com a sua própria vida hedonista e autocentrada. “Quero viver como eles – pensou consigo mesma –. Nem quero saber se o que essas pessoas acreditavam é verdade. Quero viver como elas”. Apesar da sua confissão de que não se importava se o Cristianismo era verdadeiro, logo resolveu procurar uma verdade na qual pudesse acreditar.

Alguns anos depois, Ruth escreveu a uma amiga: «Assim que cheguei (ou melhor, regressei) à convicção de que Deus existe, parecia óbvio que a única coisa racional a fazer era descobrir mais sobre Ele e o que Ele queria, já que, por definição, Deus é infinitamente mais valioso e importante do que qualquer outra coisa. Agora é difícil para mim lembrar ou imaginar como uma pessoa pode ter uma crença em Deus e ainda assim não pensar que é imperativo que ela se esforce para colocar Deus no centro da sua consciência. Fazer isso pode parecer terrivelmente cansativo para ti, mas consideremos: a Igreja sempre ensinou que Deus fez o homem de tal forma que ele não pode deixar de desejar a felicidade, mas só podemos ser felizes (verdadeiramente felizes, em oposição a momentaneamente divertidos ou distraídos) estando unidos a Ele. Então, voltar a atenção constantemente para Deus seria a coisa mais natural a fazer por qualquer pessoa».

Entre os alunos da secção de Ruth da cadeira sobre Espaço, Tempo, Movimento, estava Michael Pakaluk, um católico não praticante que entrou em Harvard como cético em matéria de religião. Depois de escapar por pouco da morte por afogamento durante o verão entre o primeiro e o segundo ano, partiu em busca de determinar se o cristianismo era verdadeiro. Michael e Ruth começaram a namorar e cedo se apaixonaram perdidamente. Segundo Michael, a sua “paixão parecia inseparável de serem fiéis a um anseio comum de investigar se o cristianismo poderia ser verdadeiro”. Nenhum deles conhecia um único universitário ou professor que fosse cristão, de modo que a sua determinação em descobrir se o cristianismo era verdadeiro imediatamente se tornou aquilo que os unia.

Tanto Ruth como Michael estavam convencidos de que o fator-chave era o modo como se vivia. No final do segundo ano, concluíram que para viver uma vida cristã era preciso pertencer a uma comunidade cristã, pelo que começaram a frequentar a United Church Congregational localizada no [parque] Cambridge Common. Com o passar do tempo, ficaram cada vez mais frustrados com o foco exclusivo da igreja em questões sociais e políticas e a sua falta de interesse em teologia ou espiritualidade. Embora continuassem a frequentar os cultos lá, juntaram-se à Evangelical InterVarsity Christian Fellowship (IVCF) em Harvard. Esperavam encontrar debates intelectuais frequentes sobre temas filosóficos e teológicos. Em vez disso, encontraram entusiasmo emocional e ênfase em manter um clima otimista.

No outono de 1978, Ruth e Michael casaram-se na igreja presbiteriana dos pais dela. Na época, apenas uma meia dúzia de outros estudantes de Harvard eram casados. Os Pakaluks arrendaram um pequeno apartamento e viviam uma vida muito frugal. Tinham um orçamento de vinte dólares por semana para comida, uma quantia muito pequena mesmo naquela época. Conseguiam sobreviver com tão pouco porque estavam profundamente preocupados com a fome no mundo e, consequentemente, tornaram-se vegetarianos. Comprar a granel e evitar alimentos preparados permitiu que comessem por menos de setenta e cinco cêntimos por dia. Pagavam o dízimo, doando dez por cento dos seus rendimentos descontados os impostos, incluindo ajuda financeira, para a igreja deles, a InterVarsity Fellowship, e as duas instituições de solidariedade favoritas, a Oxfam e a Bread for the World, um grupo de advogados de defesa. De início, Ruth e Michael rejeitavam firmemente o catolicismo – Ruth por causa do anticatolicismo da igreja reformada em que cresceu, e Michael porque considerava o catolicismo de nome da sua infância uma religião falsa que impedia a formação de um relacionamento pessoal com Cristo. Ambos ficaram chocados quando Curt, um amigo do pequeno grupo da InterVarsity que Michael liderava, anunciou que estava a receber instrução para se tornar católico. O casal discutiu longamente com ele, mas viu-se incapaz de refutar as suas razões para se tornar católico.

Um fator importante na sua aproximação à Igreja Católica foi o livro de Malcolm Muggeridge sobre a Madre Teresa. Como Michael recorda: «A Madre Teresa era claramente uma mulher profundamente devota, uma verdadeira seguidora de Cristo, que era, além disso, santa. E isso colocava-nos um problema. Como poderia ser que uma forma falsa e apóstata de cristianismo fosse o lugar onde alguém encontrou o que nos parecia uma verdadeira avaliação do sofrimento, da devoção e da santidade? Havia um argumento na Igreja primitiva sobre Cristo: ou era um homem mau, ou era Deus, mas não havia termo médio. Ele não podia ser simplesmente um bom professor de moral. Nós sentíamos vagamente que estávamos a encontrar um dilema semelhante aqui. A Igreja Católica era muito má ou muito boa. No entanto, a Madre Teresa estava a tornar a primeira opção insustentável».

Leram muitos livros sobre a Igreja Católica e a história dos primeiros tempos do cristianismo, especialmente os escritos do jesuíta Padre John Hardon. Gradualmente, passaram a aceitar as posições da Igreja sobre aborto e contraceção e a admirar a sua coragem a defendê-las. Por volta do Natal de 1978, decidiram parar de usar a contraceção. Michael explica a decisão de ambos: «As atitudes fomentadas pela contraceção (a mentalidade “contracetiva”) são contrárias às atitudes que um cristão devia ter. Os cristãos, durante séculos, sempre rejeitaram a contraceção. Era fácil acreditar que a mudança na doutrina da maioria das igrejas cristãs sobre esse assunto era um exemplo do mesmo tipo de “secularização” – ir com a corrente – que aparecia nas igrejas em relação ao aborto, o que era inquestionavelmente errado e anticristão. Ao mesmo tempo, pensámos, não seria surpreendente se a rejeição da contraceção fosse uma espécie de “teste” de fidelidade real a Cristo no mundo moderno. Da forma como víamos, cada geração tinha o seu teste – para cada geração de cristãos havia alguma prática que o mundo abraçava e os cristãos tinham de rejeitar, ou que o mundo rejeitava e os cristãos tinham de abraçar – uma prática que exigiria sacrifício; uma prática que para “o mundo” não fazia sentido, mas que para os cristãos era evidentemente o caminho do verdadeiro discípulo de Cristo. Dado que provavelmente haveria tal teste, parecia-nos que a contraceção era uma candidata provável a esse tipo de assunto. Portanto, decidimos que, como seguidores de Cristo, deveríamos parar de usar anticoncetivos. No entanto, a questão maior de se deveríamos tentar conceber uma criança não era nada com que nos tivéssemos comprometido. Éramos estudantes e pura e simplesmente presumíamos que não deveríamos ter um bebé».

