— Link para a biografia de Pedro Ballester “Nunca fui tão feliz” editada pela Paulus.
— Oração para a devoção privada
— audiolivro gratuito da biografia de Pedro Ballester (em espanhol).
Passaram-se cinco anos desde o falecimento de Pedro Ballester. Agora com um pouco mais de perspetiva, qual foi o segredo de Pedro para estar contente apesar da doença?
Uma vez Pedro teve náuseas por causa do tratamento e vomitou no quarto do hospital. Chamaram logo uma enfermeira para ajudar. Ao entrar a enfermeira, Pedro ainda inclinado e sentindo-se muito mal, reconheceu-a e perguntou-lhe pela família e por um assunto pelo qual lhe tinha pedido que rezasse.
Há milhares de episódios da vida de Pedro que o ilustram, mas creio que todos recordam ir visitar Pedro e acabar por falar de si mesmos e não de Pedro. Nos momentos mais duros, a sua generosidade continuava a ser a causa da sua alegria. Apesar de por vezes lhe custar sorrir.
Penso que uma das características que mais chamava a atenção da sua personalidade era que vivia para fora. Desde pequeno era muito sensível às necessidades dos outros. São Josemaria ensinou: «Dar-se sinceramente aos outros é de tal eficácia, que Deus o premeia com uma humildade cheia de alegria» (Forja, n. 591). A alegria é um fruto da entrega aos outros.

O direito da Igreja indica que têm de passar pelo menos cinco anos desde o falecimento. Quando pensam instaurar a Causa? A devoção a Pedro estendeu-se o suficiente para iniciar o processo?
O bispo da cidade em que Pedro faleceu é quem deve decidir primeiro se existem razões suficientes para começar a Causa de canonização (link para o site). Até agora chegarem muitas petições (incluindo de vários bispos e de algum cardeal) para que se estude essa possibilidade.
A devoção estendeu-se desde o início como pólvora. Antes de morrer Pedro já tinha milhares de pessoas a rezar por ele e centenas que o tinham conhecido e tinham consciência da profundidade da sua vida interior. Foram também dezenas as pessoas que puderam estar com ele nos últimos dias e que o viram morrer. Pouco tempo depois de falecer, um bispo inglês já tinha composto a sua própria oração para a devoção privada e rapidamente se obteve a autorização do Bispo de Manchester para difundi-la. Quase de imediato pessoas de diferentes países começaram a traduzi-la para as suas línguas, de forma que agora está disponível em catorze idiomas. Foi instantâneo.
O Sínodo dos jovens, que se celebrou propôs como modelos para a juventude moderna um conjunto de jovens testemunhos: Montse Grases, Carlo Acutis, Gianluca Firetti ou Chiara Badano, entre outros: pensa que Pedro poderia ser um deles?
Já o é! Pedro já inspira muitos jovens. Os que o conhecerem antes de morrer e os que agora conhecem a sua história. Mas o caso de Pedro talvez seja diferente porque teve uma vida muito normal e esteve em contacto com muitas pessoas. O seu intenso apostolado exerceu-se com católicos não praticantes, com pessoas não católicas e com muitos ateus. Numa sociedade laica como a do Reino Unido, Pedro falou e fez amizade com todo o tipo de pessoas de diferentes situações sociais.
Quem o conheceu destaca sempre a sua naturalidade. Pedro era muito normal, muito humano, muito próximo. E assim se tornou um modelo muito acessível. Um rapaz normal que frequenta um colégio normal, que vai para a universidade como os outros, aficionado aos videojogos, com telemóvel, WhatsApp ou Spotify. Alguém com as mesmas dificuldades em viver a santa pureza, a temperança, o desprendimento das coisas materiais. Alguém que procura aproximar os seus amigos de Deus num ambiente paganizado e secularizado. Alguém que teve de ultrapassar os mesmos ataques à liberdade cristã ou as imposições de ideologias corrosivas, a quem às vezes custa começar a rezar, ler o evangelho, não se distrair durante o terço, etc.
Conteúdo relacionado: Meditação em espanhol do Pe. Jorge sobre Pedro Ballester
Tanto no livro como no documentário aparecem muitos amigos. Chama a atenção que os seus colegas do Imperial College, com quem tinha frequentado aulas apenas 3 meses, viajam a Manchester para visitá-lo quando lhe diagnosticam osteossarcoma. Por que razão Pedro tinha tantos amigos?
Como disse antes, Pedro vivia para fora. O seu interesse pelos outros era genuíno. O seu carinho era real e a sua generosidade, magnética. Ultrapassava as diferenças de nacionalidade, religião, estrato social ou cultural. Muitas pessoas não costumam relacionar-se com outras para quem a amizade não é um meio, mas um fim. Quem entrava em contacto com Pedro, percebia o seu carinho para com todos. Como lhe disse uma rapariga da paróquia um dia, Pedro era «too good to be true» (demasiado bom para ser real).

