Meditações: quinta-feira da III semana do Advento

Reflexão para meditar na quinta-feira da III semana do Advento. Os temas propostos são: Deus é fiel às Suas promessas; o exemplo de S. João Batista; a fidelidade é sempre criativa.


EM GRANDE PARTE do livro do profeta Isaías, lemos o quão doloroso é para Javé a infidelidade do seu povo. No entanto, chega um momento em que Deus decide consolar Jerusalém, perdoar todos os seus pecados e selar uma aliança eterna. Lembramos isso hoje, na primeira leitura da Missa. A linguagem do profeta é quase maternal: «Por um momento abandonei-te, mas no meu grande amor volto a chamar-te»; «escondi de ti a minha face, mas na minha misericórdia eterna tive compaixão de ti»; «a minha misericórdia não te abandonará» (Is 54, 1-10). Diante das nossas infidelidades, Deus responde com misericórdia. «A sua ira dura apenas um momento e a sua benevolência a vida inteira» (Sl 29, 6). O Seu Amor é mais forte do que os nossos pecados.

No Advento, a liturgia lembra-nos repetidamente o desejo divino de estar com os homens. O Senhor deseja que o homem não evite a sua companhia e se deixe amar. «Deus está perto de nós, é fiel e faz grandes obras de salvação em quem espera n'Ele. Deus ama com um amor sem limites, que nem mesmo o pecado pode frear, e faz com que o coração do ser humano se encha de alegria e consolação»[1]. A história humana, pela nossa parte, está tristemente cheia de infidelidades. Porém, Deus tem infinita paciência e não se cansa de nos educar como os pais fazem com os seus filhos. O Seu coração está sempre inclinado para o perdão. Deus mantém a sua aliança apesar das tristezas, de geração em geração. Como diz S. Paulo, «se Lhe formos infiéis... Ele permanece fiel, porque não pode negar-Se a Si mesmo» (2Tim 2, 13).

«Este ‘mistério’ da fidelidade de Deus constitui a esperança da história»[2]. É a maior garantia para a nossa lealdade, pois o Senhor «é justo em todos os seus caminhos, perfeito em todas as suas obras» (Sl 144, 13). «– Qual é o fundamento da nossa fidelidade? – Dir-te-ia, a traços largos, que se baseia no amor de Deus, que faz vencer todos os obstáculos: o egoísmo, a soberba, o cansaço, a impaciência...»[3].


NAS SEMANAS de Advento, S. João Batista está muito presente na liturgia da Palavra. Ouvimos os momentos mais importantes da sua missão única de preparar o caminho de Jesus. Contamos com ele para aprender a esperar o nascimento do Redentor com um desejo crescente. João é o último dos profetas e o primeiro a morrer por Cristo. No Evangelho de hoje, Jesus fala do seu primo à multidão: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Mas que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Os que vestem com luxo e vivem regaladamente encontram-se nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim – Eu vo-lo digo – e mais do que profeta» (Lc 7, 24-26).

Entre as características da personalidade de João, e que são um modelo para os cristãos, destaca-se a fidelidade. O Precursor não hesita em apontar para o Messias, não tem medo de perder os seus discípulos ou de ficar sozinho porque conhece e identifica-se com a sua missão. «Eis o Cordeiro de Deus» (Jo 1, 29) «mais forte do que eu, a quem eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias» (Lc 3, 16), diz. São expressões de um coração humilde, consciente de que está de passagem, como cada um de nós. Ele sabe que a sua felicidade está em colocar Deus em primeiro plano, por isso não se sente imprescindível.

O Batista não é uma «cana agitada pelo vento», de natureza instável, complacente para ficar bem com todos. João é um mensageiro de Deus que vive para a sua missão, embora isso o obrigue a fazer certos sacrifícios pessoais. A lealdade a Deus e à verdade leva-o até mesmo a derramar o seu sangue. Por isso, S. João Paulo II poderia afirmar que «vemos resplandecer esta radical fidelidade a Cristo no martírio de S. João Batista»[4].


«A VOSSA ALIANÇA foi estabelecida para sempre»[5]. Essa certeza esteve presente ao longo da vida de S. João Batista. A fidelidade de Deus não conhece declínio. Deus é o mesmo de sempre. Face a esta intensidade do seu amor, a criatura sente-se obrigada a retribuir também com um amor fiel, fruto da sua liberdade. Hoje lemos na Antífona de Comunhão o conselho que Paulo dá a Tito: «Manifestou-se, com efeito, a graça de Deus (...). Vivamos neste mundo com justiça e piedade, esperando a feliz esperança e o advento da glória do nosso grande Deus» (Tt 2, 12-13). Esta fidelidade a Deus exige uma intimidade autêntica com Jesus na oração, porque na conversa com o Senhor experimentamos o seu amor – doce e exigente – e isso leva-nos a ser generosos.

O rosto de uma vida santa e fiel está composto de tantos momentos que não brilham externamente, porque na maioria das vezes estão escondidos, mas sempre feitos por amor: um sorriso, um detalhe de ordem, um agradecimento ou um pedido de perdão quando ofendemos outra pessoa, uma resposta amável… Referindo-se ao Bem-aventurado Álvaro, S. Josemaria comentou: «Gostaria que o imitassem em muitas coisas, mas sobretudo na lealdade. Nesta quantidade de anos da sua vocação, apresentaram-se lhe muitas ocasiões – humanamente falando – de se zangar, de se aborrecer, de ser desleal; e manteve sempre um sorriso e uma fidelidade incomparáveis. Por razões sobrenaturais, não por virtude humana. Seria muito bom se o imitassem nisso»[6].

«A fidelidade no tempo é o nome do amor; de um amor coerente, verdadeiro e profundo»[7]. Ao longo da vida, o amor autêntico renova-se muitas vezes ao dia. Assim, cresce continuamente, está vivo. Fidelidade não é inércia ou simplesmente deixar o tempo passar. Ser fiéis não significa ser pessoas inflexíveis. Nada poderia estar mais longe da fidelidade do que simplesmente manter uma escolha do passado. A pessoa fiel é criativa, é capaz de se renovar e sonhar grande dentro dos planos de Deus.

E se, em algum momento, o caminho se tornar um pouco mais difícil, a reação da pessoa fiel é pedir ajuda para fazer tudo o que estiver ao seu alcance para seguir em frente. Olhando para Maria, a Virgem fiel, podemos colocar nas Suas mãos o nosso desejo de amar como Ela.


[1] Francisco, Audiência, 16/03/2016.

[2] Bento XVI, Homilia na Epifania do Senhor, 06/01/2008.

[3] S. Josemaria, Forja, n. 532.

[4] S. João Paulo II, Angelus, 29/08/1999.

[5] Antífona de entrada de quinta-feira da III semana do Advento.

[6] S. Josemaria, Anotações numa reunião familiar, 19/02/1974.

[7] Bento XVI, Discurso 12/05/2010.