Meditações: Ascensão do Senhor (Ciclo A)

Reflexão para meditar na Solenidade da Ascensão do Senhor (Ciclo A). Os temas propostos são: Jesus envia em missão os seus discípulos; Jesus vai para o céu, mas não nos abandona; Cristo precede-nos como Cabeça.


QUARENTA DIAS depois da Páscoa, a Igreja celebra a Ascensão de Jesus aos céus. Como diz o Prefácio da Missa, «Vencendo o pecado e a morte, o vosso Filho Jesus, Rei da Glória, subiu hoje, ante os anjos maravilhados ao mais alto dos céus. E tornou-se o mediador entre vós, Deus, nosso Pai, e a humanidade redimida, Juiz do mundo e Senhor do universo»[1].

A Sagrada Escritura relata que, antes de subir ao céu, Jesus disse aos seus discípulos: «Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado» (Mt 28, 18-20). Antes de ir para a direita do Pai, Jesus deixa uma missão ambiciosa: a de evangelizarem não apenas o povo de Israel ou o Império Romano, mas o mundo inteiro, toda a criação. «Parece na verdade demasiado audaz a missão que Jesus confia a um pequeno grupo de homens simples e sem grandes capacidades intelectuais. Contudo, este reduzido grupo, irrelevante diante das grandes potências do mundo, é convidado a levar a mensagem de amor e de misericórdia de Jesus a cada recanto da terra»[2].

Também nós recebemos esse mesmo encargo divino e por isso sentimos tão próximo aquele dia em que Jesus subiu ao céu. S. Josemaria dizia que «o apostolado é como a respiração do cristão: um filho de Deus não pode viver sem este pulsar espiritual. A festa de hoje recorda-nos que o zelo pelas almas é um mandato amoroso do Senhor, que, ao subir para a Sua glória, nos envia como testemunhas suas pelo mundo inteiro. Grande é a nossa responsabilidade, porque ser testemunha de Cristo significa, antes de mais nada, procurarmos comportar-nos segundo a Sua doutrina, lutar para que a nossa conduta faça recordar Jesus e evoque a Sua figura amabilíssima. Precisamos de conduzir-nos de tal maneira, que os outros ao ver-nos possam dizer: este é cristão, porque não odeia, porque sabe compreender, porque não é fanático, porque está acima dos instintos, porque é sacrificado, porque manifesta sentimentos de paz, porque ama»[3].


JESUS intui que alguns dos apóstolos ficaram tristes por causa da sua ida para os céus. Por isso, antes da Ascensão, quer reunir-se com eles para lhes dirigir palavras de ânimo: «Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos» (Mt 28, 20). «Ao partir, Ele vem para nos elevar acima de nós próprios e para abrir o mundo a Deus. É por isso que os discípulos se alegraram quando regressaram de Betânia para casa. Pela fé sabemos que Jesus, abençoando, tem as suas mãos estendidas sobre nós. Esta é a razão permanente da alegria cristã»[4].

A Liturgia das Horas medita hoje nas palavras de Santo Agostinho sobre este mistério: «Ele não deixou o céu quando desceu até nós; nem nos deixou ao voltar ao céu (...). Desceu do céu por sua misericórdia, mas já não subiu sozinho, pois nós também subimos n’Ele pela graça»[5]. Jesus ascende ao céu, mas não nos abandona. «Uma vez que Jesus está com o Pai, Ele não está longe, mas perto de nós. Agora Ele já não se encontra num único lugar do mundo, como antes da Ascensão; com o seu poder, Ele supera todo o espaço, (...) está presente ao lado de todos, e todos podem evocá-lo em qualquer lugar e ao longo da história»[6].

Jesus ascende ao Pai e, ao mesmo tempo, permanece connosco: o Espírito Santo habita na nossa alma em graça e o Senhor também nos acompanha fisicamente na Eucaristia. «Também agora é possível aproximarmo-nos intimamente de Jesus, em corpo e alma. Cristo assinalou-nos claramente o caminho: pelo Pão e pela Palavra, alimentando-nos com a Eucaristia e conhecendo e cumprindo o que veio ensinar-nos, ao mesmo tempo que conversamos com Ele na oração»[7].


«E ESTANDO DE OLHAR fito no Céu, enquanto Jesus se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: “Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu”» (At 1, 10-11). A solenidade da Ascensão anima-nos com a esperança de partilhar a glória de que Jesus goza e à qual somos chamados como membros do seu corpo. «Ele não partiu para se alhear deste mundo, mas quis preceder-nos como nossa cabeça para que nós, membros do Seu corpo, possamos viver com a ardente esperança de o seguir no Seu reino»[8].

«Este “êxodo” para a pátria celeste que Jesus viveu em primeira pessoa, foi por Ele suportado totalmente por nós. Por nós desceu do céu e por nós subiu, depois de se ter feito em tudo semelhante aos homens (…) Deus no homem, o homem em Deus: já não se trata de uma verdade teórica, mas real. Por isso a esperança cristã, fundamentada em Cristo, não é uma ilusão, mas, como diz a Carta aos Hebreus, “nessa esperança temos como que uma âncora segura e firme da alma” (Heb 6, 19), uma âncora que penetra no céu, onde Cristo nos precedeu»[9].

O Senhor espera-nos no céu e envia-nos o Espírito Santo, os seus dons e os seus frutos, para que também nós alcancemos a meta. «Depois de o Senhor ter sido elevado ao Céu, os discípulos reuniram-se em oração no Cenáculo, com a Mãe de Jesus, invocando juntos o Espírito Santo, que os iria revestir de força para dar testemunho de Cristo ressuscitado. Qualquer comunidade cristã, unida à Virgem Santíssima, revive nestes dias essa singular experiência espiritual em preparação para a Solenidade de Pentecostes»[10].


[1] Missal Romano, Prefácio, Missa da Ascensão do Senhor.

[2] Francisco, Regina cæli, 13/05/2018.

[3] S. Josemaria, Cristo que passa, n. 122.

[4] Bento XVI-Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré, p. 400.

[5] Sto. Agostinho, Sermão da Ascensão, 1-2; PLS 2, 494-495.

[6] Bento XVI-Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré, II, p. 329.

[7] S. Josemaria, Cristo que passa, n. 118.

[8] Missal Romano, Prefácio, Missa da Ascensão do Senhor.

[9] Bento XVI, Regina cæli, 04/05/2008.

[10] Bento XVI, Regina cæli, 08/05/2005.