Meditações: V domingo da Páscoa (Ciclo B)

Reflexão para meditar no V domingo da Páscoa (Ciclo B). Os temas propostos são: unidos à videira, que é Cristo; para dar mais fruto; somos todos ramos da mesma videira.


O TRABALHO no campo é bem conhecido dos que ouvem Jesus. As vinhas são uma parte importante da História do povo de Israel, também nos seus textos sagrados. Por isso, Jesus Cristo centra-se num dos seus elementos e aplica-o à relação dos Apóstolos com Ele. «Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor (...). Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em Mim» (Jo 15, 1-4).

«Ao encarnar-Se, o próprio Cristo veio a este mundo para ser o nosso fundamento. Em cada necessidade e aridez, Ele é a fonte que dá a água da vida, que nos sacia e fortalece. Ele mesmo carrega sobre Si todo o pecado, medo e sofrimento e, por fim, nos purifica e transforma misteriosamente em ramos bons, que dão vinho bom. Em tais momentos de necessidade, às vezes sentimo-nos como que sob uma prensa, à semelhança dos cachos de uva que são completamente esmagados. Mas sabemos que, unidos a Cristo, nos tornamos vinho generoso. Deus sabe transformar em amor mesmo as coisas pesadas e acabrunhadoras da nossa vida. Importante é ‘permanecermos’ na videira, em Cristo»[1].

Vivermos unidos a Cristo é a chave da felicidade. E a unidade é fruto do amor. Por isso, as pessoas que se amam acabam por viver em sintonia de ideias, de vontades, de afetos. Acabamos por partilhar de tal forma as coisas de cada um que aquilo que é dos outros me interessa como se fosse meu. Permitir que esta afinidade se enraíze na nossa relação com Jesus é fonte de alegria e de segurança. Podemos viver em união com Ele no diálogo da oração. Podemos crescer nesta identificação com Cristo pela graça que os sacramentos nos trazem.


PODE ACONTECER que passemos alguma época com pouco entusiasmo, em que parece haver menos luz. Repetem-se os dias em que tudo custa mais. É então a altura de recordar que é o Senhor Quem dá a vida, as flores e os frutos. As plantas são geralmente podadas no final do inverno, como preparação para a chegada da primavera. «Não ouviste dos lábios do Mestre a parábola da videira e das varas? – pergunta S. Josemaria –. Consola-te. Ele é exigente contigo porque és vara que dá fruto... E poda-te, “ut fructum plus afferas” – para que dês mais fruto. É claro: dói esse cortar, esse arrancar. Mas depois, que louçania nos frutos, que maturidade nas obras»[2].

«Para produzir fruto Jesus viveu o amor até ao fim, deixando-se despedaçar pela morte como uma semente se deixa romper em baixo da terra. Precisamente ali, no ponto extremo do seu abaixamento – que é também o ponto mais elevado do amor – brotou a esperança (…). Ouvi bem como é a transformação que a Páscoa realiza: Jesus transformou o nosso pecado em perdão, a nossa morte em ressurreição, o nosso medo em confiança. Eis porque na cruz nasceu e renasce sempre a nossa esperança; eis porque com Jesus toda a escuridão pode ser transformada em luz, as derrotas em vitórias, as desilusões em esperanças»[3].

Sabendo que é Deus que quer cuidar de nós e tornar-nos melhores, queremos que Ele faça esse trabalho de remover o que estorva, de retirar o que sobra. Aprendemos a amar melhor, a confiar mais no Senhor. Ao preparar-nos para a nossa missão, Deus conta com as nossas confusões, com as incompreensões, os esforços que passam despercebidos. Assim, o nosso interior adquire nova vitalidade, a nossa capacidade de amar cresce, como Ele, com a raiz na Cruz. Tornamo-nos um pouco mais generosos, à imitação da divina magnanimidade de Cristo.


QUE MARAVILHA, então, saber que somos todos ramos da mesma videira! Esta realidade ajuda-nos a admirar as virtudes e os talentos dos outros, dando graças a Deus porque Ele embeleza e enche de frutos os nossos irmãos, parentes e amigos. Viveremos assim unidos a Cristo e entre nós. Saboreando na nossa alma esta paixão pela unidade, os erros dos que nos rodeiam não nos abalam, pois entendemo-los como um possível caminho de crescimento, tanto para a pessoa como para nós próprios. Não guardamos rancores nem desconfianças, queremos servir a todos, porque todos somos ramos unidos a Jesus.

Por isso, a união com Cristo é ao mesmo tempo união com todos os outros, a quem Ele se entrega. Não posso querer ter Cristo só para mim: «Os ramos não têm vida própria: só vivem se permanecerem unidos à videira

em que brotaram. A sua vida identifica-se com a da videira. A mesma seiva circula na videira e nos ramos, ambos dão o mesmo fruto. Existe, portanto, entre eles um laço indissolúvel, que simboliza muito bem o que existe entre Jesus e os seus discípulos: "Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós" (Jo 15, 4)»[4].

Sabemos que «o nosso amor não se confunde com uma atitude sentimental, nem com a simples camaradagem, nem com o afã pouco claro de ajudar os outros para demonstrarmos a nós mesmos que somos superiores. O nosso amor exprime-se em conviver com o próximo, em venerar – insisto – a imagem de Deus que há em cada homem, procurando que também ele a contemple, para que saiba dirigir-se a Cristo»[5]. A criatura mais unida a Deus e que melhor refletiu o rosto de Cristo é a Virgem Santíssima, de quem Ele herdou a carne e o sangue. Ela pode recordar-nos que também nos ramos está o Senhor e que, como nós, também as nossas irmãs e irmãos na fé estão unidos à verdadeira Vide.


[1] Bento XVI, Homilia, 22/09/2011.

[2] S. Josemaria, Caminho, n. 701.

[3] Francisco, Audiência Geral, 12/04/2017.

[4] S. João Paulo II, Audiência Geral, 25/01/1995.

[5] S. Josemaria, Amigos de Deus, n. 230.