Papa Francisco ao Campus Bio-Medico: a terapia da dignidade humana

“O doente antes da doença. O Beato Álvaro del Portillo encorajou-vos a pôr-se cada dia ao serviço da pessoa humana como um todo”. Reproduzimos todo o discurso.

No dia 18 de outubro, o Santo Padre recebeu em audiência privada representantes desta iniciativa educativa e sanitária, nascida em Roma sob o impulso do Beato Álvaro del Portillo. Reproduzimos a seguir o discurso completo:


Queridos irmãos e irmãs:

Dou as boas-vindas e agradeço a vossa presença e o presente. Agradeço ao Professor Paolo Arullani, Presidente da Fundação, as palavras que me dirigiu em vosso nome. É um prazer conhecê-lo pessoalmente no dia em que celebramos S. Lucas, a quem o apóstolo Paulo chama "o querido médico" (Colossenses 4, 14).

Aceitei de bom grado a proposta de me encontrar convosco pelo que conheço do Campus Bio-Medico de Roma. Sei quanto é difícil hoje realizar um trabalho na área da saúde, principalmente quando, como na vossa policlínica, não se está apenas comprometido com a assistência, mas também com a investigação para dar aos doentes as terapias mais adequadas e, sobretudo, se faz com amor pela pessoa. Pôr o doente antes da doença é essencial em todos os campos da medicina; é essencial que o tratamento seja verdadeiramente integral, verdadeiramente humano. O doente antes da doença. A isto o bem-aventurado Álvaro del Portillo encorajou, a pôr-vos diariamente ao serviço da pessoa humana como um todo. Agradeço-vos muito por isso, é muito agradável a Deus.

O DOENTE ANTES DA DOENÇA. O BEATO ÁLVARO DEL PORTILLO ENCORAJOU-VOs A FAZê-LO.

A centralidade da pessoa, que é a base do vosso compromisso com a assistência, mas também com a docência e a investigação, ajuda-vos a fortalecer uma visão unitária e sinérgica. Uma visão que não coloca ideias, técnicas e projetos em primeiro lugar, mas sim o homem no singular, o doente, que deve ser cuidado conhecendo a sua história, conhecendo a sua experiência, estabelecendo relações de amizade que curam o coração. O amor ao homem, especialmente na sua condição de fragilidade, em que brilha a imagem de Jesus Crucificado, é específico de uma realidade cristã e nunca deve ser perdido.

A Fundação e o Campus Bio-Médico, e os cuidados de saúde católicos, de modo geral, são chamados a testemunhar com factos que não existem vidas indignas ou que devem ser descartadas porque não correspondem ao critério da utilidade ou às exigências do lucro. Vivemos uma verdadeira cultura do descartável; é um pouco o ar que se respira e temos que reagir contra essa cultura do descartável. Cada centro de saúde, sobretudo os de inspiração cristã, deve ser um lugar onde se pratique o cuidar da pessoa e se possa dizer: “Aqui não se veem só médicos e doentes, mas gente que acolhe e ajuda: aqui pode-se experimentar a terapia da dignidade humana” que nunca pode ser negociada e deve ser sempre defendida.

Portanto, devemos focar a atenção em cada um, sem esquecer a importância da ciência e da investigação. Porque cuidar sem ciência é fútil, assim como ciência sem cuidado é estéril. Os dois andam juntos e só juntos fazem da medicina uma arte, uma arte que envolve cabeça e coração, que combina conhecimento e compaixão, profissionalismo e piedade, competência e empatia.

vaccinazioni pazienti over 80 Policlinico UCBM
Centro de vacinação Covid

Caros amigos, obrigado por promover o desenvolvimento humano da investigação. Infelizmente, é frequente que se persigam caminhos rentáveis de ganhos, esquecendo-se de que, antes das oportunidades de lucro, estão as necessidades dos doentes que estão em constante evolução, é preciso estar preparado para lidar com patologias e condições sempre novas. Tenho em mente, entre outros, as de muitos idosos e as relacionados com tantas doenças raras, que não se sabe o que são, ainda não há investigação para compreendê-las... Além de promover a investigação, ajudais os que não têm recursos financeiros para pagar a educação universitária e enfrentais despesas consideráveis ​​que um orçamento normal não pode suportar. Estou a pensar, em particular, nos esforços já feitos para o Covid Centre, o Pronto Socorro e o recente projeto do Lar.

Tudo isso é muito bom, é bonito poder lidar com emergências cada vez maiores com aberturas cada vez maiores. E é importante fazê-lo juntos. Sublinho esta palavra simples, mas difícil: juntos. A pandemia mostrou-nos a importância de nos ligarmos, colaborar e resolver problemas comuns juntos. Os cuidados de saúde, em particular os católicos, precisam e vão precisar cada vez mais disso, de estar em rede, que é uma forma de expressar o conjunto. Já não é tempo de seguir o próprio carisma isoladamente. A caridade exige o dom: o conhecimento compartilha-se, há intercâmbio de competências, a ciência é posta em comum.

A CARIDADE EXIGE O DOM: O CONHECIMENTO COMPARTILHA-se,HÁ INTERCÂMBIO DE COMPETênciaS,A CIÊNCIA É POSTA em comum

Ciência, digo, não apenas os produtos da ciência que, se oferecidos isoladamente, são pensos capazes de ocultar a doença, mas não de curá-la em profundidade. É o caso das vacinas, por exemplo: é urgente ajudar os países que têm menos, mas isso deve ser feito com planos a longo prazo, não apenas motivados pela pressa das nações ricas em ficarem mais seguras. Os remédios devem ser distribuídos com dignidade, não como uma esmola piedosa. Para fazer um bem real, precisamos de promover a ciência e a sua aplicação integral: entender os contextos, enraizar os tratamentos, promover a cultura sanitária. Não é fácil, é uma verdadeira missão, e espero que a sanidade católica seja cada vez mais ativa neste sentido, como expressão de uma Igreja voltada para fora, de uma Igreja em saída.

Animo-vos a continuar nesta direção, acolhendo o vosso trabalho como um serviço às inspirações e surpresas do Espírito, que ao longo do caminho vos faz encontrar tantas situações que carecem de proximidade e de compaixão. Rezo por vós, renovo a minha gratidão e dou-vos a minha bênção. E peço-vos, por favor, que continueis a rezar por mim. Obrigado.


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