Talvez a alguns jovens da sua idade chame a atenção o interesse de Pedro por conhecer assuntos que nada tinham de ver com a engenharia química. Nota-se que é um apaixonado por política internacional, história, etc. Como teve essa mente aberta?
O Reino Unido é uma encruzilhada de correntes sociais e culturais. É muito frequente assistir às aulas com pessoas de muitas nacionalidades, culturas e religiões. Ao viver entre tanta diversidade é natural que na conversa com os outros, ampliemos os horizontes.
No ambiente católico é muito frequente conviver com católicos que fogem da perseguição nos seus países de origem. Pedro relacionava-se com famílias católicas nigerianas, chinesas, sírias, índias, paquistanesas... Todos os conflitos mundiais acabam por gerar um fluxo de refugiados para o Reino Unido. Pedro perguntava e informava-se muito sobre esses conflitos e em especial, sobre a perseguição religiosa em vários países.
Documentário sobre Pedro Ballester (com legendas em português)
Em algumas declarações do documentário, tanto o seu irmão Carlos como o seu amigo Lawrie, concordam que às vezes Pedro era muito insistente, demasiado pragmático, ou que quando tinha a certeza de alguma coisa, não contemporizava. Como lutou contra os seus defeitos?
Nas suas notas pessoais percebe-se a sua luta. Cada semana ia à direção espiritual com ânimo de melhorar, de mudar. Tomava notas dos seus propósitos e revia-os todas as noites no exame de consciência. Dava-se conta dos seus defeitos e por vezes sofria por eles.
Por exemplo, pela sua impaciência com algum residente de Greygarth que não estudava porque não queria, e que ficava em jogos de computador em vez de ir às aulas ou que não queria ajudar ninguém em nada. Contra a irritação, procurava rezar por eles e depois pensava em como os poderia ajudar.
No final da doença, incomodavam-no as gargalhadas das outras pessoas, mas percebia que era um problema pessoal, pelas suas circunstâncias, e pedia na sua oração para morrer com alegria.

Um momento especial na sua doença foi quando pediu para ver o Papa Francisco e como conseguiu dizer-lhe que oferecia as suas dores a Deus pela Igreja e pelo Santo Padre.
Pedro manifestou o desejo de ver o Papa Francisco. O Pe. Carlos Nannei transmitiu-lhe e o Papa disse-lhe que ficaria feliz de o receber. Foi um encontro descontraído e cordial. Pedro deu-lhe um cartão assinado por doentes, médicos e enfermeiras do piso de cancro em adolescentes do Christie Hospital e o Papa benzeu-o. O Papa ouvia-o e olhava para ele com muito carinho. Ao terminar, abençoou-o.
A família ofereceu-lhe uma imagem de São José, sevilhana e muito antiga, e um pote com doce de leite porque a sua mãe sabia que o Papa gostava. Riu-se ao vê-lo e disse a Pedro: «É que as mães sabem tudo!». Ao regressar a Manchester, no hospital puseram a fotografia de Pedro com o Papa na sala de música.

Chama a atenção que, não só na sua infância como também na sua adolescência, tivesse uma ótima relação com os pais e com os seus dois irmãos. Que destacaria da família Ballester Arenas?
A família é essencial na formação do carácter. Os pais ensinaram-no a rezar e rezavam com ele. Assistiam à Missa em família e os três irmãos eram acólitos na paróquia. Rezavam o terço todos os dias em família. É em casa que se aprende a ser santo. Aí aprendeu a ser generoso, a ser responsável.
Como explica o seu irmão Carlos, Pedro foi sempre o irmão mais velho. Os três irmãos nasceram durante um período de três anos. Essa pequena diferença de idade ajudou a que fossem muito unidos. Eram (e são) muito bons amigos. Brincavam juntos, saíam juntos muitas vezes e divertiam-se. Um rapaz excecional sai habitualmente de uma família excecional.

No Reino Unido convivem pessoas de muitos credos religiosos, agnósticos e ateus. E o número de católicos e de pessoas do Opus Dei não é muito elevado. Pedro sonhava com difundir a mensagem cristã do Opus Dei na sua universidade e por todo o país. O Cardeal Roche afirma que começaram a suceder coisas maravilhosas. Pode contar-nos alguma?
Com efeito, os católicos são uma minoria e o Opus Dei é muito pouco conhecido em geral. Muitas vezes, no colégio ou ao frequentar a universidade, as pessoas entram pela primeira vez em contacto com pessoas de fé. É um ambiente muito respeitador e geram-se conversas muito interessantes, abertas e genuinamente amigáveis. Há, evidentemente, alguns preconceitos às vezes, pessoas mal informadas. Mas raramente existe animosidade. Pelo contrário, há curiosidade. Nessas circunstâncias, evangelizar é tão natural como fazer amigos uma vez que, em última instância, se identificam.
Há continuamente conversões à igreja Católica no Reino Unido. Pedro suscitou várias em vida e agora continua a despertar interesse em muitas almas. Todas as conversões resultam do exemplo dos fiéis católicos, mais do que de descobertas doutrinais. O testemunho da vida de Pedro é, neste sentido, um grande detonador de conversões.