Na primavera de 1980, Ruth e Michael estavam a inclinar-se para a Igreja Católica. Como Michael tinha ganho uma bolsa Marshall para estudar em Edimburgo, no entanto, e eles iriam mudar-se para a Escócia por dois anos no outono, não queriam tomar uma decisão imediata. Quando chegaram à Escócia, Ruth já se tinha decidido, embora Michael ainda tivesse algumas dúvidas. Em Edimburgo, ambos começaram a receber instrução sobre a fé católica na capelania católica da universidade. Ruth escreveu aos seus sogros: «A vida está a ir tão bem para nós – muitas vezes fico surpreendida com a quantidade e a qualidade das nossas bênçãos. Podem bem vir tempos mais difíceis – isso está sempre nas mãos todo-poderosas de Deus – mas não me preocupo. Quão poucas pessoas recebem numa vida todas as alegrias que tive em apenas dois anos!». Na véspera de Natal, Michael fez uma confissão geral e recebeu a comunhão, e Ruth foi recebida na Igreja e confirmada.

Pouco depois, começaram a frequentar a Missa diária. Michael explica a decisão de ambos: «Insistimos que a nossa conversão ao catolicismo não mudou o facto de que éramos cristãos evangélicos. Agora éramos evangélicos que eram católicos, que acreditavam que o que amávamos e buscávamos no cristianismo evangélico estava protegido e encontrado na sua forma mais intensa nos santos da Igreja Católica. Como evangélicos, acreditávamos que deveríamos ter um “tempo de silêncio” diário, em que conversássemos com Cristo, desenvolvendo um relacionamento pessoal com Ele. Queríamos chegar o mais perto possível de Cristo – é por isso que queríamos ser como os primeiros cristãos tanto quanto possível. Passámos a ver a Missa como a Ceia do Senhor transcendendo o tempo. Ir à Missa era estar à mesa da Ceia do Senhor, ao lado dos apóstolos, e completamente em pé de igualdade com eles no que diz respeito à nossa proximidade com Cristo. Os primeiros cristãos não tinham prioridade que não fosse também desfrutada por quem simplesmente frequentava a Missa. Mas dado que é assim, então, raciocinámos, que melhor oração poderia haver, e que melhor maneira de crescer no relacionamento pessoal com Cristo que buscávamos, do que frequentar a Missa e rezar lá? Assim, a nossa prática do “tempo de silêncio” diário levou naturalmente à Missa diária. Não que não pretendêssemos também rezar silenciosamente e “em segredo” noutros momentos do dia; mas pareceu-nos que o primeiro tempo livre para a oração, as “primícias” do nosso tempo, por assim dizer, deveriam ser dadas à Missa».

Ruth e Michael acharam difícil manter o seu propósito de ir à Missa todos os dias. Conseguiam alguns dias ou uma semana e escorregavam uma semana ou duas. Ambos sentiam que isso era inaceitável. Reconheciam que precisavam de alguma ajuda, mas não sabiam o que poderia ser, ou que forma poderia assumir. Anos mais tarde, quando conheceram pela primeira vez o Opus Dei, acharam que era exatamente do que estavam à procura.

O primeiro filho, Michael, nasceu em 27 de novembro de 1981. Segundo o marido, o seu nascimento tornou Ruth muito mais altruísta. Lembra que: «duas vezes durante a noite [Michael] fez alguns sons leves de agitação, e Ruth imediatamente se levantou no escuro para pegar-lhe ao colo e amamentá-lo. Essa dedicação surpreendeu-me. Claro, faz sentido: quando um bebé chora à noite, temos de alimentá-lo. Mas eu nunca tinha visto esse tipo de altruísmo direto e espontâneo em Ruth. Ela não resmungou nem ficou na cama um só momento. O bebé fazia qualquer som, e ela levantava-se de um salto para cuidar dele».

O nascimento de Michael também transformou a atitude de Ruth em relação ao aborto. Durante o ano anterior, ela tinha estudado o assunto em profundidade e tinha-se convencido intelectualmente de que o aborto envolvia tirar uma vida humana inocente. Essa convicção foi reforçada pela sua aceitação do ensinamento da Igreja sobre o assunto. Estava profundamente convencida, mas não estava visceralmente comprometida com a causa pró-vida. O marido percebeu que, com o nascimento de Michael, começou a olhar para a controvérsia do aborto a uma luz nova e mais urgente. Ela observou essa mudança em si mesma, escrevendo naquela época, em relação ao aborto sofrido por uma amiga, que ela já não era capaz de ser “filosófica sobre as mortes dos filhos de outras pessoas” e que “o que parecia triste e trágico antes, agora é simplesmente terrível de contemplar”. A sua oposição ao aborto estava agora enraizada na sua própria maternidade e não era simplesmente a conclusão fria e intelectual de um argumento filosófico.

No verão de 1982, depois de dois anos na Escócia, os Pakaluks regressaram a Harvard, onde Michael começou a preparar um doutoramento em Filosofia. Durante os seis anos em que permaneceriam em Harvard, tiveram mais dois filhos, Max (junho de 1983) e John Henry (março de 1986), e uma filha, Maria (outubro de 1987). Por momentos consideraram a hipótese de creche, mas Ruth decidiu que não queria que os seus filhos fossem criados por pessoas que, embora pudessem ser competentes e até bondosas, os não amavam.

Para complementar a magra bolsa de Michael, Ruth aceitou um emprego de part time fazendo contabilidade e serviços gerais de escritório para o senhorio. O trabalho teria parecido extremamente maçador para a maioria das pessoas com a sua inteligência e estudos, mas ela concentrou-se no lado bom e escreveu a uma amiga: “É um trabalho divertido, muito conveniente e bem pago”.

Membro do Opus Dei

Na Escócia, um amigo dera aos Pakaluks um exemplar do livro de São Josemaria, Caminho, mas o seu primeiro contacto com o Opus Dei ocorreu quando um estudante de pós-graduação de Harvard viu Michael na Missa diária e o convidou para uma recoleção ao fim da tarde pregada no Centro do Opus Dei perto de Harvard pelo Padre Sal Ferigle. Michael ficou profundamente impressionado com o que ouviu. Como recorda, pensou: “Esta é a fé católica à qual me converti. Isto é o que li em livros escritos por santos e nos documentos da Igreja primitiva”. Combinou imediatamente começar a direção espiritual com o Padre Sal e assistir às suas aulas sobre doutrina católica.

Quando Michael explicou a Ruth o que tinha aprendido sobre o Opus Dei, ela concordou que parecia ser exatamente do que eles andavam à procura: «Desde que nos convertemos ao catolicismo, estávamos cientes de que precisávamos de algum tipo de ajuda, alguma “estrutura externa” (como explicaríamos a nós mesmos), na prática da vida interior. Estávamos cientes, em primeiro lugar, de que precisávamos de um diretor espiritual. ... Os padres do Opus Dei eram homens da Igreja evidentemente santos e conhecedores que estavam disponíveis para dar tal direção. Em segundo lugar, percebemos que não tínhamos conseguido ser constantes a ir à Missa e rezar as nossas orações. Fazíamos isso melhor ou pior, dependendo da dificuldade das circunstâncias ou dos nossos sentimentos subjetivos; e, no entanto, aparentemente havia muitos membros do Opus Dei que estavam consistentemente a viver uma vida exigente de devoção durante muitos anos e no meio de todas as dificuldades da vida».

Ruth começou logo a frequentar as atividades de formação do Opus Dei e a receber orientação espiritual pessoal do Pe. Sal, a quem ela considerava “o padre mais santo que já conheci”. Da sua parte, o Pe. Sal ficou profundamente impressionado com Ruth, e particularmente com o seu empenho apostólico.

