Pedro: “Nunca fui tão feliz”

Pedro Ballester, inglês e estudante de Engenharia, aprendeu a amar a Deus também na dor de um cancro terminal. Faleceu em 2018 em Manchester com 21 anos. Esta é a sua história de vida.

A história de Pedro Ballester, um numerário do Opus Dei
Pedro Ballester com os seus pais

Documentário sobre Pedro Ballester (com legendas em português).


Num sábado, 13 de janeiro, de madrugada, amigos e familiares rezavam à volta de Pedro Ballester. O jovem estudante de Engenharia tinha dado o último suspiro e gozava já da presença de Deus. Pedro era numerário do Opus Dei: tinha-se comprometido a seguir Deus vivendo o celibato no meio do mundo, trabalhando e intimando com Cristo na sua vida quotidiana.

A vida de Pedro foi breve. O Senhor levou-o aos 21 anos, depois de lutar durante três anos contra um cancro da pelve. A pesar de as dores serem por vezes intensas, os amigos destacam que mal se queixava. A fé ajudava-o a conviver com a doença com paciência e até, sempre que possível, com alegria.

Pedro Ballester

Pedro nasceu em Yorkshire (Inglaterra) de pais espanhóis. De facto, nele misturavam-se essas duas culturas: tinha um carácter latino muito sociável, equilibrado com a rejeição típica do Norte pela confusão e pelo sentimentalismo.

Encarou o aparecimento repentino da doença, em dezembro de 2014, como mais uma realidade que podia santificar, seguindo o espírito do Opus Dei, que ensina a encontrar Deus nas circunstâncias comuns da vida. O cancro que tinha era para ele simplesmente uma “circunstância”.

NOS ÚLTIMOS MESES, jÁ SEM ESPERANÇAS DE CURA, PEDRO MANIFESTOU QUE QUERIA MORRER “EM CASA”

Os pais, também do Opus Dei, trabalham em Manchester. Quando Pedro foi admitido na prelatura, aceitaram que fosse morar para uma casa com outros fiéis que vivem o celibato.

Quando o tratamento médico da doença o exigiu, foi para o Christie Hospital. Nos últimos meses, já sem esperanças de cura, Pedro manifestou que queria morrer “em casa”. Passou os seus últimos dias em Greygarth Hall, a residência universitária para jovens situada em Manchester, onde tinha morado durante dois anos.

Uma visita à Escócia, com outros fiéis do Opus Dei. Pedro, de t-shirt encarnada, gozava de uns dias de tréguas, depois de ter feito um tratamento na Alemanha

Pedro foi um estudante brilhante e sério. Tinha entrado no Imperial College de Londres, onde começou o curso de Engenharia em 2014. Nessa altura, começou a sentir fortes dores nas costas. Durante uns meses, pensou-se que se tratava de um problema muscular. Quando se descobriu o cancro -no princípio de 2015-, estava demasiado espalhado para conseguir tratá-lo.

REZAVA DIARIAMENTE. QUANDO AS DORES LHO IMPEDIAM, A SUA ORAÇÃO CONSISTIA EM OFERECER OS SOFRIMENTOS

Os amigos e familiares começaram a rezar intensamente. Ao mesmo tempo, foi à Alemanha para receber uma terapia de protões muito inovadora que, inicialmente, deu esperanças. Pedro conseguiu desfrutar de um verão fantástico e até recomeçou os estudos de Engenharia em Manchester. No entanto, as dores voltaram e o cancro tornou a crescer, desta vez a um ritmo imparável.

A vida dele ficou partilhada na altura entre o Christie Hospital e a Residência Greygarth. Os seus irmãos no Opus Dei fizeram todos os possíveis para o apoiar humana e espiritualmente, juntamente com os pais e os dois irmãos, Carlos e Javier. Recebia a Comunhão diariamente e tinha sempre alguém com quem conversar. Quando as forças lho permitiam, rezava todos os dias o terço e fazia oração mental. Quando as dores lho impediam, a sua oração consistia em oferecer os sofrimentos.

Em dezembro de 2014, poucos dias antes de lhe ser diagnosticado o cancro

Os amigos iam visitá-lo com frequência. Muitos, também as enfermeiras que cuidavam dele, afirmam que tinha “algo de especial”. Gostava imenso da atualidade política e internacional. Embora não fosse nada clerical, tinha amigos padres, por quem rezava especialmente. Sabia sofrer pensando nos sofrimentos de Cristo, e oferecia as suas dores pelo bem espiritual de outras almas.

Pedro era uma pessoa normal, com defeitos e lutas como qualquer um. Por vezes, o sofrimento deprimia-o, especialmente quando não lhe dava tréguas durante muito tempo. Às vezes, chorava. Nalgumas alturas, irritava-se, mas a sua luta era real e excecionalmente valente.

Em novembro de 2015, teve ocasião de cumprimentar o Papa Francisco

Viveu e morreu como fiel numerário do Opus Dei, e desejava ajudar outros a serem fiéis à sua vocação. Uma vez, menos de um mês antes de morrer, um grupo de rapazes novos do Opus Dei foi visitá-lo ao hospital. Depois de uma reunião, quis falar com eles individualmente. Soube-se depois que Pedro os tinha animado, um a um, a serem fiéis e a perseverar na sua vocação.

“ÉS FELIZ?”; ESTE DISSE: “SOU; E TU, PEDRO?” ...

A um dos mais novos perguntou: “És feliz?”; este disse: “Sou; e tu, Pedro?”. Após três anos de sofrimento, e consciente de que a morte não tardaria muito, o doente respondeu: “Sim, nunca fui tão feliz”.

Pedro morreu em Greygarth à 1h30m da madrugada de sábado, dia de Nossa Senhora, com o escapulário e diante de uma imagem da Virgem de Guadalupe. Estava rodeado pelos pais, pelos irmãos, Carlos e Javier, e outros fiéis do Opus Dei. Faleceu depois de escutar as palavras que o sacerdote dirigia a Deus: “Esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei…”.

Pedro, com os pais, Esperanza e Pedro, e os irmãos, Carlos e Javier

Muitos sentem o que afirmou um dos seus amigos: “Pedi-lhe que me ajude com uma intenção concreta. Sinto que o Pedro está mais vivo que nunca”.

Joseph Evans, capelão de Greygarth Hall (Manchester).