Em dezembro de 2014 diagnosticaram-lhe o osteossarcoma. Depois de um tratamento levam-no à Alemanha para receber outro, experimental, que dá bom resultado. Até que em fevereiro de 2017 volta o cancro com força e comunicam-lhe que lhe faltam 12 meses de vida. Tem apenas 20 anos e, nesse momento, esforça-se por sorrir para que a sua mãe não chore.
O osteossarcoma em jovens é um cancro muito agressivo. Durante os dois primeiros anos, Pedro recebeu vários tratamentos e os seus piores momentos foram o efeito secundário destes ciclos de quimioterapia.
Por vezes parecia que o tumor estava inativo. Além disso, havia um exército de pessoas a rezar por ele e Pedro tinha muita fé. Numa carta confessou-me que, apesar de saber que podia morrer, tinha sempre pensado que aquilo duraria muito mais.
Quando em fevereiro de 2017 lhe disseram que se tinham esgotado os recursos e que a expectativa de vida seria de menos de um ano, Pedro foi apanhado de surpresa. Recebeu a notícia juntamente com os seus pais. Ao ver como isso os afetou, Pedro sorriu para os animar. Mais tarde confessaria que aquilo foi um golpe duro e que só tinha conseguido sorrir porque a mãe estava à sua frente. Então mudou de atitude. Além de se preparar para morrer, procurou ajudar a família a preparar-se para aquele momento.
Greygarth Hall é a residência universitária do Opus Dei em Manchester, onde viveu Pedro. Como é que se viveu lá a doença e o falecimento de Pedro?
Aos médicos, chamou muito a atenção que Pedro quisesse passar os seus últimos dias em Greygarth, rodeado de estudantes e amigos. Hoje em dia não se esconde a morte. Muitos morrem sozinhos num quarto de hospital. No entanto, Pedro estava acompanhado dia e noite pelos pais e irmãos, amigos e outros membros do Opus Dei. O quarto ficou num lugar tranquilo da casa onde Pedro podia receber visitas e também descansar.
Todos os residentes se desvelaram com ele e passavam muito tempo no seu quarto. Alguns inclusive decidiram ficar durante as férias de Natal para estar com ele nos seus últimos dias. Ver Pedro morrer foi um acontecimento que nunca esqueceriam. Como disse o seu tio ao vê-lo morrer: «Se me tivessem dado a opção de presenciar um evento nesta terra, este seria o que eu escolheria».

Lendo a vida de Pedro, podemos eventualmente pensar que a santidade é só para umas pessoas muito especiais?
Gostamos imenso de pensar que quem faz coisas especiais é porque tem algo especial que nós não temos. Assim desculpamo-nos. Quem conheceu Pedro testemunha que era muito normal. Sem dúvida tinha talentos. Era muito inteligente, por exemplo. Mas uma pessoa não nasce a sorrir, sendo generoso, amável, observador ou piedoso. Ninguém nasce, mas sim, torna-se especial. Ao ler as notas que Pedro tomava na sua oração ou no seu exame de consciência, entende-se a sua luta. De fora, parecia que tudo lhe saía espontaneamente, que ele era assim. Mas não. Ele tornou-se assim, com a ajuda de Deus e de muitas pessoas. Por exemplo, chamava a atenção o seu zelo apostólico, parecia um talento natural. Mas ao ler os seus propósitos vê-se como pedia na sua oração para se libertar dos respeitos humanos, superar a vergonha, ou como se esforçava por falar com um ou outro sem se desculpar pensando que não conhecia bem essa pessoa ou que não responderia bem. A santidade é luta. E ler a luta de outros ajuda sempre a entendê-lo melhor.
Por vezes fala-se de uma pessoa canonizada fixando-se num aspeto da sua vida. Por exemplo, São João Paulo II definiu o fundador do Opus Dei como o santo do quotidiano. Como definiria Pedro?
Desde pequeno que Pedro tinha um sentido apostólico e de missão. Sabia que era um apóstolo. Além disso, tinha um amor genuíno às pessoas e por isso atraía. Talvez Pedro possa ser recordado pelo seu zelo apostólico. Aproximar almas de Deus era a sua paixão e a sua missão.