Cerca de um ano depois, no verão de 1984, Ruth tornou-se supranumerária do Opus Dei. Michael tinha entrado para a Obra alguns meses antes. Começaram a viver o plano de vida dos membros, a frequentar círculos e outros meios de formação espiritual e a realizar um apostolado silencioso baseado na amizade.

Também começaram a ganhar amizades com outras pessoas ligadas ao Opus Dei, particularmente Jan e Tom Hardy. Na época, os Hardys tinham seis filhos, o que pareceu a Michael um número inacreditavelmente alto. “Como é que conseguiam lidar com isso?”, questionavam-se ele e Ruth. “Como era possível lidar com tantas crianças e pagar as contas?”. Mas quando viram a combinação de idealismo cristão, bom senso e ética de trabalho duro dos Hardys – e que eles não eram críticos insensatos da cultura pro-choice – ficaram imediatamente impressionados e queriam passar o máximo de tempo possível com eles.

Ativista pela vida

O envolvimento de Ruth no ativismo pela vida foi desencadeado por um debate em que ela participou em Harvard. Ficou impressionada com os argumentos poderosos apresentados pelo porta-voz pela vida e, acima de tudo, pela relutância do porta-voz pró-aborto em aceitar o argumento de que o aborto envolve matar um ser humano inocente. Com Paul Swope, um estudante de pós-graduação na Harvard School of Education, fundou um grupo chamado Harvard-Radcliffe Human Life Advocates.

Passado algum tempo, foram tantos os moradores de Cambridge não ligados à universidade que se envolveram que Ruth decidiu formar um segundo grupo, chamado Cambridge Unborn Rights Advocates (CURA). Num ano, o CURA tinha mais de trezentos membros ativos e estava a patrocinar uma variedade de atividades em Cambridge, incluindo campanhas de angariação de fundos para a organização estadual pelo direito à vida, Massachusetts Citizens for Life (MCFL); um jantar anual com um palestrante de destaque; palestras educativas; envio de autocarros para a Marcha Anual pela Vida em Washington, DC; distribuição de panfletos porta a porta; recolha de alimentos, roupas e artigos para bebés para futuras mães. O CURA via a sua própria missão principalmente como educacional, mas muitos membros do CURA também se voluntariaram para centros de crise dirigidos a grávidas e trabalharam em campanhas de políticos pró-vida.

Membro da Direção da Massachusetts Citizens for Life

Um membro da Direção da Massachusetts Citizens for Life relata que quando conheceu Ruth, a sua “primeira impressão foi que ela era linda – fisicamente linda – incrivelmente articulada e muito inteligente. Pensei: ‘Eis alguém que precisamos de preparar’. Soubemos imediatamente que Ruth seria uma estrela”.

Em 1984, a pedido dos funcionários da MCFL que ficaram impressionados com a vitalidade do CURA, Ruth concorreu e conseguiu um lugar na direção da organização estadual. Cedo se viu a liderar um esforço para aprovar uma emenda constitucional estadual para limitar os direitos ao aborto aos explicitamente reconhecidos pelo Supremo Tribunal dos Estados Unidos. A emenda falhou por uma pequena margem, mas o debate público sobre a questão deu muitas oportunidades para transmitir a visão a favor da vida.

Atividade política e social

Pouco antes das eleições presidenciais de 1984, Ruth escreveu a uma amiga: «Estou prestes a inscrever-me no Partido Republicano. O apoio incondicional do Partido Democrata ao aborto foi o que motivou a minha mudança, mas, ao pensar em outras questões, percebo que estou mais próxima da mentalidade de livre iniciativa e do Estado mínimo da atual Administração. Tenho sérias reservas quanto a essa abordagem em áreas como poluição. Tenho sérias reservas quanto ao aumento de armas, mas sei que o aborto mata um membro da espécie humana. Isso não é uma crença religiosa; é simplesmente um facto biológico».

Poucos meses depois da eleição, disse à mesma amiga: «Votei em Reagan. Até pedi para outros fazerem o mesmo e coordenei a distribuição de aproximadamente 3 mil panfletos com o objetivo de persuadir as pessoas a fazerem o mesmo. A minha única razão para fazer isso (ou melhor, a razão primordial para eu fazer isso) é a questão do aborto. É bem óbvio para mim que o aborto mata seres humanos. Costumava perguntar-me: se eu tivesse vivido sob Hitler, teria falado em defesa do massacre de seres humanos inocentes? Eu ainda não sei o que faria se o preço de falar fosse a minha própria morte, mas é inconcebível para mim que pudesse ficar sentada de braços cruzados enquanto a nossa sociedade tolera o assassinato de crianças inocentes. Eu não gosto de panfletos. Não gosto de piquetes, não gosto de ativismo político; mas não tenho a liberdade de escolher permanecer em silêncio».

Embora focada principalmente no aborto, Ruth também estava preocupada com a pobreza e a fome no mundo. Apesar do orçamento muito apertado da família, os Pakaluks continuaram a doar generosamente para organizações como Bread for the World, Catholic Relief ServicesOxfam. Ruth também reservou um tempo para escrever cartas a pedir aos Estados Unidos que tratassem os países pobres de forma mais justa.

Presidente da Massachusetts Citizens for Life

Em 1987, Ruth foi eleita presidente da MCFL. Junto com Paul Swope, trabalhou para modernizar os escritórios, aumentar as capacidades de angariação de fundos e desenvolver a capacidade do grupo para emitir comunicados de imprensa rapidamente em resposta a notícias dadas. Sob a liderança de Ruth, a MCFL cresceu substancialmente. A capacidade da organização para o lobby expandiu-se e ela conseguiu rejeitar em comissão algumas propostas de legislação estadual a favor dos direitos ao aborto.

Poucos meses após a sua eleição, escreveu a uma amiga: «Agora sou presidente da nossa organização estadual a favor da vida. É bem emocionante. Tenho de contratar funcionários, lidar com a imprensa frequentemente, tomar decisões sobre sistemas de computador, fazer pesquisas de mercado, etc. Graças a Deus não tenho um emprego das 9 às 5, como a maioria dos presidentes anteriores teve. Levar três rapazes comigo já é suficientemente difícil, mas eles são muito mais flexíveis do que um chefe».

O talento de Ruth para falar em público sobre aborto e outras “questões da vida” tornou-se notório quando, como presidente da MCFL, foi convidada a aparecer em noticiários ou a falar nos campus. Ela preferia debates a discursos. Mesmo que os organizadores de um evento não tivessem planeado fazer um debate, tentava persuadi-los a convidar um orador pro-choice. “Se se fizer um discurso, vão aparecer algumas dezenas de pessoas, que já estão convencidas. Mas se se fizer um debate, vão comparecer algumas centenas, muitas das quais realmente querem saber”.

Worcester, Massachusetts

Em 1987, os Pakaluks mudaram-se para Worcester, Massachusetts, uma cidade de cerca de 150 mil habitantes, quarenta milhas a oeste de Boston, onde Michael tinha encontrado lugar na Clark University, uma instituição distinta da área de Letras. Do ponto de vista académico, a nomeação era atraente, mas pagava mal. Procurar uma casa revelou, nas palavras de Mike, “a realidade de que a economia dos EUA já não era projetada para famílias sustentadas por um único ordenado. A realidade era que mesmo a casa inicial mais barata no bairro menos atraente de uma cidade relativamente barata não era acessível para nós, porque agora eram dois os ordenados que geralmente corriam atrás dos preços das casas”. O melhor que eles conseguiram foi uma pequena casa em mau estado, num bairro de imigrantes ilegais. Quando se mudaram, não tinham água quente, as carpetes tinham quarenta anos, quase não tinham móveis, o fogão e o frigorífico precisavam urgentemente de ser substituídos e carro tinha quinze anos.

