Quem é o homem? Porquê e para que foi criado?

Sabemos pelo Génesis que “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou”. Mas o que significa “à imagem de Deus”? Quem é realmente o homem? Porquê e para que foi criado? É apenas mais um ser no meio da Natureza? Onde está a sua alma?

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Sumario

1. Que diferencia o homem do resto das criaturas?
2. Por que razão o homem foi criado com tanta dignidade?
3. Que significa que o homem foi criado à imagem de Deus?
4. Para que foi criado o homem?
5. Que têm em comum todos os homens? Que nos une? Porque somos distintos do resto dos seres?
6. O ser humano é um corpo com alma ou uma alma com corpo? Ou nada disso?
7. O que é o corpo? O corpo é mau?
8. Que é a alma? Para que serve? Donde vem?


1. Que diferencia o homem do resto das criaturas?

“Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou” (Gn 1,27). O homem ocupa um lugar único na criação: “está feito à imagem de Deus” (I); na sua própria natureza une o mundo espiritual e o mundo material (II); é criado “homem e mulher” (III); Deus estabeleceu-o em amizade com ele (IV). Catecismo da Igreja Católica, n. 355

Textos de S. Josemaria para meditar

Essa é a grande ousadia da fé cristã: proclamar o valor e a dignidade da natureza humana e afirmar que, mediante a graça que nos eleva à ordem sobrenatural, fomos criados para alcançar a dignidade de filhos de Deus. Ousadia de certo incrível, se não se baseasse no desígnio salvador de Deus Pai e não houvesse sido confirmada pelo Sangue de Cristo e reafirmada e tornada possível pela ação constante do Espírito Santo. Cristo que passa, 133


2. Por que razão o homem foi criado com tanta dignidade?

De todas as criaturas visíveis, só o homem é “capaz de conhecer e amar o seu Criador” (GS 12,3); é a “única criatura na terra a quem Deus amou por si mesma” (GS 24,3); só ele é chamado a participar, pelo conhecimento e pelo amor, na vida de Deus. Foi criado para este fim e esta é a razão fundamental da sua dignidade: «Que coisa, ou quem, foi o motivo de teres estabelecido o homem em semelhante dignidade? Certamente, nada que não fosse o amor inextinguível com que contemplaste a tua criatura em ti mesmo e te deixaste cativar de amor por ela; por amor o criaste, por amor lhe deste um ser capaz de gozar do teu bem eterno» (Santa Catarina de Sena, Il dialogo della Divina Providenza, 13). Catecismo da Igreja Católica, n. 356.

Textos de S. Josemaria para meditar

Entre os dons do Espírito Santo, eu diria que há um de que todos nós, cristãos, temos especial necessidade: o dom da Sabedoria, que, fazendo-nos conhecer a Deus e tomar-Lhe o sabor, nos coloca em condições de poder julgar com verdade as situações e as coisas da vida presente. Se fôssemos consequentes com a nossa fé, quando olhássemos à nossa volta e contemplássemos o espetáculo da História e do Mundo, não poderíamos deixar de sentir crescer nos nossos corações os mesmos sentimentos que animaram o de Jesus Cristo: ao ver aquelas multidões, compadeceu-se delas, porque estavam maltratadas e fatigadas e como ovelhas sem pastor. Cristo que passa, 133


3. Que significa que o homem foi criado à imagem de Deus?

Por ter sido feito à imagem de Deus, o ser humano tem a dignidade de pessoa; não é apenas algo, é alguém. É capaz de conhecer-se e de dar-se livremente e entrar em comunhão com outras pessoas; e é chamado, pela graça, a uma aliança com o seu criador, a oferecer-lhe uma resposta de fé e de amor que nenhum outro ser pode dar em seu lugar. Catecismo da Igreja Católica, n. 357

Textos de S. Josemaria para meditar

O Deus da nossa fé não é um ser longínquo, que contempla indiferente o destino dos homens. É um Pai que ama os seus filhos ardentemente, um Deus criador que transborda de carinho pelas suas criaturas e concede ao homem o grande privilégio de poder amar, transcendendo assim o efémero e o transitório.

