Meditações: segunda-feira da III semana do Advento

Reflexão para meditar na segunda-feira da III semana do Advento. Os temas propostos são: meditar na Sagrada Escritura: luz para o nosso caminho; Deus torna-Se presente nos corações que O procuram com retidão; o amor à verdade é característica dos discípulos de Cristo.


OS PROFETAS anunciaram o Messias e, graças às suas palavras, o povo de Israel aguardou e desejou intensamente a Sua chegada: «Ouvi, ó povos, a palavra do Senhor e proclamai-a até aos confins da terra»[1].

Em muitas ocasiões, porém, vemos que o povo ignorou as mensagens proféticas e, ao não as aceitar, dificultou que evitassem a sua própria ruína. Neste sentido, é significativa a história de Balaão, um vidente pagão que um rei inimigo de Israel exige que amaldiçoe o povo de Deus. Cheio do Espírito do Senhor, Balaão ignora a pressão real e abençoa o povo escolhido três vezes: «Como são belas as tuas tendas, Jacob, as tuas moradas, ó Israel!» (Nm 24, 5). O fim de Balaão é trágico, pois morrerá às mãos dos próprios israelitas.

Na sua profecia, Balaão simboliza o advento do Messias como uma estrela que sairá de Israel: «Uma estrela surge de Jacob» (Nm 24, 17). O Salvador que desce será como «uma grande luz sobre a Terra»[2]. Ao longo dos séculos, é precisamente a luz de uma estrela que orientará o caminho dos Magos que nela descobrem uma mensagem de salvação. A estrela condu-los a «uma chama pequena acendida na noite: um frágil recém-nascido, que geme no silêncio do mundo...»[3]. Embora todos tenham visto a estrela, nem todos entenderam o seu significado. Na oração coleta de hoje pedimos com ousadia: Senhor, «iluminai as trevas do nosso espírito com a graça do Vosso Filho que vem visitar-nos»[4]; dai-nos a clareza necessária para descobrir a importância de todos estes acontecimentos na vida pessoal e íntima de cada um.

Diz-se no livro de Números que Balaão é um «homem de olhar penetrante» porque «escuta as palavras de Deus, e conhece a sabedoria do Altíssimo» (Nm 24, 15-17). Na meditação sossegada da palavra revelada encontramos luz para o nosso caminhar diário. «A tua palavra é farol para os meus passos e luz para os meus caminhos.» (Sl 119, 105). Nas Escrituras, também aprendemos a ler a nossa própria vida. «Nesse texto sagrado - S. Josemaria encorajou-nos - encontras a Vida de Jesus; mas, além disso, deves encontrar a tua própria vida. (...). Então, pega no Evangelho diariamente, e lê-o e vive-o»[5].


ENQUANTO JESUS, numa das Suas frequentes visitas ao templo, ensina os peregrinos que vieram ouvi-l'O, apresentam-se as autoridades - os príncipes dos sacerdotes e os anciãos, isto é, os membros leigos do Sinédrio - com a intenção de pôr o Senhor à prova. Estão aborrecidos com Ele, entre outros motivos, porque goza de uma autoridade perante o povo que não Lhe foi concedida pelos poderes instituídos. «Com que autoridade fazes isto? E quem Te deu tal poder?» (Mt 21, 23). Não perguntam por pura curiosidade, simplesmente não gostam da pregação do Mestre e revoltam-se porque as multidões O seguem com entusiasmo.

Como se vê noutras ocasiões, Jesus agora também conhece a intenção dos seus corações. Comportam-se com duplicidade, com fingimento, não são claros. Fazem uma pergunta ambígua, quando na realidade o que querem é que Jesus diga de uma vez por todas se é o Messias. Eles, em qualquer caso, não estão dispostos a reconhecê-l'O e atuam com má astúcia. Não nos surpreendemos que o Mestre os deixe sem resposta, porque «Jesus não sabe que fazer da astúcia calculadora, da crueldade dos corações frios, da formosura vistosa, mas vã. Nosso Senhor ama a alegria dum coração moço, o passo simples, a voz sem falsete, os olhos limpos, o ouvido atento à sua palavra de carinho. E é assim que reina na alma»[6].