Trabalharam no duro para manter as despesas no mínimo. Numa ocasião, estavam a visitar um casal, ambos profissionais de marketing bem-sucedidos. Eles perguntaram a Ruth por que razão comprava um produto em vez de outro.

— “É fácil – disse ela –, calculo o custo por unidade e compro a marca mais barata”.

— “Não tem nenhuma preferência por marcas? Não gosta mais de pasta de dentes Crest em vez de Colgate, por exemplo?”.

— “Crest ou Colgate? – respondeu Ruth –. Só pode estar a brincar comigo. Essas são muito caras, mesmo quando estão em promoção”.

Apesar do seu rendimento baixo, os Pakaluks viviam dentro das suas possibilidades e não sentiam que precisassem cada vez de mais dinheiro. Continuaram a pagar o dízimo. Um ano, quando descobriram que iriam receber um reembolso de imposto inesperadamente considerável, acharam que era muito para gastar consigo mesmos, então deram à Catholic Relief Services para pessoas pobres que, segundo julgavam, precisavam do dinheiro mais do que eles.

Mike recorda que, embora com dificuldades financeiras, «A nossa casa era alegre e, à sua maneira, abençoada com abundância. Por exemplo, todos os dias, quando a escola terminava, Ruth tinha algo cozinhado à espera dos filhos e dos amigos; ou, num dia quente de verão, punha todos no carro, amigos e tudo, e levava-os para Bell Pond ou Rutland State Park para nadar».

Cerca de um ano depois de se mudarem para Worcester, Ruth foi convidada a pertencer ao coro profissional da catedral. Ficou encantada e escreveu a uma amiga: «Estou a cantar num coro novamente. Não em qualquer coro à antiga, mas no coro da catedral, um coro profissional. Entende bem: sou paga para sair sem as crianças e cantar músicas lindas. Nem me convenço bem disso. Não sou um dos melhores cantores, mas estou a trabalhar por isso. Já passou muito tempo desde a última vez que me concentrei em estar no tom. Para minha sorte, ainda leio à primeira vista razoavelmente bem e conto melhor do que a maioria deles (porque será que os cantores geralmente são maus contadores?)».

Morte de um filho

O quinto filho dos Pakaluks, Thomas, nasceu em setembro de 1989. Sete semanas após o seu nascimento, morreu de síndrome da morte súbita infantil. A família ficou devastada, mas Ruth e Michael abraçaram o seu sofrimento e viram nele, nas palavras de Michael, “uma ‘misericórdia dura’, uma partilha na Cruz de Cristo que traria muitas bênçãos e graças”. Imediatamente após o funeral de Thomas, Michael queria ir para casa, ficar sozinho com a família e talvez dormir. Ruth queria comemorar. Saindo da igreja após a Missa fúnebre, ela juntou as mãos, sorriu imenso e disse: “Ok, vamos fazer uma festa!”. Queria comemorar o facto de Thomas ter conquistado as alegrias do Céu.

O seu desejo de celebrar que Thomas estivesse no Céu não significava que ela não sentisse a perda do seu filho pequeno ou que deixasse de lamentar a sua perda. Quando alguém comentou que, como Thomas estava no Céu, ele não tinha realmente sofrido nenhuma perda, Ruth respondeu que Thomas tinha perdido o “crescer como rapaz e aproveitar todas as belezas e alegrias do mundo que Deus tinha criado”.

Poucos anos depois, uma amiga que tinha acabado de perder um filho pequeno, perguntou a Ruth se era verdade que a ferida daquela perda nunca desaparece. Ruth respondeu: «A ferida espiritual ou emocional, a tristeza, é muito parecida com uma ferida física. E cura-se sem nos apercebermos. Não podes funcionar com o teu coração a sangrar pelo chão. E o teu filho sabe disso. No entanto, não há um dia que passe sem que eu recorra a Thomas para alguma coisa. Encontra alguma devoção ao teu filho e insere-a na tua vida de oração diária. Dessa forma, não tens medo de rasgar a ferida ou esquecer».

A própria Ruth tinha o hábito de beijar o seu escapulário castanho todos os dias quando o colocava de novo após o banho, dizendo: «Que este beijo seja um sinal de afeto por Maria, minha Mãe no Céu, pedindo-lhe que transmita alguma expressão de afeto ao meu filho Thomas, pedindo-lhe que reze pela mãe, que reze pelo pai, que reze pelos irmãos, avós e primos, que reze pelas intenções do Padre [o Prelado do Opus Dei] e que reze pelo movimento pela vida».

A sua sensação de que Thomas estava a olhar para ela do Céu ajudou Ruth a tornar-se mais generosa na sua vida interior. Como escreveu a uma amiga: «Thomas já está a fazer um bom trabalho em me manter no caminho certo e estreito. Não é contemplar as feridas de Nosso Senhor ou a Virgem aos pés da cruz que me move a fazer as minhas normas [as práticas de piedade que compõem o plano de vida dos membros do Opus Dei]. É o sentimento de vergonha de que o meu filho pequeno esteja a olhar para mim e a perguntar-se porque é que a sua mãe é tão tola a ponto de pensar que escrever newsletters ou dobrar roupa é mais importante do que rezar».

Michael relembra: “Ruth rezou para que a sua dor pudesse ser consolada por outro filho, e quando Sarah Esther foi concebida menos de um mês após a morte de Thomas e nasceu menos de um ano após a sua morte, à maneira de muitas mulheres da Bíblia, ela considerou essa bênção como uma resposta concreta à sua oração”. Como Ruth mais tarde confidenciou a Sarah: “Trouxeste-me tanta felicidade e consolo emocional, depois da tristeza e do vazio de perder o pequeno Thomas. Foste um grande presente e bênção de Deus para a tua mãe”.

Cancro aos trinta e três anos

Em julho de 1990, enquanto estava grávida de Sarah, Ruth descobriu um caroço na mama, mas o médico garantiu que não havia razão para se preocupar. No outono de 1991, o nódulo estava visível e mostrou-o novamente ao médico. Embora ele tenha descartado mais uma vez o que a preocupava, Ruth insistiu numa mamografia, que revelou um tumor maligno de quatro centímetros. Passou por uma mastectomia radical para cancro em estádio II-B em outubro e começou um tratamento de cinco meses de quimioterapia.

Ruth recuperou rápida e facilmente da cirurgia, mas escreveu a uma amiga: “A quimio é mesmo desagradável. Realmente só me deita abaixo totalmente por dois ou três dias, mas ainda tenho de aguentar uma semana ou mais”. No Natal, confidenciou a outra amiga: “Eu tenho uma paz completa de que Deus vai tirar bem dessa experiência, seja qual for o resultado. Ainda assim, agradeço uma oração extra”.