As vidas humanas, que são santas, porque vêm de Deus, não podem ser tratadas como coisas simples, como números de uma estatística. Ao considerar a realidade profunda da vida, escapam-se do coração humano os seus afetos mais nobres. Com que amor, com que ternura, com que paciência infinita olham os pais para os seus filhos, mesmo antes de nascerem. E por acaso não vive por igual a generosidade incansável, a atenção ao concreto ou a serenidade de juízo, o teólogo que examina o sentido da palavra divina sobre a vida humana? Ou não é também uma espera emocionada, capacidade de intuição, agudeza de engenho, a do médico que aplica os remédios mais modernos para evitar o risco de uma doença congénita, que pode pôr em perigo a vida da criatura ainda não nascida? Discursos sobre a Universidade: O compromisso da verdade, 8


4. Para que foi criado o homem?

Deus criou tudo para o homem (cf. GS 12,1; 24,3; 39,1), mas o homem foi criado para servir e amar a Deus e para lhe oferecer toda a criação: «Qual é, pois, o ser que há-de vir a existir rodeado de semelhante consideração? É o homem, grande e admirável figura viva, mais precioso aos olhos de Deus que a criação inteira; é o homem, para ele existe o céu e a terra e o mar e a totalidade da criação e Deus deu tanta importância à sua salvação que não perdoou o seu único Filho por ele. Porque Deus não parou de fazer tudo o que fosse possível para que o homem subisse até ele e se sentasse à sua direita» (S. João Crisóstomo, Sermones in Genesim, 2,1: PG 54, 587D – 588ª). Catecismo da Igreja Católica, n. 358


5. Que têm em comum todos os homens? Que nos une? Porque somos distintos do resto dos seres?

Devido à comunidade de origem, o género humano forma uma unidade. Porque Deus “criou [...] de um só princípio, toda a linhagem humana” (Hch 17,26; cf. Tb 8,6): «Maravilhosa visão que nos faz contemplar o género humano na unidade da sua origem em Deus [...]; na unidade da sua natureza, composta em todos de igual modo de um corpo material e de uma alma espiritual; na unidade do seu fim imediato e da sua missão no mundo; na unidade da sua morada: a terra, cujos bens todos os homens podem, por direito natural, usar para sustentar e desenvolver a vida; na unidade do seu fim sobrenatural: Deus mesmo a quem todos devem tender; na unidade dos meios para alcançar este fim; [...] na unidade da sua redenção realizada para todos por Cristo»(Pio XII, Enc. Summi Pontificatus, 3; cf. Concilio Vaticano II, Nostra aetate, 1). Catecismo da Igreja Católica, n. 360

Esta lei de solidariedade humana e de caridade (ibid.), sem excluir a rica variedade de pessoas, culturas e povos, assegura-nos que todos os homens são verdadeiramente irmãos. Catecismo da Igreja Católica, n. 361

Textos de S. Josemaria para meditar

O Verbo dignou-se assumir uma natureza humana íntegra e consagrar a Terra com a sua presença e com o trabalho das suas mãos. A grande missão que recebemos, no Batismo, é a corredenção. Urge-nos a caridade de Cristo para tomarmos sobre os nossos ombros uma parte dessa tarefa divina de resgatar as almas. Cristo que passa, 120


6. O ser humano é um corpo com alma ou uma alma com corpo? Ou nada disso?

A pessoa humana, criada à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual. A narrativa bíblica exprime esta realidade numa linguagem simbólica, quando afirma que «Deus formou o homem com o pó da terra, insuflou-lhe pelas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se num ser vivo» (Gn 2, 7). O homem, no seu ser total, foi, portanto,querido por Deus. Catecismo da Igreja Católica, n. 362


7. Que é o corpo? O corpo é mau?

O corpo do homem participa na dignidade da “imagem de Deus”: é humano precisamente porque está animado pela alma espiritual e toda a pessoa humana está destinada a ser, no Corpo de Cristo, o templo do Espírito (cf. 1 Co 6,19-20; 15,44-45): «Uno em corpo e alma, o homem, pela sua mesma condição corporal, reúne em si os elementos do mundo material, de tal modo que, por meio dele, estes alcançam o topo e elevam a voz para o livre louvor do criador. Por conseguinte, não é lícito ao homem desprezar a vida corporal, pelo contrário, tem que considerar o seu corpo bom e digno de honra, já que foi criado por Deus e que há de ressuscitar no último dia» (GS 14,1). Catecismo da Igreja Católica, n. 364