Deus está presente nos corações que O buscam com honestidade. «A quem anda por este caminho farei participar da salvação de Deus» (Sl 50, 23). Jesus comove-Se com a criança que se aproxima com simplicidade, com o leproso que mostra as suas feridas, o cego que grita sem medo do que dirão ou o publicano que sobe a uma árvore para vê-l'O melhor. Ou seja, os corações que não se escondem atrás da falsidade. «O cristão tem de manifestar-se autêntico, veraz, sincero em todas as suas obras. Na sua conduta deve transparecer um espírito: o de Cristo. Se alguém tem neste mundo a obrigação de mostrar-se consequente, é o cristão, porque recebeu em depósito, para fazer frutificar esse dom, a verdade que liberta e salva»[7].


«QUEM TE DEU tal direito?», perguntam-Lhe. O Mestre responde com outra pergunta: «Vou fazer-vos também uma pergunta e, se Me responderdes a ela, dir-vos-ei com que autoridade faço isto. Donde era o batismo de João? Do Céu ou dos homens?» (Mt 21, 24-25). Com essas palavras, Jesus coloca as autoridades perante a verdade e, ao mesmo tempo, elogia João. Embora tivessem ido multidões ao Jordão para serem batizadas, as autoridades não deram ouvidos à sua mensagem de conversão e penitência. Os chefes do povo não sabem que responder a Jesus porque não têm uma disposição aberta à verdade. Na realidade, só procuram a aprovação do povo. Pesam as dificuldades que lhes pode causar dizer uma coisa ou outra – foi do Céu ..., foi dos homens... – e não encontram uma saída que os liberte do seu compromisso: «Não sabemos» (Mt 21, 27).

O encontro com a verdade requer uma atitude de abertura e aceitação. A verdade cristã só se encontra se é amada gratuitamente. Com a sua valentia e humildade, o Batista foi uma testemunha audaz da verdade. Uma atitude coerente pode não nos levar a um caminho fácil. No entanto, a verdade é em si amável e tem uma enorme força de atração. Para mostrar o «esplendor da verdade»[8] convém, em primeiro lugar, esforçar-se por buscá-la, de forma permanente e honesta, para poder conhecê-la e contemplá-la. Se a verdade é verdadeiramente amada, se entra no nosso interior para nos transformar, é mais fácil expressá-la com dom de línguas e torná-la visível. Mostrar a amabilidade da verdade é uma tarefa dos cristãos.

Cristo disse de si mesmo: «Eu sou a verdade» (Jo 4, 6). Portanto, a paixão por procurá-la e transmiti-la é, para nós, uma agradável tarefa. «Há muitos anos já que vi com clareza meridiana um critério que será sempre válido: o ambiente da sociedade, (...) necessita de uma nova forma de viver e de propagar a verdade eterna do Evangelho. No próprio cerne da sociedade, do mundo, os filhos de Deus hão de brilhar pelas suas virtudes como lanternas na escuridão, quasi lucernæ lucentes in caliginoso loco”»[9]. Na companhia de Santa Maria e de S. José, caminhamos em direção a Belém. Ao seu lado podemos aprender aquela retidão de coração com que ambos buscavam a Deus nas pequenas e grandes verdades do seu mundo comum.


[1] Antífona de entrada, segunda-feira da III semana do Advento (Jr 31, 10).

[2] cf. Aleluia, 25 de dezembro, Missa do dia.

[3] Bento XVI, Homilia, 06/01/2008.

[4] Oração coleta, segunda-feira da III semana do Advento.

[5] S. Josemaria, Forja, n. 754.

[6] S. Josemaria, Cristo que passa, n. 181.

[7] S. Josemaria, Amigos de Deus, n. 141.

[8] S. João Paulo II, Veritatis Splendor, n. 1.

[9] S. Josemaria, Sulco, n. 318.