Numa carta a uma senhora com cancro, disse: «Não vivi uma vida totalmente normal na quimioterapia. Passei muito tempo a pensar, a rezar e a ler. Tentei forçar-me a manter algumas coisas normais, mesmo sentindo-me sobrecarregada. Por exemplo, continuei a fazer apresentações a favor da vida em escolas de ensino secundário. Foi difícil, mas ficava sempre feliz depois disso. Deixar a bebé com a empregada, arranjar-me e sair de casa cedo de manhã muitas vezes parecia impossível na noite anterior, mas eu continuava a insistir e descobri que era capaz de fazê-lo. A espiritualidade católica insiste em “oferecer” os nossos sofrimentos. Isso pode soar um pouco utópico, mas achei muito útil. Jesus veio do Céu para compartilhar a nossa vida. Ele até queria compartilhar a nossa experiência de dor, medo, solidão, sofrimento, etc. Quando vivenciamos essas coisas desagradáveis, ajuda pensar em Jesus sozinho ou em agonia na cruz. Queremos ser como Ele. Queremos compartilhar os Seus sofrimentos com Ele, fazer-Lhe companhia, não adormecer como Pedro, Tiago e João. Ele aceitará a nossa fortaleza paciente diante das provações e as transformará em glória, como a sua ressurreição».

Contou a outra senhora com cancro que, durante a quimioterapia, se sentia constantemente enjoada. «Mas o mais difícil para mim foi o preço que isso teve na minha psique. Nunca fui uma pessoa preocupada, nunca fui sujeita a muita ansiedade ou depressão. Mas enquanto eu estava na quimioterapia, tinha ataques de pânico dramáticos. Estava sentada confortavelmente no sofá e, de repente, o meu coração começava a bater forte, a adrenalina fluía e eu sentia todos os sintomas de terror total. Tentava dissipar os sintomas dizendo a mim mesma que não havia nada a temer, mas não funcionava. Julgo que isso não era um medo reprimido da morte. Era apenas um efeito colateral da quimioterapia e desapareceu semanas após o fim do tratamento. Esse é o aspeto da minha experiência que mais te quero transmitir: a vida após a quimioterapia é ótima. Não importa o quão doente, cansada e deprimida te sentires na altura, voltarás a sentir-te tu mesma quando ela acabar. Acho que algumas pessoas começam a pensar que a maneira como se sentem na quimioterapia é resultado do cancro, mas não é. Na verdade, é apenas da própria quimioterapia».

Algumas semanas depois de terminar a quimioterapia, Ruth relatou a uma amiga: «Estou-me a sentir um ser humano normal novamente. É tão bom sentir-se bem – depois de te sentires leve e vagamente doente por tanto tempo, esquecemo-nos de como é bom sentir-se normal. Nestes dias, estou constantemente em êxtase só de poder sentir o gosto e o cheiro normalmente, etc. Gostaria de poder ficar neste estado e não considerar isso garantido novamente, mas essa é a natureza humana».

O cirurgião de Ruth aconselhou esperar pelo menos três anos antes de tentar ter outro filho. Assim, o risco de recidiva do cancro seria menor. Antes, poderia voltar a qualquer momento e, se voltasse, a gravidez impediria muitas formas de terapia. Além disso, a gravidez poderia encorajar o cancro a crescer mais rapidamente. Ruth e Michael pesaram cuidadosamente o conselho do cirurgião e pediram luz a Deus. Por fim, no entanto, sentiram, como disse Ruth, que “seria melhor viver a vida com a esperança de que o meu cancro não voltaria, em vez de se encolher com medo. Mesmo que a minha vida fosse interrompida por um cancro recorrente, sentimos que seria uma coisa linda dar vida a mais filhos”. Pouco depois, ficou grávida de Anna Sophia, que nasceu em abril de 1993.

Ação judicial por negligência médica

Michael lembra que quando Ruth soube que tinha cancro, a sua primeira reação foi um sentimento de humilhação, de ter sido tonta ou idiota, porque confiou na afirmação do médico: “Não é cancro”, e continuou por aí durante um ano inteiro com um cancro maligno facilmente detetável a crescer dentro da mama. Ela teve um breve período – muito breve, apenas uma questão de um ou dois dias – quando estava em grande turbulência emocional, a sentir-se primeiro muito zangada com o médico, depois sentindo emoções de pena por ele e de perdão.

Resolveu tudo isso muito rapidamente – e fiquei surpreendido com isso. Ela perdoou o seu médico pessoalmente e, até onde pude ver por tudo o que ela fez ou disse, nunca guardou rancor ou qualquer ressentimento contínuo em relação a ele.

Isso, no entanto, não a impediu de iniciar uma ação judicial. A sentença permitiu à família comprar uma casa melhor e pagar mensalidades em colégios católicas e, mais tarde, em faculdades particulares.

Mais atividades pela vida

Após o fim da quimioterapia inicial, Ruth recuperou rapidamente as forças e retomou as suas atividades vertiginosas. Por cerca de um ano e meio, ela desfrutou do que parecia ser boa saúde. Além da gestão da casa e de continuar com as atividades do Opus Dei, como dar uma palestra semanal para cooperadoras do Opus Dei, tinha uma agenda cheia de compromissos de palestras a favor da vida na Harvard Divinity School, Mount Holyoke College, MIT, Columbia, Fordham, Brandeis, Brown e Amherst.

Após a decisão Casey do Supremo Tribunal em 1992, Ruth sentiu que não fazia mais sentido focar-se em anular Roe. Nas suas atividades pró-vida, incluindo muitas apresentações para estudantes do ensino secundário, o seu objetivo era, como ela disse numa entrevista, persuadir as suas ouvintes: «de que elas próprias não querem fazer um aborto, ou que se conhecessem alguém que estivesse a pensar em fazer um aborto, poderiam realmente dissuadi-la de fazê-lo. Talvez eu possa persuadir algumas a tornarem-se ativistas, como eu sou. Então é isso que eu tento fazer, persuadir as pessoas de que isso não é uma coisa boa, que existem melhores soluções alternativas».

Segundo Michael, Ruth concebeu a controvérsia do aborto não como uma diferença de opinião em relação a alguma tese filosófica – “o feto é uma pessoa?”, como as pessoas costumam dizer – mas antes como uma diferença entre duas culturas: «dado que (como todos realmente sabem) o que está no útero da mulher é um ser humano vivo, agimos com base no princípio de que todos os seres humanos são fundamentalmente iguais ou procedemos como se acreditássemos que é permitido matar alguns seres humanos para resolver os nossos problemas? A primeira é a Cultura da Vida, e a segunda, a Cultura da Morte. Essas duas culturas, pensou, estavam a competir pela lealdade dos jovens aos quais ela se dirigia, e a sua preocupação era ensiná-los o que eles deveriam saber para poderem escolher a vida».

Ruth não acreditava nas guerras culturais e na retórica que as acompanhava. Procurava constantemente maneiras de construir pontes e encontrar pontos em comum não apenas com os que estavam indecisos, mas até mesmo com os defensores do aborto. Uma das suas adversárias na controvérsia do aborto, uma ex-presidente da Mass Choice, escreveu a expressar a sua solidariedade quando soube que o cancro de Ruth se tinha espalhado para o fígado. Ruth respondeu com uma carta cordial e surpreendentemente íntima: «A única coisa que lamento mais frequentemente sobre a minha situação atual é não ter outro bebé... Para um católico, é realmente uma bênção ter conhecimento quase certo sobre a iminência da morte. Eu aproveitei, ou melhor: saboreei, estes últimos anos mais do que quaisquer outros da minha vida. Quase eliminei da minha agenda as reuniões de comités e permiti apenas que os compromissos de palestras me afastassem da minha família. Fiz os maiores esforços para tornar a nossa vida familiar pacífica, alegre, divertida e amorosa. Acho que tive algum sucesso (modesto). Não sinto medo de morrer ou de estar morta. Tenho de admitir que de vez em quando, realmente espero sair desta luta. Se lhe foi concedido o dom da empatia, pode imaginar quão doloroso deve ser para nós, os pró-vida, viver neste país. Imagine quão frustrante deve ser para nós ver mulheres que veem os seus próprios filhos como adversários a ser destruídos, deitando fora o presente inestimável que Deus lhes deu para amar e por quem ser amadas. Como diz a Madre Teresa, o maior mal do aborto é a morte do amor naqueles que nele participam.

