Meditações: sexta-feira da V semana do Tempo Comum

Reflexão para meditar na sexta-feira da V semana do Tempo Comum. Os temas propostos são: podemos conduzir as pessoas a Jesus; Deus atua de diferentes maneiras; os tempos da atuação divina nem sempre são os nossos.


O SENHOR, no seu afã por anunciar o Evangelho, pregou diante de grandes multidões, como o semeador que lança a semente à mão. Mas, simultaneamente, muitas vezes Cristo também se comportou como o médico que vem curar doentes, um de cada vez: escutava, olhava, examinava, curava. Numa certa passagem da Escritura, vemos que quem procurava Jesus não o fazia pelos seus próprios meios, uma vez que não tinha a capacidade de expressar a sua necessidade, mas era ajudado por outros: tratava-se de um surdo que mal podia falar. O Evangelho indica-nos que são provavelmente os seus familiares ou os seus amigos que «o trazem» e «suplicam» (cf. Mc 8, 22) a Jesus que impusesse as suas mãos sobre ele.

Esta cena pode ser uma imagem do nosso papel como apóstolos: nós também estamos chamados a partilhar com os nossos amigos a força curadora de Cristo que experimentámos na nossa vida. Muitas vezes, uma pessoa que não pode ouvir encontra, ao mesmo tempo, dificuldades para comunicar; e certamente muitas pessoas que nos rodeiam querem, no mais profundo da sua alma, ter uma relação mais próxima com Deus, mas talvez não saibam por onde começar. «Muitos deles buscam secretamente a Deus, movidos pela nostalgia do seu rosto»[1].

Podem servir-nos, nesta missão, os dois verbos que usa o evangelista: trata-se de «trazer» as pessoas e de «suplicar» a Jesus pela sua cura. A segunda parte parece mais simples de compreender, mas, a primeira, como se consegue? S. Josemaria oferece algumas pistas, recordando-nos que não se trata de «um empurrão material, mas da abundância de luz, de doutrina; o estímulo espiritual da vossa oração e do vosso trabalho, que é testemunho autêntico da doutrina; o cúmulo de sacrifícios, que sabeis oferecer; o sorriso, que vos vem à boca, porque sois filhos de Deus: filiação, que vos enche de uma serena felicidade − ainda que na vossa vida por vezes não faltem contradições −, que os outros veem e invejam. Acrescentai, a tudo isto, a vossa generosidade e a vossa simpatia humana»[2].


OS AMIGOS da pessoa surda-muda, cheios de fé, tinham pedido a Jesus que impusesse as suas mãos sobre o doente. Mas o Senhor decide atuar de um modo diferente: escolhe realizar a cura de maneira progressiva: «Jesus, afastando-se com ele da multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos e com saliva tocou-lhe a língua. Depois, erguendo os olhos ao Céu, suspirou e disse-lhe: “Effathá”, que quer dizer: “Abre-te”» (cf. Mc 7, 33-34). Algo semelhante tinha sucedido quando devolveu a vista a um cego, ungindo os seus olhos com a lama que tinha feito com a saliva (cf. Jo 9, 6). No entanto, noutras ocasiões tinha realizado milagres instantâneos, inclusive a pessoas que se encontravam em lugares afastados.

Sabemos que, tal como exclamamos todos os dias na Santa Missa, basta uma palavra de Jesus para curar qualquer mal. Mas isso poderia levar-nos a pensar que Deus «teria de» atuar sempre e em tudo dessa maneira. No entanto, o devir da nossa própria vida ensina-nos que não é assim. Tantas vezes experimentámos que Jesus nos conduz por caminhos que nos parecem atalhos, que atravessamos momentos aparentemente desnecessários, semelhantes àqueles gestos de tocar a língua ou os ouvidos daqueles doentes. Pode acontecer que nos tenhamos acostumado a que tudo à nossa volta funcione de uma forma aparentemente eficaz, veloz, sem necessidade de esperar… e queiramos que assim sejam todos os outros âmbitos da vida.

«O Senhor está próximo do seu povo, muito próximo. Ele mesmo o diz: “Que nação tem um Deus tão próximo como vós?”. A vida é um caminho que Ele quis percorrer junto de nós. Mas quando o Senhor vem, nem sempre o faz da mesmo maneira. Não existe um protocolo da ação de Deus na nossa vida. Uma vez faz de certa maneira e noutra ocasião faz de maneira diferente, mas faz sempre. O Senhor leva o seu tempo, mas também tem muita paciência (...). Na vida, algumas vezes, as coisas podem ser muito sombrias. E temos vontade, se estamos em dificuldade, de descer da cruz. E este é o momento preciso: a noite é mais sombria quando a aurora se aproxima»[3].


NO FINAL DA sua passagem pela terra, durante a Última Ceia, Jesus disse aos seus apóstolos que fizeram bem em chamá-lo Mestre (cf. Jo 13, 13). Referimos que o Senhor se tinha atribuído também as designações de médico (cf. Mt 9, 12) e de semeador (cf. Mt 13, 37). Estas três maneiras através das quais Jesus se caracteriza a si próprio podem servir-nos para compreender como é a sua ação na nossa vida, especialmente quando pensamos que Deus deveria atuar mais depressa, quando queremos que atue de acordo com os nossos tempos mais do que nos seus.

Se pensarmos num maestro, damo-nos conta de que o seu trabalho de conduzir o próximo requer sempre um largo processo temporal. Também o médico não se comporta com precipitação: até a mais leve ferida costuma exigir várias sessões. Finalmente, se pensarmos no semeador, podemos observar que não existe semente que se cultive sozinha, que não necessite a paciente tarefa de ir uma e outra vez regar, melhorar as condições da terra, etc.

Escreveu S. Paulo aos Gálatas: «Meus filhos, por quem sinto outra vez dores de parto, até que Cristo se forme entre vós» (cf. Gl 4, 19). O empenho da Santíssima Trindade é precisamente esse: formar Cristo em nós. «Daí, o desejo veemente de nos considerarmos corredentores com Cristo – afirmava S. Josemaria –, de salvar com Ele todas as almas, porque somos, queremos ser, Ipse Christus, o próprio Jesus Cristo e Ele deu-se a si mesmo em resgate de todos»[4]. E nesta espera para ser cada vez «mais Cristo», não temos melhor apoio que o de Maria: ela, apesar de ter uma santa impaciência para ver o seu filho, esperou nove meses por Jesus que se formasse no seu seio e depois trinta anos para ver os seus prodígios.


[1] Francisco, Evangelii Gaudium, n. 14.

[2] S. Josemaria, Carta 24/10/1942, n. 9.

[3] Francisco, Homilia, 28/06/2013.

[4] S. Josemaria, Cristo que passa, n. 121