O Natal nos discursos de Bento XVI

Nestes dias de Natal, Bento XVI fala sobre o nascimento de Jesus Cristo e anima os cristãos a que este acontecimento se reflicta nas suas vidas. Leia diariamente um extracto do que o Papa disse. Actualizado em 28 de Dezembro.

28 de Dezembro (última audiência pública do ano)

"O salmo 138, (...) hino sapiencial de paixão e beleza intensas refere-se à realidade mais elevada e maravilhosa de todo o universo: o ser humano, definido como prodígio de Deus. Um tema, profundamente em sintonia com o clima natalício (...) no qual celebramos o mistério do Filho de Deus, que se fez homem para nos salvar".

“Na segunda parte do salmo os olhos amorosos de Deus dirigem-se ao ser humano, considerado no seu início pleno e completo. Todavia é ‘informe’ no seio materno, (...) mas sobre ele pousa já o olhar benévolo e amoroso de Deus".

"A ideia de que Deus conhece já todo o futuro desse embrião informe: no livro da vida do Senhor já estão escritos os dias que essa criatura viverá e encherá de obras durante a sua existência terrena".

Este salmo representa “uma meditação sobre os que na comunidade cristã são mais débeis no seu caminho espiritual. Por pequenos e informes que sejam não se separam do amor a Deus e ao próximo segundo as suas possibilidades, contribuindo a seu modo para a edificação da Igreja. (...) É uma mensagem de esperança para todos, inclusivamente para os que caminham com dificuldade no caminho da vida espiritual e eclesial”.

27 de Dezembro: Santo Estêvão

Na atmosfera da alegria do Natal, não parece deslocada a referência ao martírio de Santo Estêvão. Com efeito, sobre o presépio de Belém já repousa a sombra da Cruz. Prenunciam-na já a pobreza do estábulo em que nasce o Menino, a profecia de Simeão sobre o sinal de contradição a espada que atravessará a alma da Virgem, e a perseguição de Herodes que fará necessária a fuga para o Egipto.

Não deve surpreender-nos que um dia esse Menino, já adulto, peça aos seus discípulos que o sigam no caminho da Cruz com absoluta fé e fidelidade. Atraídos pelo seu exemplo e sustentados pelo seu amor, muitos cristãos, já nas origens da Igreja, darão testemunho da sua fé com o seu próprio sangue. Aos primeiros mártires seguiram-se muitos outros no decurso dos séculos e até aos nossos dias.

¿Como não reconhecer que ainda nos nossos dias, em várias partes do mundo, professar a fé cristã exige o heroísmo dos mártires? ¿Como não dizer também que em todo o lado, mesmo onde não há perseguições, viver com coerência o Evangelho, implica pagar um alto preço?

Contemplando o Menino divino nos braços da sua Mãe, e olhando o exemplo de Santo Estêvão, pedimos a Deus a graça de viver com coerência a nossa fé, dispostos sempre a responder a quem nos peça a razão da esperança que há em nós (cfr 1 Pt 3,15).

25 de Dezembro

“Deus é tão grande que pode fazer-se pequeno. Deus é tão poderoso que pode fazer-se inerme e vir ao nosso encontro como criança indefesa, a fim de que possamos amá-lo”.

“Deus é tão bom que pode renunciar ao seu esplendor divino e descer a um estábulo para que possamos encontrá-lo e, deste modo, para que a sua bondade nos toque, nos seja comunicada e continue actuando através de nós”.

“Escolheu como sinal seu o Menino no presépio: Ele é assim. Deste modo aprendemos a conhecê-lo. E sobre todas as crianças resplandece alguma centelha daquele dia, da proximidade de Deus que devemos amar e à qual temos de nos submeter; sobre todas as crianças, também sobre as que ainda não nasceram”.

“Naquele Menino deitado no presépio, Deus mostra a sua glória: a glória do amor, que se dá como dom a si próprio e que se priva de toda a grandeza para conduzir-nos pelo caminho do amor”.

“Cumpre a tua promessa, Senhor. Faz que onde há discórdia nasça a paz; que surja o amor onde reina o ódio; que se faça luz onde dominam as trevas. Faz que sejamos portadores da tua paz”.