Envolvimento na Política

Ruth foi-se envolvendo cada vez mais na política local, tornando-se comentadora política regular num programa de notícias por cabo da zona. Escreveu a uma amiga: «Aqui vai outra notícia engraçada. Fui convidada para participar num talk show de notícias da TV cabo – o apresentador quer fazer uma versão local do McLaughlin Group. Ele disse que eu poderia ser a Eleanor Clift [a comentadora progressista] deles. Por cima do meu cadáver, apetecia-me dizer – mais como Pat Buchanan [o comentador de direita] vestido de senhora. Acho que isso vai ser muito divertido. Sabes como eu sempre adorei discutir. Mas quem imaginaria lá em Northern Valley que um dia eu seria a católica ortodoxa da direita republicana?».

Também começou a apresentar o seu próprio programa mensal de televisão, que envolvia uma entrevista com alguma figura ou líder interessante dos círculos pró-vida, cristãos ou pró-família.

Mesmo durante a quimioterapia, Ruth trabalhou com a sua amiga Mary Mullaney para se opor com sucesso à implementação em Worcester de um programa de educação sexual projetado pela Planned Parenthood, que enfatizava o “sexo seguro” e tratava o sexo antes do casamento como uma escolha pessoal perfeitamente válida. Formaram uma comissão para a Educação Sexual Responsável. Em questão de semanas, mobilizou centenas de cidadãos de Worcester para expressar o desacordo com a Direção da escola. Não contentes em se opor ao programa proposto, também elaboraram diretrizes para um programa alternativo. Ruth voltava das reuniões completamente exausta, mas insistia, e por fim, o programa da Planned Parenthood foi abandonado em favor de um mais aceitável, embora ainda imperfeito.

Talvez encorajada pelo sucesso desse esforço, Mary decidiu concorrer à Direção da escola. Ruth, que já tinha recuperado da quimioterapia, trabalhou ativamente na sua campanha. Coordenou o esforço de distribuir folhetos em todas as casas da cidade e fazer com que as senhoras ficassem nas esquinas com cartazes. Apesar das probabilidades baixas, os esforços valeram a pena. Ruth confidenciou a uma amiga: “Adoro a política. É um ótimo jogo competitivo com apostas reais, mas se perdermos, sempre há outra eleição a seguir para que se possa tentar novamente”.

A participação de Ruth na campanha de Mary, as suas atividades a favor da vida e o seu envolvimento em muitos outros assuntos às vezes causavam tensão em casa. Michael lembra que ela nunca se comprometeria com algo como a campanha de Mary sem primeiro o consultar e que ele a encorajaria entusiasticamente. Mas quando mais tarde era preciso fazer sacrifícios reais, ele às vezes resmungava e queixava-se. Relembra uma ocasião: «Durante o jantar, uma noite, durante a campanha de Mary, com as cinco crianças sentadas à mesa connosco, estávamos a planear as atividades da semana seguinte. Havia alguns eventos a que eu realmente queria que fôssemos os dois – não me consigo agora recordar de quais – mas, conforme eu os mencionava, um por um, Ruth dizia que não estava livre: “Não posso porque tenho esse compromisso com a campanha de Mary”. Isso foi depois de semanas e semanas em que Ruth estava ocupada com babysitting, panfletos, sessões de estratégia e assim por diante. Eu já estava farto e perdi a paciência. Com raiva, levantei-me e disse: “F-se a campanha de Mary!”, e saí furioso da sala de jantar. Assim que estava a sair daquela sala e a entrar na cozinha, virei-me e olhei para Ruth, que sorriu, me fez um gesto feio com o dedo e disse com firmeza: “Bem, f-se!”.

Os filhos, que testemunharam tudo isso, ficaram horrorizados – porque quase nunca brigávamos em frente deles e absolutamente nunca usávamos palavrões. Mas a zanga durou apenas alguns minutos e, naturalmente, pedi desculpa a Ruth em frente das crianças.

Ruth também trabalhou na campanha de um candidato à State House. Ela ajudou a aprimorar a sua mensagem, mas também meteu cartas em envelopes, foi de porta em porta e ficou em cruzamentos movimentados com cartazes de campanha.

Esposa, mãe e amiga

A parte mais visível das atividades apostólicas de Ruth envolvia dirigir organizações pró-vida, debater e aparecer na televisão. Mas no cerne do seu apostolado estavam a oração, o sacrifício, a dedicação à família, conversas individuais baseadas na amizade e a força do seu exemplo. O cerne da sua vida estava no seu papel como esposa e mãe. Uma amiga escreveu: «Gosto de refletir sobre como Ruth escolheu ser esposa e mãe e crescer em santidade a fazer isso. Ruth é realmente um exemplo de crescimento em santidade onde se está, no dia a dia, a tratar da roupa, a conduzir do Ponto A ao Ponto B… Acho que ela cresceu em santidade nos seus deveres como esposa e mãe, e na maneira como ofereceu isso. Acho que foi assim que ela cresceu em santidade, e nos momentos em que teve de rezar e oferecer as suas obras. E dessa graça veio a energia para usar os seus talentos para fazer outras coisas. Acho que as outras coisas eram apenas extras. E no centro da sua vida, acho eu, estava a ser esposa e mãe».

A própria Ruth escreveu: «As donas de casa têm muito trabalho físico e penoso na tarefa psicologicamente difícil de ouvir crianças a brigar, a chorar e a queixar-se. Mas temos mais tempo livre para pensar nos próprios pensamentos e conversar com os amigos do que a maioria das pessoas. Não consigo imaginar um trabalho que fosse mais atraente para mim do que este».

Ruth valorizava muito a amizade e fazia questão de realmente conhecer as pessoas com quem se dava. Uma das suas amigas lembra que “ela era muito rápida a ligar-se a alguém, não importava quem aparecesse. Não deixava uma pessoa escapar sem realmente se apresentar e ter uma conversa”. Por exemplo, Mary Mullaney, uma advogada formada em Notre Dame que conheceu Ruth numa reunião mensal de um grupo de leitura, lembra: «Nenhuma de nós era muito de conversa fiada; então entramos no assunto da infalibilidade dos ensinamentos da igreja sobre o controlo da natalidade. Ruth disse que era infalível, mas eu não tinha a certeza sobre isso. No dia seguinte, Ruth chegou a minha casa – lembro de vê-la subir os degraus – com quatro livros grandes nos braços. Sentou-se no sofá e mostrou-me todas as citações em apoio à sua posição. Fiquei pasmada. Não conseguia acreditar que uma conversa casual a tomar café levaria alguém que eu tinha acabado de conhecer a ir para casa, reunir material, organizar o seu argumento e atravessar a cidade novamente para me convencer do erro da minha posição».

Daquele momento em diante, Mary soube que Ruth era alguém que ela queria ter como uma boa amiga. Refletindo sobre o impacto de Ruth na sua vida, percebeu: «Não foi tanto uma discussão ou algo que alguém disse na reunião [do grupo de leitura] que me afetou. Foi simplesmente olhar para Ruth. Quando se é uma jovem, não se percebe a alegria que faz parte da maternidade. Então foi disso que Ruth foi um exemplo para mim. Foi uma questão de: olhe para a alegria que está ali e então entra na linha».