Textos de S. Josemaria para meditar

Não sabíeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que recebestes de Deus, e que não vos pertenceis? [I Cor 6, 19]. Quantas vezes, diante da imagem da Virgem Santa, da Mãe do Amor Formoso, respondereis com uma alegre afirmação à pergunta do Apóstolo: sabemos, sim, e queremos vivê-lo com a tua ajuda poderosa, ó Virgem Mãe de Deus!

A oração contemplativa surgirá em vós sempre que meditardes nesta realidade impressionante: uma coisa tão material como o meu corpo foi escolhida pelo Espírito Santo para estabelecer a Sua morada...; já não me pertenço...; o meu corpo e a minha alma - o meu ser inteiro - são de Deus... E essa oração será rica em resultados práticos, derivados da grande consequência que o próprio Apóstolo apresenta: glorificai a Deus no vosso corpo [I Cor 6, 20]. Entrevistas a S. Josemaria, 121

Se soubesses o que vales!... É S. Paulo que to diz: foste comprado "pretio magno" - por alto preço.

E depois continua: "glorificate et portate Deum in corpore vestro" - glorifica a Deus e trá-Lo no teu corpo. Caminho, 135


8. Que é a alma? Para que serve? Donde vem?

Muitas vezes, a palavra alma designa, nas Sagradas Escrituras, a vida humana (cf. Mt 16,25-26; Jn 15,13), ou a pessoa humana no seu todo (cf. At 2,41). Mas designa também o que há de mais íntimo no homem (cf. Mt 26,38; Jo 12,27) e de maior valor na sua pessoa (cf. Mt 10,28; 2M 6,30), aquilo que particularmente faz dele imagem de Deus: «alma» significa o princípio espiritual no homem. Catecismo da Igreja Católica, n. 363

A unidade da alma e do corpo é tão profunda que se deve considerar a alma como a «forma» do corpo (cf. Concilio de Vienne, ano 1312, DS 902); quer dizer, é graças à alma espiritual que o corpo, constituído de matéria, é um corpo humano e vivo. No homem, o espírito e a matéria não são duas naturezas unidas, mas a sua união forma uma única natureza. Catecismo da Igreja Católica, n. 365

A Igreja ensina que cada alma espiritual é criada por Deus de modo imediato (cf. Pio XII, Enc. Humani generis, 1950: DS 3896; Paulo VI, Credo do Povo de Deus, 8) e não produzida pelos pais; e que é imortal (cf. Concilio de Latrão V, ano 1513: DS 1440), isto é, não morre quando, na morte, se separa do corpo; e que se unirá de novo ao corpo na ressurreição final. Catecismo da Igreja Católica, n. 366.

Textos de S. Josemaria para meditar

Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação... que cada um saiba usar o seu corpo santa e honestamente, não se abandonando às paixões, como fazem os pagãos que não conhecem a Deus. Pertencemos totalmente a Deus, com a alma e com o corpo, com a carne e com os ossos, com os sentidos e com as potências. Pedi-lhe com confiança: Jesus, guarda o nosso coração! Faz com que o meu coração seja grande, forte e terno, afetuoso e delicado, transbordante de caridade para Ti, para servir todas as almas. O nosso corpo é santo, templo de Deus, precisa S. Paulo. Amigos de Deus, 177

Diziam àquele bom amigo, para o humilhar, que a sua alma era de segunda ou de terceira classe. Convencido do seu nada, sem se aborrecer, raciocinava assim: Como cada homem não tem senão uma alma - eu a minha, uma só também -, para cada um a própria alma será... de primeira. Não quero baixar a pontaria! Portanto, tenho uma alma de "primeiríssima" e quero, com a ajuda de Deus, purificá-la e branqueá-la e acendê-la, para que o Amado esteja muito contente.

- Não te esqueças tu também - mesmo que te vejas tão cheio de misérias: não "podes baixar a pontaria". Forja, 893