25 de Dezembro. Benção Urbi et orbe:

“Uma humanidade unida poderá afrontar os numerosos e preocupantes problemas do momento actual: desde a ameaça terrorista às condições de pobreza humilhante na qual vivem milhões de seres humanos, desde a proliferação das armas ás epidemias e à deterioração ambiental que ameaça o futuro do planeta”.

“Homem moderno, adulto e, todavia, às vezes débil no pensamento e na vontade, ¡deixa-te levar pela mão pelo Menino de Belém, não temas, confia n’Ele!”.

“O homem da era tecnológica, se se encaminha para uma atrofia espiritual e para um vazio do coração, corre o risco de ser vítima dos mesmos êxitos da sua inteligência e dos resultados das suas capacidades operativas”.

“Por isso é importante que abra a própria mente e o próprio coração ao Natal de Cristo, acontecimento de salvação capaz de imprimir renovada esperança à existência de todo o ser humano”.

21 Dezembro 2005

“O Natal coincide no nosso hemisfério com os dias do ano em que o sol termina a sua parábola descendente e começa a prolongar-se gradualmente a duração da luz diurna. Assim compreendemos melhor o tema da luz que vence as trevas. É um símbolo evocador de uma realidade que se refere à intimidade do ser humano: o bem que vence o mal, a vida que vence a morte. O Natal faz-nos pensar nesta luz interior, a sua luz divina propõe-nos de novo o anúncio da vitória definitiva do amor de Deus sobre o pecado e a morte. Frente a una cultura consumista que tende a ignorar os símbolos cristãos das festas natalícias, preparemo-nos para celebrar com alegria o nascimento do Salvador, transmitindo às novas gerações os valores das tradições que fazem parte do património da nossa fé e cultura”.

“Em particular, quando vejamos as ruas e as praças das nossas cidades adornadas com luzes resplandecentes, recordemos que estas luzes evocam outra luz, invisível para os nossos olhos, mas não para o nosso coração. Ao contemplá-las, ao acender as velas das igrejas ou as luzes do Presépio e da árvore de Natal nas nossas casas, ¡que a nossa alma se abra à verdadeira luz espiritual trazida a todos os homens e mulheres de boa vontade!”.

19 de Dezembro 2005

“No Menino de Belém, a ‘pequenez’ de Deus feito homem revela-nos a grandeza do ser humano e a beleza da nossa dignidade de filhos de Deus. Contemplando a este Menino, percebemos a grande confiança de Deus em nós e as grandes possibilidades de fazer coisas formosas e grandes na nossa vida, vivendo com Jesus e como Jesus”.

“Dai testemunho a todos da alegria da presença forte e doce de Jesus, começando pelos vossos colegas. Dizei-lhes que é bonito ser amigos de Jesus e que vale a pena segui-lo. Mostrai com o vosso entusiasmo que só seguindo a Jesus se encontra o verdadeiro sentido da vida, e portanto, a alegria verdadeira e estável”.

18 de Dezembro 2005

“Com a saudação do Arcanjo Gabriel a Maria, ‘kaire’ em grego, que significa ‘alegra-te’, começa o Novo Testamento. Podemos dizer que a primeira palavra que aparece no livro sagrado é ‘alegra-te’, e portanto, ‘alegria’. Este é o verdadeiro significado do Natal: '' Deus está próximo de nós, tão próximo que se faz criança”.

“No mundo de hoje, onde Deus está ausente, constatamos que está dominado pelo medo, pela incerteza, sem dúvida, a palavra ‘alegra-te’, porque Deus está contigo, está connosco, inicia realmente um tempo novo”.

“A alegria é o verdadeiro dom do Natal e não os presentes caros, que significam tempo e dinheiro. Podemos comunicá-la de um modo simples: com um sorriso, com um gesto bom, com uma pequena ajuda, com o perdão. Transmitamos esta alegria e a alegria doada voltará para nós. Peçamos que se reflicta na nossa vida esta presença da alegria libertadora de Deus”.