Uma amiga que conversou com Michael após a morte de Ruth relembrou: «Eu vi o que Ruth era capaz de fazer durante um dia. E também, a sua casa na Shelby Street não era grande. E ainda assim Ruth divertia-se lá. Parecia muito um lar. Nós sempre nos divertíamos. E, vendo isso, eu abri mais a nossa casa. Convidei muito mais pessoas. Estava muito mais disposta a fazer as coisas, depois de ver o que Ruth fazia num dia».

Outra senhora, Grace Chaffers, lembrou que quando conheceu Ruth pela primeira vez, ficou impressionada com o quanto ela era “tão feliz e tão em paz. Havia uma sensação de paz que ela tinha. Eu não tinha isso, e queria”. Isto, ao fim de algum tempo, levou Grace a repensar muitos aspetos da sua vida, e concretamente a sua decisão de não ter mais filhos. Explicou: «Antes de conhecer Ruth, eu tinha simplesmente rejeitado absolutamente o ensinamento da Igreja sobre contraceção. Nunca fui desafiada por ninguém a repensar isso. Mas não foi por nenhuma conversa ou lição que Ruth me desafiou sobre isso, mas apenas por ser a mãe de todas aquelas crianças. Eu tive com ela o tipo de reação que sempre recebo agora: “Tem quantos filhos?” (As pessoas olham para mim meio descrentes). E ela apenas explicou muito agradavelmente que isso era parte da sua fé. Não havia dúvida; não havia hesitação. Ela estava apenas a fazer isso com grande alegria».

Depois que descobriu a sua própria vocação para o Opus Dei, Grace agradeceu a Ruth pelas suas orações. Ruth, que não tinha lava-louças, sorriu, olhou para o chão e disse: “Bem, eu ofereci por ti o trabalho de lavar à mão a louça do nosso pequeno-almoço no ano passado”. Grace não disse muito em resposta, mas pensou: “Wow! Isto é o Opus Dei”.

O cancro espalha-se pelos ossos

Pouco antes do Natal de 1993, Ruth descobriu que o cancro se tinha espalhado para os ossos. No final do seu cartão de Natal, depois de falar sobre cada um dos filhos, compartilhou a notícia com parentes e amigos:

Terminamos 1993 com algumas notícias difíceis. O meu cancro retornou à anca direita e à coluna vertebral. A medicina convencional não pode curar o cancro de mama metastático, assim os meus anos estão contados (pelos dedos). Até agora, Mike e eu estamos (sem dúvida sobrenaturalmente) a aceitar tudo o que Deus tem em mente. Acostumámo-nos um pouco a os caminhos d’Ele não serem os nossos.

Ruth tinha formado um grupo do terço cujos membros se reuniam uma vez por semana, traziam os filhos pequenos e rezavam o terço juntos, seguido de café e conversa. Na reunião de janeiro, Ruth disse aos seus amigos que o seu cancro tinha metastizado. “Vou contar tudo o que sei sobre a minha situação e o tratamento, mas depois disso, vamos falar sobre outra coisa”. Explicou que o cancro ósseo poderia ser controlado durante dois ou três anos e, em alguns casos, até mais. Enquanto permanecesse nos ossos, ela faria um tratamento hormonal, que não teria efeitos colaterais tão sérios como a quimioterapia original. Depois bateu palmas e exclamou: “Bom! – Agora vamos rezar o terço pela intenção de que o Michael encontre uma mulher nova com quem casar!”.

O pensamento de que Michael precisava de se casar novamente pelo bem das crianças não era passageiro. Disse às amigas: “O pior sofrimento é o medo de morrer enquanto os meus filhos ainda são tão pequenos. Quais são as possibilidades de o meu marido se casar novamente com seis filhos?... Odeio a ideia de os meus filhos crescerem sem mãe”. Menos de três meses antes de morrer, num momento de particular intimidade, Ruth confidenciou a Michael que achava que ele se devia casar com Catherine Hardy, a filha mais velha dos seus amigos Tom e Jan Hardy. Escreveu a uma amiga: “Eu confio em Deus para organizar as coisas pelo melhor, mesmo que não pareça assim para nós. Tenho total paz de que Deus trará o bem dessa experiência, seja qual for o resultado”. A outra amiga, escreveu: «É curioso que a perspetiva de morrer não me incomode tanto. Acredito realmente que o que Deus quiser vai dar certo. Se ele quer que eu morra antes de passar a década dos 30 anos, confio que daí virá o bem. Rezo para que todos os meus amigos tenham uma fé forte, que a minha irmã se reconcilie com o resto da família, que os meus filhos cresçam na fé – esse tipo de coisa. Peço-te que rezes novamente esta oração da pagela em particular [ao fundador do Opus Dei]. Devia ser ele a cuidar de mim. Também tem fama de abençoar as pessoas que dizem esta oração com fé. Eu adoraria que funcionasse contigo».

A notícia de que o cancro se tinha espalhado para os ossos de Ruth pôs fim à incerteza do ano anterior sobre se ela tinha ultrapassado o cancro ou não. Ruth escreveu sobre isso a uma senhora também diagnosticada com cancro da mama: «Essa [dúvida] ficou resolvida para mim quando fui diagnosticado com metástases. Mas esse período de incerteza ainda foi um bom momento – ajudou-me a tornar-me muito mais abandonada à vontade de Deus. Agora, estranhamente, estou mais feliz do que nunca na minha vida. Acredito que tu também descobrirás que essa experiência te aproxima de Deus, confiando na Sua sabedoria às vezes insondável para trazer bênçãos do sofrimento».

O médico de Ruth sugeriu um tratamento hormonal bem conhecido que tinha alguns benefícios, mas não oferecia esperança de cura. Ruth estava preocupada de que talvez devesse insistir para receber a terapia de Transplante de Medula Óssea (TMO) em vez desse. Esse tratamento doloroso e debilitante era muito arriscado porque o sistema imunológico seria temporariamente destruído e porque se o transplante de medula óssea não “resultasse”, o paciente morreria rapidamente. Envolvia ficar hospitalizado por semanas e debilitado por meses. Mas poderia oferecer alguma perspetiva de sobrevivência a longo prazo. Ruth sentiu que seria uma pena arruinar o pouco tempo que lhe restava com o tratamento debilitante se ele não desse certo. Mas estava preocupada que, talvez até mesmo por causa da sua fé em Deus e do seu desejo crescente de ir para o céu, estivesse a desconsiderar os benefícios potenciais do tratamento. Passou semanas a ler literatura médica e a consultar especialistas sobre isso. Decidiu contra o TMO, mas permaneceu aberta à possibilidade se novas informações que apontassem nessa direção.

Cinco anos com cancro ósseo

Durante cinco anos, o cancro de Ruth ficou contido nos ossos e permitiu que ela levasse uma vida muito ativa. Continuou com as muitas coisas que compunham a sua vida até então e até fez coisas novas. Logo após o diagnóstico, os seus amigos, os Swopes, propuseram que ela fosse esquiar pela primeira vez na vida. Ruth aceitou o convite com entusiasmo e, junto com os Swopes e os filhos mais velhos, passou uma semana a esquiar em New Hampshire. No final da semana, já descia a montanha sem cair.

