Meditações: VI domingo da Páscoa (Ciclo A)

Reflexão para meditar no VI domingo da Páscoa (Ciclo A). Os temas propostos são: a inabitação divina na alma; o Espírito Santo e a Paz; com o fogo do Espírito Santo.


O TEMPO DA PÁSCOA está prestes a chegar ao fim. Ao longo destas semanas, fomos recordando alguns dos encontros de Cristo ressuscitado com os apóstolos e as santas mulheres. Aproximam-se a Ascensão e o Pentecostes, e a Igreja convida-nos a prepararmo-nos interiormente para estas duas solenidades. No Evangelho, lemos as palavras de despedida que Jesus pronunciou na Última Ceia: «Daqui a pouco o mundo já não Me verá, mas vós ver-Me-eis, porque Eu vivo e vós vivereis. Nesse dia reconhecereis que Eu estou no Pai e que vós estais em Mim e Eu em vós» (Jo 14, 19-20).

Jesus manifesta a imensidão do amor de Deus por nós, revelando o mistério da inabitação divina na alma: estamos chamados a ser templo e morada da Santíssima Trindade. «A que maior grau de comunhão com Deus poderia o homem aspirar? Que maior prova do que esta poderia Deus dar de querer entrar em comunhão com o homem? Toda a história milenar da mística cristã, embora tenha expressões sublimes, só nos pode falar imperfeitamente desta presença inefável de Deus no mais íntimo da alma»[1].

Deus mostra-nos como está próximo de nós. Não se contenta em estar perto de nós: quer estar dentro de nós, enchendo o nosso coração com a sua presença. «Deus está aqui connosco, presente, vivo – escreveu S. Josemaria –. Vê-nos, ouve-nos, dirige-nos e contempla as nossas menores ações, as nossas intenções mais escondidas»[2]. Recordar isto com frequência ajudar-nos-á a experimentar a sua presença, a sermos fiéis nas pequenas e grandes coisas que compõem a nossa existência: «Tratando-o assim, com esta intimidade, chegarás a ser um bom filho de Deus e um grande amigo seu: na rua, na praça, na tua empresa, na tua profissão, na tua vida quotidiana»[3].


SE ME AMARDES, guardareis os meus mandamentos. E Eu pedirei ao Pai, que vos dará outro Paráclito, para estar sempre convosco: Ele é o Espírito da verdade» (Jo 14, 15-17). A Igreja nasce do mistério pascal de Cristo, e é continuamente guiada e vivificada pelo Espírito Santo. Na sua história, apesar das fragilidades dos homens, a assistência da Terceira Pessoa da Trindade nunca cessa.

Possivelmente, ante a iminente partida de Jesus, os apóstolos estariam preocupados. O contraste entre a magnitude da empresa que lhes foi confiada e as suas capacidades era grande. Como iam cumprir a missão de levar a sua palavra a todo o mundo? Por isso, Jesus, depois de ter anunciado o envio do Espírito Santo, procura infundir serenidade nos seus discípulos: «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se assuste» (Jo 14, 27).

Com o Espírito Santo, Jesus dá-lhes a paz. Uma paz que é dom de Deus e que, por isso, ultrapassa o que podemos alcançar apenas com as forças humanas. Muitas vezes, na terra, «há apenas uma aparência de paz, um equilíbrio de medo, compromissos precários»[4].

Ao contrário, a paz que o Senhor nos dá é sobretudo uma consequência da caridade que o Paráclito derrama nos nossos corações. (cf. Rm 5, 5). «A paz do Senhor segue o caminho da mansidão e da cruz: é tomar conta dos outros. Cristo, de facto, tomou sobre si o nosso mal, o nosso pecado e a nossa morte. Ele tomou tudo isso sobre si. Deste modo, libertou-nos. Pagou por nós. A sua paz não é fruto de algum acordo, mas nasce do dom de si mesmo»[5].


QUANDO OS APÓSTOLOS ouviram dizer que os samaritanos tinham ouvido a palavra de Deus, mas ainda não tinham recebido o Paráclito, enviaram Pedro e João. «Os quais, tendo chegado, fizeram oração por eles, a fim de que recebessem o Espírito Santo, porque ele ainda não tinha descido sobre nenhum deles, mas apenas tinham sido batizados em nome do Senhor Jesus. Então Pedro e João impuseram-lhes as mãos e eles receberam o Espírito Santo» (At 8, 15-17).

Este impulso missionário, continuamente renovado, aparece ao longo de toda a História da Igreja. E é motivo de esperança na tarefa de evangelização em que também nós estamos imersos. «O Espírito acompanha a Igreja no longo caminho entre a primeira e a segunda vinda de Cristo: "Vou e voltarei a vós" (Jo 14, 28), disse Jesus aos apóstolos. Entre a "ida" e a "volta" de Cristo está o tempo da Igreja, que é o seu Corpo; estão os dois mil anos que decorreram até agora. Tempo da Igreja, tempo do Espírito Santo: ele é o Mestre que forma os discípulos e os faz apaixonar-se por Jesus, educa-os para que escutem a sua palavra, contemplem o seu rosto»[6].

Durante os seus primeiros anos de sacerdócio, S. Josemaria tinha no seu breviário umas estampas que usava para marcar as páginas. Um dia pareceu-lhe que se estava a afeiçoar a elas, e substituiu-as por papéis em que mais tarde escreveu: Ure igne Sancti Spiritus, queima com o fogo do Espírito Santo! «Usei-os durante muitos anos – recordava –, e cada vez que os lia, era como se dissesse ao Espírito Santo: acende-me, faz de mim uma brasa!»[7]. Com estes mesmos desejos, podemos preparar-nos perseverando em oração, junto a Maria (cf. At 1, 14), receber o Espírito Santo nos nossos corações. Assim, inflamados no nosso amor a Deus e aos outros, provaremos o calor divino a todos os homens, como fizeram os apóstolos.


[1] S. João Paulo II, Homilia, 05/05/1986.

[2] S. Josemaria, Sulco, n. 658.

[3] S. Josemaria, Notas de uma tertúlia, 17/11/1972.

[4] S. Josemaria, Cristo que passa, n. 73.

[5] Francisco, Audiência, 13/04/2022.

[6] Bento XVI, Homilia, 13/05/2007.

[7] Salvador Bernal, Josemaría Escrivá de Balaguer, Rialp, 1980, p. 337.