Meditações: sexta-feira da XXVIII semana do Tempo Comum

Reflexão para meditar na sexta-feira da XXVIII semana do Tempo Comum. Os temas propostos são: testemunhar a verdade com as obras; a sinceridade no acompanhamento espiritual; os fundamentos da vida espiritual.


NUMA DAQUELAS pregações em que milhares de pessoas se aglomeravam à volta de Jesus, o Senhor, advertiu os Seus discípulos: «Cuidado com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia» (Lc 12, 1). Os fariseus eram, de facto, como “sepulcros caiados”, que parecem bonitos por fora, mas por dentro só contêm morte. Pelo seu comportamento, escondiam a verdade ou camuflavam-na com dupla intenção. As suas ações estavam contaminadas pelo orgulho, pois estavam mais preocupados em impressionar os outros do que em servi-los.

Depois de os ter advertido contra o perigo da hipocrisia e da astúcia, o Mestre convidou os seus discípulos a viverem continuamente na verdade: «Não há nada escondido que não venha a ser descoberto e oculto que não venha a ser conhecido. Pois o que dissestes às escuras será ouvido à luz, e o que falastes ao ouvido, será proclamado dos telhados» (Lc 12, 2-3). Jesus, que Se autodenomina «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 12, 3), mostra-nos o verdadeiro caminho para chegar ao Reino de Deus: abraçar a verdade é o caminho para encontrar o amor, é o caminho através do qual nos encaminhamos para a verdadeira liberdade. Sem verdade não há caminho, não há vida. Ao contrário, ao procurarmos a verdade, encontramos a fé e o amor, porque, definitivamente, a verdade é uma pessoa: o próprio Jesus Cristo.

Vivendo como filhos de Deus, manifestando o Seu amor aos outros, damos testemunho da verdade que Jesus encarnou. «Perguntemo-nos: que verdade testemunham as nossas obras como cristãos, as nossas palavras, as nossas escolhas? (...) Nós, cristãos, não somos homens e mulheres excecionais. Mas somos filhos do Pai celeste, que é bom e não nos desilude e que tem no seu coração o amor pelos nossos irmãos. Esta verdade não é apenas uma palavra, é um modo de ser, um modo de viver, e vê-se em cada ato»[1].


QUANDO se perguntava a S. Josemaria qual era a sua virtude humana preferida, a resposta era sempre a mesma: a sinceridade. Nos seus escritos abundam as referências a esta virtude que ele coloca no centro do desenvolvimento espiritual de um cristão que quer seguir Cristo no meio do mundo. Assim, por exemplo, escreve: «Pediste-me uma sugestão para vencer as vossas batalhas quotidianas, e eu respondi-vos: ao abrir a vossa alma, dizei antes de mais o que não gostaríeis que se soubesse. Desta forma, o demónio é sempre derrotado. – Abre a tua alma com clareza e com simplicidade, de par em par, para que entre – até ao último canto – o sol do Amor de Deus!»[2].

No Evangelho, encontramos muitas pessoas que, depois de confiarem a Jesus os seus medos e fragilidades, encontraram um novo impulso na sua própria vida. No acompanhamento espiritual, temos um irmão que, caminhando ao nosso lado, nos ajuda a conhecermo-nos melhor, procurando dar-nos alguma luz sobre as coisas que nos acontecem, para que possamos descobrir o que o Senhor nos quer dizer.

Na direção espiritual, a honestidade não se limita a contar as coisas que correram mal. Essa abertura de alma também está relacionada com a manifestação dos nossos afetos e desejos mais profundos. Para isso, antes de tudo, é necessário ser sincero consigo mesmo. Descobrir esta dimensão interior das realidades que nos alegram e nos entristecem dá-nos um conhecimento valioso, porque nos indica onde está o nosso coração. E isso «exige a capacidade de parar, de “desligar o piloto automático”, para tomarmos consciência da forma como fazemos as coisas, dos sentimentos que nos habitam, dos pensamentos recorrentes que nos condicionam, muitas vezes sem nos apercebermos»[3].


A SINCERIDADE de vida é compatível com os erros e as falhas, pois leva-nos a não os esconder e a esforçarmo-nos por os retificar. Esta simplicidade tinha para S. Josemaria uma profunda raiz evangélica: «Olha: os apóstolos, com todas as suas evidentes e inegáveis misérias, eram sinceros, simples..., também vós tendes misérias evidentes e inegáveis. – Oxalá não vos falte a simplicidade»[4].

O fundador do Opus Dei dedicou uma das suas Cartas a falar da humildade na vida espiritual. Nela encorajava os seus filhos a reconhecerem que tinham pés de barro e a não terem medo das fraquezas que pudessem experimentar. «Não nos enganemos a nós próprios: teremos misérias. Quando formos velhos, também: as mesmas más inclinações que tínhamos aos vinte anos. E a luta ascética será igualmente necessária, e teremos de pedir ao Senhor que nos dê humildade. É uma luta constante. Militia est vita hominis super terram. Mas a paz está justamente na guerra; a paz é consequência da vitória!»[5].

Acrescentou, também, onde podemos encontrar os fundamentos para a nossa luta pela santidade. «Para nós, a rocha é esta: piedade, filiação divina, abandono nas mãos de Deus, sinceridade e manter a cabeça na realidade constante da vida quotidiana: “Amo-te, Senhor, minha fortaleza. O Senhor é a minha rocha, o meu refúgio e o meu libertador” (Sl 18, 2-3)»[6]. Ao sentirmo-nos filhos, sabemos que Deus está sempre connosco e que está atento às nossas necessidades. E a seu lado está a nossa Mãe, a quem podemos pedir ajuda para viver com a segurança de filhos amados.


[1] Francisco, Audiência, 14/11/ 2018.

[2] S. Josemaria, Forja, n. 126.

[3] Francisco, Audiência, 05/10/2022.

[4] S. Josemaria, Caminho, n. 932.

[5] S. Josemaria, Carta 2, n. 10.

[6] Ibid., n. 7.