«Em Loreto, estou especialmente em dívida com Nossa Senhora»

No dia 10 de dezembro comemora-se a festa de Nossa Senhora do Loreto. Josemaria Escrivá de Balaguer esteve em Loreto pela primeira vez nos dias 3 e 4 de janeiro de 1948. Mas a razão pela qual o fundador do Opus Dei se considerava especialmente devedor à Virgem de Loreto refere-se a uma gravíssima necessidade.

Nossa Senhora do Loreto

🎥 A partir deste link pode-se visitar o interior da Santa Casa, todos os dias (das 9.00 às 18.00) em que está aberto o santuário. A festa de Nossa Senhora do Loreto festeja-se a 10 de dezembro.

Nossa Senhora de Loreto

Relatos das visitas do fundador do Opus Dei ao Loreto

Na tarde de 3 de janeiro chegaram a Loreto S. Josemaria, D. Álvaro del Portillo, Salvador Moret Bondía e Ignacio Sallent Casas. Fizeram oração no recinto da Casa de Nazaré, dentro do Santuário. Ao sair do templo, o Padre perguntou a D. Álvaro:

– «Que disseste à Virgem?»

– «Quer que lhe diga?». E, ante um gesto do Padre, respondeu:

– «Bem, repeti o mesmo de sempre, mas como se fosse a primeira vez. Disse-lhe: peço-te o que o Padre te pedir».

– «Parece-me muito bem o que pediste», comentou mais tarde S. Josemaria. Repete-o muitas vezes.

Josemaria Escrivá de Balaguer esteve em Loreto pela primeira vez nos dias 3 e 4 de janeiro de 1948. Mas a razão pela qual o fundador do Opus Dei se considerava especialmente devedor à Virgem de Loreto refere-se a uma gravíssima necessidade. A década de 1950 foi de grande sofrimento para S. Josemaria, devido a incompreensões e conflitos. No meio dessas dificuldades, decidiu ir a Loreto para se colocar sob a proteção da Virgem.

A festa de Nossa Senhora do Loreto celebra-se a 10 de dezembro. Foto: Vatican News

Uma viagem especial: 15 de agosto de 1951

No dia 14 de agosto sai de Roma com D. Álvaro e outros dois a caminho de Loreto – narra Ana Sastre* – para chegarem no dia 15 e consagrar o Opus Dei à Santíssima Virgem. O calor é sufocante e a sede far-se-á sentir durante o trajeto. A estrada, traçada entre vales, é a pique para escalar os Apeninos e a descer, na última parte, até chegar ao Adriático.

Segundo uma tradição multissecular, desde 1294 a Santa Casa de Nazaré está na colina de Loreto, sob o cruzeiro da Basílica edifi­cada posteriormente. É retangular, com paredes de uns quatro metros e meio de altura. Uma delas é de construção moderna, mas as outras, sem alicerces, enegrecidas pelo fumo das velas, são origi­nais.

Tanto a estrutura, como a formação geológica dos materiais não têm nenhuma semelhança com os caracteres da antiga arquite­tura da zona: é perfeitamente análoga às construções que se faziam na Palestina há vinte séculos: esquadrias de pedra arenosa, que utili­zavam a cal como elemento de união.

O Santuário ergue-se sobre uma lomba coberta de loureiros – donde lhe vem o nome –, brilhando sob o sol. Estacionam na Praça Central e o Padre sai rapidamente do carro. Durante quinze ou vinte minutos, perdem-no no meio da gente que enche a Basílica. Por fim sai, depois de saudar a Virgem, sorridente e animado. São sete e meia e têm de voltar a Ancona para passarem a noite.

Na manhã seguinte, antes de que o sol caia a pino, voltam à estrada. Apesar de ser muito cedo, o Santuário está repleto. O Padre paramenta-se na Sacristia e dirige-se para o altar da Casa de Nazaré para celebrar a Missa. O pequeno recinto está cheio de ­gente e o calor é sufocante.

A Santa Missa e a consagração do Opus Dei

Sob as lâmpadas votivas, quer oficiar a Liturgia com toda a devoção. Mas não contou com o fervor da multidão neste dia de festa: «Enquanto eu beijava o altar, nos momentos prescritos pelas rubricas da Missa, três ou quatro camponesas beijavam-no ao mesmo tempo. Distraí-me, mas estava emocionado. E também me atraía a atenção, a lembrança de que naquela Santa Casa – que a tradição assegura ser o lugar onde viveram Jesus, Maria e José – na mesa do altar, tinham gravado estas palavras: Hic Verbum caro factum est. Aqui, numa casa construída pela mão dos homens, num pedaço da terra em que vivemos, habitou Deus». (Cristo que passa, n. 12).

O fundador do Opus Dei com Álvaro del Portillo diante da Santa Casa

Durante a Missa, sem fórmula, mas com palavras cheias de fé, o Padre faz a Consagração da Obra a Nossa Senhora. E, a seguir, falando em voz baixa para os que estão a seu lado, volta a repeti-la em nome de todo o Opus Dei. Mais tarde, o Padre, dar-lhe-á a forma definitiva:

«Consagramos-te o nosso ser e a nossa vida; tudo o que é nosso: o que amamos e somos. Para ti os nossos corpos, os nossos corações e as nossas almas; somos teus (...).

E para que esta Consagração seja verdadeiramente eficaz e duradoura, renovamos hoje a teus pés, Senhora, a entrega que fize­mos a Deus no Opus Dei (...).

Infunde em nós um grande amor à Igreja e ao Papa, e faz-nos viver plenamente submissos a todos os seus ensinamentos» (Carta, 11/03/1940).

Uma invocação à Virgem

O Padre saiu de Roma visivelmente cansado. Mas, ao regressar, parecia renovado. Como se todos os obstáculos se tivessem dissolvido no caminho de Deus. Há alguns meses, propusera aos seus filhos uma invocação dirigida à Mãe de Jesus; a partir desse dia repeti-la-ão para que haja continuamente almas que estejam a pedir a Santa Maria a sua proteção: Cor Mariae dulcissimum iter para tutum! Coração dulcís­simo de Maria, prepara-nos um caminho seguro!

Basílica da Santa Casa

As rotas do Opus Dei estarão sempre precedidas do sorriso e do amor da Virgem. Uma vez mais, o Fundador moveu-se nas coordenadas da fé. Empregou os meios humanos, mas confia na intervenção decisiva do Alto.

«Deus é o de sempre. – Fazem falta homens de fé; e renovar­-se-ão os prodígios que lemos na Sagrada Escritura. Ecce non est abbreviata manos Domini – a mão de Deus, o seu poder não diminuiu» (Caminho, n. 586).

Foi à Santa Casa mais seis vezes: 07/11/1953, 12/05/1955, 08/05/1960, 22/04/1969, 08/05/1969 e a última em 22/04/1971. No dia 9 de dezembro de 1973, véspera da festa da Virgem de Loreto, disse: «Todas as imagens, todos os nomes, todas as invocações que o povo cristão faz a Santa Maria, me parecem maravilhosas. Mas em Loreto estou especialmente em dívida com Nossa Senhora».


* Ana Sastre, Tempo de Caminhar, Diel, Lisboa, 1994, pp. 417-418.