Meditações: segunda-feira da V semana do Tempo Comum

Reflexão para meditar na segunda-feira da V semana do Tempo Comum. Os temas propostos são: Jesus revoluciona os lugares por onde passa; descobrir a alegria mais profunda; uma fé fundamentada no amor de Deus.


A CHEGADA DE uma personalidade importante costuma produzir uma pequena revolução nos lugares que visita, principalmente se forem lugares que não estão acostumados a vivenciar grandes eventos. O que geralmente impera nas pequenas cidades é a normalidade da rotina, a cadência repetitiva de uma vida marcada pelo quotidiano de fazer sempre a mesma coisa, ver continuamente as mesmas pessoas. Portanto, a chegada de Jesus a Genesaré foi precisamente isso: uma revolução. Desde que O reconheceram, a notícia espalhou-se de boca em boca com a velocidade de quem não quer perder a oportunidade da sua vida. As praças daquelas terras ficaram cheias de doentes. Assim, o ruído das macas a tocar no chão tornou-se o som por excelência naquela área da Galileia.

«O Filho de Deus, na Sua encarnação, convidou-nos à revolução da ternura»[1]. É fácil imaginar que seria precisamente isso, ternura, que o olhar de Jesus emanaria ao curar cada doente, enquanto, como fez noutras circunstâncias semelhantes, produzia neles a verdadeira revolução: a de perdoar os seus pecados. Mas essa revolução exige um passo prévio: ao descer do barco, «imediatamente O reconheceram», diz-nos o Evangelho. Só pode ser curado por Cristo quem é capaz de reconhecê-l'O. Talvez, como os santos sabiam fazer, possamos começar por reconhecer Jesus na carne dos nossos irmãos doentes, sabendo olhar com ternura todas as feridas da sua alma e do seu corpo. Sabemos que todos os detalhes do serviço que prestamos aos nossos amigos ou parentes, estamos realmente a fazê-los a Jesus Cristo (cf. Mt 25, 40). S. Josemaria afirmava que «Se nós, os cristãos, vivêssemos realmente de acordo com a nossa fé, far-se-ia a maior revolução de todos os tempos!»[2].


SE OLHARMOS OS ACONTECIMENTOS de longe, vemos o Senhor cercado de agitação, barulho, gritos; um grande número de pessoas empurram-se tentando alcançá-l'O. No entanto, queremos descobrir o que acontece mais perto, no coração de Jesus. Além da ternura no Seu olhar, não há dúvida de que a alegria experimentada pelas pessoas curadas também encheria o Senhor, que soube alegrar-Se com o que era causa de felicidade para os outros. S. Paulo convida os romanos a alegrar-se com os que se alegram (cf. Rm 12, 15) porque sabe que esta é a atitude própria de quem tem os sentimentos de Cristo (cf. Fl 2, 5).

No entanto, sabemos que Jesus não veio para trazer a alegria temporária de uma cura física. Algum tempo depois, a caminho do Calvário, «à direita e à esquerda, o Senhor vê essa multidão que anda como ovelhas sem pastor. Poderia chamá-los um a um, pelos seus nomes, pelos nossos nomes. Aí estão os que (...) foram curados das suas doenças»[3]. De facto, Jesus sabia que, pouco tempo depois, alguns teriam apagado aquele dia da sua memória, deixando no esquecimento as maravilhas que o Messias operara nas suas vidas.

As pessoas de Genesaré que recuperaram a saúde certamente o fizeram porque acreditavam que Jesus podia fazer o milagre, acreditavam na Sua capacidade de vencer a doença. No entanto, talvez o seu coração ficasse a meio do caminho; só buscavam o Senhor na medida em que tinha algo imediato para lhes oferecer, não descobriram a profunda alegria de viver com Jesus. Pelo contrário, «a alegria cristã brota desta certeza: Deus está próximo, está comigo, está connosco, na alegria e no sofrimento, na saúde e na doença(...). E esta alegria persiste também nas provações, no próprio sofrimento, e não permanece na superfície, mas no profundo da pessoa que se recomenda a Deus e n'Ele confia»[4].


PÔR EM CONTRASTE o que aconteceu em Genesaré, quando a multidão se precipitava à procura da cura, com o que aconteceu no Calvário, quando a multidão clamou pela crucificação, pode ajudar-nos a considerar devagar e honestamente o que exatamente buscamos quando procuramos Jesus. S. João, que conhecia tão bem o que estava no coração de Cristo, dá-nos uma pista para purificar a nossa fé: «Nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem» (1Jo 4, 16). É algo que às vezes, sem querer, podemos esquecer nos momentos de dificuldade, quando nos parece que o Senhor está a dormir ou que não quer usar o Seu poder.

Porque, sem dúvida, esse é um dos grandes desafios da fé: abraçar o mistério da vontade de Deus quando o Senhor não usa o Seu poder quando a nós nos parecia que deveria fazê-lo. Acreditar em Jesus quando testemunhamos um milagre é fácil; o difícil é assistir a circunstâncias em que nos parece, erroneamente, que Deus não intervém. Às vezes, sem nos apercebermos, podemos comportar-nos como aqueles que gritavam no Calvário: «Salvou os outros e não pode salvar-Se a Si mesmo! Se é o rei de Israel, desça da cruz, e acreditaremos n'Ele» (Mt 27, 42).

Tantas vezes vemos injustiças, abusos e dores que nos podem fazer duvidar da presença de Deus. S. João viveu o mesmo: tempestades, perseguições, o martírio do Batista e dos outros onze apóstolos. E mais: S. João viveu o Calvário e, paradoxalmente, é isso que lhe permite afirmar que "conheceu e acreditou" no amor de Deus. É precisamente isso, que o Senhor não desça da cruz, que nos ensinou que a revolução da ternura não é um cúmulo de belos acontecimentos, mas a presença de um amor que se entrega até às últimas consequências. «A experiência da ternura consiste em ver o poder de Deus passar precisamente por aquilo que nos torna mais frágeis»[5]. Maria, nossa mãe, é quem melhor compreende o amor de Deus: ela nos ajudará a conhecê-l’O melhor e a crer n’Ele com mais firmeza.


[1] cf. Francisco, Evangelii Gaudium, n. 88.

[2] S. Josemaria, Sulco, n. 945.

[3] S. Josemaria, Via Sacra, III estação.

[4] Bento XVI, Angelus, 16/12/2007.

[5] Francisco, Audiência, 19/01/2022.