Quem era S. Lucas, Evangelista?

Comemorado no dia 18 de outubro, S. Lucas é o autor do terceiro Evangelho e dos Atos dos Apóstolos. Sabemos o fundamental para que o nosso agradecimento e admiração pelo seu trabalho e santidade de vida levem todos os cristãos a festejá-lo. Também outras confissões, além da católica, o veneram. É padroeiro de médicos, cirurgiões e artistas.

Mosaico de S. Lucas Evangelista na Basílica de S. Pedro

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Comemorado no dia 18 de outubro, em S. Lucas, autor do terceiro Evangelho e dos Atos dos Apóstolos, tal como acontece com outros notáveis da Antiguidade, há aspetos da sua biografia que poderão vir a ser retificados posteriormente. Em todo o caso, sabemos o fundamental para que o nosso agradecimento e admiração pelo seu trabalho e santidade de vida levem todos os cristãos a festejá-lo. Também outras confissões, além da católica, o veneram. É padroeiro de médicos, cirurgiões e artistas. Em Portugal, seguindo o exemplo prévio da Flandres e de Roma, temos testemunhos da Irmandade de S. Lucas nos séculos XVII e XVIII, instituída no antigo Mosteiro da Anunciada, em Lisboa, de que faziam parte artistas nacionais e estrangeiros.

É padroeiro de médicos, cirurgiões e artistas.

Nasceu em Antioquia, na Síria, teve uma boa formação cultural, que se manifesta na elegância do seu grego e no conjunto de conhecimentos que demonstra. Médico (cf. Cl 4, 14), rigoroso na sua metodologia de recurso às melhores fontes do que hoje nas nossas conversas chamaríamos fact check, não foi testemunha ocular de Jesus Cristo nem dos seus ensinamentos. O seu grande mestre foi S. Paulo, que acompanhou em viagens apostólicas (cf. At 51 e 58). 

É o próprio S. Paulo que o designa por “colaborador” e como “amado médico”, por quem manifesta também grande amizade (cf. Flm 24). Durante o período da prisão de Paulo em Jerusalém e da sua detenção em Cesareia, Lucas terá aproveitado para recolher muito material. Entre os testemunhos que ouviu, terá privilegiado Maria, Mãe de Jesus, pois relata muitos pormenores da infância de Cristo, que certamente procurou escutar diretamente. É o evangelista que narra as parábolas da misericórdia (a dracma perdida, a ovelha perdida e o filho pródigo). 

Acentua a importância da caridade, tal como estava no coração de Cristo: relata a parábola do bom samaritano, mostra os seus sentimentos: perante a viúva de Naim, a pecadora em casa do fariseu Simão, a mudança de Zaqueu originada pela proximidade da hospedagem em sua casa. É também quem mais sublinha a necessidade da atitude permanente de oração para os cristãos. Os Atos dos Apóstolos são frequentemente chamados “o Evangelho do Espírito Santo” pela manifestação constante da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade junto da primeira comunidade cristã, que faz deles «um só coração e uma só alma» como consequência da vida de oração.

É atribuída tradicionalmente a S. Lucas uma pintura de Nossa Senhora sobre madeira, com a invocação do Perpétuo Socorro.

É atribuída tradicionalmente a S. Lucas uma pintura de Nossa Senhora sobre madeira, com a invocação do Perpétuo Socorro. Certo é que, pelos seus textos, qualquer um de nós pode compor um bom retrato de Maria. Desde a Idade Média e sobretudo no seu ocaso, com base nestes dados e conhecendo-se a sua preparação artística, é retratado por artistas como Rogier van Weyden, Giorgio Vasari, Guercino, entre outros, a pintar a imagem de Maria. Durante a sua vida, volta a acompanhar S. Paulo na viagem até Roma e com ele terá permanecido até ao seu martírio (cf. 2Tm 4, 11), também mostrado pelo cinema em reconstituições sobre S. Paulo. 

A sua entrega à missão de difundir o Evangelho terá sido total e é tradicionalmente referido como tendo permanecido celibatário e morrido com 84 anos, provavelmente na Bitínia. Algumas tradições referem-nos como mártir. Não se sabe ao certo se terá sido judeu, mas o seu conhecimento do Antigo Testamento é sólido. Desde o princípio, os cristãos trataram a sua obra como de um autor “movido pelo Espírito Santo”, ou seja, com o carisma da inspiração, atribuído a todos os escritos canónicos.

A iconografia associa-o a um touro porque começa o Evangelho a falar sobre o sacrifício do sacerdote Zacarias no templo onde eram imolados os bois, nos rituais judaicos e acentua o caráter sacrificial da Paixão de Cristo. Os restantes Evangelistas são associados a outros seres vivos, familiares às culturas de então e que S. João refere no Apocalipse, indo buscá-los ao quarto capítulo do profeta Ezequiel, que os terá provavelmente recebido no seu período do exílio na Babilónia: «O primeiro animal vivo assemelhava-se a um leão; o segundo, a um touro; o terceiro tinha um rosto como o de um homem; e o quarto era semelhante a uma águia em pleno voo».

As suas relíquias foram trasladas da Grécia para Constantinopla em 357. Consta por um texto do cardeal Barónio (1538-1607)* que S. Gregório Magno, núncio em Constantinopla antes de ser Papa, levou a cabeça de S. Lucas para Roma, para o mosteiro de Santo André, no monte Célio.

Atualmente, o corpo de S. Lucas é venerado em Pavia.


(N.T.) O Cardeal Barónio é uma autoridade em matéria de História da Igreja. Oratoriano, preparou os primeiros dos primeiros volumes dos Annales ecclesiastici (História da Igreja desde as origens até 1198) e fez a revisão do Martirológio Romano.