Meditações: XXXII domingo do Tempo Comum (Ciclo C)

Reflexão para meditar no XXXII domingo do Tempo Comum (Ciclo C). Os temas propostos são: Deus dos vivos; um horizonte transcendente; amar o que amamos.


«DEUS não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos». (Lc 20, 38). Com estas palavras, Jesus responde aos judeus que lhe perguntam sobre o mistério da ressurreição. É uma das verdades fundamentais da nossa fé, que proclamamos todos os domingos quando rezamos o Credo: «E espero a ressurreição dos mortos, e a vida do mundo que há de vir».

É uma realidade reconfortante, pois nos lembra que fomos criados «por Deus para um fim feliz, para além dos limites da miséria terrena»[1]. Aquele que está verdadeiramente unido ao Senhor não permanece nem na morte corporal, nem na do pecado: «Esta vitória foi alcançada por Cristo ressuscitado, libertando o homem da morte com a própria morte»[2]. Esta já não tem a última palavra, porque também pertence a Deus. O Senhor, criador de tudo, chama-nos a uma vida de intimidade e fecundidade eterna com Ele.

Após o nosso caminhar terreno, abre-se um futuro de imortalidade. Mas esta convicção não se baseia no desejo do homem de uma vida sem fim. O seu fundamento é «a própria fidelidade de Deus, que não é Deus de mortos, mas de vivos, e comunica a todos os que n'Ele confiam a mesma vida que Ele possui em plenitude»[3].


NUMA sociedade em que os eventos ocorrem muito rapidamente, muitas vezes damos mais importância ao imediato. E esse ritmo frenético que marca o nosso dia a dia pode fazer-nos esquecer o horizonte transcendente da nossa existência. Por isso, nesta reta final do ano litúrgico, a Igreja encoraja-nos a meditar sobre o nosso destino eterno: somos chamados por Deus a gozar eternamente da glória do céu.

«Senhor, mereça eu contemplar a vossa face e ao despertar saciar-me com a vossa imagem» (Sl 16). Estas palavras projetam-nos para uma vida que está para além da morte, meta do nosso caminho na terra. Na vida eterna alcançaremos a plena realização da nossa realidade pessoal. Esta esperança ilumina o nosso caminhar terreno. Embora para muitos «o caminho do homem vai da vida para a morte» o cristão vive com a certeza de que «a nossa peregrinação vai da morte para a vida: a vida plena!»[4], uma existência mais autêntica que a atual.

Essa fé na vida eterna tem repercussões concretas na nossa vida presente. Por um lado, ilumina e dá esperança aos nossos esforços e lutas para fazer o bem, viver com fidelidade a nossa vocação. E, por outro lado, ajuda-nos a relativizar o valor das coisas deste mundo. «Estás intranquilo – escrevia S. Josemaria –. Olha: aconteça o que acontecer na tua vida interior ou no mundo que te rodeia, nunca te esqueças de que a importância dos acontecimentos ou das pessoas é muito relativa. – Calma. Deixa correr o tempo; e, depois, olhando de longe e sem paixão os factos e as pessoas, adquirirás a perspetiva, porás cada coisa no seu lugar e de acordo com o seu verdadeiro tamanho»[5].


OS SADUCEUS apresentam ao Senhor um caso hipotético: uma mulher casou-se sucessivamente com sete irmãos, que morreram um após o outro. «De qual destes será ela esposa na ressurreição?» e Jesus responde «os que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam, nem se dão em casamento. Na verdade, já não podem morrer, pois são como os Anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus» (Lc 20, 33-36).

Isso não significa que no céu nos esqueçamos dos relacionamentos que nos fizeram felizes na terra. No paraíso poderemos contemplar e desfrutar tudo o que se refere à nossa vida; especialmente, seremos capazes de amar aqueles que amamos no mundo. «Nunca esqueçais que depois da morte vos receberá o Amor. E no amor de Deus encontrareis, além do mais, todos os amores limpos que tenhais tido na terra»[6]. E essa alegria do céu encontrará o seu ponto culminante com a ressurreição dos mortos.

«A vida que Deus nos prepara não é um simples embelezamento desta atual: ela supera a nossa imaginação, porque Deus nos surpreende continuamente com o seu amor e com a sua misericórdia»[7]. Não sabemos exatamente em que consistirá o céu. Mas o que temos a certeza é de que ali encontraremos Deus face a face. E junto d’Ele, encontraremos a Sua Mãe.


[1] Concílio Vaticano II, Gaudium et spes, n. 18.

[2] Ibid.

[3] S. João Paulo II, Homilia, 11/11/2001.

[4] Francisco, Angelus, 10/11/2013.

[5] S. Josemaria, Caminho, n. 702.

[6] S. Josemaria, Amigos de Deus, n. 221.

[7] Francisco, Angelus, 10/11/2013.