Ruth sempre foi uma pessoa sociável, mas agora começou a dar uma prioridade ainda maior a passar tempo com a família e amigos. Como ela explicou numa carta: «Saber que me resta um tempo bastante limitado deixa-me muito mais disposta a abandonar a roupa e a limpeza da casa para fazer coisas como ir a concertos de amigos próximos. Esta é outra questão muito interessante (como a questão interessante sobre o que é importante passar aos filhos como “herança de família”). Quando se sabe que se tem pouco tempo de vida, como devemos comportar-nos? Até certo ponto, estou feliz por não ter nenhum desejo ardente de viver de forma diferente. Eu realmente gosto do modo em que a minha vida se tornou. Mas sinto que é importante passar mais tempo com pessoas com quem gosto de estar».

Em janeiro de 1998, Ruth soube que o cancro se tinha espalhado para o fígado e que tinha menos de um ano de vida. Naquela mesma noite, deu palestras a crianças numa escola local. No dia seguinte, compareceu a um jantar para professores no programa Confraternity of Christian Doctrine. No dia seguinte, deu uma palestra numa escola secundária. Dois dias depois, começou a quimioterapia para o cancro de fígado e, uns dias mais tarde, deu uma palestra para mais de cem alunos do ensino secundário. Até se tornar absolutamente impossível, continuou a ajudar como Diretora Paroquial de Educação Religiosa, dirigiu o grupo de jovens do ensino secundário, cantou no coro da catedral, recebeu um grupo mensal de debate sobre livros e deu palestras a cooperadoras do Opus Dei. Tudo isso, além de cuidar da sua casa e família.

No final de junho, Ruth codirigiu um curso de quatro dias na Universidade de Notre Dame sobre os Fundamentos do Catolicismo com o Professor Ralph McInerny. Em agosto, durante férias em família em New Hampshire, apesar de ter uma peça de aço na perna para fortalecer o osso que tinha sido corroído pelo cancro, desceu o Monte Washington, a montanha mais alta da Nova Inglaterra, depois de ter levado o carro até ao topo.

A quimioterapia para o cancro do fígado causou-lhe menopausa prematura e afetou profundamente as emoções de Ruth. Como ela escreveu a uma amiga no final de março: «Tenho alternado entre uma infelicidade profunda e dolorosa e uma espécie de alegria serena. Tento lembrar-me de que deveria estar feliz pela oportunidade de unir os meus sofrimentos aos de Cristo. Então, quando realmente me sinto em baixo, tudo isso sai pela janela fora. É maçador. Outra coisa estranha é que por muitos anos me pareceu que eu sentia muito poucas emoções, todas dentro de uma faixa de intensidade bastante razoável. Havia a felicidade causada pelas crianças. Havia exasperação quando Michael era difícil e contentamento quando as coisas com ele estavam em equilíbrio, e era isso. Agora parece-me que as minhas emoções dominam completamente a minha perceção da realidade. Deve ser isso a menopausa. É interessante, ocasionalmente agradável, muitas vezes horrível».

Mais ou menos na mesma época, escreveu uma longa carta a uma amiga do ensino secundário que não era crente: «O meu cancro prossegue inexoravelmente. Espalhou-se para os pulmões e o fígado. Vou fazer uma forma de quimioterapia ou outra pelo resto da minha vida, que provavelmente não vai durar muito mais. Mas não me queixo. Tive uma vida ótima. Conheci pessoas maravilhosas. Fiz coisas interessantes. Tive muitos dons e talentos que tornaram a vida muito divertida (cantar, atuar, falar em público, etc.). O meu marido é ótimo. Os meus filhos são ótimos. E eu realmente acredito na fé católica. Esta vida é curta e é apenas o exame de acesso à realidade. Lamento não te ter escrito regularmente. A tua amizade tem sido uma grande fonte de felicidade».

No final de abril de 1998, Ruth escreveu novamente à mesma amiga: «Não tenho medo de morrer – nem de longe. Vou além de apenas aceitar o que a Igreja Católica ensina. Desde que soube que tinha um cancro incurável, pensei muito sobre como vivo a minha vida e o que acho que a morte significa. Amei a vida que Deus me deu. Não há outra vida que eu preferisse ter vivido. Mas reconheço que Deus é o autor desta vida, assim como o autor das vidas de todas as pessoas que amo e do mundo, que é tão lindo e interessante. Quero ver Deus; quero ver Aquele que pensou em tudo isso. Não consigo imaginar que Ele seja menos interessante e belo do que todas as coisas que fez e, claro, espero ver todas as melhores pessoas no céu de qualquer maneira, até tu, a quem eu (e tantos outros) devo tanto. Esta vida é curta e a eternidade é – bem, é eterna».

Ruth não terminou a carta nas três semanas seguintes, em que acrescentou mais algumas páginas antes de enviá-la: «Não querendo parecer piegas, mas esta poderia ser a minha carta de despedida. Espero que não, mas, só por precaução, deixa-me agradecer-te pela tua grande amizade e pelo mundo da literatura e da cultura que me encorajaste a conhecer e amar. Embora eu tenha sido uma péssima correspondente, tens estado diariamente nos meus pensamentos e orações.

Naturalmente, espero que consigas regressar à fé do teu batismo. Sério, que mais poderia ser verdade? Não existe nenhum Deus? Existe um Deus, mas Ele não se preocupou em se comunicar connosco? Existe um Deus, Ele comunicou connosco, mas não sabemos se foi por meio de Buda, Maomé, Jesus, outra pessoa ou por qualquer dos anteriores? A última possibilidade parece muito mais provável do que as duas primeiras. Então é uma questão de descobrir qual das grandes religiões realmente parece a mais provável de ser a verdadeira comunicação de Deus ao homem. Não tenho dúvidas de que se voltasses os teus consideráveis dotes intelectuais para essa questão, seria apenas uma questão de tempo até perceberes que não há explicação para a existência da Igreja Católica, exceto que, de facto, o sujeito chamado Jesus de Nazaré realmente morreu e o seu cadáver realmente ressuscitou dos mortos e ele realmente andou por aí a falar para aqueles onze pouco inspiradores que, de alguma forma, após essa experiência, transformaram o curso da história humana. E para melhor.

Bem, obrigada novamente e adeus. With love & gratitude».

Morte

No início de setembro, Ruth estava acamada e com oxigénio. Nos últimos dias da sua vida, muitas pessoas vieram rezar com ela e por ela, ou apenas para estar com ela. Morreu na tarde de 23 de setembro de 1998. Naquela tarde, dezenas de pessoas apareceram espontaneamente. Foi antes dos telemóveis. Ninguém enviou mensagem. Eles simplesmente “souberam” de alguma forma e apareceram. Enquanto ela agonizava, estiveram em vigília com ela. Como o reitor da catedral, que era seu pastor e um amigo próximo, observou, «O lugar estava lotado de pessoas, todas meio sentadas, meio a rezar, a rezar com ela. Tenho a certeza de que isso foi uma fonte de força. ... [Teria sido] mais fácil ficar calmamente com a família; em vez de ter a porta da frente aberta, como na véspera de Ano Novo. Mas [foi uma coisa maravilhosa] deixar aquelas pessoas entrarem e vê-la naquela fraqueza e naquelas últimas horas, e a grande dignidade que ali havia».

Ruth morreu como tinha vivido, rodeada de pessoas que amava e que a amavam.

Photos courtesy of www.ruthpakaluk.com.